Naía Tupinambá, fundadora da BND Digital, em entrevista ao quadro Empreender, contou como criou a primeira agência de marketing do Brasil liderada por mulheres indígenas. Aos 21 anos, ela já atendeu clientes como Magalu e UNICEF e defende uma comunicação com propósito e representatividade.
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NotíciasTranscrição
00:00O mercado de marketing tem ganhado cada vez mais espaço para projetos com propósito e
00:12representatividade. Em meio a esse movimento surge a primeira agência de marketing criada
00:16por mulheres indígenas no Brasil. Para entender melhor essa história, a gente conversa agora
00:21com a Nayá Tupinambá, que é fundadora da BND Digital, que já atendeu clientes como
00:25Magalu, Heinz e Unicef. Bom dia para você, Nayá. Seja muito bem-vinda aqui ao Real Time.
00:31Bom dia, tudo bom? Que prazer estar aqui com vocês. Muito obrigada pela oportunidade.
00:36Prazer é nosso de receber você aqui. Nayá, você só tem 21 anos. Como é que surgiu a
00:41ideia de criar uma empresa tão ambiciosa, tão jovem?
00:45Olha, eu comecei a empreender desde os 13 anos de idade, mas em 2018 eu decidi me parar de
00:52ir para a exposição e ir para os bastidores. Então, assim, olhando para o mercado, eu
00:57decidi criar uma agência de marketing digital fundada por mulheres indígenas, eu e minha
01:01mãe. Só que o mercado naquela época não era aberto a uma agência, enfim, a representatividade
01:07e diversidade. O nosso primeiro cliente foi uma operadora de luxo, não tinha nada a ver
01:11com o que eu pensava, enfim, eu não era o cliente, não era o público-alvo daquela
01:15empresa. E aí eu virei para minha mãe e falei, olha, se a gente quiser sobreviver no marketing
01:19digital, a gente vai precisar criar uma mesa, né? E vai precisar convidar pessoas para sentarem
01:24essa mesa. E pessoas que nunca foram convidadas a sentarem em outras mesas e tomarem decisões.
01:29Então, a gente criou a BND em 2018 e desde 2018 a gente tem aí tentado, né, de forma
01:35pedagógica, levar a pauta de que a inserção de corpos indígenas no mercado do marketing
01:42é muito importante.
01:43O que significa BND? Eu acho que N é de Nayá, né?
01:46Não, tem vários significados. A primeira, a lojinha de bijuterias que eu criei ainda
01:52quando eu tinha 13 anos, chamava Bijuque da Bru. E para nós, povos indígenas, a gente
01:56não tem essa, a gente tem essa intenção de dar continuidade às coisas, né? A gente
02:00não vê o tempo de forma linear, a gente vê o tempo de forma cíclica. E eu gostaria
02:04que o Bijuque da Bru retornasse para mim através da BND. Então, mantive o B e aí também
02:09tem outros significados. O nome da minha irmã é Bruna e um dos meus sobrenomes civis
02:14começa com B também, então tem vários significados. Eu gosto disso, eu não gosto de me limitar,
02:19me colocar numa caixinha. N de negócios e D de digitais. Tudo em plural, porque a gente
02:23nunca quis se limitar a uma caixinha só.
02:26Fala um pouco para a gente da sua etnia, de que ligação que você tem com algum tipo
02:30de grupo indígena, algum povo indígena.
02:34Eu sou do povo Tupinambá de Alivença. Eu falo carinhosamente que é o povo do Manto
02:37Sagrado, pois nós fomos o primeiro povo a repatriar um artefato indígena que estava
02:41fora do Brasil. O Manto Sagrado Tupinambá, que voltou ano passado para o Museu Nacional
02:46da Dinamarca. Nós esperamos que volte para o nosso território, através da construção
02:49de um Museu Tupinambá. Enfim, é um povo que está em três municípios, no sul da Bahia,
02:53Ilhéu, Zona e Borarema. Nós também temos a primeira cacica da Bahia, a segunda do Brasil.
02:59A primeira cacica do nosso povo se chama Jamoputi Tupinambá, então é um povo que tem uma
03:02representatividade feminina muito forte. Somos o povo do Manto. Enfim, estamos também
03:07esperando a demarcação do nosso território até hoje. Infelizmente, uma vergonha para
03:11o Estado brasileiro. Nosso território ainda não é demarcado.
03:14O que você considera que a cultura indígena pode trazer para o jeito tradicional de fazer
03:18marketing?
03:19Eu acho que existem muitas coisas que se relacionam. A forma cíclica de pensar, a gente não vê
03:24de forma linear, não vê um gráfico subindo e descendo, a gente vê de forma cíclica.
03:29Então, eu sempre trago coisas da minha ancestralidade. A comunicação, porque o nosso povo é povo
03:34de oralidade, então eu consigo dominar isso de forma muito bem. Não sei se vocês perceberam.
03:38Enfim, essa comunicação a gente consegue dominar. E também a sensibilidade com pautas
03:45que hoje são tão urgentes, como SG, meio ambiente. Tudo isso a gente consegue se relacionar
03:49tão bem. Inclusive, nós temos que ser protagonistas desses temas, porque não existem maiores e melhores
03:53guardiões dos biomas no Brasil do que os povos indígenas.
03:56Agora, eu queria saber como é que foi o trabalho de chegar até grandes marcas, né?
04:01Chegar a Heinz, chegar a Magalu, porque são empresas que, embora eu imagino que elas queiram
04:05aumentar a diversidade, elas também têm objetivos de marketing ali muito específicos,
04:10né? E se elas contrataram vocês é porque elas viram valor aí.
04:13Exato. Foi um trabalho de formiguinha, sabe? No começo, as pessoas ofereciam menos para
04:18a nossa empresa, ofereciam menos para mim, porque a gente tem que lidar com o racismo.
04:22Não é possível fechar os olhos para o racismo que está presente nas instituições e em
04:26todas as áreas, em todos os mercados. É a estrutura da nossa sociedade.
04:29Então, muitas vezes, nos ofereciam menos porque sabiam que a gente era uma agência
04:33de mulheres indígenas. E aí, através desse trabalho de formiguinha, de chegar a essas
04:37marcas, hoje a gente consegue um reconhecimento. Por exemplo, a Magalu, nós tivemos a ideia
04:41de fazer um núcleo de mulheres indígenas no Grupo Mulheres do Brasil.
04:44E aí, um grande impasse foi porque a gente precisava cantar o hino do Brasil. E aí, a
04:49minha avó e a minha cacica, que foram convidadas a ingressar nesse núcleo, elas não se sentiam
04:53à vontade com esse canto do hino, né? E aí, através da orientação para esse grupo,
04:59a gente conseguiu fazer eles compreenderem que, para algumas coisas, eles precisariam
05:02flexibilizar. Então, é um trabalho muito pedagógico no sentido de inserir os nossos
05:06corpos, porque, para muita gente, infelizmente, indígena não existe. E se existe somente nas
05:10aldeias, de uma forma específica, como indígena do século XVI.
05:13Eu quero te fazer uma pergunta agora, que é muito complexa. Uma pergunta para ajudar
05:17pessoas que não têm familiaridade com o universo indígena, e eu acho que eu me incluo
05:22nesse grupo, para entender uma coisa. Quem é a mulher indígena brasileira hoje?
05:27Se você falar para mim uma mulher indígena, é isso que você acabou de dizer. Eu vou
05:30imaginar uma mulher numa tribo. Ao mesmo tempo, eu estou conversando com uma jovem aqui, muito
05:33bem educada, e eu imagino que você, Nayar, tenha uma interlocução muito grande entre a
05:40sua tradição e também o sistema ocidental de ver o mundo.
05:46Eu digo que eu sou uma ponte entre os territórios indígenas e as cidades. E as cidades também
05:51são aldeias que foram apagadas. Cidades são construídas em aldeias que foram
05:56só terradas. Quem é a mulher indígena brasileira hoje? Isso é complexo, porque a gente está
06:00falando de um grupo com mais de 305 povos, com quase 1 milhão e 700 mil pessoas, que
06:05fala mais de 205 línguas. Então, a gente está falando de um grupo multiverso, pluridiverso.
06:12Então, a gente não tem como limitar a uma coisa só. Mas a mulher indígena brasileira
06:16é uma mulher que ainda precisa ser respeitada, precisa estar ocupando os espaços, precisa
06:23de forma pedagógica, muitas vezes, ensinar o que é ser indígena. Independente se está
06:30nas aldeias ou nas cidades, porque o censo do IBGE de 2022 aponta que a maior parte da
06:34população indígena brasileira está nas cidades. Então, muitas pessoas acham que só está
06:38nas tribos, como falam. Enfim, tribo é um termo pejorativo. Já estou aqui corrigindo
06:41para vocês que não se fala tribo, se fala aldeia, se fala povos, se fala nações. Mas muitas
06:46pessoas pensam que estamos nessas tribos, mas não. Aí o censo está apontando que
06:50a gente está, a nossa maioria está nas cidades. E, inclusive, a maior parte das
06:53pessoas indígenas que estão no ensino superior são mulheres. Então, são mulheres
06:57que estão pela luta da educação, pela luta do território, são corpos de território,
07:02corpos de cultura, que estão resistindo para proteger todos os biomas brasileiros,
07:05não apenas a Amazônia. E vivendo nesse mundo, que é muito mais do que um mundo
07:09brasileiro ocidental, é um mundo ocidentalizado, desculpa, globalizado, um mundo que a gente
07:13tem influências aí indo de, enfim, do planeta inteiro. Como é que você cuida das suas raízes,
07:19das suas tradições? Você ainda carrega muito do seu povo dentro de você?
07:23Carrego, carrego sempre. Inclusive, tenho frequentemente ido à Bahia, né? Sempre mantendo
07:28as minhas tradições, as minhas conexões. Minha avó, hoje, ainda resiste e existe em
07:33uma das 23 comunidades do povo Tupinabá de Alivença. Então, eu tenho essa conexão muito
07:37forte, até pelos meus familiares estarem ainda presentes nessa vivência. E, assim,
07:44eu sempre faço questão, eu gosto da palavra interculturalidade, porque a gente consegue,
07:48sim, usar os elementos da cultura que a gente chama de cultura do branco, mas continuar mantendo
07:53as nossas raízes e as nossas culturas. Mas, é claro, eu gostaria de lembrar que nós estamos
07:57passando por um processo de 525 anos de colonização. Logo, nós não somos mais aquele indígena do
08:01século XVI, congelado, as pessoas não devem mais esperar esse indígena. Inclusive, devem entender
08:06que esse indígena não é mais possível existir, justamente porque foram 525 anos
08:10de massacres, de violências contra as mulheres indígenas, que foram as primeiras mulheres
08:13a serem violentadas no Brasil, contra as nossas crianças, contra os nossos povos,
08:17memoricídio, ecocídio, etnocídio, tudo isso nós somos vítimas. Então, não tem como
08:22não haver uma dinâmica aí de cultura.
08:24É, talvez essa imagem que você falou aí, ela só existe em alguns povos muito isolados,
08:28por exemplo, no meio da floresta amazônica, né? Porque é muito difícil hoje uma população
08:32indígena que não tem contato com o que a gente chama comumente aí de civilização,
08:37né? Você, inclusive, hoje está com uma roupa bem interessante, eu queria pedir para
08:41a câmera abrir, você explicar para a gente o que significa essa roupa, qual a conexão
08:45dela com o seu povo, a sua saia, por exemplo?
08:49A gente chama essa, não chama uma saia, mas a gente chama de tanga, né? Que é tanga
08:52de biriba, é de uma fibra presente, enfim, no nosso território, no Bioma Atlântica.
08:57Esse buchê de crochê, foi minha avó que fez, inclusive, a gente usa aqui para poder,
09:02enfim, tapar essa parte superior, né? Para complementar com a tanga. Estou usando também
09:07colares de brincos de penas e, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a gente não
09:10arranca as penas dos pássaros. Os pássaros, eles trocam penas, então a gente, através desse
09:16momento de troca de penas, a gente coleta as penas e faz os brincos, então já esclarecendo,
09:20enfim, elucidando para as pessoas. E muitas vezes eu também estou pintada com grafismo,
09:26hoje eu não estou, mas muitas vezes nós indígenas nos pintamos com, nós fazemos
09:30pinturas com uma tinta do genipapo, enfim, que é uma fruta e aí ela consegue ficar 15
09:34dias na nossa pele. E aí cada povo tem seu grafismo, cada povo tem sua vestimenta
09:39também. Essa não é a vestimenta de todos os 305 povos indígenas do Brasil, essa é
09:43apenas a vestimenta do povo do Pinabá de Olivença, ao qual eu pertenço.
09:46Não, eu tenho certeza que a presença de vocês no mercado do marketing é algo muito
09:49enriquecedor, porque, assim, a beleza da diversidade é isso, né? É você ter vários tipos
09:54de visões diferentes e como a gente fala muito de negócios aqui, porque nós somos
09:58um canal de negócios, você trazer esse olhar diferente pode ser uma vantagem
10:02competitiva, inclusive, para as empresas. Eu queria saber quais são as metas da BND
10:06para crescer nesse ano e os projetos que vocês têm de expansão.
10:11Como eu falei, é um pouco difícil a gente pensar de forma linear, mas eu sempre me
10:14proponho esse exercício para mim e para as pessoas hoje que fazem parte da BND, porque
10:18para além da minha mãe, enfim, a gente contata freelancers dependendo do projeto e
10:22sempre priorizamos contratar freelancers indígenas com vínculo aos seus povos, isso é muito
10:27importante, é um critério que a gente acredita que seja muito importante e priorizando também
10:30mulheres, mas nós entendemos que é preciso de dados dualidades e conseguir achar esse
10:36equilíbrio para conseguir crescer. A meta é dobrar projetos, é conseguir acessar projetos
10:43culturais, inclusive, tem um sonho muito antigo na BND, que é conseguir chegar aos territórios
10:47para dar oficinas de comunicação, principalmente para mulheres, então nossa meta é conseguir
10:52consolidar isso esse ano, porque é um pouco difícil conciliar movimento, conciliar os
10:57clientes, entregar os clientes o melhor que a gente pode com as pautas do movimento indígena,
11:02com as pautas do nosso próprio povo, mas a gente tenta e consegue, enfim, vai equilibrando
11:06os pratinhos, eu sempre faço o exercício de equilibrar os pratinhos, entendendo que essa
11:10forma de trabalho, ela foi imposta e que o nosso povo tinha uma outra forma de lidar com
11:14trabalho, essa palavra trabalho vem de tortura, né? Se a gente vê a etimologia da palavra
11:18trabalho, é tortura. Mas a gente tenta lidar de uma outra forma com isso, respeitando a
11:22natureza, porque a gente tem que respeitar o tempo da natureza e eu sempre entendo o que
11:26eu tenho que plantar para colher no futuro. Então a gente pretende dobrar projetos, eu
11:30não falo em dobrar clientes porque eu priorizo mais qualidade do que quantidade e eu priorizo
11:35entregar o melhor que eu posso e conseguir entregar o melhor que eu posso. Então esse ano está
11:39um pouquinho corrido para a BND, graças aos ancestrais, mas a gente tem essa meta aí.
11:43Gente, ela só tem 21 anos, imagina quão longe ela pode chegar. Naya Tupinambá, foi
11:49um prazer falar contigo nessa manhã, aprendi bastante, viu? Volte sempre aqui ao Real
11:53Time. Obrigada. Visite o meu povo, Tupinambá de Alivença, está de portas abertas para vocês.
11:58Obrigada.
12:00Obrigada.
12:01Obrigada.
12:02Obrigada.
12:03Obrigada.
12:04Obrigada.