ELA FOI ENCONTRADA DEG*LADA DENTRO DO PRÓPRIO CARRO - INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Categoria
📺
TVTranscrição
00:00Abertura
00:30O homicídio sempre é cruel, mas porém a forma como foi chama bastante atenção tanto de nós policiais e mais ainda da sociedade, né?
00:41As duas portas mais difíceis. Foi enterrar minha filha e ver ele.
00:44Ele foi ao velório, foi à delegacia, junto com familiares, junto com a mãe da vítima, junto com o filho da vítima.
00:52Do tanto que eu amava ele, simplesmente eu queria saber, olho no olho, eu não gosto de recado, não gosto de...
00:58Por quê? Só isso, por quê?
01:06Na noite do dia 12 de setembro de 2012, os três autores chegaram à faculdade onde a vítima cursava administração em São Caetano do Sul,
01:17chegaram por volta das 21h30, permaneceram no entorno da faculdade por aproximadamente 20 minutos.
01:23Com a saída dela, eles arrebataram a vítima, os dois executores, colocaram ela no banco traseiro do próprio carro,
01:31seguiram com ela de São Caetano até Santo André.
01:36Nesse percurso, o carro deles foi seguido pelo mandante do crime, que se encontrava num outro veículo, um cadete.
01:42Fizeram um percurso de aproximadamente 7 quilômetros, 15 a 20 minutos.
01:49Já em Santo André, eles passaram de fronte a uma base da polícia militar.
01:54Nesse momento, a vítima, percebendo que poderia pedir socorro, começou a se debater no carro e gritar.
02:01Foi a partir desse momento que eles começaram a atacá-la fatalmente.
02:04A partir de então, eles andaram mais uns 5 minutos em Santo André.
02:08Os dois executores abandonaram a vítima no próprio veículo dela,
02:13seguiram no veículo do mandante, que deu fuga para eles.
02:18E no dia seguinte, os policiais descobriram o corpo já sem vida nesse local do abandono.
02:25A vida da Laura nunca foi muito fácil, não.
02:33Porque ela engravidou com 15 anos, não quis casar com o pai do filho dela.
02:39Então, ela foi uma adolescente, já adulta, porque ela sustentou o filho praticamente sozinha.
02:43Eu ajudava, mas ela que sustentava sozinha.
02:45Então, não era brincadeira, não.
02:46Mas ela era muito família, muito, muito, muito.
02:49O que ela podia fazer e dar para mim, para o irmão dela, ela dava.
02:54Começou a trabalhar no primeiro emprego com 16 anos.
02:57Ficou 6 anos nesse emprego.
02:59A Laura era assim, a Laura era muito responsável.
03:03Sabe, a Laura, eu falava que a Laura tinha hora que parecia uma criança de um corpo de um adulto.
03:08Porque ela era assim.
03:09Ela não teve infância, tipo assim, adolescência.
03:12Essa fase de 16, 17, 18, 19 anos que geralmente todos nós tivemos, ela não teve.
03:19Sabe, porque ela tinha que ter responsabilidade, ela tinha que criar um filho sozinha.
03:22Então, tinha hora que ela tinha 20 e poucos anos e ela agia como uma criança, um adolescente
03:28de 15 anos.
03:29E nós duas brigávamos muito por causa disso.
03:31Eu falava para ela, acorda, você é adulta, você não é mais criança de 15 anos.
03:35Depois eu me arrepentia porque eu via que, sabe, tinha hora que ela queria viver, a fase
03:41que ela não viveu, não pôde viver.
03:42A Laura Santana Vaz era uma produtora de eventos.
03:46Na época, ela tinha 26 anos, tinha um filho e era recém-separada.
03:52Ela fazia o primeiro ano no curso de administração de empresas na Unifesp São Caetano do Sul.
03:58Quem tinha ela como amiga tinha um tesouro.
04:01Porque era aquela amiga fiel, o melhor do mundo.
04:04Ela tinha amiga, para você ter ideia, ela tinha amiga do parquinho, sabe, de infância,
04:09de 6 anos.
04:10As melhores amigas dela eram essas.
04:12Tinha uma turminha de 3, 4 meninas que estudaram junto com ela e cresceram e continuaram sendo
04:17amiga.
04:17Então, ela era muito fiel.
04:19A Lori era uma pessoa extremamente trabalhadora, alegre, uma pessoa batalhadora, sempre batalhou
04:27muito pelos seus objetivos.
04:29Trabalhava, dava duro, criava seu filho sozinha, que ela tinha um relacionamento anterior ao do
04:37Alan.
04:37Tinha um coração que eu ouvi falando que não cabia nem no peito, tão grande que
04:41era.
04:41Porque ela era tão boa, tão boa, que chegava até a ser burra.
04:45Porque as pessoas confundem bondade com ser boba, com ser burra.
04:50Porque às vezes pedia, ela era muito honesta.
04:54Ela adorava ter as contas dela tudo em dia, detestava dever e quando devia ela ficava desesperada
05:00para pagar.
05:00Então, o nome dela era sempre limpo.
05:02E as pessoas abusavam disso, porque às vezes as pessoas tinham nome sujo e falavam,
05:06Lori, compra um computador para mim.
05:08Ela ia e comprava o nome dela.
05:10Lori, compra um celular para mim.
05:11Ela ia e comprava o nome dela.
05:12Só que nem sempre ela se pagava certinho.
05:15E ela ficava desesperada.
05:17E eu falava para ela, mas como você conseguiu ainda fazer outra vez se a pessoa conseguiu
05:22te enrolar de novo?
05:23Você ficou devendo coisas que não é sua e você demorou para pagar.
05:27E você conseguiu...
05:28Ah, mãe, é porque eu não sei dizer não.
05:30Eu falo, meu filho, só que tem o seguinte.
05:32Se uma pessoa gosta de você, se for sua amiga ou seu amigo, se você falar não, vai
05:38ser amigo do mesmo jeito.
05:40Adorava a família.
05:41A felicidade dela era estar aí junto com a família toda.
05:44A família tanto do meu marido como da minha família.
05:48Nossa, eu amava.
05:49Eu amava de paixão ela.
05:50Hoje tem as festas, tem os lugares que a vida não parou, né?
05:56Continuou.
05:56Por incrível que pareça, a vida tem que continuar.
05:59Então tem festa, tem Natal e se reúne todo mundo.
06:05Sempre está faltando alguma coisa.
06:06Porque é ela.
06:07Aquele sorriso lindo.
06:08Nossa, quando ela chegava, eu abria aquele sorrisão.
06:11Nossa, eu já ia todo mundo abraçando todo mundo, beijando todo mundo.
06:14Nossa, era maravilhosa, minha filha.
06:17Eu contei.
06:26Primeiro eu liguei para a pediatra, né?
06:29Contei a história.
06:30Ela passou o remédio.
06:31Mandei na farmácia comprar o remédio.
06:34Quando eu cheguei da delegacia, antes mesmo de velar o corpo de minha filha, eu contei
06:38para ele.
06:39Ele estava meio sedado, estava meio groguinho.
06:42Mas, para ele que a mãe dele não voltou, não era porque tinha brigado com o namorado,
06:50que a mãe dele estava morta.
06:51Ele perguntou o que foi, eu contei.
06:54Eu conhecido.
06:54Aí ele respondeu, foi o Ala.
06:58No dia, antes do mês do velório, ele falou a mesma coisa que eu.
07:01Vovó, foi o Ala.
07:03Aí eu falei, a vovó também pensa a mesma coisa, amor.
07:06Hoje é normal.
07:07A mãe dele, ele só via a mãe à noite.
07:10Eu praticamente era a mãe e a avó, porque a Lore trabalhava muito, muito mesmo.
07:14A Lore trabalhava demais.
07:16O tempo mesmo que ela ficava com o filho era só no domingo, no sábado e à noite que
07:20ela ficava com o filho.
07:20Mas, um pouco tempo, ela levava para os parquinhos, levava para andar de patins, tudo.
07:25Que era uma criançona grande também.
07:26Que tinha hora que os dois brigavam tanto, que eu dava um grito para os dois.
07:29Ei, você é a mãe!
07:31Porque ninguém sabia quem era a mãe, quem era o filho ali.
07:34Mas, se ele morasse só com a mãe, era um choque que...
07:42Eu não sei como era a vida dele hoje, não.
07:43Só que ele morava mais comigo do que com a mãe.
07:45A mãe dele morava no fundo, mas, praticamente, ele ia só dormir com a mãe.
07:49Ele passava o dia inteiro comigo.
07:50Então, nós dois tínhamos muito grudados.
07:52Nós somos grudados até hoje.
07:54Um bom tempo, ele...
07:56Acho que até agora ainda.
07:57Eu levei ele ao psicólogo e a psicóloga falou que ele tenta não lembrar da mãe.
08:03E ele não lembra mesmo.
08:04Se eu vou...
08:05Se eu puxo assuntos, ele não quer saber.
08:09Aí, eu perguntei para o psicólogo.
08:10O que é?
08:11Ele não gostava da mãe?
08:12Ele amava a mãe e não gostava?
08:14A psicóloga falou que não.
08:16Simplesmente, ele achou um jeito de não sofrer.
08:19Sabe?
08:20Se eu não lembro, se eu não lembro de nada dela, eu não sofro.
08:24Quando ele estiver adulto, vai sofrer mais do que agora, né?
08:28Mas ele é normal, sabe?
08:30Ele não foi fácil para mim.
08:32Mas, para ele, graças a Deus, criança...
08:35Acho que é tudo mais fácil com a criança, sinceramente.
08:42A primeira notícia a respeito do fato foi o namorado da Lore, o atual namorado,
08:48que foi até a delegacia na noite do dia 12 fazer um boletim de desaparecimento,
08:53tendo em vista que ela não retornou para casa após sair da faculdade.
08:57Então, ele foi até a delegacia, registrou um boletim de desaparecimento de pessoa,
09:01junto com o veículo.
09:03Ele estava em posse do veículo.
09:05A polícia começou as diligências, no sentido de encontrá-la,
09:09e essas diligências perduraram a madrugada toda.
09:12Eu estava na minha casa, era um dia de quarta-feira.
09:14Quando foi às seis e meia, mais ou menos, seis e meia da noite,
09:17eu passei na escola, peguei o filho dela e voltei para casa.
09:21Quando eu voltei para casa, ela estava na casa dela,
09:23na casa dela era um sobrado.
09:24Aí eu entrei na cozinha, era dez para sete,
09:27era mais ou menos dez para sete da noite.
09:29Aí eu falei assim,
09:30e aí, amor, não vai para a escola hoje?
09:32Não vai para a faculdade hoje?
09:34Ela falou, ah, mãe, vou e pior que eu já estou atrasada.
09:36Respondeu assim, desceu, logo em seguida desceu.
09:39Quando ela desceu, o filho dela estava na minha casa fazendo a lição.
09:42Aí ela entrou e falou assim,
09:44Mãe, toma esse dinheiro e compre bolacha para o João Vitor.
09:48Aí o filho dela falou, não, meu amor, precisa não, eu já comprei.
09:51Ah, então me compre carne.
09:52Eu falei, não, eu já comprei.
09:54Falei bem assim para ela, ah, mas tome, mesmo assim tome.
09:56Aí eu falei, então tá bom, peguei o dinheiro,
09:57coloquei no dinheiro que eu estava certo e coloquei no meu bolso.
10:00Aí ela ficou, sabe que minutos?
10:02Minutos assim, segundos assim,
10:04ela parou e ficou, ela olhava o tempo inteiro assim para mim
10:07e olhava para o filho.
10:09Olhava para mim e olhava para o filho, sabe?
10:11Parou assim, ficou assim, esquisito.
10:13Hoje que ela morreu, a gente vê que como se ela estava se despedindo,
10:17como se tivesse adivinhado como ia morrer.
10:19Aí ficou um tempão assim, paradinha assim.
10:21Aí falou assim, tchau mãe.
10:23Quando foi dez para as dez, ela ligou para casa.
10:26Ah, fala para a mãe que eu já estou indo para casa,
10:28porque hoje a faculdade terminou mais cedo.
10:30Dez para as dez da noite.
10:32Ponto, só que era daquelas pessoas pontual.
10:36Se ela falar para você que vai chegar dez horas,
10:38ela chegou menos de dez horas, dez horas,
10:41ou dez horas em ponta.
10:42Ela odiava chegar atrasada no lugar
10:44e ela odiava que as pessoas chegassem atrasadas também.
10:46Era muito pontual.
10:47E deu dez horas, quando foi dez e dez, mais ou menos,
10:51o namorado dela chegou.
10:52Ela falou assim, Dete, a Lore está aí?
10:55Eu falei, não, está na sua casa, não.
10:57Ela falou, não, a Lore não chegou ainda.
10:59Eu falei, ué, era dez para as dez,
11:03ela falou que vinha, que vinha vindo para casa
11:05porque a aula tinha terminado mais cedo.
11:08Aí pronto, já fiquei preocupada com isso,
11:11já fiquei preocupada e ele também, né?
11:13Aí ele falou assim, Dete, tem um cigarro aí?
11:16Eu falei, tem.
11:17Aí ele pegou um cigarro e foi para casa da Lore.
11:19Logo em seguida, ele voltou de novo.
11:21Falou, Dete, já estou preocupada.
11:23Ela falou, se você começar, eu também vou ficar preocupada.
11:25Ela deve ter ido para casa de uma amiga.
11:27Eu tenho ido para casa de uma amiga.
11:29Aí logo em seguida, o filho dela falou assim,
11:31Mãe, eu acho que minha mãe brigou com o namorado
11:34e foi desabafar com a melhor amiga dela.
11:37Aí eu ri e falei, deve ter sido.
11:39Falei, bem assim, deve ter sido.
11:40E pronto, ficou.
11:41Só que isso aí foi alongando, né?
11:43Foi passando e foi dez e meia, foi onze horas e nada.
11:46E ele ficou desesperado.
11:47Neto, eu não estou sem paciência, eu estou muito impaciente.
11:50Eu vou procurar a Lore.
11:51Eu vou fazer o mesmo caminho que ela fez na faculdade, eu vou fazer.
11:54Falei, tá bom.
11:55Ele pegou a moto dele e saiu.
11:57Logo em seguida, ele voltou.
11:58Ele falou, Dete, eu não encontrei a Lore.
12:00E já conversei com um monte de amigos e ninguém viu a Lore.
12:03Pronto, aí fiquei preocupada.
12:05E foi dando meia noite e o filho dela foi ficando nervoso.
12:08E para o filho dela não ficar nervoso, eu peguei e levei ele para a minha cama e fiz ele dormir.
12:13Só que eu tenho uma insônia terrível.
12:16Para dormir é uma briga.
12:18Aquele dia, simplesmente, eu apaguei junto com o filho dela.
12:21Quando eu acordei, três horas da manhã, acordei assustado e corri para a garagem, né?
12:26Se o carro dela estivesse na garagem, ela estava, né?
12:28Corri.
12:29Quando pus a cabeça, abri a porta que pus a cabeça, aí gelei.
12:32Quando eu olhei para o lado, o namorado dela, Dete, eu estou muito preocupado.
12:38Eu vou para a polícia.
12:39Eu falei, demorou.
12:40Logo no início da manhã, quando nós assumimos o plantão, às oito horas da manhã,
12:45fomos chamados, acionados pela seccional, para atender um local.
12:49Chegamos no local, já havia uns policiais militares que chegaram primeiro até o veículo da vítima.
12:59Então, constatamos que havia uma pessoa caída entre os bancos traseiro e dianteiro do veículo.
13:08E seria mais tarde, nós descobrimos que seria na propriedade da própria vítima.
13:14Após os trabalhos policiais, nós conseguimos levantar, através, vasculhando os objetos pessoais dela dentro de uma mochila,
13:24conseguimos ali a qualificação, o nome, quem seria ela, na verdade, né?
13:30E, em seguida, conseguimos colher imagens também de um comércio que, de fronte ao veículo, havia um sistema de câmeras.
13:43Conseguimos, através desse sistema, as imagens que, posteriormente, conseguiu chegar na elucidação do crime.
13:54Minhas irmãs foram, porque eu tinha ido para a Bahia, porque eu sou da Bahia, e eu trabalho junto com uma das minhas irmãs.
14:15Minha costureira tem um ateliê e eu costuro junto com ela. E elas foram tudo para a Bahia.
14:19Aí minha irmã falou assim, olha, Dete, eu vou deixar tal roupa lá no ateliê, você vai para casa, vai lá e dá um jeito para arrumar tudo que a minha cliente vai buscar a tal hora.
14:30Eu falei, tá bom. Aí falei com meu neto, eu tenho que ir lá no ateliê, você vai junto comigo? É bem pertinho da minha casa.
14:36Quando eu cheguei no ateliê de minha irmã, aí meu celular tocou, era a polícia. Era uma policial.
14:42Aí falou, é, dona Vandete? Eu falei, sou eu. Ela falou assim, é que o namorado da sua filha deu, abriu uma ocorrência aqui, que sua filha sumiu, e o carro, não sei o quê.
14:56Eu falei, é, tem notícia de minha filha? Aí ela riu. Aí ela riu e falou assim, não, dona Vandete, não, mas não se preocupa, não.
15:03Então, dessa briguinha de namorados, logo, logo sua filha vai aparecer. Aí eu ri também, falei, tomara, né, assim, tomara.
15:12Mal acabei de ligar o celular e meu filho entra. Quando meu filho abriu o portão que entrou, sabe, mãe, entra para dentro de casa, entra para dentro de casa.
15:24Eu falei, não quero entrar para dentro de casa. Mãe, entra para dentro de casa. Eu falei, eu não quero entrar para dentro de casa.
15:29Aí eu falei, e o que você quer dizer? Não fale. Se você quiser falar, não fale. Mas, mãe, eu tenho que... Não, não fale, pelo amor de Deus, não fale.
15:37Nossa, é como... Vai fazer três anos e essa imagem não sai da minha cabeça. Aí não precisou falar mais nada.
15:45Eu só sei que... Eu lembro que eu dei um grito tão grande, tão grande, que caí no chão.
15:51Aí eu... Tinha um amigo, uma vizinha minha, estava construindo uma casa. Aí, quando foi no outro dia, ele falou assim,
15:59nossa, a senhora deu um grito tão grande, mas tão grande, que na hora que a senhora gritou, eu me arrepiei todinha.
16:05Aí meu filho falou assim, mãe, nós temos que ir para casa, nós temos que ir para casa.
16:08Aí, imediatamente, pedi para a minha cunhada levar meu neto, né, para a casa dela.
16:13Cheguei na minha casa, minha casa, nossa, não sei nem o que parecia a minha casa.
16:17Tinha policial que ia aqui do começo ao fim.
16:18E, sabe, tipo assim, me deram a notícia, sua filha morreu.
16:23Sua filha morreu. Tipo, sua filha morreu.
16:25Mas eu não tinha ideia de que minha filha morreu, como minha filha morreu.
16:29E eu cheguei em casa, mas...
16:31E eu pegava um policial, eu chacoalhava.
16:33Como minha filha morreu?
16:35Ele fazia.
16:36Não podia falar.
16:37E eu chegava, eu chacoalhava o outro.
16:39Como minha filha morreu?
16:40E nós não podíamos falar.
16:42Eu só sei que tinha tanto policial na minha casa, na casa de minha filha,
16:45a gente estava, sabe, mexendo em tudo para descobrir o que era.
16:49Minha casa estava lotada de policial e eu perguntava.
16:52Eu cheguei uma histérica, uma louca mesmo.
16:54Sabe, louca, louca, louca.
16:55Eu só queria saber.
16:57E chacoalhava um e pedia para outro.
17:00E daqui a pouco chegou um policial e falou,
17:02olha, dona Vandete, eles não vão poder falar nada.
17:05A senhora tem que ir agora para a delegacia.
17:06Vamos para a delegacia junto comigo?
17:08Eu falei, vamos.
17:08E foi o caminho mais longo que eu percorri na minha vida.
17:12Da minha casa para Santo André é um pulo.
17:15Eu moro em Santo André.
17:16Cheguei lá em Santo André, sabe?
17:18Aí o delegado falou assim,
17:20eu encontrei uma sua filha morta dentro do carro.
17:23Só isso.
17:23Aí eu imaginei, sabe?
17:24Comecei a imaginar milhões de coisas na cabeça.
17:27Foi roubo?
17:28Tentaram assaltar ela, sabe?
17:29Daqui a pouco ele falou assim,
17:33nós conseguimos já pegar essas imagens hoje mesmo.
17:38Eles colocaram o carro da Lore em um lugar deserto.
17:43Não tem nada.
17:44Só que ele jamais imaginaria que uma fábrica velha
17:47tinha uma câmera funcionando.
17:48E a câmera estava funcionando.
17:50Gravou tudinho.
17:51A senhora olhe e veja quem a senhora está vendo aqui.
17:54O carro da minha filha e dois homens correndo.
17:57na porta do passageiro e na porta do motorista.
18:02Aí, quando o motorista correu, eu falei, é o Ala.
18:07Ele falou assim, quem é o Ala?
18:09Aí eu falei, o ex-marido da minha filha.
18:12A senhora tem certeza?
18:13Eu falei, não, não tenho certeza.
18:15Porque agora eu acho que eu posso ver qualquer um.
18:19Aí ele falou, olha outra vez.
18:20Aí eu olhava, olhava, olhava.
18:23Aí eu falava para ele assim, mas eu acho que é o Ala.
18:25Aí perguntou as perguntas de praxe, né?
18:28Tudo.
18:29Quem era o Ala?
18:31Aí eu contei tudinho.
18:33Como era a minha filha, de que ela vivia.
18:37Aí eu falava, porque ela era muito trabalhadeira.
18:39Aí dali da delegacia, dali da delegacia,
18:42eu fui para outra delegacia.
18:44Em Santo André mesmo.
18:45Só que eu acho que em Utinga.
18:46Já fui com dois investigadores.
18:49Direto para outra delegacia.
18:50Aí chegou lá na delegacia,
18:54estava...
18:55Não, não tinha ninguém.
18:56Só tinha eu na delegacia.
18:58Aí depois que eu vim saber que mandaram chamar meu filho,
19:01mandaram chamar meu cunhado,
19:03mandaram chamar meu subrinho.
19:05Então um monte de parentes da Lore,
19:07eu estava lá.
19:08Só que eu cheguei sozinha.
19:10Quando eu estava em uma sala em Utinga,
19:12tinha uma janela para o corredor onde as pessoas passam.
19:17E eu estava com esse investigador que me levou
19:19e uma moça escrevendo tudo o que eu falava,
19:21ela escrevia.
19:22De repente, quando eu olho para a janela,
19:24o ala passa.
19:25Eu falei assim para o investigador,
19:27o ala passou ali.
19:29Aí ele falou assim, o ala?
19:30Eu falei, é.
19:31Aí ele falou assim para a moça,
19:33assim, continua pegando,
19:35pegando as coisas para ela,
19:38eu já volto, já volto.
19:39Tranquilo, eu saio correndo.
19:41Saiu correndo.
19:42E eu fiquei muito tempo lá,
19:44junto com a moça,
19:46ela fez um monte de perguntas.
19:48Depois de muito tempo que ele veio aparecer.
19:51Depois disso, eu soube que o ala chegou,
19:54abraçou meu filho, chorou,
19:56abraçou meu filho,
19:57abraçou meu cunhado,
19:59abraçou minha sobrinha,
20:01e chorou, chorou muito na delegacia.
20:05Aí, desse dia em diante,
20:06ele foi para lá,
20:07ficou indo tudo o que acontecia.
20:10O delegado sempre chamava ele,
20:12só que todos eram suspeitos.
20:14Todo mundo era suspeito.
20:15Passemos, acho que foi 12 dias que,
20:19eu não sei o que era viver,
20:2012 dias.
20:21Eu não tinha sossego,
20:23porque a polícia estava toda hora em casa,
20:25perguntando tudo,
20:27mostrando qualquer coisa que via.
20:30Repórter, né?
20:31Não reclamo,
20:33de jeito nenhum,
20:33ele estava lá porque eu dei autorização,
20:35eu quis,
20:36porque as pessoas falam muito de repórter,
20:40falam muito da mídia,
20:41mas se não fosse eles,
20:42minha filha tenha sido só mais um rostinho bonito,
20:44que estava degolado dentro de um carro.
20:46Quem trabalha no homicídio,
20:47sempre está lidando com esse tipo de crueldade.
20:50O homicídio sempre é cruel.
20:52Mas, porém, a forma como foi,
20:54chama bastante atenção,
20:56tanto de nós policiais,
20:58e mais ainda da sociedade,
20:59porque ninguém quer ver uma cena dessa,
21:03uma morte dessa.
21:04Com certeza,
21:05isso já chocou de imediato
21:07tanto os nossos policiais
21:08como a sociedade e a imprensa
21:11que já começou a chegar.
21:13Como o desaparecimento foi registrado
21:21por volta da meia-noite,
21:22uma da manhã,
21:24as diligências preliminares
21:25que foram feitas
21:26foi conversar com parentes,
21:28com mãe,
21:29com o atual namorado,
21:30que foi quem registrou a ocorrência,
21:32e começamos, junto com eles,
21:33a procurar nas redondezas,
21:34na casa de familiares,
21:36amigos,
21:36e não encontraram.
21:38No dia seguinte,
21:38já na madrugada,
21:40a polícia militar recebeu um telefonema,
21:42a respeito do carro da vítima
21:44que estava abandonado
21:45no local onde ela foi encontrada.
21:56De imediato,
21:58os policiais do setor de homicídio
22:00procuraram câmeras de monitoramento
22:03nas redondezas
22:03e localizaram algumas
22:05que, inclusive,
22:07filmaram toda a ação.
22:08Os dois executores chegando no veículo
22:10no Fiat Uno com a vítima,
22:12e logo em seguida
22:14eles estacionam o veículo
22:15e já saem correndo,
22:17os dois executores.
22:18Em seguida,
22:20chega um outro veículo,
22:21um cadete,
22:22os executores saem
22:24do veículo em que estava a vítima,
22:25em que mataram a vítima,
22:27entram no outro veículo,
22:28no cadete,
22:29e daí eles seguem o fuga.
22:30A partir daí,
22:31nós tivemos ciência
22:31que ela havia sido arrebatada
22:33na faculdade,
22:34na saída da faculdade,
22:35fizemos diligências ao entorno
22:37para descobrir
22:37eventuais câmeras,
22:39tivemos sucesso
22:40em localizá-las,
22:41e essas imagens
22:42do entorno da faculdade
22:44captaram
22:44os três chegando
22:46na próxima faculdade,
22:48aguardando a vítima sair
22:49e arrebatando ela ali mesmo.
22:52Com posse
22:52dessa imagem
22:54e com mais
22:54a imagem
22:55do momento
22:56do arrebatamento
22:57próximo da faculdade
22:58na cidade de São Caetano,
22:59disponibilizamos
23:01as imagens
23:01na televisão
23:03para as emissoras,
23:05e após
23:07dois, três dias
23:08já começaram
23:09a aparecer
23:10inúmeras
23:11denúncias,
23:12que permitiram
23:14o esclarecimento
23:15do crime.
23:16Então,
23:16foi de suma importância
23:18a divulgação
23:19das imagens,
23:20a ajuda
23:21da população,
23:22que o tempo todo
23:23passava informações
23:25para nós,
23:27muitas delas
23:28realmente
23:28não tinha
23:30muito a ver,
23:31todas elas
23:32foram checadas
23:33e felizmente
23:34uma delas
23:36nós conseguimos
23:37obter êxito.
23:38Uma semana
23:38após a divulgação
23:39das imagens
23:40na mídia,
23:41nós recebemos
23:41inúmeras denúncias
23:43a respeito
23:44dos autores.
23:45Chegamos aos três,
23:47a identidade
23:47dos três,
23:49e inclusive
23:49ouvimos parentes
23:50dos três
23:51que confirmaram
23:51que realmente
23:52eles haviam participado
23:53desse crime,
23:55e a partir de então
23:56nós começamos a,
23:57já com a qualificação
23:58dos três,
23:59começamos a
23:59procura deles.
24:02Os três
24:02já estavam foragidos.
24:04Uma semana então
24:05após o crime,
24:06nós conseguimos
24:06chegar ao Robert,
24:08que foi um dos executores,
24:09quem efetivamente
24:10atacou a vítima
24:11com um golpe
24:12de faca no pescoço.
24:13Ele nos disse
24:14que ele foi
24:14contratado,
24:16ele juntamente
24:17com Raimundo,
24:19foi contratado
24:19pelo Alan
24:21para dar cabo
24:23à vida de Lore.
24:25Na verdade,
24:26no primeiro momento,
24:28eles
24:29disseram
24:31que era para dar
24:31apenas um susto
24:33na vítima,
24:35mas,
24:36na verdade,
24:37diante de toda
24:39a investigação,
24:39nós conseguimos
24:40entender que
24:41realmente era
24:42para matá-la.
24:43Com a prisão dele,
24:45ele delatou o mandante,
24:47que a gente
24:48já sabia também
24:49quem era,
24:49mas ele confirmou
24:50a identidade
24:51do mandante do crime,
24:52que era o ex-marido
24:53da Lore,
24:53o Alan.
24:54Quando a equipe
25:00foi até a residência
25:01dele
25:01para
25:02ouvê-lo,
25:04ele não estava,
25:05depois compareceu
25:06algumas horas depois
25:07na delegacia,
25:07no mesmo dia dos fatos.
25:09Juntamente com
25:10os familiares
25:11da vítima,
25:12ele demonstrou
25:13uma grande frieza,
25:16inclusive
25:16confortando
25:17familiares,
25:19uma pessoa
25:20acima de qualquer
25:21suspeita
25:21naquele primeiro momento,
25:22pois era uma pessoa
25:23que não tinha
25:24antecedentes criminais,
25:27aparentemente
25:28de uma boa família.
25:29Quando o Robert
25:31falou da participação
25:32do Raimundo,
25:33conseguimos localizar
25:34a esposa dele,
25:35pois ele já estava
25:36coragido
25:37e já tínhamos
25:38identificado o cadete
25:40na ocasião
25:40e aí solicitamos
25:42que ela nos acompanhasse
25:43até o setor
25:44de homicídios
25:45para a colheita
25:46do depoimento.
25:47Então, inicialmente,
25:48quando ela viu
25:48essa primeira imagem
25:49que você vê
25:51nitidamente
25:52os dois indivíduos
25:54saindo do veículo,
25:55inclusive o Robert
25:57com o rádio na mão
25:59e o cadete
26:01dando a fuga,
26:03ela reconhece
26:04pelo jeito
26:05de correr,
26:06ela reconhece
26:07o marido dela
26:07nas filmagens.
26:09E ela foi
26:09de suma importância
26:10para o esclarecimento
26:11do homicídio,
26:13foi totalmente
26:13solícita,
26:15apesar das duas
26:17dores que ela passou.
26:18Uma,
26:19pelo que aconteceu
26:20com a Lore
26:21e outra
26:22por se ver
26:24numa situação
26:25dessa
26:25com o marido
26:26envolvido
26:26num homicídio cruel.
26:29O Robert,
26:30que é um dos executores,
26:31e o Alan,
26:32o mandante do crime,
26:33foram encontrados
26:33em Santo André,
26:35na cidade
26:35onde a vítima
26:36foi morta.
26:38O terceiro capturado,
26:39Raimundo,
26:40ele foi encontrado
26:40em Mojiguassu,
26:41já no dia seguinte.
26:43Os três
26:43se apresentaram frios,
26:45confessaram
26:46espontaneamente
26:47o crime
26:47e de imediato
26:49não mostraram
26:50arrependimento.
26:55O mandante do crime
26:56é o Alan,
26:57ex-marido da vítima.
26:58Ele contratou
26:59duas outras pessoas,
27:00o Robert
27:00e o Raimundo.
27:02Segundo ele,
27:03segundo o Alan,
27:04ele encontrou
27:05por acaso
27:05em uma oficina,
27:07viu que eles tinham
27:07entre aspas
27:09cara de bandido,
27:10contratou eles
27:11para fazer o serviço,
27:12eles aceitaram
27:13mediante a paga
27:14de R$ 1.250,00 cada um.
27:16Eles se conheceram,
27:18nós morávamos
27:19em uma casa
27:20e meu marido
27:20comprou esse apartamento.
27:22Quando nós mudamos
27:23para lá,
27:23a Lore tinha
27:23mais ou menos
27:24uns 14,
27:2513, 14 anos
27:26quando nós
27:27fomos morar lá.
27:29E chegando lá,
27:31ela já conheceu o Alan.
27:31O condomínio
27:32era tipo
27:32uma cidade fechada,
27:34um monte de prédio,
27:35só que lá embaixo
27:36tinha banquinhos,
27:37tinha árvore,
27:39então geralmente
27:40quando a noite
27:41descia,
27:41seis, sete horas
27:42da noite,
27:43os jovens todos
27:44desciam lá para baixo
27:45para conversar,
27:46para bater papo.
27:47E os dois
27:47se conheceram lá,
27:48só que nunca namoraram,
27:49só era amigo,
27:50só era uma rodinha
27:51de muitos amigos,
27:53tudo da mesma idade.
27:54Conheci a mãe,
27:55o pai,
27:56nossa,
27:56ela para mim
27:57era um filho,
27:58um filho,
27:59sabe?
28:00Quando ele começou
28:01a frequentar a minha casa,
28:02começou a namorar
28:02com a Lore,
28:03namorou,
28:04a Lore quando engravidou,
28:07ela ficou um bom tempo
28:08sem querer saber
28:09de rapaz nenhum.
28:10Ela ficou muito
28:11traumatizada mesmo.
28:13ela não quis saber
28:14de rapaz,
28:15não namorava,
28:16não namorava com ninguém,
28:17ela passou dois anos,
28:19nem olhava para os homens,
28:20você quer saber.
28:21Depois de dois anos
28:22ela conheceu um rapaz
28:22lá no condomínio mesmo,
28:23começou a namorar
28:24com o rapaz,
28:25aí não deu certo,
28:27só que o Ala
28:28e esse rapaz
28:29que namorou com ela
28:30eram amigos também,
28:31aí eles estavam,
28:32eram tudo
28:32da mesma turminha.
28:34Aí quando a Lore
28:35terminou com ele,
28:36a Lore e esse rapaz
28:37terminaram,
28:38aí o Ala começou
28:38a namorar com ela,
28:39só que o Ala
28:40sempre foi apaixonado
28:41por ela,
28:41mesmo namorando
28:42com um amigo dele,
28:43ele gostava dela.
28:44Aí começou a namorar
28:45com a Lore,
28:46aí namorou
28:46pouco tempo,
28:48acho que um ano e pouco,
28:49foi um ano e pouco,
28:50namoraram,
28:51só que não deu certo.
28:52Muito tempo depois,
28:53aí os dois começaram
28:55a namorar outra vez,
28:56aí começaram a namorar,
28:58aí resolveram se casar.
28:59Mas eu não achei
29:00muito legal não,
29:01não achei que os dois
29:01estavam preparados
29:02para se casar não.
29:03Ele foi casado
29:04com a Lore e a vítima
29:05durante dois anos,
29:07estavam separados
29:08desde há um ano e meio,
29:09mais ou menos,
29:11e no momento do crime
29:12ele estava desempregado.
29:13Eu tive muito pouco
29:14contato com o Ala,
29:16quando eu colhi
29:16seu depoimento,
29:18e a única coisa
29:19que deu para perceber
29:20é que ele estava
29:21também totalmente
29:22alienado e frio.
29:23O Ala também
29:24não tinha nenhuma
29:25restrição criminal,
29:27nada que desabonasse
29:28a conduta dele também,
29:30era uma pessoa tranquila,
29:32aparentemente tranquila,
29:33só mesmo,
29:34posteriormente,
29:35quando nós chegamos
29:36no Robert,
29:37é que tudo começou
29:40a esclarecer,
29:40tudo começou
29:41a se encaixar.
29:42Ele estava,
29:43aparentemente,
29:43estava tranquilo,
29:44estava frio,
29:45ele foi ao velório,
29:46foi à delegacia,
29:47junto com familiares,
29:49junto com a mãe
29:49da vítima,
29:50junto com o filho
29:51da vítima,
29:52consolando eles,
29:54tentando ajudar
29:55a polícia
29:55no esclarecimento.
29:57Então,
29:57a família,
29:58de início,
29:58não desconfiava dele.
30:00A mãe da vítima
30:01tinha alguma suspeita,
30:02só que ela não queria
30:03acreditar.
30:04Ele me tratava
30:04como uma mãe
30:05e eu tratava
30:06simplesmente,
30:07eu não tinha
30:07a restrição dele
30:09do meu filho,
30:09da minha filha
30:10e dele.
30:11Eu amava ele mesmo,
30:12de verdade mesmo,
30:12de verdade,
30:13eu amava ele.
30:14Os dois se separaram,
30:15ele vinha lá em casa,
30:16ele me abraçava,
30:17me beijava,
30:18oi,
30:18veinha,
30:19e me beijava
30:20e eu falava para ele,
30:21e aí, meu amor,
30:22estava se alimentando bem,
30:23nossa,
30:23como você está magrinha,
30:24sabe daquela bobeira de mãe?
30:26Como você está magrinha,
30:27se cuida.
30:28Ele,
30:28ah,
30:28você pode achar
30:28que eu me cuide.
30:29Me abraçava,
30:30aquele abraço gostoso,
30:31sabe,
30:32abraço mesmo,
30:33e eu achava
30:33que era recíproco,
30:34porque eu sentia por ele,
30:35ele sentia por mim,
30:37mas depois do que aconteceu,
30:38eu vi que era só fingimento,
30:39porque uma pessoa
30:40que ama a outra pessoa
30:41não causa uma dor tremenda
30:42que ele causou em mim,
30:44porque pelo amor de Deus,
30:46quando descobriram
30:47que era ele,
30:48eu só pedia a Deus
30:49que tivesse errado,
30:51que não fosse ele,
30:52fosse qualquer um,
30:53menos ele,
30:54porque quando chegou
30:56a notícia
30:57que foi ele,
30:59simplesmente,
31:00é como se eu tivesse
31:01ido por cima inteira
31:02e enterrar outro filho.
31:04Fui enterrar outro,
31:05porque pelo amor de Deus,
31:06uma pessoa que você,
31:08sabe,
31:09almoçava comigo,
31:10jantava comigo,
31:10eu que lavava as roupas dele,
31:12porque muitas vezes
31:13a Lore não tinha tempo,
31:14e aí,
31:16e um cara,
31:16uma pessoa fazer
31:17uma coisa dessa,
31:18sabe,
31:19uma decepção,
31:19eu já tive decepções
31:20na minha vida,
31:21muitas,
31:22com 50 anos,
31:23você imagina
31:23quantas decepções
31:24eu já tive na minha vida,
31:25mas a doala
31:25foi a pior de todas.
31:31Os executores
31:33são Robert Peruvani Gama
31:35e Raimundo Nonato Bezerra.
31:37O Raimundo,
31:38segundo a própria esposa
31:40da vítima,
31:41que o meu contato
31:42com ele foi posterior,
31:43ele realizava
31:44pequenos bicos,
31:47e eu cheguei
31:48até a questionar
31:49se ela nunca desconfiou
31:50desses pequenos bicos,
31:51ela disse que não,
31:53mas já dava ali
31:56entender que poderia
31:58se tratar
31:58de condutas ilícitas,
32:01pequenos furtos,
32:02pequenos roubos,
32:03então,
32:04nós não tínhamos
32:05como ter
32:05essa percepção,
32:08mas,
32:09diante das investigações,
32:11ver que realmente
32:12ele incoluiu
32:13com o Robert
32:15e já estava
32:15praticando pequenos crimes,
32:17mas até então
32:17ele não tinha
32:18passagem policial.
32:19Apenas um dos executores
32:20tinha restrição criminal,
32:21o Robert,
32:23ele já foi preso
32:24por roubo
32:24várias vezes.
32:25foi ouvida também
32:26a esposa
32:27do Robert,
32:29que não
32:29prestou muitas informações
32:32que pudesse ajudar
32:34no esclarecimento
32:34do crime.
32:35Ela também,
32:36aparentemente,
32:37não tinha percepção
32:39de nada
32:41dos fatos.
32:47Quando o delegado
32:48me mostrou
32:49as fotos,
32:49não tinha nada a ver
32:50com o Ala,
32:51não tinha nada a ver,
32:51o Ala nem estava ali,
32:53eram os dois homens
32:55que ele tinha contratado
32:56para matar minha filha,
32:57que estava ali.
32:58O Ala nem estava ali,
32:58estava no outro carro
32:59dos banheiros.
33:00Só que foi tão impressionante,
33:03eu vi o Ala.
33:05O homem não era o Ala,
33:06mas eu vi o Ala,
33:08e quando a notícia chegou,
33:10o delegado falou assim,
33:12ela foi assassinada,
33:13assim,
33:13assim,
33:13eu falei para o delegado,
33:14foi o Ala.
33:16Mas por que a senhora
33:16fala,
33:17olha,
33:18quem conhece minha filha,
33:20minha filha é de amigos,
33:22maravilhosa,
33:23não tem uma pessoa
33:24que não se encanta
33:25com aquele sorriso lindo
33:26que ela tem.
33:27Ninguém tem nada,
33:29nada de falar
33:29da minha filha,
33:30minha filha é maravilhosa,
33:30só tem o Ala.
33:31Ele não alegou,
33:33ele não quis entrar
33:34nesses detalhes,
33:35mas diante das declarações,
33:38dos familiares,
33:39das investigações,
33:40nós concluímos que
33:41era uma pessoa
33:43que não aceitava
33:45o fim do relacionamento.
33:46Ele não demonstrava
33:48muito ciúme, não,
33:48mas ele era muito nervoso,
33:51muito, muito,
33:52muito nervoso.
33:53Ele era nervoso com tudo,
33:56tudo, tudo,
33:57tudo ele já perdia
33:58a paciência.
33:59Para você ter ideia,
34:00eu acho que ele não tinha
34:01nem 15 dias de casado,
34:02ele já tinha quebrado
34:03o liquidificador
34:04que tinha ganhado.
34:05Ele era muito nervoso
34:06com o filho dela.
34:07Em casa,
34:08na casa dele,
34:09ele era uma coisa,
34:10sabe,
34:11ele era paciente,
34:12ele era um doce
34:12com o menino,
34:13levava o menino
34:14para a feira de carro
34:15porque o menino
34:16adorava carro antigo.
34:17Depois que casou,
34:18ele se transformou,
34:19ele não tinha paciência
34:19nenhuma com o menino,
34:21nenhuma,
34:22nenhuma com o menino.
34:23Tudo que o menino falasse,
34:24ele já via
34:25com um monte de palavrões horríveis.
34:26Ele não batia o menino,
34:28fisicamente não,
34:28mas moralmente
34:29era pior ainda.
34:31E aquilo ali
34:32foi entristecendo muito a Lore,
34:34muito mesmo.
34:35Aí ela chegou em casa
34:35e falou assim,
34:36mãe,
34:37olha,
34:38mais que eu amasse o Ala,
34:40agora eu não amo mais.
34:41Eu vou pedir o divórcio,
34:42eu quero me separar dele.
34:43Então esse teria sido
34:44o motivo principal.
34:45Aliado a isso,
34:47o Ala e a Lore,
34:48eles haviam contraído
34:49uma dívida de aproximadamente
34:50oito mil reais
34:51na constância do casamento.
34:53Ao se separar,
34:55o Ala teria que pagar
34:56o restante da dívida,
34:58ele não pagou,
35:00e a Lore começou
35:01a fazer cobranças incisivas
35:03com relação a essa dívida,
35:05o que teria causado
35:06uma ira nele
35:07para cometer o homicídio.
35:14Os três foram
35:15inicialmente indiciados
35:17e posteriormente
35:18denunciados
35:18e já processados,
35:19como em curso
35:21nas penas
35:22do artigo 121,
35:24triplamente qualificado,
35:26homicídio triplamente qualificado,
35:28pelo motivo cruel,
35:30pelo motivo
35:31mediante paga
35:33ou promessa de recompensa
35:34e a traição.
35:36O processo foi separado,
35:38tendo em vista
35:39que eles têm
35:39defensores diferentes.
35:41Então, o Ala,
35:41o mandante do crime,
35:42já foi julgado,
35:43foi condenado
35:44a 29 anos
35:45e 4 meses,
35:46e os outros dois executores
35:47aguardam o julgamento,
35:48presos.
35:49A satisfação profissional
35:50é máxima,
35:53mensurável.
35:54A satisfação,
35:55em primeiro lugar,
35:56é poder
35:56dar,
35:58principalmente aos familiares,
35:59aos pais,
36:00às pessoas mais próximas
36:01da vítima,
36:02uma conclusão do caso,
36:03de o que efetivamente aconteceu,
36:06qual o motivo
36:06que levou à morte
36:07da vítima.
36:08Então,
36:09você dá uma resposta
36:10concreta,
36:10efetiva,
36:11para os familiares,
36:13para que eles
36:14tenham um certo conforto.
36:16Não tem
36:16sentimento melhor
36:18de poder
36:19dar essa resposta
36:20para a família
36:21e para a sociedade,
36:23mesmo
36:23que a vida
36:25da pessoa
36:26não tem como
36:27trazer de volta.
36:28mas é muito gratificante
36:31fazer justiça.
36:34Na hora
36:34de contar
36:35como foi,
36:36a juíza perguntava
36:37planejou matar Lore?
36:40Não,
36:40não,
36:41não planejei matar Lore.
36:42E como foi?
36:44Ah,
36:45ela estava me enchendo,
36:47cobrando
36:47um dinheiro
36:48que eu devia
36:48para ela
36:49e o mais
36:50que me irritou
36:51foi porque
36:52ela envolveu
36:54meu pai nisso.
36:55Meu pai nem sabia
36:56e ela envolveu
36:57meu pai nisso.
36:57Eu fiquei muito brava.
36:59Aí eu conhecia
37:00um,
37:00um,
37:01um,
37:01um,
37:01lembro o nome deles
37:03e não faço questão
37:04de lembrar não.
37:05Eu conhecia
37:06fulano
37:07e eu contei
37:08para ele
37:09que a minha ex-mulher
37:10estava me enchendo
37:11o saco
37:12que estava cobrando
37:13um dinheiro.
37:14Aí nós dois
37:15tivemos uma ideia
37:16de,
37:16de,
37:17de conversar
37:18com ela.
37:19Aí a juíza falou assim,
37:20então você planejou.
37:21Ele falou,
37:21não,
37:22não planejou.
37:23Como assim você não planejou?
37:24Você está falando
37:25que contou para o seu amigo
37:26e seu amigo teve,
37:27você e sua amiga
37:28tiveram a ideia
37:28de conversar com ela.
37:30O crime foi totalmente
37:31premeditado
37:31até porque eles já
37:32estavam seguindo a vítima
37:34durante aproximadamente
37:35dois meses,
37:37só não tinham conseguido
37:38arrebatá-la
37:39porque ela nunca
37:39estava sozinha,
37:40ora ela estava
37:41com amigos,
37:41ora eles estavam
37:42com familiares,
37:43então eles já estavam
37:44tentando pegá-la
37:45desde há dois meses
37:46aproximadamente.
37:50Sinceramente,
37:50as duas portas
37:54mais difícil
37:54foi enterrar
37:55a minha filha
37:56e ver ele.
37:58Não é ver
38:00um bandido qualquer,
38:02não é,
38:02foi ver um assassino
38:04qualquer,
38:05foi ver um menino,
38:07sabe,
38:08que eu amava,
38:10eu amava ele,
38:11eu amava de verdade,
38:12mesmo.
38:14Frio,
38:15muito frio,
38:18muito,
38:18muito,
38:19muito frio.
38:21Contando que
38:22chamei meus amigos,
38:26peguei ela,
38:29aí
38:29a juíza mandou eu
38:32sair do fórum
38:33que eu comecei
38:35a chorar.
38:38E eu falava assim,
38:40você não matou uma barata,
38:42sabe,
38:43contando normal,
38:44ele não tinha
38:45esboçado
38:46a sentimento nenhum,
38:47nada,
38:48nada,
38:48nada,
38:48nada.
38:50O que mais me doeu
38:51foi isso,
38:51foi um erro,
38:54sabe,
38:55a vez não foi isso mesmo
38:56que ele quis fazer,
38:57os caras se excederam,
38:59sabe,
38:59porque a Lori lutou
39:00muito,
39:00muito,
39:01muito,
39:01muito para sobreviver.
39:03Então,
39:03a vez deu alguma coisa
39:04errada,
39:05não era isso.
39:06Mas quando chegando lá,
39:07sabe,
39:08foi mais decepção ainda,
39:09ele contando
39:10como fez,
39:12muito frio,
39:13muito frio,
39:15olhava para ele,
39:16encarava ele assim,
39:17ele olhava para mim,
39:19depois abaixava a cabeça
39:20assim.
39:27Não,
39:29simplesmente ele não
39:30remata,
39:32nada,
39:32nada,
39:33sabe,
39:33ele contou ali como,
39:36sabe,
39:37acho que se você
39:39matar um rato,
39:40tem hora que eu ainda
39:41fiquei,
39:41um dia eu matei um rato
39:42e ainda fiquei pensando
39:42que eu matei um rato,
39:44para você matar um ser humano,
39:45gente,
39:45naquele,
39:46predado naquele jeito.
39:47E não é só matar,
39:48gente,
39:48o que eles fizeram
39:49com a minha filha.
39:52Não sei,
39:52mas eu tenho ideia
39:53do horror que a minha filha
39:54passou,
39:55só vivia para trabalhar,
39:56só vivia para cuidar
39:57do seu filho,
39:58me ajudar no máximo
39:59que puder,
40:00era uma filha maravilhosa.
40:01E eles não mataram,
40:03não foi porque,
40:04eles mataram porque
40:06achavam que estava
40:06divertido,
40:07igual o depoimento
40:09de um.
40:10Eles brigaram
40:11porque,
40:12por tanta crueldade
40:13que o de trás
40:14estava fazendo,
40:14que o de trás
40:15da frente não aceitou.
40:16Ele quebrou
40:16os dez dedinhos,
40:17minha filha,
40:18um por um,
40:19do tanto que eu amava ele.
40:21Simplesmente eu queria,
40:22sabe,
40:22olho no olho,
40:23eu não gosto de recado,
40:24não gosto de,
40:25de,
40:25por quê?
40:28Só isso,
40:28por quê?
40:31Não foi fácil, não.
40:50Teve que passar
40:50para o psiquiatra,
40:52para o psicólogo
40:52um bom tempo.
40:53Uma remédia até de louco mesmo,
40:54fazia que nem...
40:55Um dia eu fui buscar
40:56o remédio,
40:57o cara falou,
40:58ah,
40:58eu vim trazer
40:59um remédio de louco.
41:00Eu falei,
41:00meu Deus,
41:01será que eu estou louca?
41:02Mas você perde meio,
41:04tipo,
41:04a razão mesmo,
41:05sabe?
41:06Não é fácil.
41:07E olha que quem me conhece,
41:09eu já passei por muitas
41:10na minha vida.
41:11E nada me derrubou.
41:13Mas a morte da minha filha
41:13me derrubou.
41:15Derrubou legal.
41:16Eu sempre chamo a atenção
41:17nesses casos,
41:19tanto para todos nós policiais,
41:22mas particularmente
41:23para nós mulheres,
41:26poder um dia passar por isso.
41:29ou seja,
41:30um filho,
41:31ou seja,
41:32um parente,
41:33uma vizinha,
41:35esse requinte de crueldade,
41:37porque ninguém imagina
41:38morrer dessa forma.
41:40Ninguém imagina
41:40ter uma faca
41:41por 15 minutos
41:43no pescoço
41:43sem saber
41:44se vai sobreviver,
41:46se não vai sobreviver.
41:47Toda essa agonia
41:49choca.
41:50Eu acho que eu tinha
41:51tanta coisa
41:52que eu ia falar para ela,
41:53tanta coisa
41:53que a gente não viveu.
41:55Eu acho que
41:56falaria mais
41:57que eu amava muito.
41:59Acho que a gente,
42:01acho que não é só eu,
42:02não.
42:02Muitas mães
42:03ficavam na correria
42:04da vida,
42:05na luta
42:07para sobreviver,
42:08acho que a gente esquece,
42:10sabe?
42:11De todo dia
42:11olhar assim
42:12para a sua riqueza
42:13e falar assim,
42:13nossa,
42:14eu amo,
42:14eu acho que eu
42:15falaria mais,
42:16eu amo,
42:16eu amo,
42:17eu amo você.
42:18abraçaria ela,
42:19sabe?
42:19Aquele abraço gostoso
42:20porque a gente
42:22tinha tanta,
42:22era nossa vida
42:23tão corrida,
42:24tão corrida,
42:24a minha e a dela
42:25que a gente
42:27não tinha muita chance,
42:28sabe?
42:28De conversar
42:30ou demonstrar
42:32o tanto que a gente
42:33se amava.
42:33Ela me amava
42:34de paixão,
42:34eu sei disso,
42:35a gente brigava muito,
42:36mas eu se amava muito
42:37e o abraço
42:38mais gostoso
42:39que eu ganhava dela
42:41e ela ganhava de mim
42:42era no Natal.
42:45Nós passávamos
42:45sem reunir
42:46todos os anos
42:47era uma mesma forma
42:47todo mundo,
42:49mais de 30 pessoas
42:49tudo junto,
42:50a minha família
42:50e ela adorava,
42:51era de praxe,
42:53eu sentada
42:53e ela sentava
42:54no meu colo,
42:55ela sentava
42:55todo ano,
42:56ela sentava
42:57no meu colo
42:57e no dia,
42:59quando era na meia-noite
43:00ela me dava
43:01aquele abraço gostoso,
43:02sabe?
43:03Nossa,
43:04e todo ano,
43:05acho que um dia
43:06uma mãe
43:08falou assim pra mim,
43:10não tente lutar
43:13com a dor,
43:13não vai passar,
43:15simplesmente você
43:15se acostuma com ela.
43:17não passa nunca,
43:22você só acostuma,
43:23sabe,
43:24tá aqui,
43:24tem dia que dói mais,
43:26outro dia dói menos,
43:27mas tem como um dia
43:30no Natal
43:30você não lembrar,
43:32não sentir falta
43:32daquele abraço,
43:34não tem como.
43:47Tchau,
43:59tchau,
44:02Legenda Adriana Zanotto
44:32Legenda Adriana Zanotto