Vasco Gonçalves O GENERAL "LOUCO" DO FAMOSO 25 DE ABRIL (ABRILADA)

  • há 6 anos
VASCO GONÇALVES
— O general do povo que fez história


«Vasco Gonçalves — um general na Revolução» [1] . O título é enganador, não transmite a dimensão e o significado da obra. Nem isso era possível.

Esta entrevista-livro não cabe nos moldes tradicionais. É muito mais do que um depoimento sobre a Revolução de Abril, diferente de tudo o que no género foi publicado.

Vasco Gonçalves tinha 52 anos quando a Revolução irrompeu. Por ela havia esperado, para ela se havia preparado. Foi a maior alegria da sua vida «participar no 25 de Abril e viver aqueles momentos como primeiro ministro». Assim se expressa.

Fica transparente que não havia um átomo de ambição nesse sentimento de plenitude, de realização pessoal. «Estava a levar à pratica ideias — recorda — que abracei ao longo de toda a minha vida». Mas a felicidade que subia nele naqueles dias não nascia da fome de poder. Vasco Gonçalves é, como homem, a antítese do dirigente predestinado.

«Quando aderi ao Movimento dos Oficiais —revela— acreditei que poderia vir a desempenhar um papel destacado». Não havia vaidade nessa convicção. Ela nascia do seu sentido da responsabilidade, da sua aversão ao fascismo, do conhecimento profundo que tinha do corpo de oficiais do Exercito português e das motivações que estavam na origem da conspiração antifascista em marcha.

O sentido do colectivo, enraizado num patriotismo pouco comum, facilita a compreensão de comportamentos assumidos por este soldado atípico ao longo do traumático processo da revolução, de atitudes muitas vezes mal interpretadas, não obstante elas reflectirem uma coerência exemplar, mesmo quando aparentemente contraditórias.

Não sendo um homem de partido, VG adquiriu muito cedo um conhecimento dos clássicos do marxismo que lhe proporcionou uma compreensão cientifica da historia que, na pratica da vida militar, se traduzia numa consciência da necessidade de «formar homens responsáveis» e num sentimento de solidariedade com o seu povo, vítima com os das colónias, de um sistema monstruoso.

A modéstia dificultou-lhe, entretanto, avaliar plenamente o significado da sua intervenção na historia quando, de repente, o rumo da revolução, após o chamado golpe Palma Carlos, o catapultou para São Bento como Primeiro Ministro.

Somente uma futura geração estará em condições, com o distanciamento temporal, de situar na historia, sem paixão, o papel que o cidadão, o soldado e o estadista cumpriram na Revolução Portuguesa.

Ele, Vasco Gonçalves, evoca com rigor os acontecimentos, faz desfilar as personagens pelo grande cenário do Portugal revolucionário, apresenta o povo como o sujeito da transformação da sociedade, analisa com minúcia de cientista a instituição militar, esboça com nitidez perfis dos seus camaradas de armas. Mas sente enorme dificuldade em se contemplar como o grande protagonista de rupturas que provavelmente não se teriam produzido sem a sua intervenção pessoal.

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