O psiquiatra Marcos Lacerda afirmou que estão tornando uma patologia um fenômeno que não é patalógico, que é cuidar de bebês reborn como se fossem crianças reais.
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00:00A roupinha aqui da Maitê, tava num... como é que é mesmo?
00:03Um bórezinho, né?
00:04Um bórezinho, tava grande, o bórezinho da Maitê.
00:06E olha como simula até aquela barriguinha mais inchadinha e tal.
00:10Ô Maitê, você viu que uma das perguntas aí da sala Google
00:13é justamente sobre o preço.
00:15Aliás, Karen, perdão.
00:17É, bebê.
00:18Exato.
00:18A Maitê é a bebezinha aqui, gente.
00:21Quanto você pagou nessa bebê reborn aqui?
00:23R$4.500.
00:24E quais são os cuidados?
00:26Porque, gente, até o dedinho aqui, a unhinha, tudo isso é muito bem representado.
00:32A orelhinha que dobra quando a gente põe aqui no braço, sabe?
00:35E até essas casquinhas, né, que muitos bebês têm, a termatite,
00:38até isso você trouxe aqui pra essa bebê.
00:40É, na verdade, coitada, isso é por excesso de banho, né?
00:44Porque o cuidado com o silicone é um pouco diferente.
00:46Mas é bem realista mesmo.
00:48Inclusive, a gente tava comentando, a minha filha ficou alucinada
00:50quando eu comprei a boneca.
00:51E ela tinha até ciúmes quando eu saía pra dar curso,
00:54quando eu chegava lá, eu quero dar banho, eu quero cuidar.
00:56Agora ela já desapegou um pouquinho.
00:58Mas tem uma outra situação muito interessante que eu percebo
01:01que os cachorros, quando eu vou nas casas,
01:03os cachorros ficam alucinados com a boneca.
01:05Acho que eles entendem que realmente é um bebê.
01:07Pela fisionomia, né?
01:09Cria uma identificação e eles ficam alucinados.
01:12Eles ficam querendo ver, querendo cheirar.
01:14Teve uma situação que eu tava saindo da casa com duas bolsas.
01:18Uma tava boneca e a outra as outras coisas.
01:20E o cachorro ficou alucinado na bolsa que tava boneca,
01:22pulando até o portão, tipo, desesperado.
01:25Onde você tá levando esse bebê?
01:26É um filhote humano pra ele, né?
01:29Um filhote humano.
01:30Só pra gente repercutir o que a gente viu na sala Google,
01:33teve bastante questão sobre afeto.
01:36Eu queria insistir um pouquinho de entender
01:37em que casos a gente pode realmente recomendar,
01:40olha, ter um boneco, seja esse, seja não tão realista quanto esse,
01:44é bom pra uma criança ou até pra um adulto,
01:46além do caso de Alzheimer que a gente já falou?
01:48Se for algo que lhe faz bem,
01:51se for algo que lhe tira da solidão,
01:54se for algo que lhe ajuda a preencher um certo vazio.
01:57Mas um pai pra um filho,
01:59quando é que deveria dar pra uma filha um filho?
02:01Tá.
02:03Bom, em primeiro lugar, ele vai ter que poder dar.
02:06Não é para qualquer pai.
02:07Porque não é para qualquer pai.
02:08Eu falei que ou pode ser filho, né?
02:09Ele vai ter que poder dar.
02:11Porque não é para qualquer pai.
02:13Dê ao seu filho, se o seu filho pedir, você puder dar.
02:16Agora, explique ao seu filho
02:18que ele está gostando e brincando
02:22e que ele está aprendendo a lidar com seres humanos,
02:26que ele vai ter que lidar com seres humanos reais.
02:28É fazer uma diferença.
02:29A gente tá falando de criança.
02:31Fazer uma diferença entre o real e o imaginário
02:33pra essa criança.
02:34Olha, parece muito com o de verdade.
02:37Mas não é.
02:38Mas você vai poder amar como se fosse de verdade.
02:41E mais tarde, você vai poder aprender
02:42a dirigir esse amor pra um ser humano verdadeiro.
02:45Eu quero até pegar gancho nessa questão, né?
02:47Porque é impossível a gente não trazer
02:49que a gente vive uma era da solidão mesmo, né?
02:51Em que as pessoas têm se relacionado menos
02:53e têm tido animais como filhos,
02:56cuidado como filhos,
02:57dormindo na cama juntos.
02:58O quanto que esse uso, né?
03:01Essa febre de bebê reborn
03:04tem relação com nós, seres humanos,
03:06mais solitários, mais afastados da comunidade.
03:08Muita, muita relação.
03:11A solidão virou realmente uma pandemia no nosso mundo.
03:15Em 2018, se não me engano,
03:18o Reino Unido criou o Ministério da Solidão
03:21pra dar conta de tanta gente sozinha.
03:23Durou apenas um ano esse ministério,
03:25mas existiu e levantou muitos dados.
03:28E hoje a China também tem muitos problemas,
03:31China e Japão, com a questão da solidão.
03:33Então, dirigir, eu preciso ter pra onde dirigir meu afeto.
03:37E o bebê reborn, no final das contas,
03:40se a gente levar ao extremo,
03:41acaba sendo um tipo de tela, né?
03:44Só que eu dirijo meu afeto
03:46de uma forma mais orgânica, vamos dizer.
03:49Doutor, aliás, só falando aqui,
03:51eu fico ouvindo o que o doutor está falando
03:53e até entendendo que essa questão
03:56da realidade que o bebê passa
03:58faz com que a gente, de fato, crie um afeto.
04:00Eu tô aqui, ó, fazendo carinho, tem todo o bebê.
04:03E aí o pai fala, por que eu tô fazendo carinho?
04:05E eu tô com pena da dermatite,
04:07eu tô com pena, querendo tratar.
04:08Tá querendo cobrir também?
04:09Eu tô com pena com frio que ela tá passando.
04:12Não, gente, mas não tô brincando.
04:13É real.
04:13Você percebe isso também, ó, Karen,
04:15ali nos seus atendimentos?
04:16Que essa realidade do bebê
04:18faz com que a gente tenha muita conexão.
04:20Tem muitos pais que,
04:22na hora que vai fazer o banho ali,
04:23muitos homens, inclusive,
04:24eles começam a chamar o boneco
04:26pelo nome do bebê mesmo, que vai ser.
04:28Do que eles vão ter.
04:28É, e muitas mães depois me mandam um vídeo,
04:31assim, a gente faz um vídeo na hora do curso,
04:33depois me manda um vídeo na vida real,
04:35ó, o primeiro banho.
04:37E o comportamento muito semelhante,
04:38assim, o pai é falando igualzinho.
04:40Mas é muito engraçado,
04:41como na hora de pegar e fazer o cuidado,
04:43eles ficam com aquele cuidado mesmo com a boneca,
04:45como se fosse um bebê.
04:46Realmente muito realista.
04:47Esse realismo chegou a algumas situações
04:49que a gente tem visto, vamos ver a imagem,
04:51em que as pessoas fazem até
04:53o parto do bebê rebote.
04:56Isso aí já é extremo, doutor?
04:59Ou é parte da brincadeira?
05:00Eu acho que é parte da brincadeira.
05:02Essa pessoa sabe perfeitamente
05:04que não está fazendo um parto real.
05:07Isso é um brincar.
05:09Só que um brincar no escala adulta.
05:11Se uma criança estivesse fazendo isso,
05:14a gente acharia muito tranquilo.
05:16Agora, temos que reviver realmente o brincar.
05:20Ali é como se a bolsa estivesse estourada, né?
05:22Tem até o cordão umbilical.
05:25Tem.
05:25Mas é positivo o adulto brincar?
05:27É isso que o senhor está dizendo.
05:28Eu estou dizendo que é positivo.
05:30E acho que a gente brinca muito pouco.
05:31Porque a sociedade diz que a gente tem que ser sempre
05:34muito sério, muito sisudo,
05:37levar tudo muito a sério.
05:39E a vida não é assim.
05:40A gente precisa recuperar o brincar
05:42na nossa vida.
05:44Maravilha, excelente.
05:45Doutor, tem mais uma interação aqui do Cláudio Oliveira.
05:48Ele está falando de Salvador.
05:49Ele diz que vê que mais pessoas
05:52denunciam suas patologias emocionais
05:54quando se debruçam sobre os bebês de born
05:56como se fossem de verdade usados
05:57para suprir os gaps, né?
05:59Os buracos da alma.
06:00O que o senhor acha desse comentário?
06:02Como é o nome dele?
06:03Cláudio.
06:04Cláudio, qualquer coisa que eu faça,
06:07qualquer coisa,
06:08até a profissão que eu escolho
06:10é para tapar meus buracos emocionais.
06:13Não existe nada que não me leve,
06:15que não me mova neste mundo,
06:17que não seja pelas minhas faltas,
06:19pelas minhas falhas.
06:21Agora, o que me incomoda
06:22é se está tornando uma patologia
06:25um fenômeno que não é patológico,
06:27na verdade.
06:29Pode ter uma ou outra pessoa extrema.
06:31Agora, qualquer escolha que eu faça,
06:33até a minha escolha amorosa.
06:34Quando você escolhe alguém para namorar,
06:37você está na esperança
06:38que essa pessoa tape algum buraco seu.
06:40Então, sim, eu sempre vou estar
06:43colocando as minhas patologias em jogo.
06:47Agora, patologias todos nós temos.
06:50Qual é o grau?
06:51Essa é a questão.
06:52Agora, rotular as mulheres
06:54que gostam de beber reborn,
06:56de elas estão doentes,
06:57são loucas, são histéricas,
06:59são não sei o quê,
07:00para com isso.
07:01Porque é o que tem nos comentários.
07:03Se você vai nos comentários
07:04dos vídeos dessas mulheres,
07:05é, ah, está faltando arrumar um homem,
07:08está faltando uma lavagem de prato,
07:10está faltando...
07:11E por que não se diz isso
07:13nos homens que estão lá
07:14lambendo os carros,
07:16polindo os carros
07:18todo final de semana?
07:19Faz sentido.
07:19Por que o afeto feminino não pode...
07:22E por que as mulheres não podem dizer,
07:24olha, vamos brincar?
07:26Que tal todo mundo brincar
07:28de uma certa paternidade,
07:30de uma certa maternidade?
07:31Talvez o beber reborn
07:32nos convide a algo mais interessante.
07:35Que talvez nós
07:36devêssemos nos cuidar mais
07:38uns dos outros
07:40e nos cuidamos muito pouco.
07:42Karen,
07:42você disse que você pagou
07:444 mil e 500 reais
07:46nessa boneca.
07:47A gente viu na reportagem
07:48que algumas podem chegar
07:50a 12 mil reais.
07:52E como é que é?
07:53Em lojas,
07:54são artesãos que vendem,
07:56fazem ali, né?
07:58Você vê que às vezes
07:58é fio a fio a sobrancelha
08:00e pode demorar um tempão
08:02até para você conseguir
08:03um bebê desse, né?
08:04Quando você...
08:05Existem vários materiais
08:06diferentes, né?
08:07Esse é o silicone sólido.
08:09É feito no Brasil?
08:10É feito no Brasil,
08:11em Curitiba,
08:11foi o que eu encomendei.
08:13É uma artesã.
08:13Ela faz um molde, né?
08:15E aí depois ela pinta
08:17no detalhe,
08:17ela coloca o fio, né?
08:19Do cabelo,
08:19fio por fio.
08:20Por isso que é caro também,
08:21porque é muito artesanal.
08:22E por causa do material.
08:23A gente vai quebrar mais tempo.
08:26Organiza essa terra.
08:27Cuidado com mais tempo.
08:28Calma,
08:29tô tentando pegar com jeito.
08:30E os valores são muito diversos,
08:32porque depende muito
08:33do material mesmo, né?
08:34Esse eu escolhi
08:35porque é um instrumento
08:36de trabalho para mim, né?
08:38E ele pode dar banho.
08:40Não nessa frequência toda
08:41que ela toma, coitada.
08:42Mas ela pode tomar banho.
08:43Tem como refazer a pele do seu?
08:45Tem.
08:45Só mandá-la para artesã.
08:46E dá uma dozinha olhar
08:49porque parece que ela está machucada.
08:51Ó, você aí de casa,
08:52presta atenção.
08:53Se eu deixar a Maitê,
08:54coloca na câmera fechada aí,
08:56rapidinho.
08:57Se eu deixar a Maitê aqui,
08:58toda torta.
08:59É uma boneca, gente.
09:00Tô fazendo nada.
09:00Eu tô nervoso já, né?
09:00Vocês não estão agoniados?
09:01É, vai dando.
09:02Ai, gente.
09:03Vai dando uma agonia.
09:03Vai dando uma aflição.
09:05Pronto, calma.
09:06Nossa, continua.
09:07Pronto.
09:08Deixa eu tentar ela.
09:09Calma, calma.
09:10A Maitê é delicada, gente.
09:12E essa?
09:12Essa faz xixi.
09:14Como assim?
09:15Não, aí já não está bom.
09:15A Maitê é a mãe da Maitê.
09:19Ó, a boquinha dela é super realista.
09:22Tá vendo?
09:23Gente, a língua é muito real.
09:24Tem um caninho que passa.
09:25Verdade, tem uma língua.
09:27E aí, se você der a água,
09:29minha filha adora ficar dando leite pra ela.
09:30Olha a boca, ó.
09:31Vamos abrir aqui, ó.
09:32Deixa eu abrir aqui pra você ver.
09:33Tem uma linguinha.
09:34É muito real essa língua, meu Deus.
09:36Olha lá.
09:36Acho que eu tô apavorada.
09:38Dá pra treinar a amamentação,
09:40porque a amamentação é o ponto de...
09:41Eu não consigo treinar sem o meu peito,
09:44mas eu consigo ensinar, por exemplo,
09:45ela dá o leite no copinho,
09:46dá o leite na colherzinha.
09:48Não.
09:48Aí eu uso uma outra boneca de pano.
09:49Ainda virar essa aqui.
09:51É que também é o seu trabalho
09:52ajudar na amamentação, né?
09:54Tem uns que abrem óleo, né?
09:55Tem uns que abrem óleo.
09:56Esse não.
09:57Esse não.
09:57E aí ela faz xixi aqui?
09:59Ela faz.
09:59Então essa fralda é real,
10:01se a gente quiser trocar.
10:02Sim, ela tá de cocô, inclusive.
10:03Gente, que loucura.
10:05Tem um cocô bem parecido com um cocô de...
10:07Não, não precisa mostrar.
10:07Olha aqui, isso é bem parecido.
10:09Gente, igual do recém-nascido.
10:10Muito igual, mas aí...
10:12Mas o cocô de verdade, tá?
10:15O que é isso aí?
10:16Só pra apreensão os pais
10:17limparem direitinho.
10:18É, que é importante.
10:18Você botou o cocô de verdade?
10:20Não, não.
10:21É uma misturinha.
10:22Não o cheiro, né?
10:23Não, gente, pra quem tem a oportunidade
10:25de fazer uma preparação dessa,
10:27realmente é muito real.
10:29Muito importante.
10:30É, porque o cocô do bebê
10:31no recém-nascido,
10:32ele tem essa texura,
10:33ele tem essa cor.
10:34Eu falei, brinquei do cheiro,
10:35não tem tanto cheiro.
10:36Depois que começa a comer
10:37é que fica bravo.
10:38Exatamente.
10:38Não, vamos guardar essa parte aí.
10:40Não, vamos fechar aqui,
10:41manter as partes da Maitê.
10:44Ai, gente, olha,
10:44acho que é muito interessante
10:45a gente receber vocês
10:46pra gente falar de um assunto, né?
10:48Porque é uma discussão social, né?
10:50Importante, que tá nas redes,
10:52tá na pauta, tá nas ruas
10:53e a gente precisa falar sobre isso, né?
10:54Dos aspectos práticos
10:56de ajudar muitos pais
10:57no dia a dia,
10:58de se preparar
10:59pra receber uma criança
11:01e também de pensar psicologicamente, né?
11:03No comportamento social mesmo,
11:05como que isso tem impactado
11:07nos nossos dias,
11:08nos nossos, meu Deus,
11:09no nosso dia a dia
11:10e também com a questão da solidão, né?
11:12Que tanto acomete
11:13a nossa sociedade.
11:15Então é isso.
11:15Obrigada.
11:16Muito obrigado.
11:16Obrigado, pessoal.
11:18Obrigado, Karen.
11:19Foi um prazer.
11:19Obrigada.
11:19Obrigada.