Da Síria para a Alemanha: O reencontro com Kawa Eli

  • há 8 anos
Em tempos, a região do Ruhr, na Alemanha, era considerada o coração industrial do país. Mas o encerramento de várias minas de carvão, por exemplo, atirou muita gente para o desemprego. O nível de pobreza está acima da média nacional. Muitos dos migrantes e refugiados que chegam à Alemanha vêm parar aqui. Entre eles encontra-se uma família curda que conhecemos em 2015.

Há dois anos, um pequeno barco de madeira atravessava o Mar Negro. A bordo, 70 refugiados sírios rumavam à Roménia. Foi aí que encontrámos, num campo de refugiados, Kawa Eli, a sua mulher e a filha recém-nascida. Quisemos saber o que foi feito deles passado todo este tempo. Marcámos encontro em Gladbeck. Mas primeiro recordamos como foi conhecer Kawa Eli.

A história de Kawa Eli

As agências de notícias lançaram o alerta: um barco sobrelotado tinha atravessado o Mar Negro, abrindo o debate sobre uma potencial rota alternativa ao Mediterrâneo para os refugiados.

Em 2014, Kawa Eli e Emina fugiram de Kobane, no norte da Síria, quando o autodenominado Estado Islâmico tomou várias localidades curdas. Foi num abrigo temporário do outro lado da fronteira, na Turquia, que Emina deu à luz a pequena Huner. O futuro, decidiram, estaria na Europa.

“Vi o que era a guerra, vi muitos homens mortos, vi pessoas a morrerem à minha frente. Vi gente que ficou sem membros, sem pernas. Lembro-me de assistir à morte de um homem que conhecia muito bem. Não é fácil vermos a nossa casa ser destruída. De um momento para o outro, foi tudo pelos ares”, dizia-nos Kawa Eli.

Jogámos uma partida de xadrez para ajudar a matar o tempo neste campo de refugiados romeno… Em menos de 20 minutos, Kawa Eli faz xeque-mate. Combinámos a desforra para dali a dois anos. E eis que em dezembro de 2016, voltámos a bater à sua porta.

Refugiados preferem o oeste da Alemanha

Emina está grávida de uma segunda menina. A família vive agora em Gladbeck, uma cidade de cerca de 75 mil habitantes. Entre eles, vivem perto de 1200 refugiados. Enquanto perdemos novamente um segundo jogo de xadrez, Kawa Eli conta-nos como as autoridades romenas o acusaram de tráfico humano, por atravessar fronteiras ilegalmente com a mulher e a filha. Passou seis meses na prisão, enquanto Emina e Huner passavam pela Hungria e pela Áustria para alcançarem a Alemanha.

Um dia, recebeu a notícia: “Disseram-me: a tua mulher já está na Alemanha. Está tudo bem, não te preocupes. Até me esqueci que estava na prisão. Fiquei tão feliz. Conseguiram chegar à Alemanha…”.

Kawa Eli foi julgado por um tribunal romeno e acabou por ser absolvido da acusação de tráfico humano. Mas teve de pagar uma multa no valor de 1300 euros por ter atravessado a fronteira ilegalmente. Depois, veio juntar-se à família. Foi muito longo o período que esteve afastado.

“A Huner ficou a olhar para mim e, de repente, perguntou: ‘Papá?’. E eu disse: ‘Sim, é o papá”. Mas ela ficou ali dois ou três minutos sem se mexer. Depois começou a sorrir para mim, a brincar comigo, a mexer