Lóri é uma professora na casa dos 30 anos que não se aprofunda nas suas relações. Conhece e deseja Ulisses, profess | dG1fZDdRNlU1LU0tTWs
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00:00 [música]
00:14 Meu nome é Marcela Lord, eu sou diretora do livro dos prazeres,
00:19 que é o meu primeiro longa-metragem de ficção.
00:21 Ao mesmo tempo que é um desafio gigante, né, se adaptar a uma autora tão consagrada, né,
00:27 que faz parte do nosso imaginário, ao mesmo tempo dava uma liberdade imensa,
00:31 porque o livro, ele é muito barroco, ele mistura muitas linguagens, então tem muitas vozes.
00:36 Eu olhava e falava "bom, que caminho ir, né?"
00:39 Porque é uma coisa escrita em 69, tem coisas de época que são fortes, como ele funcionaria hoje, né?
00:46 Eu vou ter uma clarice como mãe, né, a Lória é uma personagem dela, então seria a filha dela.
00:50 Nós temos o irmão, que também é um personagem que não faz, ele tá ali, aparece no livro, mas não da forma.
00:55 A gente criou cenas, ações, nosso desafio foi justamente, não, vamos tentar não ter off,
01:00 tentar traduzir isso através de ação mesmo.
01:03 Todo um estatuto literário a gente botou, assim, ou na boca dos alunos,
01:07 a Lória dá pros alunos lerem, ou ela pega ali, eventualmente, o caderno da mãe e lê um trecho.
01:13 Ter razão, não ter razão, e sucumbir ao outro que reivindica.
01:18 Ser mulher.
01:21 Dignificar-se.
01:25 Ela tá tentando criar um espaço numa sociedade patriarcal, e isso, ao mesmo tempo,
01:29 tinha um paralelo com a minha história também, querendo encontrar minha voz como autora, como diretora,
01:33 também num meio super machista, que é o cinema.
01:37 Ao fazer o filme, eu fui me fazendo também, como realizadora, eu fui aprendendo muita coisa.
01:43 Como que você vai traduzir o silêncio, como é que você vai trazer sensações, né,
01:47 sem usar tantas palavras, mas ao mesmo tempo tem todo um respeito pela palavra.
01:52 A gente tá usando, né, tá adaptando uma história de uma escritora muito foda.
01:56 Esse equilíbrio, assim, achar sutileza, não ser redundante, óbvio.
02:00 Foram muitos roteiros.
02:01 Você demorou?
02:03 Um pouco, talvez.
02:07 Duas horas, um pouco?
02:09 Vem dar um mergulho comigo.
02:15 Daqui a pouco.
02:19 Além do tsunami feminista que vem, né, lá começou, sei lá, desde tá lá em Cannes, no Oscar,
02:25 a coisa foi vindo, né, já faz tempo essa luta toda.
02:28 Eu acho que a gente chegou num momento muito interessante.
02:31 E eu fico muito feliz de ter colegas, de ter mulheres incríveis fazendo,
02:34 contando histórias de personagens femininas e protagonizando.
02:38 Eu acho que também a gente começa a sentir as diferenças desses recortes.
02:41 Eu tenho a sensação que, assim, as mulheres, além de terem sempre esses papéis mais secundários,
02:45 também sempre foram muito objetificadas.
02:47 Então eu vejo a Lory uma mulher que é uma personagem que tem uma potência de auto-realização,
02:51 de auto-afirmação, que é uma figura que goza, né, em cena, feliz.
02:56 Ela sai, ela vem do lugar de desarticulação, mas ela faz uma trajetória de plenitude.
03:01 Na hora que ela encaixa ali, que ela tá de igual pra igual pro homem,
03:03 eles podem ou não ter uma relação.
03:05 A gente também não sabe se eles vão continuar, né, eles se conectaram espiritualmente,
03:09 que legal e tudo, mas tem essa independência de uma outra forma, né.
03:13 As meninas também apanham, sofrem, se fodem, sabe, falam "Gente, esses caras são perversos,
03:18 o que é isso, esse patriarcado, que loucura, tem necessidade, será, de ficar reiterando, mostrando isso?"
03:23 Tinha uma amiga minha, atriz, que falou "Eu não aguento mais fazer papel".
03:26 As mulheres se fodendo, só se fode, nunca tá, sabe, a mulher vai lá e queima o piano e faz não sei o quê,
03:32 então tá sempre um sofrimento, uma "Borra, gente, perdeu!"
03:36 A gente já, né, vamos também trazer outros espaços, lugares, histórias, patriarcado também,
03:42 vem dessas narrativas, né, como é que elas estão se transformando.
03:45 Acho que é um lugar de foco pra gente estudar e ver os filmes, né.
03:49 Por que você nunca se casou?
03:52 Não sei.
03:54 Nunca senti necessidade.
03:57 Sempre tive as mulheres que eu quis.
03:59 Como você é arrogante!
04:04 Você gosta de construir essa imagem exaltada de você mesmo?
04:09 Como alguém insubstituível, indispensável, adorado.
04:13 Você precisa ser o ceno das atenções o tempo todo.
04:18 O que é que eu vou fazer com o mundo?