Tudo começa em 1785, com a chegada da pequena infanta espanhola Dona Carlota Joaquina de Bourbon a Portugal para casar-se com D. João VI, que à época atendia por Infante Dom João de Bragança. Já em 1808, após muita indecisão, D. João VI resolve transferir a corte para o Brasil, para fugir dos ataques e do poderio bélico de Napoleão Bonaparte. Em paralelo à história dos monarcas, se desenvolve o romance da donzela Manoela com Francisco Gomes, o Chalaça - um dos melhores amigos de Dom Pedro de Bragança.
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00:00A CIDADE NO BRASIL
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01:46A sample
01:48A CIDADE NO BRASIL
01:50A CRESTE EM
01:56Para manter a distância.
01:59Pois eu ficava a recordar o teu riso.
02:02Que toma tua boca e teus olhos.
02:04Até teu corpo sorrir.
02:09E nunca os dias foram tão vazios.
02:11Tudo que teve importância agora ficou banal.
02:14O que antes era um prazer.
02:16Agora virou um fardo.
02:18Como se cada minuto sem sentir o teu perfume.
02:23Fosse um momento perdido.
02:24Eu ficava imaginando cada minuto teu.
02:28Cada parede que te cerca.
02:30Li tudo que caiu em minha mão sobre a corte.
02:33Fiquei a ver os desenhos desses salões.
02:35E ficava te imaginando a passear por eles.
02:38Vivia esse tempo todo preso em tua casa.
02:41Confinado entre aquelas paredes.
02:43A buscar o teu cheiro no meu corpo.
02:46A viver de olhos fechados tentando recordá-la.
02:50Falei de ti para minha filha.
02:52Nesse porte e eu a minha não tinha mais ninguém a falar.
02:55Eu não podia aceitar que você fosse embora da minha vida.
02:59Ela começou no momento em que eu te conheci.
03:01A ver.
03:03Falei.
03:04Falei.
03:05Falei.
03:09A ver.
03:10E aí
03:40Pedro, que foi, Pedro?
03:44Pareces abalado?
03:44É o calor, minha filha, é o calor.
03:46Nem eu estou a suar tanto.
03:47É que estava a exercitar-me.
03:49Andei muito relaxado esses dias.
03:51Queres me acompanhar no jardim?
03:53Gosto quando ficas lá a me ver quieta.
03:56Vim justamente consultar-te.
03:58Consulta-me lá.
03:59Devo ou não visitar a senhora que se acidentou comigo no Passo?
04:02Acabei por machucá-la.
04:03Ah, aquilo é uma chata que vive querendo chegar perto da família real
04:08desde que descemos o navio.
04:10Foi ela que causou todo o incidente.
04:13É verdade.
04:14Devia mandar prendê-la por pôr a vida de meu filho em risco.
04:16Se consideras inconveniente, então não vou.
04:18Não, não, não considero nada inconveniente.
04:22Sabe, temos que dar bom exemplo ao nosso povo.
04:26Tu vais visitá-la.
04:27Podemos ir amanhã.
04:29Não, tu vais agora.
04:30Em plena noite?
04:31É cedo.
04:32Amanhã o misterico já terá se espalhado.
04:34Podem até dizer que tu te jogaste de propósito em cima da louca.
04:38Plácido!
04:40Plácido te leva.
04:41E não volto escorrendo.
04:42Podem dizer que a sua visita foi só pro forma.
04:44E sabes como falam esse povo.
04:46E Maria da Dua ainda está acordada.
04:48Há muitas escravas para cuidar da menina.
04:51Vai, vai.
04:52Os deveres de uma princesa estão acima de tudo.
04:54Mas não vais comigo?
04:55Não, não, porque...
04:59Porque conhecem o meu temperamento.
05:01Não sei mentir.
05:02Vão acabar dizendo que fui até lá para tomar satisfações acidentada.
05:07Fazemos de um bom gesto um desastre.
05:09Vai por mim.
05:10Vou.
05:11Mas não te extenoes, meu amor.
05:13Às vezes maltratas demais o teu próprio corpo.
05:15Ficarei quieto como um lago no inverno.
05:19Não me diga que aquilo é que a tua...
05:38Aquilo é.
05:39Mas eu não sabia que ele estava prestes a dar a luz.
05:44Nem ao quinto mês chegou ainda.
05:47Vem, vem.
05:51Pedro!
05:54Pedro!
05:56Pedro, eu assim fico louco.
05:58Ficamos os dois, meu irmão.
05:59Ficamos os dois.
06:00Mas eu não consigo entender como funciona esse Banco do Brasil, Pedro.
06:03Eu sei que foi bondade sua me dar metade do trabalho.
06:05Já que para papai eu só sirvo para decorar mesas.
06:07E estás a perder o assunto, Miguel.
06:10Mas como esse banco pode funcionar, Pedro?
06:12Ele guarda o dinheiro, depois empresta para outro.
06:14Se o dinheiro sai, como é que pode dar lucro?
06:16São os juros, Miguel.
06:19Empresta-te 10, tu depois pagas 1.15.
06:21O lucro é esta a diferença.
06:22Sim, mas como se decide a quem emprestar, Pedro?
06:26Olha, diz aqui que a pessoa...
06:27A pessoa tem que ter bens para cobrir o empréstimo.
06:29Mas...
06:30Mas se ela já tem bens, para quê?
06:33É um empréstimo.
06:34Para expandir os negócios, crescer, Miguel.
06:36Mas com o dinheiro dos outros não faz sentido, Pedro.
06:39Não faz todo sentido, Miguel.
06:41É a natureza do giro de capital.
06:43Vai entender tudo lendo um inglês chamado Adam Smith,
06:46que está em cima da minha mesa.
06:47Pega-o e lê.
06:48Não, irmão.
06:49Este livro me dá chove.
06:50E só volte aqui quando tiver exterminado.
06:54Lê, Miguel.
06:55Leia-o.
06:56Por favor.
06:56É o vosso quarto?
07:20Como é belo.
07:21É agradável.
07:41Padrinhas!
07:43Irapim!
07:44É o rei?
07:45Meu pai me diz isso!
07:46Padrinhas!
07:47Padrinhas!
07:49Padrinhas!
07:51Padrinhas, filhote!
07:53Oi, filhinho!
07:54Filhinho, as dúvidas me dominam.
07:57O que foi, filhote?
07:58Já estavas a dormir, é isto?
08:00Pensava em me recolher, meu pai.
08:02Estão a fazer pressões terríveis para que eu volte a Portugal.
08:06O povo ameaça uma revolução, fazem exigências, reclamam tudo.
08:10Há gente mal educada.
08:12Então voltai a Portugal, meu pai.
08:13E tu me dispensas assim, frivolamente?
08:17Nem um pequeno amor, nem...
08:19Não vá para a pique.
08:21Eu sofro, sim.
08:22Mas são os deveres de um reino.
08:24Mas é muito mais conveniente que a ficar, filhote.
08:27O Brasil é um lugar muito grande para ser governado lá de Portugal, entendas?
08:32Depois lá é muito frio, filhote.
08:34E a gente daqui é muito mais bem disposta, não é verdade?
08:37Ah, então não há o que sofrer.
08:38O rei fica.
08:39Sim, mas se fico, há uma revolução na torrinha.
08:41Então vai, meu pai, vai!
08:43Estás a destrutar-me, filhotinho.
08:46Estás...
08:47Já não bastasse aquele banho que me obrigaste a tomar.
08:50Eu tenho maria no corpo até hoje.
08:52É só tomar um banho, vossa banheira, que ela sai.
08:56Outro banho?
08:57Então, pouco tempo...
08:59Queres matar-me a isto?
09:02Anseias pelo meu velório?
09:05Filho ingrato, tamanho da ambição!
09:09Eu tu és degenerado!
09:12Filho ingrato, eu tu és isto!
09:14É a sua alteza o rei?
09:18Meu pai...
09:19Estou a complicar a vossa vida.
09:21Peço-te perdão pela minha loucura, eu acho melhor partir.
09:23Não!
09:24Não!
09:25Daqui não sais nunca mais.
09:29Não, não, não, não, não.
09:31O chá me dá coceiras.
09:32Querem que morra louca sem me coçar consigo?
09:35Ai...
09:36É isso, do marido.
09:37Ah, é aqui que coça?
09:38É.
09:39Não, mais para cima, assim.
09:40Mais, assim, assim.
09:41O chá, Maria, no chá.
09:42O chá, o chá.
09:42Não bastam as dores discurriciantes, morro de sede também.
09:46Eu pensei que não querias.
09:47É, não devia, não é?
09:49Porque o chá tem uma rápida jornada dentro de nós, e aí...
09:53E sofrimento.
09:55O sofrimento ela vai sentir quando perder a paciência de vez?
09:57Não, não.
09:58Ela tem que ficar aqui?
10:00Perderam a casa, não tem mais ninguém.
10:03Está sem açúcar.
10:04Sem açúcar?
10:04Sem açúcar.
10:05Sem açúcar.
10:06E a família real não chogou ninguém ainda?
10:09Não, a mulher quase tenta matar-me e nem ligam.
10:12Não, meu Deus.
10:13Não precisa de não condir, não.
10:16Perdão por vir sem avisar.
10:18Estava justamente dizendo que pressentia a vossa chegada.
10:21Alguém tão bondosa.
10:23Não ia virar as costas para os desvalidos do destino.
10:27Não fui rápida?
10:28Salvei vossa vida e doerreiro.
10:31Jogando-me sob vós quando despencavamos daquela liteira.
10:34Não sei como vos agradecer.
10:36Necessitais algo?
10:37Vivos em perfeita saúde é minha maior recompensa.
10:42Se bem que faltam travesseiros fofos.
10:45Mariana e Fernão se acostumaram demais à vida rusca na fazenda e se abstendem de certos confortos.
10:51E os dois escravos, pois estamos a sobrecarregar os de Fernão.
10:56Não.
10:57Não?
10:57Não precisa.
10:59Estão a chegar mais.
11:00Então é melhor que a senhora descanse.
11:03Não, não, não, não.
11:05Minha princesa, sempre sujei em ouvir os contatos da sua terra natal.
11:09Negai prazer tão diminuto.
11:10Não, não, não.
11:11Minha criatura quase...
11:11Não há coisa mais linda que ver te acordar.
11:41Não há coisa mais linda que ver.
12:11Não, Pedro.
12:15Desculpe incomodá-lo, Maltesha.
12:20Pedro.
12:21Pedro.
12:22Pedro.
12:23O que você está fazendo aqui?
12:25De direito, a pergunta é o meu.
12:26Pedro.
12:27O que foi?
12:28Ainda perguntas?
12:30Está esquisito, deixe-me dormir.
12:31Com esta potranca no quarto de vossa esposa.
12:35Ai, meu Deus.
12:36Anda, Pedro.
12:38Preciso me vestir.
12:39Ah, sim.
12:40Serás o cadáver mais bem vestido do Campo Santos que pegam assim.
12:43Onde estavam com a cabeça?
12:45Não, nem responda, Pedro.
12:46Conheço bem vossas preferências.
12:47Onde está Leopoldina?
12:48Durbeu no passo.
12:50Choveu forte na cidade.
12:51Ai, graças a Deus.
12:52Mas não forte o suficiente para intransitar o caminho.
12:54Anda.
12:56Anda.
13:00A princesa.
13:03Diga que sou tua amiga.
13:04Trago uma mulher para conhecer o príncipe a esta hora com a fama de alcoviteiro real que já tenho.
13:08Desde quando preciso de alcoviteiro?
13:10Precisa erdir umas boas sovas de chinelo para deixar de ser descuidado.
13:13Deixe-me entrar.
13:17Eu quero ver Pedro.
13:18O príncipe está adoentado.
13:21Não estás a ouvir o tossir?
13:22Mais uma razão para querer vê-lo.
13:24Deixe-me passar.
13:24Ah, Alteza.
13:25Ele teme contaminar a voz e a infanta Maria da Glória.
13:29Acalma aí que dele cuido eu.
13:30Acalma aí, acalma aí.
13:32Anda.
13:33E agora?
13:34Agora pega tua vassoura e sai voando.
13:36Agora eu respeito a moça.
13:38Não chegaste aqui por magia?
13:41Anda, que quanto mais ficares aí, mais perigo corre.
13:43Anda, para onde eu levas?
13:45Para fora.
13:46Depois pensa o resto.
13:52Pedro.
13:54Pedro.
13:59Que ninguém, ninguém entre neste quarto.
14:03Porque este miasma é dos que se pega ao fato.
14:06Ah, se o mete.
14:07Me dói o coração passar a noite longe.
14:20E meu Pedro é que doente é necessitar de mim.
14:24Imagina.
14:24Oxalá se exagera.
14:25Vamos lá.
14:33Vamos lá.
14:38Tchau, tchau.
15:08Tchau, tchau.
15:38Tchau.
16:08Tchau.
16:38Tchau.
17:08Tchau.
17:38Tchau.
18:08Tchau, tchau.
18:10Tchau.
18:40Tchau.
18:42Tchau.
19:12Tchau, tchau.
19:14Tchau, tchau.
19:16Tchau, tchau.
19:18Tchau, tchau.
19:20Tchau, tchau.
19:22Tchau, tchau.
19:24Tchau, tchau, tchau.
19:26Tchau, tchau.
19:28Ai que estou morto, Pedro.
19:32Papai me disse Terra África.
19:35Que foi Miguel, calma.
19:37A casa de França tecido esvaliu.
19:41É daí, é daí que eu liberei um grande empréstimo a eles.
19:45Se todos sabiam que o herdeiro, depois que o pai morreu, só sabe beber a fortuna.
19:49Mas eram tanto trabalho, eram tantos pedidos, Pedro.
19:54E pior é que comprometo a ti, porque papai não sabe que me deixaste trabalhar contigo no banco.
20:00Ai, que me mato, Pedro. Ai, que me mato.
20:03Miguel, calma. Miguel, calma.
20:05Eu vou lhe matar. Calma, Miguel. Calma, Miguel, calma.
20:12Eu vou lhe matar.
20:14Eu vou lhe matar.
20:16Prácido, me ajuda. Eu posso mesmo.
20:19Prácido. Pedro.
20:21Pedro, meu filho, desde quanto tu és imbecil, hein, Pedro?
20:25Não, não me responda. Não me responda que não preciso. Desde nunca.
20:30Mas pensa que teu pai o és, não é verdade? Quanto deram?
20:32Deram-me pra quê, meu pai?
20:33Para liberares um empréstimo pra uma casa falida cujo dono fugiu com que conseguiu e agora paga as histórias com as tuas dívidas.
20:40Pega, meu amor de Deus.
20:42Cuidado, meu pai.
20:43Quanto vai assim te quebras inteiro?
20:44Meu amor de Deus, esta um humildade que me faz espirrar o tempo inteiro daquele útero que meu pai me tomou por causa de tomar, desgraçado.
20:51Dívidas, não é, Pedro? Quais foram as dívidas? Que dívidas fizeste, desgraçado? Rameiras! Para te sujares tanto, é isto?
20:58Não foi o príncipe Pedro que autorizou o negócio.
21:02Plácido, quem se deu ordens para falar?
21:04Quem foi então, Pedro?
21:07O responsável sou eu. Se sou o diretor do banco, qualquer erro é meu. Erro. Mas honestamente, meu pai, pelo menos isso sabeis de mim.
21:15Não é culpa de Miguel. Estava aterrorizado.
21:21Vem paga contra o príncipe.
21:24Miguel não suporta broncas como eu.
21:27Porque talvez não se exponha tanto a elas. Está sempre a jogá-las em vossas costas.
21:33Vossas costas são lacas, mas para tudo na vida tem limite.
21:36Nunca percebeu que vosso irmão está sempre a jogar-vos contra vosso pai.
21:40Não admito que falem de Miguel. Pega esse peso.
21:43Segura o braço aqui em cima. Agora traz a cabeça abaixo.
21:47Isso, assim. Isso é um ótimo exercício para o dorso do braço.
21:51Ah, adorável.
21:52Isso, vai sozinho.
21:54O que machuca é que meu pai não confia em mim.
21:57Não importa o que faça, está sempre com o pé atrás.
22:00E justo agora que queres ficar no Brasil?
22:02Preciso ficar, Plácido. Se depender das cortes portuguesas, tudo acaba em guerra.
22:06Só não entendo por quê.
22:07Em Portugal, acham que Dom João é o demônio. O reino está falido, afinal a economia é desandar.
22:12Claro, porque tudo que se produz lá é mais caro do que se produz fora.
22:16E chega com o braço.
22:18Está bom.
22:19De contrário.
22:20Não assim, relaxa, relaxa.
22:23Mesmo com uma taxa sobre o trigo importado, o grão inglês é mais barato que o dos portugueses,
22:29porque sua técnica de cultivo é mais moderna.
22:31Algumas fábricas de Portugal fecham as comandes de algodão de tomar sem dinheiro para circular o comércio.
22:36Entra em crise, mas não.
22:37Mas a saída que eles propõem não é essa.
22:39Querem que o tempo volte atrás?
22:40Que o Brasil volte a ser uma colônia proibida de negociar livremente.
22:44O Brasil cresceu demais para caber no espaço que os portugueses querem botá-lo.
22:49E vamos correr.
22:51Faz bem, eu vou.
22:52Depois, Alteza.
22:53Eles estão a adorar esta nova técnica que aprendi.
22:56Que deu nova plácida.
22:58Desgraçado.
22:59Desde a Masburra não me torturavam tanto assim.
23:01Coitado, sacrificou-se à toa.
23:03Mas esse é Dom Miguel.
23:04Que de uma cobra.
23:06Mas o que Pedro tem de bondade tem de morrer-se.
23:08Temos que ajudá-lo.
23:09Mas de que maneira?
23:10Mostrar a Pedro quem ele é.
23:12Do que gosta é um pássaro.
23:14Ao piste.
23:15Vamos dar ao piste a ele.
23:24Príncipe Miguel.
23:25Preciso de vossa ajuda.
23:27Dá-me uma câimbra terrível aqui.
23:29E eu com isso?
23:31Apertai meu músculo.
23:32Vê-te como parece saltar pelo peito.
23:35Aperta que melhora.
23:36Eu nunca soube de tal recurso curativo.
23:38Sai suado.
23:39Perdoe-me não tirar em vossa mão, Gustavo.
23:41Esfalfar-me na ginástica com o príncipe.
23:43Devemos acompanhar qualquer dia desses.
23:45Não.
23:46Não.
23:47Que sou muito fraco.
23:48Pedro é que sempre foi o mais forte.
23:50Desde menino.
23:51Mas as técnicas do príncipe são maravilhosas.
23:53Estava depauperado com o trabalho cansativo.
23:56Agora está aqui também do gabinete.
23:58Assinar papéis.
23:59Deste lado.
24:00Assinar papéis.
24:02Com um mês de exercício já sou outro homem.
24:04Há vezes com minha musculatura já tomou outro tônus.
24:08Não tirai-me essa mão.
24:09Ela tem efeitos magníficos.
24:11Já está a passar.
24:14Finalmente uma ideia que presta.
24:16Meu filho Pedro está a analisar ponto a ponto aquela pretensão
24:20que os súditos de Portugal chamam de Constituição.
24:24Mas logo o menino Pedro, majestade.
24:27Tão liberal.
24:28Mas é o único que teve paciência para ler aquilo tudo.
24:31Faremos um projeto nosso.
24:33Aceitando só o aceitável.
24:35Quero mostrar-me o que mudou.
24:37Diz que faz tudo em menos de um mês.
24:38Quero.
24:39Erro.
24:40Vinte dias é o prazo que me dei.
24:41Mas é humanamente impossível.
24:43De ler o início já se vê que são propostas contraditórias entre si.
24:46Vinte dias.
24:47Não saio, não bebo.
24:48Dedicação total.
24:49E mande trancar a porta da senzala para mim.
24:52Para quê?
24:53Dou-vos dez dias no máximo para estar arrebentando qualquer lacre com a própria espada.
24:57Se não com coisa pior.
24:58Vou provar ao meu pai que posso ser sério e digno de confiança.
25:02Não sou mais um menino.
25:03Ou sou?
25:04Não, claro que não.
25:05Mas será uma bela jornada.
25:06Mas começar é amanhã.
25:07Hoje temos festa na trombeta.
25:09Não posso.
25:10Jurei ao meu pai que não decepcionaria.
25:11Mas chegaram meninas novas com danças de França.
25:14Uma usa como única roupa uma serpente enrolada em seu corpo.
25:18Imagine de que dança serpente é capaz de fazer.
25:23Não seria uma morena de olhos verdes que vi chegar no passo a vir do cais?
25:27Com um requebro mais marcado que a academia militar quando se põe a machada?
25:30Está mesmo?
25:31Acompanha-me pra cima.
25:32Um, dois.
25:33Um, dois.
25:34É essa canção aqui.
25:35Não!
25:36Não!
25:37Que de hoje em diante só janto em casa.
25:39Eu vou tirar!
25:40Eu vou tirar!
25:41Eu vou tirar!
25:43Não se pode dizer que o menino não esteja se esforçando, Carlotinha.
25:46Só vai ficar do lado daquela mulher.
25:48Ai, Jesus!
25:50E depois, Carlotinha, o menino trabalha, viu?
25:52Tanto parede que nem um donadinho.
25:54Os donadinhos ficam todos manchados do tinto.
25:57É uma graça!
25:58Não adianta!
25:59Não adianta, João.
26:01A verdadeira natureza ainda está lá embaixo.
26:05E mais cedo ou mais tarde, ela vai aparecer.
26:09Não!
26:10Agora não, xalaça!
26:11Agora não, xalaça!
26:12Agora não, xalaça!
26:13Agora não, xalaça!
26:14Que tenho trabalho a fazer!
26:15Mas assim, perdes até teu próprio enterramento.
26:17Já se notam os sinais de nervosismo.
26:19Olha as mãos a tremer.
26:21Nada disso mata!
26:22E no fim, o que tenho eu a perder?
26:25As coxas de Marieta a dançar?
26:28E os beijos de Lulu?
26:30As contorções de Marieta?
26:32A pele de Lúcia?
26:35A anca de Joana?
26:37Leopoldina!
26:38Leopoldina!
26:39Leopoldina!
26:47Leopoldina!
26:52Leopoldina, minha filha!
26:54Leopoldina!
26:55Leopoldina!
26:56Leopoldina!
26:57Leopoldina!
26:58Ah, safadinha!
27:00Queres no chão agora?
27:02Leopoldina!
27:03Leopoldina!
27:04Leopoldina!
27:05Leopoldina!
27:06Leopoldina!
27:07Leopoldina!
27:08Parece um padre.
27:09Teve de mau humor a suspirar.
27:10Mas não ponha os pés para fora da quinta.
27:13A senhora acha que Pedro está criando responsabilidade, irmã?
27:16Se cria, nós descriamos, Miguel.
27:18De que maneira, irmã?
27:21Se chegam bilhetes das rameiras com saudades,
27:23ele os rasga.
27:25Quem é a pessoa neste mundo que lhe mais confia?
27:30Hein, Miguel?
27:33E Leopoldina?
27:34Está no quarto de cama.
27:37Está com alguma coisa esquisita,
27:38que reclama de dores no corpo todo.
27:43E chega que tenho trabalho a fazer.
27:45Pedro...
27:47Vai comigo, Pedro.
27:48Eu detesto isso sozinho.
27:50Não estou pondo os pés para fora, lembras?
27:52Sim, para tuas rameiras.
27:55Uma ida à igreja?
27:56Depois de ficar tanto tempo aqui trancado,
27:58não é o recanto dos meus sonhos.
28:02Alô, esta noite?
28:03Há tanto tempo no avislumbro.
28:05Pedro, precisa sair.
28:08E maior garantia de cumprimento de tuas promessas
28:10que sair com teu irmão covarde.
28:13Está certo.
28:14Vamos à missa.
28:16Se vamos à igreja, o que queres aqui, Miguel?
28:19É uma surpresa, Pedro.
28:20Caramba!
28:21Vem!
28:27Surpresa!
28:41Miguel, o que é isso, Miguel?
28:42Ah, é gente que te adora e aqui tanto sem desfalto.
28:45Eu não posso, Miguel.
28:47Fiz uma promessa.
28:48A papai, não a mim.
28:50Que diferença faz uma noite?
28:52Temo minha própria natureza desregrada.
28:56Mas o que há de mal, né, se tomarmos cuidado?
29:00Bebo pouco, limito-me a uma moça.
29:03Antes da minha noite estou fora, não?
29:04Então, saúde!
29:23O príncipe te pôs a correr?
29:25Que príncipe, Benedito?
29:26Uma semana está aqui o príncipe Dom Pedro, garanhão da corte.
29:30Ficas diferente, cheias de cor na face, agitada e aí some.
29:36Ele te rejeitou?
29:38Disse-te na cara que fosse apenas mais uma de uma lista interminável?
29:42O príncipe me amou.
29:45Sorriu pra mim como nenhum homem já fez até hoje.
29:50Como se só o fato de eu existir fosse suficiente pra ele ser feliz pro resto da vida.
29:55O príncipe me amou com uma fome que nenhum outro homem já teve antes por mim.
30:01Benedito, eu fui feliz.
30:03Como tu nunca, pois te nem nunca serás.
30:09Uma filha abandonas?
30:11O marido enganas?
30:13Deu a me preocupar com um engenheiro a serviço?
30:18Tu não te contentas com pouco, não é, Betila?
30:21No mínimo um príncipe!
30:22Fosse um lacaio, fosse um cavalariço, quem quiser que fosse!
30:29Se fosse ele, já seria o suficiente!
30:32Para, Felício! Para!
30:34Por que pergunta se não queres resposta?
30:37Eu quero ouvir respostas tuas, Betila.
30:40Felício, pelo amor de Deus!
30:43De ti eu só quero ouvir os estertores da morte!
30:45Não gaat e não!
30:46Colabora lá!
30:48Ohhhh!
30:50Felício!
30:56Tomo!
30:59Ah!
31:00Legenda Adriana Zanotto