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A companhia amazonense apresenta o espetáculo “Sebastião”, um grito por amor e liberdade, baseado em experiências pessoais do grupo com ataques homofóbicos.
Transcrição
00:00Música
00:30A gente acredita numa coisa chamada bio-narrativas, que é a possibilidade de contar em cena vidas reais que chamam a atenção do espectador para vidas que estão passíveis de serem extintas.
00:56É como a necropolítica diz, uma política de morte, onde pouco se cuida de determinadas vidas na sociedade contemporânea.
01:05Sebastião é uma metáfora também para a gente no espetáculo.
01:09Claro que ele parte da ideia de contar o mito de Sebastião antes de ser santo.
01:14Sebastião tem uma história dentro da igreja católica, de um grupo de católicos,
01:20que o tem como um padroeiro LGBT por uma teoria, por uma narrativa de um envolvimento dele com o imperador Diocleciano na época, 300 anos depois de Cristo, mais ou menos.
01:32Então, ele acabou se tornando o mártir, digamos assim, assumidamente dos gays,
01:37porque esse envolvimento que o colocou na letra, na sigla, como a gente diz hoje em dia,
01:43foi o motivo pelo qual ele foi, inclusive, assassinado, quando ele rompeu e ele proclamou o amor, o amor e a liberdade.
01:53Então, para a gente, essa é a metáfora principal.
01:56Se você proclamar, desejar, reivindicar o amor e a liberdade é motivo passível de condenação,
02:04então nós somos um pouco todos Sebastião.
02:06O bar existiu durante os anos 70, em Manaus, e ele é contado num livro chamado, um bar chamado Patrícia,
02:28que é do Bosco Fonseca. O Bosco, ele é um estilista, hoje em Manaus, já é um senhor,
02:33mas ele era uma das principais drags da época.
02:37E quando a gente fala no 70, não dá para deixar de falar que o bar existiu durante a ditadura militar,
02:42e motivo pelo qual eles e elas sofriam muitas violências também.
02:46E eram machucados, violentados, o bar era fechado, eles eram presos,
02:50e eles retornavam ao bar, reabriam o bar, ao longo de nove anos.
02:54Enquanto a gente pesquisava o trabalho para falar de Sebastião, e conhecemos o livro do Bosco,
02:59a gente entendeu que precisávamos também contar o bar Patrícia como um reduto,
03:05onde nós mesmos nem sabíamos da existência dele nos anos 70.
03:09Falar sobre isso, falar para as pessoas de Manaus, falar para as pessoas do Brasil,
03:13porque muitos bares Patrícia existiram durante a ditadura.
03:16A noção de comunidade, de refúgio, de proteção, de abrigo.
03:20Aqui vocês podem chamar como vocês preferirem, de refúgio, de darkroom, de confessionário,
03:29ou até mesmo de peça de teatro.
03:32Normalmente o ateliê trabalha com muita improvisação,
03:34então a gente vai com os argumentos, a história, o contexto, para dentro da sala de ensaio,
03:39e a partir de alguns disparadores que a gente, enquanto diretores, vai dando para os atores,
03:43e para a própria banda, a gente vai construindo tudo.
03:46E para a banda não foi diferente, a banda esteve no processo desde o início.
03:50Então quando a gente foi para a sala de ensaio e começou a improvisar também musicalmente,
03:55junto com as cenas, isso rendeu horas de improvisação musical.
04:01E aí em cima disso a gente foi se contaminando, ouvindo a guitarra,
04:04ouvindo os beats, ouvindo as coisas acontecendo, os textos que os atores improvisavam,
04:10e aí fui criando em cima disso as composições durante o processo.
04:14Então na sala de ensaio a gente ia testando enquanto a gente estava fazendo,
04:19e gravando tudo isso.
04:21Aí eu acho que o processo de finalização que foi de revisitar tudo que a gente tinha gravado.
04:26Mas a música funcionou como uma espécie de narrador, assim, de todo espetáculo,
04:32porque ela conduziu todo o processo, e eu acho que ela conduz agora o espetáculo também.
04:37Eu já fui menos, hoje morri, não é pra menos, não resisti.
05:00A gente recebe o público como drag queens, com as nossas drag queens,
05:06recebe o público no Bar Patrícia, e é dentro do bar que as histórias que vão avançando,
05:12histórias que são das pessoas que viveram o bar, histórias de jornais, materiais documentais,
05:18e histórias nossas, há uma transição, digamos assim, da figura como nós nos apresentamos para o espectador.
05:25A gente vai abandonando as drags no decorrer do espetáculo, e a gente vai se assumindo, digamos assim,
05:34como se elas nos dessem passagem, nos autorizassem, para que nós pudéssemos, enfim,
05:39falar sobre as nossas questões dentro desse contexto do que a obra traz.
05:44Enquanto nós estivermos ali, a dor vai estar sobre um pedaço de papelão,
05:50numa carroceria, de um carro velho, no meio do matagal, e vai ter um homem, um búfalo,
05:57sobre ela.
06:02A dor vai estar com medo,
06:05a dor vai pedir pra ele parar,
06:10a dor vai dizer que ela precisa voltar pra casa, que amanhã ela tem escola.
06:13Ela vai usar esse argumento, que amanhã ela tem escola.
06:16Ela vai dizer...
06:21Para, para, por favor.
06:25Eu preciso voltar pra casa, amanhã eu tenho escola.
06:32Ele não vai parar.
06:35Ele não vai parar.
06:38Eles não vão parar.
06:40Eles não vão parar.
06:43Eles não vão parar.
06:44Ele soca, soca, soca, soca, soca, soca, soca, sem camisinha.
06:52Ele não vai parar.
06:53Ele não vai parar.
06:54Ele não vai parar.
06:55Ele não vai parar.
06:56Ele não vai parar.
06:57Ele não vai parar.
06:58Ele não vai parar.
06:59Ele não vai parar.
07:00Ele não vai parar.
07:01Ele não vai parar.
07:02Ele não vai parar.
07:03Ele não vai parar.
07:04Ele não vai parar.
07:05Ele não vai parar.
07:06Ele não vai parar.
07:07Ele não vai parar.
07:08Ele não vai parar.
07:09Ele não vai parar.
07:10Ele não vai parar.
07:11Ele não vai parar.
07:12Ele não vai parar.
07:13Ele não vai parar.
07:14Ele não vai parar.
07:15Ele não vai parar.
07:16Ele não vai parar.
07:17Ele não vai parar.
07:18Ele não vai parar.
07:19Ele não vai parar.
07:20Ele não vai parar.

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