Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • anteontem
O psiquiatra Marcos Lacerda comparou a febre de cuidar de bonecos bebê reborn com o gosto de homens por carros. "Tem homem que gosta mais do carro do que da própria esposa e ninguém questiona isso", ressaltou.

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Impressionante como a gente vê na reportagem, por isso a gente vai repassar aqui para o
00:04doutor Marcos, psicanalista, essa situação, como é que o senhor analisa o impacto mental
00:09dessas pessoas que estão tratando bonecos como filhos de verdade, doutor?
00:14A gente não pode nunca no comportamento humano generalizar e dar apenas uma única explicação.
00:21Evidentemente que você pode ter pessoas que estão curando um luto, que nunca puderam
00:26ter um bebê e estão fazendo através disso, pessoas que estão se curando de algumas feridas,
00:32mas não necessariamente, isso pode ser apenas uma forma de brincar e isso causa espanto porque
00:39traz um estranhamento, porque está brincando com uma coisa que é muito séria na nossa
00:45sociedade, que é o que há de mais sagrado, que é o infantil.
00:48A criança é muito protegida na nossa sociedade, é preciso se proteger contra pedofilia, contra
00:54uma série de coisas. E de repente causa um estranhamento aquele ser não ser vivo quando
00:59deveria ser. Então eu só queria chamar a atenção que em muitas situações, na grande
01:04maioria, isso é um brincar com a afetividade. Agora, o que me chama a atenção e acho que
01:10isso também poderia ser discutido é a reação da sociedade com relação a isso. Sabe por quê?
01:18Porque eu me pergunto, a grande maioria das pessoas que criam bebês de bônus ou colecionam
01:23são mulheres. Será que estaria causando tanto estranhamento essa forma de afeto se fosse
01:31um afeto masculino? Porque eu vejo homens apaixonados por carros, tem homem que gosta mais do próprio
01:37carro do que da esposa e ninguém está dizendo que isso é algo que não está certo ou que
01:43prejudica ele psicologicamente. Como também há homens que são fascinados por Star Wars e brincam
01:50com bonecos de Star Wars. Agora, eu acho apenas que as mulheres estão se permitindo viver uma
01:56outra coisa, uma maternidade diferente e um afeto. Podemos ter casos onde você tem pessoas que estão
02:03com sofrimentos psíquicos? Sim, mas em muitos casos é apenas uma nova forma de direcionar o afeto.
02:10É, e é um ponto importante que acho que a gente não tinha pensado, né? A gente, em que momento que a gente
02:15deixa de brincar, né? Ninguém nunca falou nesse momento, agora você deixa de brincar. A gente simplesmente
02:19transita da infância para já a responsabilidade da vida adulta. Você não pode mais a partir de que você é um adulto.
02:25Como se você não pudesse. Solta a boneca. Não pode mais.
02:28Quando a gente vê esses influenciadores que tratam esses bebês como se fossem reais e as pessoas começam a seguir,
02:34me parece que a coisa fica um pouco mais séria do que só uma brincadeira. Começa a se tornar uma história real.
02:39Não tem uma transferência de afeto aí que pode realmente ser prejudicial? Em vez de ter afeto por um ser humano,
02:47eu passo a criar um afeto imaginário? Que risco que tem isso?
02:51Eu não vejo risco, sabe? Eu sei que causa estranhamento, mas eu não consigo ver risco,
02:57porque há muitas pessoas hoje em dia transferindo afeto também para robôs, né?
03:02E que começam a interagir com robôs. Houve um homem, acho que no Japão, que casou com uma inteligência artificial.
03:10Eles casam com bonecos no Japão.
03:12Então, casam com bonecos no Japão.
03:13Mas é bom isso.
03:14Mas, entenda, certa vez uma paciente me perguntou o seguinte,
03:18doutor, eu falo muito sozinho, tem problema eu falar só?
03:21Eu disse, enquanto você souber que está falando só, não.
03:25O problema é quando você achar que está falando sem estar só.
03:29Pois bem, essas pessoas sabem que é um boneco.
03:31Eu vi um vídeo, certa vez, de uma mulher que estava com um desses bebês.
03:37Ah, minha filha, tem que apertar para botar o café, você tem que apertar o botãozinho.
03:42E ela fazia a voz do bebê.
03:44Ora, se esse bebê apertasse o botãozinho da máquina,
03:48essa mulher sairia correndo dali, porque ela ia ficar muito assustada.
03:52Então, existem diferentes formas e o nosso afeto, ele pode se ligar a coisas.
03:57Eu insisto, como muitos homens se ligam a uma camisa de time de futebol.
04:02Tem homens que matam por um time de futebol.
04:05Tem homens que tatuam o corpo com o brasão do time de futebol.
04:10Porque a gente entende que tudo que é em excesso, que passa do ponto, passa a não ser saudável.
04:15É isso que a gente acaba se preocupando quando vê, né?
04:18Imagina, mulheres simulando o parto, como a gente está vendo, amamentando, levando para a rua.
04:23Tudo bem, tudo da criança.
04:23Passa a ser uma questão de, ai, será que ela está bem da cabeça?
04:27Aliás, eu estou curiosa para ver um bebezinho desse aqui, né?
04:32Ao vivo.
04:33É isso, vamos incluir na nossa conversa a enfermeira obstetra Karen Marquezan.
04:37Ela tem uma relação diferente, né?
04:38Com os bebês de borne, ela já circulou com ele aqui.
04:41Cuidado, Karen.
04:41Cuidado, não vai chorar não, né?
04:44Ela circulou com ele aqui, com a gente.
04:46Bom dia, Karen. Bem-vinda, né?
04:48O bebê, posso pegar?
04:49Claro.
04:50Gente, e eles têm peso, né?
04:52Têm variação de idade.
04:53Tem 100 gramas a menos que o meu bebê.
04:55Meu filho nasceu com 100 gramas a mais que isso aqui.
04:58Então, o peso realmente é muito real.
05:00E você usa esses bebês para uma outra função, né?
05:03Para preparar pais e mães para a chegada dos bebês, aprender a lidar.
05:07Conta para a gente como é que é um pouco.
05:09Inclusive, está segurando errado.
05:11Estou, totalmente.
05:12E eu tenho um filho, hein, gente?
05:13Imagina o que eu não fiz.
05:14Exatamente.
05:14Gente, na prática ali, né?
05:16Como enfermeira obstetra, eu percebi que muitos pais de primeira viagem tinham muitas dificuldades
05:20nos cuidados propriamente, né?
05:22E aí, fazer esses cuidados com um boneco que não é o reborn fica muito fora da realidade.
05:28Totalmente.
05:28Então, aqui a gente consegue uma experiência mais realista, inclusive mais sensorial, né?
05:32Dar banho nesse boneco não é fácil.
05:34Escorrega tanto quanto o recém-nascido.
05:35Ah, é igualzinho ao recém-nascido ali para celular?
05:38Eu brinco que, assim, ainda não tem o boneco que chora de verdade esse movimento.
05:42Então, eu falo, não estou enganando os pais de primeira viagem.
05:44Eles choram esse movimento.
05:45Mas, realmente, a gente manusear o bebê é diferente, né?
05:48Posso ver?
05:48Por exemplo, pegar.
05:49Ó, Rodrigo, pega como você pegaria um bebê.
05:52Vamos ver se está bem treinado.
05:54Eu tive três, hein?
05:55Eu tive três.
05:56Olha, ele fez certinho.
05:57O último tem 11 anos, a mais nova.
06:00Então, faz tempo, Rodrigo.
06:01Mas, ó, o Rodrigo pegou certinho.
06:03Ele apoiou a nuca, ele apoiou o bumbum.
06:06Pichuca.
06:07E uma das dúvidas bem recorrentes é exatamente como segurar um bebê, né?
06:11Como segurar?
06:11Como que eu seguro um recém-nascido?
06:13E aí, a gente simula tudo, né?
06:14É banho, troca de fralda, troca de roupa, higiene do corpo.
06:18Como é o nome dela?
06:19Maitê.
06:19Ah, nome.
06:20Com homenagem a alguém?
06:22Não, só a minha filha que escolheu.
06:23Ah, é?
06:23Leatório.
06:24Legal.
06:25Quer sentir?
06:25Eu quero, quero sentir.
06:26Tem a cabecinha aqui.
06:27Pichuquinha.
06:28Vou lembrar dos meus três pequenininhos.
06:30Mas isso é muito interessante, né?
06:31Porque você consegue ter uma vivência real do que é um bebê mesmo no colo.
06:37Mas as crianças ficam encantadas.
06:39As minhas filhas já pediram, eu dei uma bem baratinha.
06:41Ah, é um brinquedo comum hoje em dia, então?
06:43Eu conheci o bebê reborn como brinquedo.
06:47Aí agora que eu tô sabendo que é usado justamente pra essa preparação dos pais.
06:51Inclusive, como a gente viu na reportagem, algo que é bem da década de 90, né?
06:56Nos Estados Unidos, é bem antigo já, né?
06:58Sim.
06:59E o Marcos falava, né?
07:00Com a gente aqui, antes da gente começar a nossa conversa, que esses bebês também
07:04são uma forma de auxílio pra algumas pessoas que sofrem de Alzheimer, né?
07:08São.
07:09Pessoas com Alzheimer, muitas vezes, quando estão muito inquietos, você pega um bebê
07:13desse e dá e diz, olha, você tem que cuidar.
07:16Às vezes nem precisa ser um tão perfeito assim, um menos perfeito.
07:19Você diz, olha, esse bebê você precisa cuidar.
07:22E isso ativa essa coisa de eu tenho que cuidar, não posso soltar, tenho que botar pra dormir.
07:28E isso também é uma atividade.
07:30Agora, me digam, fui só eu ou isso ativa o afeto de vocês?
07:35Porque ativou o meu.
07:36Acho que é porque resgata uma memória.
07:38Ativa, ativa.
07:38Acho que é porque resgata uma memória afetiva muito forte, muito intensa, pra gente que viveu
07:44a maternidade.
07:45Agora, Karen, conta pra gente, você já teve alguma paciente, alguma cliente que depois
07:50de ter essa vivência foi lá e comprou uma bebê pra ir treinando em casa enquanto o
07:55bebê ainda tava gestante?
07:57Tive um pai que se preocupou muito com a manobra de desengasgo e aí ele comprou um boneco,
08:02não era desse porte, mas ele comprou um newborn pra ficar treinando a manobra de desengasgo
08:07em casa.
08:07E, pasme, realmente aconteceu.
08:10Quando o bebê tinha sete meses, o bebê se engasgou, mas ele me falou, né?
08:13Nossa, eu me senti tão pronto porque eu realmente treinei tanto e se sentiu seguro, né?
08:17É importante.
08:18Doutor, eu queria entender, então, já que o senhor tem uma visão muito positiva do
08:21bebê até onde eu entendi, como é que a gente pode usar isso com as nossas crianças
08:25em casa?
08:25Tem funções que a gente pode dar quando a criança tá com, por exemplo, solitária?
08:30É um caminho?
08:32Quais são as possibilidades?
08:33Olha, pra mim, qualquer caminho que tire uma criança da tela tá falando e é positivo,
08:38tá?
08:39Sem dúvida.
08:39Agora, eu só acho que a gente precisa democratizar mais e dar também a meninos, porque só se
08:47dá a boneca a menina.
08:48E acaba que esse cuidado fica só sobrecarregado em todas as mulheres, desde criança, né?
08:53Isso, desde criança e parece muito natural que a maternagem seja só uma questão de mulher.
08:58Sim.
08:59Não, o homem também precisa maternar, o homem precisa cuidar.
09:03Agora, eu insisto, claro, vão ter, se você pega um grupo muito grande que tá vivendo
09:08uma coisa, você vai ter aqui, ou acolá, algumas psicopatologias que podem pegar carona
09:14nisso, mas como poderiam pegar em qualquer coisa?
09:17Mas, é a primeira vez que eu vejo um tão realista...
09:21É pegado?
09:21É pegado?
09:21É pegado?
09:22É pegado, é pegado, é pegado, é pegado, é pegado, mas eu achei que eu ia quebrar.
09:24Mas, assim, é muito interessante o quanto desperta o afeto.
09:31E esse brincar precisa ser resgatado na nossa sociedade.
09:36Nem tudo precisa ser tão sério.
09:38A gente pode realmente brincar e brincar de viver.
09:41Eu acho que essa é a ideia.
09:42Tem uma pergunta aqui do Antônio, falando que...
09:46Tudo bem entender esse aspecto positivo dessa relação de afetos, mas ele pergunta se
09:51não existe algo de sintomático nessa relação com esses bebês.
09:55Depende, depende da pessoa.
09:56De que pessoa a gente tá falando?
09:59A gente tá falando de uma pessoa que perdeu uma criança, que passou por um aborto espontâneo
10:05e tá tendo que viver esse luto?
10:07Talvez.
10:08A gente tá falando de uma pessoa que quis ser mãe e não conseguiu?
10:13Talvez.
10:14Mas cada caso precisa ser visto individualmente.

Recomendado