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O jornalista Fábio Gusmão é autor do livro que deu origem ao longa estrelado por Fernanda Montenegro

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Transcrição
00:00Bem, eu tive contato pela primeira vez com a história da dona Joana durante uma ronda
00:06em delegacias, eu tinha acabado de passar pela coordenadoria de inteligência, ela tinha
00:10deixado as fitas ali na coordenadoria, eu peço para ver, assisto, mas o volume estava
00:17baixo e duas semanas depois eu peço para a chefe do setor deixar eu assistir completamente,
00:25e aí eu me deparo com a história da vida real, era um documentário com relatos ali
00:32muito profundos, dramáticos, visceral mesmo de dona Joana falando sobre o que ela estava
00:38vivendo nos últimos anos e o que ela tinha passado a fazer, o que a motivou, o que era
00:44provar para as autoridades que ela não estava mentindo e o que funcionava ali, desse momento
00:51até eu conhecê-la, foram mais cinco meses essa policial, ela demorou muito a me apresentar,
00:58a dona Joana, mas depois que me apresentam em agosto de 2004 a gente começa ali a ter
01:03uma relação, eu fico muito curioso sobre sua história e eu passo a frequentar o seu
01:10apartamento, a primeira vez que eu entro eu tomo um susto e isso a gente vê no filme
01:16de uma forma muito sensível do Alan Rocha de ter captado essa emoção que eu senti
01:22e eu percebi que seria muito difícil publicar com ela ali, e a partir daí foram mais alguns
01:29meses até a publicação da reportagem no dia 24 de agosto de 2005, quando ela entra
01:36no programa de proteção a testemunhas e a história ganha o país, ganha o mundo, vários
01:43países repercutiram a história e eu respondia tanta pergunta, curiosidade sobre a vida dela,
01:50sobre a minha relação com ela, que eu decidi escrever um livro que se chamava na época
01:55Dona Vitória da Paz e hoje se chama Dona Vitória Joana da Paz e com isso, com essa
02:03história dela que virou livro teve o interesse ali da conspiração, na época em 2005 ainda
02:11o Andrusha Waddle, que é o diretor do filme, ele quis levar isso para o cinema, mas ele
02:18já sabia e ele mesmo falava que essa história só poderia ser contada 15, 20 anos depois
02:26quando ela pudesse ter uma segurança maior, não naquele calor dos fatos e isso o tempo
02:34passou, a Dona Joana ficou muito feliz com essa possibilidade, ela ficou muito feliz
02:38com a possibilidade dela também trabalhar dentro daquilo que ela fez, dentro do que
02:50ela conseguiu mostrar e provar para as autoridades, ela ficava feliz em saber que a sua história
02:57no cinema ganharia uma outra projeção, uma outra repercussão e desde o primeiro momento
03:02ela quis e ela sonhava que fosse interpretada pela Dona Fernanda Montenegro e isso sempre
03:12foi um sonho dela, eu lembro muito que ela repetia bastante dizendo que Dona Fernanda
03:19era uma atriz extraordinária, que ela merecia ter ganho o Oscar com o Central do Brasil
03:24e ela depois sempre falava assim, mas será que ela vai aceitar, será que ela vai fazer
03:29mesmo quem sou eu para que ela representasse e eu falava, a senhora é uma grande mulher
03:34com uma grande história, uma história de vida muito profunda, sempre marcada ali por
03:40a superação e superando os episódios de violência que vivia, então isso faz com
03:49que a senhora seja uma pessoa muito importante e eu tenho certeza que quando ela conhecer
03:53sua história ela vai querer interpretá-la.
03:58O tempo passou, a história encantou também o Breno Silveira, o diretor, eles tinham uma
04:06coisa em comum, tanto o Breno quanto a Dona Joana, eles ganharam o prêmio Faz Diferença
04:13no ano de 2005, que é um prêmio promovido pelo Jornal Globo e isso aproximou ali o Breno
04:20da história dela, o Breno conversa com a Andrusha e eles entendem ali que era possível
04:27sim contar essa história e a Andrusha incentiva o Breno a seguir com o projeto e virou um
04:34grande projeto ali, um grande sonho também do Breno, infelizmente no início das filmagens
04:41o Breno falece e isso a história a pedido da própria esposa do Breno, a Paula Fiusa,
04:51que é a roteirista do Vitória, pede para o Andrusha continuar essa história e isso
05:01emociona ali não só a Paula, a Andrusha, mas a todos ali que estavam envolvidos no
05:07projeto e o Andrusha com toda a sua sensibilidade, ele atende isso e torna o projeto uma realidade
05:16que é o que a gente está vendo, é importante lembrar que a Dona Joana teve uma vida muito
05:23marcada pela violência, ela nascida em Alagoas, na cidade de Quebrangulo, ela relatou o caminho
05:36ali de sofrimento que ela viveu, a violência sexual que ela sofreu de um coronel da região
05:42dela, a gravidez que veio por conta desse abuso, a retirada dela do lar para que as
05:51pessoas não soubessem que ele tinha feito aquilo e ela começou a peregrinar ainda muito
05:57por cidades não só de Alagoas como também de Pernambuco, então isso forjou ali essa
06:06mulher guerreira, lutadora, que ao retornar para casa ainda grávida, perto de ter o seu
06:12filho, depois de ter passado por todas as dificuldades e adversidades, ela relata para
06:19a mãe aquilo que aconteceu com ela, conta toda a verdade e a mãe, Dona Rosa, decide
06:28denunciar isso às autoridades locais, independente de quem era a figura, ou seja, ela ali já
06:36tinha um grande referencial de força, de coragem também e de fazer com que a justiça
06:42fosse feita, que era a própria mãe e a partir daí toda a investigação vai adiante
06:51e Dona Rosa e Dona Joana buscam ali que a justiça fosse feita, só que o tempo passou
07:02e Dona Joana ficou maior do que ela podia para continuar ali na cidade e ela se aventura
07:09a vir para o Rio de Janeiro, onde consegue se estabelecer com muita dificuldade, vivendo
07:14como empregada doméstica, depois como maçoterapeuta e passa a viver aqui batalhando até conseguir
07:22comprar o seu imóvel, onde ela viveu até entrar no programa de proteção a testemunha.
07:27Então tudo isso eu conto ali, a reportagem só tinha uma parte disso, o livro Dona Vitória
07:35Joana da Paz, eu detalho mais essa vida dela, a minha relação com ela e até o fim da
07:44vida dela, o que aconteceu ali e tem muitas surpresas ali ao longo de toda essa trajetória.
07:52Então contar tudo isso no filme sempre não é fácil, então a opção que foi feita
08:02ali no roteiro da Paula foi uma opção muito acertada, em que você consegue identificar
08:09todas as nuances dessa pessoa, dessa personagem ali que é a Dona Nina e muito fiel ali a
08:18quem era a Dona Joana da Paz, com todas as camadas dela, em uma interpretação muito
08:24profunda e sensível da Dona Fernanda Montenegro.
08:28Da mesma forma em que o Alan Rocha, que me interpreta, ele consegue e me dá a oportunidade
08:35de me ver ali de fato com os sentimentos, as sensações, a emoção que eu senti desde
08:41o momento que eu tive contato com a história e que é impossível de você ver enquanto
08:48você está vivendo e ele foi muito preciso nisso, muito sensível.
08:53Então Vitória é isso, é uma adaptação de uma história real e com a correção que
09:01a ficção permite, o Breno, quando ele me apresentou o roteiro pela primeira vez, ele
09:07me ensina como a ficção tornava possível repintar ali ou as partes feias ou os pontos
09:16em que não tinha um fechamento, não tinha uma história completa e o roteiro consegue
09:23trazer tudo isso de uma forma muito bonita, muito sensível, muito profunda e eu acho
09:29que é isso que as pessoas vão conseguir assistir e vão se emocionar bastante.
09:34Então espero que todo mundo que esteja assistindo possa ir ao cinema, mas não deixa para amanhã
09:40não, já vamos lotar as salas do cinema nesse fim de semana e todos os dias nos próximos
09:4830 dias, 60 dias para prestigiar uma obra que é muito bonita e prestigiar o cinema
09:55nacional que está vivendo um grande momento.

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