Primavera das Mulheres | movie | 2017 | Official Trailer
No documentário Primavera das Mulheres, o GNT acompanha o crescimento do feminismo em 2016, ano em que mulheres voltara | dG1fWGpBc29VVURKT2M
Transcript
00:00 Eu acho que o grande problema do elogio, na verdade, que eu me sinto aprisionada, é o da rua.
00:06 É aquele elogio que a pessoa não faria se você estivesse com um companheiro ao lado.
00:12 O assédio é um ato de violência contra a mulher, que muitas vezes é banalizado, né?
00:17 As pessoas falam assim "Ah, mas é uma coisa sutil, imagina, foi só uma brincadeira".
00:21 É onde a pessoa se esconde atrás de um gesto pra agredir uma mulher,
00:27 porque entende que aquela mulher não tem o mesmo valor do que ele,
00:32 do que aquela pessoa não tem o mesmo valor.
00:34 Vamos focar bem? Vamos focar bem pro público ver?
00:36 Será que tá dando pra ver?
00:37 O bom respeito é que ele pode ser ousado em todos os momentos,
00:40 não precisa ter muita cerimônia, chega, joga um respeito que vai mandar bem.
00:43 Eu adorei isso.
00:44 Eu fui acostumada a andar na rua e não olhar pro lado, e ouvir coisas e não responder.
00:51 Acho que esse é o que mais me aprisiona, né?
00:54 Eu não poder andar na rua e não poder trocar olho a olho,
00:57 porque se eu trocar olho a olho, eu vou estar dando liberdade.
01:00 Tem uma coisa que a gente nunca vai conseguir saber,
01:03 se os estupros aumentam ou se aumenta a notificação, né?
01:09 Porque quantas outras jovens podem ter sido vítimas de estupros coletivos
01:15 e nunca ter denunciado, né?
01:17 Assédio não aumenta a autoestima de ninguém.
01:20 Assédio deixa a mulher se sentindo vulnerável, desprotegida e enojada.
01:26 Sabe por quê?
01:27 Porque o medo é que aquele assédio das palavrinhas passe de verbal pra físico.
01:33 Eu saí destemida e fui pegar um ônibus no que era uma área muito escura e perigosa.
01:43 Eu senti uma faca na barriga e um homem que me abordou e falou
01:48 "Me abraça e segue em frente".
01:51 E eu passei a mão por volta do ombro dele, pensando
01:56 "Bem, as pessoas vão ver que aquilo era uma situação que urrava,
02:02 que era um assalto, que eu estava sendo abordada com violência com uma faca".
02:08 Mas era escuro, os carros passavam.
02:11 E esse sujeito me levou por um buraco na cerca do Gávea Golf,
02:15 que é um clube imenso de golfe, longe de alguém escutar se eu gritasse, desprotegida.
02:23 E quando eu fui andando ali pra dentro, eu senti que eu ia morrer.
02:30 Isso não desgruda da minha cabeça, nunca.
02:34 As mulheres sempre foram as grandes lutadoras.
02:37 Essas mulheres como sujeitos demarcados mesmo pelo patriarcado.
02:42 O sujeito da luta feminista, em muitos momentos, é justamente aquela figura que está mais próxima,
02:48 a mulher como figura que está mais próxima do seu opressor.
02:51 E o opressor nem sempre sabe também que ele é opressor.
02:54 Quer dizer, o indivíduo nem sempre sabe que ele é um sujeito do privilégio,
02:59 que ele também foi construído.
03:01 Nós queremos respeito na hora de emitir as nossas opiniões,
03:04 na hora de sair com a roupa que nós gostamos e com quem nós gostamos.
03:07 Eu também quero ser respeitada na hora de dar minha opinião,
03:10 não de trabalho e também na mesa do bar.
03:12 É muito ruim falar e não ser ouvida.
03:14 Ou pior, ser ouvida e ignorada.
03:16 Quem legisla hoje, no geral, é uma maioria de homem,
03:20 homem branco, heteronormativo e rico.
03:24 Eu acho que isso é importante dizer.
03:26 Nessa relação da desigualdade que está colocada, principalmente a desigualdade econômica,
03:30 que a gente, mulher negra, está na base da pirâmide,
03:34 nós estamos no topo da pirâmide quando a gente fala de índices de violência, estupro.
03:39 É necessário abolir essa ideia que a gente tem de família,
03:42 que é sempre a mulher, na verdade, responsável pela questão do cuidado
03:47 e de como é importante o Estado se responsabilizar por isso.
03:50 Esse formato do que a gente entende por família,
03:52 que significa essa expressão hierárquica sempre no casamento,
03:56 a mulher sempre tendo que se submeter.
03:58 As feministas não são contra as mulheres que querem ser mães
04:02 e cuidar dos filhos e ficar em casa. Não é essa a questão.
04:04 O que a gente está criticando e refutando
04:08 é essa ideia de que a gente tem que estar nesses lugares
04:11 e como quando o Estado não garante que a gente tenha o direito à cidade,
04:16 onde que a gente possa, de fato, deixar nossos filhos e fazer tantas outras coisas,
04:21 a gente acaba ficando nesse lugar por imposição.
04:24 Atenção!
04:24 [SILÊNCIO]