Pedro Lupion, Deputado Federal (PP-PR) e presidente da FPA, Frente Parlamentar da Agropecuária, ressalta a importância do valor agregado na produção agroindustrial do país e como a guerra comercial entre EUA e China pode beneficiar o Brasil.
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NotíciasTranscrição
00:00Deputado, outra questão sempre colocada é se não dá para ganhar mais valor agregado no agronegócio.
00:07Ou seja, nós somos grandes exportadores de commodities e é possível, existe algum plano estratégico
00:13para aumentarmos o valor agregado do agronegócio no Brasil?
00:18Vamos lá, é super importante a tua pergunta, até porque as pessoas têm que entender que nós não somos mais o celeiro do mundo.
00:23Nós somos o supermercado. A gente tem que vender produto pronto.
00:26Isso gera renda, gera ganhos, gera lucratividade e obviamente melhora a condição de emprego,
00:32geração de oportunidade e de industrialização do setor.
00:36O meu estado do Paraná, por exemplo, e muitos estados de São Paulo, Santa Catarina, tem feito isso muito bem.
00:41A gente hoje não depende só da matriz soja para vender o complexo soja, para vender ele crula para fora em grão.
00:50Hoje a gente esmaga e a gente constrói a cadeia inteira.
00:52Ou seja, o esmagamento de soja transforma em óleo e esse óleo vira biodiesel, vira biocombustível,
00:58utiliza para energia, para geração de renda, para geração de emprego.
01:01Do outro lado vem o DDG, que é o soybean meal, que é o farelo.
01:07Esse farelo vai lá para o frigorífico alimentar porco, galinha e boi e vira proteína,
01:11que é exportado para mais de 200 mercados do mundo.
01:14Ou seja, estamos trabalhando nisso.
01:16E cada dia investimentos maiores em proteína e para isso precisa esmagar mais.
01:20Não se falava em etanol de milho no Brasil, por exemplo.
01:23Por que tem tanto etanol de milho agora?
01:24Nós vamos só, só uma empresa vai para 12 unidades já.
01:28Por que se fala tanto?
01:29Porque a gente precisa do farelo.
01:31Não é porque quer sobrar óleo, é porque precisa do farelo.
01:33O que tem que fazer com esse óleo?
01:34Combustível.
01:35Vamos fazer etanol.
01:36Aumentar a mistura na gasolina, aumentar a mistura que vai lá para o posto,
01:40para que tenha mais demanda pelo óleo, para a gente poder esmagar cada dia mais.
01:44E esse esmagamento, esse DDG, vira proteína, que tem valor agregado.
01:47Então a gente tem feito isso muito bem, seja na produção de energia,
01:51seja nos combustíveis, seja também na produção de proteína.
01:54Isso tem sido um legado do Brasil e transformação real do interior.
01:58E é só ver os números, apresentar os dados.
02:01Esses dias eu estava almoçando com um dos grandes industriais do Brasil,
02:04da produção de alimentos, e ele mostrava a diferença do impacto
02:08de produto interno bruto e de qualidade de vida, de IDH,
02:11nos municípios do interior do Brasil, com a agroindustrialização.
02:16Cidadezinhas pequenas que viviam de subemprego, principalmente de trabalhadores volantes,
02:20de boias frias, antigamente.
02:22Hoje não é mais isso.
02:23Hoje é o trabalhador lá na indústria que está gerando renda, gerando emprego,
02:26a cidade se desenvolvendo e vendendo produto para fora.
02:29Não canso de dizer esse exemplo.
02:31Dia desses eu estou no Japão, na Ginza, em Tóquio,
02:34que é a Avenida Chique lá de Tóquio, a 5ª Avenida de Tóquio.
02:38Fui comer um caraguê, frango frito.
02:41O cara olhou para mim e falou assim, esse frango frito deve ser do teu estado.
02:44Eu duvido.
02:45Veio o garçom e me trouxe o pacote do frango de uma cooperativa paranaense.
02:48Que espetáculo.
02:48E eu comendo lá em Tóquio.
02:50Pensa que espetáculo isso.
02:51Que espetáculo.
02:51Que orgulho para todos nós isso.
02:53E isso é o que está acontecendo na produção agroindustrial do Brasil.
02:57Deixamos muito, obviamente que ainda é uma parte extremamente importante,
03:00a exportação de grãos,
03:01mas nós deixamos boa parte disso e hoje estamos produzindo alimentos específicos.
03:07É o frango kosher lá para os judeus,
03:09é o halal lá para os muçulmanos,
03:12é a produção específica para a Ásia,
03:13produção específica para o Oriente Médio,
03:15produção específica para a União Europeia com os gostos e as tradições que tem.
03:21E também entrando em mercados super competitivos e importantes como o caso dos Estados Unidos.
03:24Então isso tudo através da industrialização e da geração de...
03:28com a adoção de novas tecnologias no setor.
03:32E outros setores, tipo café, algodão, pode também ter mais...
03:36O algodão, o case do Brasil de algodão é um exemplo para o mundo.
03:39Nós temos o algodão 100% rastreado.
03:42Se pegar uma etiqueta de uma grande loja de departamentos,
03:46pegar a etiqueta da roupa e escanear o QR Code,
03:48você vai saber de qual propriedade saiu aquele algodão.
03:50Então é um exemplo de rastreadibilidade maravilhoso,
03:53que é vendido para o mundo inteiro.
03:54seda, bicho da seda.
03:56Você já estava lá no Paraná,
03:58o pessoal me apresentando que a seda da Hermes lá em Paris
04:01vem do Paraná, de Londrina.
04:03Que isso, verdade.
04:03Da produção de bicho da seda.
04:06A questão do café, que hoje está num preço...
04:09Tem que botar segurança no pomar de café hoje,
04:11porque está num preço absurdo,
04:13por causa de problemas de produção de outros países,
04:16dando um ganho enorme
04:17e conseguindo colocar café, principalmente o tal do café especial,
04:21o café gourmet,
04:21nos grandes cafés do mundo,
04:23que é uma bebida que tem sido difundida e divulgada no mundo inteiro.
04:27Nosso cacau também.
04:28Preço altíssimo, maravilhoso para o produtor.
04:31Chocolate bem mais caro,
04:32porque realmente teve problema de produção em outros países.
04:36Mesma coisa que aconteceu com o ovo,
04:38apesar das bobagens todas que falam, do ovo e do frango,
04:40porque temos um problema de gripe aviária grave,
04:43de influência aviária nos Estados Unidos,
04:44problema sanitário na Europa e na Ásia,
04:46e está dependendo de demanda e de possibilidade de produção aqui no Brasil,
04:50faltando o ovo no mundo.
04:51Então, isso tudo,
04:53a gente tem sabido aproveitar essas oportunidades
04:56nesse grande complexo gigantesco que é a agropecuária brasileira.
05:00Vamos falar agora desse grande complexo geopolítico do mundo,
05:04principalmente depois dessa política de tarifas
05:07de Donald Trump nos Estados Unidos.
05:10Isso abre novas oportunidades para nós,
05:13ou isso cria apreensão também no agronegócio brasileiro?
05:18Eu sou muito cauteloso em fazer essas análises,
05:20até porque a velocidade de mudança nesse cenário é muito grande.
05:25Todo dia tem alguma novidade nesse sentido.
05:28Hoje, se não me engano,
05:29teve uma reação da China com a Boeing,
05:32algo muito pesado.
05:33Então, tudo é muito dinâmico,
05:35muito rápido nessa questão geopolítica.
05:38De primeiro momento,
05:39nós ficamos aliviados com os 10%.
05:42Eu, particularmente, imaginava que seria algo maior.
05:45Então, veio os 10%, legal,
05:47porque para os outros foi pior,
05:48então para nós já era uma oportunidade.
05:50Qual o tipo de oportunidade?
05:53A possibilidade de vender nossos produtos
05:54para os mercados que tradicionalmente
05:56comprariam nos Estados Unidos,
05:57mas que foram sobretaxados,
05:59e essa sobretaxa, essa sobretarifa,
06:01geraria uma guerra comercial
06:02e faria com que eles viessem aqui comprar de nós.
06:04Tem acontecido já,
06:05a China, por exemplo, fez isso.
06:06Praticamente 22% do que a China consome,
06:10hoje, de compra de grãos, por exemplo,
06:13deixou de sair dos Estados Unidos
06:14e veio para o Brasil.
06:15Já anunciaram grandes compras aqui no Brasil.
06:18Oportunidade legal.
06:19Tem o outro lado.
06:21O outro lado de sobrar muita soja nos Estados Unidos,
06:23como nós falamos anteriormente,
06:24o preço desabar lá
06:25e a gente tem um problema seríssimo econômico no setor.
06:29Tem outras oportunidades?
06:30Tem.
06:31Possibilidade da gente firmar novos mercados,
06:33de buscar novas alternativas,
06:34de buscar novas oportunidades.
06:36Mas, eu entendo que o presidente Trump
06:38e o Partido Republicano
06:39faz essas medidas,
06:41toma essas medidas drásticas
06:42para chamar para a mesa.
06:43Como tem feito com vários países.
06:45Mais de 50 países já pediram para negociar.
06:48Essas negociações vão gerando oportunidades.
06:51Qual será a grande negociação lá para frente?
06:54Não sei.
06:55Pode ser que a gente fique aquém
06:56dessa negociação
06:59ou fique por fora dessa mesa.
07:01Ficar fora dessa mesa,
07:02para nós,
07:02que dependemos de muita exportação,
07:04é muito ruim.
07:04Porém,
07:06eu confio bastante em isso,
07:07independente do governo que esteja,
07:09independente da ideologia que está lá,
07:10independente de quem está mandando.
07:12O Itamaraty tem negociadores
07:13extremamente hábeis
07:14e capazes
07:15de fazer negociação nesse sentido.
07:17Então,
07:17vamos aguardar
07:19com toda a cautela do mundo,
07:21apesar de que,
07:21nesse momento,
07:22analisando hoje,
07:23friamente,
07:24é muito mais oportunidade
07:25do que ameaça.
07:27Outra questão importante
07:28nessa geopolítica,
07:30recentemente,
07:30nós finalmente firmamos
07:32o acordo Mercosul-Comunidade Europeia,
07:34Mercosul-Comunidade Europeia.
07:36É algo importante.
07:38Houve muita resistência,
07:40principalmente da França,
07:41durante muito tempo,
07:42principalmente na questão
07:43do agronegócio.
07:44Sempre usaram
07:45as questões sanitárias,
07:48etc.,
07:48para brecar
07:49a nossa exportação.
07:52Como o senhor vê,
07:53hoje,
07:54este acordo,
07:55tendo que sair do papel?
07:56Porque a Europa está
07:57entre os dois grandes gigantes,
07:59a China e os Estados Unidos,
08:00no meio dessa guerra tarifária
08:01e, certamente,
08:03aumentar esse mercado
08:04com a América Latina
08:06e, principalmente,
08:07com o Mercosul,
08:07é muito importante.
08:09Eu acho que essa virada,
08:10essa virada de chave
08:12no comércio internacional,
08:13com a chegada do Trump
08:14e esses anúncios,
08:16tiraram o cenário todo
08:17da União Europeia,
08:18levaram para os Estados Unidos
08:19o foco,
08:20a atenção toda,
08:21a atenção toda
08:23voltada aos Estados Unidos
08:25e a União Europeia
08:26ficando em segundo plano.
08:28Eles estavam numa posição
08:29de muito protagonismo.
08:30Eles que eu digo
08:30na União Europeia,
08:31principalmente a França,
08:32com os dedos todos
08:33apontados para a gente,
08:34criando todas as dificuldades.
08:36Aliás, é importante
08:36que quem nos assiste
08:38entenda
08:39o tamanho do problema
08:40que virou essa questão
08:41da União Europeia
08:42com a produção agropecuária
08:43no Brasil.
08:44Eles tiveram um protesto
08:45de produtores,
08:47uma agricultura
08:47extremamente subsidiada,
08:49uma agropecuária
08:49extremamente subsidiada
08:50na Europa.
08:51Vamos falar de novo,
08:52na França,
08:52praticamente,
08:53500 euros por vaca
08:54em lactação,
08:55é algo surreal.
08:56Eles chegam a quase 20%
08:57de subsídios
08:58na produção,
08:59a gente não chega
09:00a 2,5%,
09:01e não conseguem
09:03manter a competitividade
09:04com a gente,
09:04ou seja,
09:05a gente chega com os nossos
09:05produtos mais baratos lá.
09:07Então, aqueles protestos
09:08todos que tiveram
09:08nos produtores,
09:09aquela mudança toda
09:10no Parlamento Europeu,
09:12foi tudo culpa nossa,
09:13porque eles não queriam
09:13a gente ir lá
09:14e exigiam que os seus políticos,
09:16os seus representantes
09:17fossem mais protecionistas.
09:18Por isso que mudou
09:19completamente o Parlamento Europeu
09:20e a própria comunidade europeia.
09:22Aliás,
09:22tivemos lá esses dias
09:23tentando vencer
09:24essas narrativas todas aí.
09:25a partir do momento
09:27que eles também
09:28são vítimas,
09:29enfrentam essa dificuldade
09:31de negociação
09:31com os Estados Unidos
09:32e criam essas tarifas
09:33todas em relação
09:34a vários países
09:35também do bloco europeu,
09:37acabando com o MC,
09:38com o CDE,
09:39os órgãos de negociação
09:40e de arbitragem exteriores,
09:42virou uma bagunça total,
09:44volta-se a tensão
09:45à possibilidade
09:46de um grande mercado comum
09:47do Mercosul
09:48com a União Europeia.
09:49Eu estava completamente
09:50cético em relação a isso,
09:51porque achava
09:51que não ia acontecer nunca,
09:52até porque os europeus
09:53não queriam.
09:54Hoje já se vê
09:54a Itália,
09:56a Espanha,
09:57a França,
09:58a Polônia,
09:59que eram países
10:00que estavam criando
10:00muita dificuldade no acordo,
10:02já, opa,
10:03peraí,
10:03o próprio produtor deles
10:04falando,
10:05ó, vamos prestar atenção
10:06nesse acordo aí
10:07que pode ser interessante.
10:08Então acho que dá
10:09uma virada de chave importante aí,
10:10vamos ver como é
10:11que vai ficar a diplomacia
10:11aqui para frente
10:12com essas negociações.
10:13de chave importante.