Arranca investigação de abusos sexuais de crianças de orfanatos britânicos

  • há 7 anos
Arrancaram em Londres esta segunda-feira as audiências de um gigantesco inquérito público sobre abusos sexuais de crianças de orfanatos britânicos enviadas para a África do Sul, Austrália e outros países da Commonwealth no período posterior à Segunda Guerra Mundial.

Segundo a advogada Aswini Weereratne, da Fundação das Crianças Emigrantes, como aqueles menores são designados, o termo “abusos sexuais” é demasiado brando para descrever “torturas, violações e escravatura”.

“Fomos enviados para o que só pode ser descrito como campos de trabalho, onde sofremos fome, espancamentos e abusos. Foram cortados todos os laços com a nossa família e o país”, disse a advogada.

De acordo com centenas de testemunhos que recolheu, o historiador David Hill, de 71 anos, uma das testemunhas ouvidas no quadro do Independent Inquiry Into Child Sexual Abuse (IICSA), afirmou que mais de sessenta por cento das crianças enviadas para a escola agrícola da “Fairbridge Society” em Molong, na Austrália Ocidental, foram abusadas sexualmente.

No âmbito de um programa realizado entre 1920 e 1970, cerca de 150 mil crianças de três a 14 anos, órfãos, filhos de mães solteiras ou de famílias que não podiam criá-los, foram enviados para a Austrália, Canadá, África do Sul, Rodésia, em muitos casos sem o consentimento dos pais.

O programa de emigração infantil foi aprovado e financiado parcialmente pelo governo britânico.

O objetivo era reduzir a taxa de ocupação nos orfanatos do Reino Unido, fornecer mão de obra àqueles países e povoá-los com pessoas de raça branca. Para as crianças, equivaleu a uma deportação forçada para execução de trabalhos num regime próximo da escravidão, submetidas a abusos constantes.

A Comissão independente responsável pelo inquérito quer apurar qual o papel que 13 instituições envolvidas desempenharam face aos casos de abusos de menores.