Numa narrativa não-linear, o longa de ação “Serra das Almas” desdobra-se em conflitos entre bandidos e reféns depois de um roubo de joias que dá muito errado.
Categoria
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CriatividadeTranscrição
00:00Música
00:00Quando tu não tem dinheiro, tu tem que aprender a observar.
00:17E aí de repente, no três, esse negócio de poder ser qualquer coisa, um, eu não poder.
00:24Dois, o super boné.
00:27Três.
00:27A narrativa não linear foi um processo.
00:32Obviamente que ela começou no roteiro, ela começou a quebrar essa cronologia no roteiro.
00:37E se estruturou, de fato, na montagem.
00:40A gente queria um elenco que fosse um pouco da mesma, mais ou menos da mesma geração.
00:45E o passado, os dois passados que tem no filme, eles não seriam muito distantes.
00:50Eles seriam passados de dois, três dias e seriam passados de, de repente, dois, três anos atrás.
00:55E a gente poder brincar com isso, até porque as pessoas, de certa maneira, até se confundirem um pouco nesse tempo.
01:01Não saber exatamente que...
01:03Porque na serra, numa serra, na estrutura da nossa Serra das Almas, o tempo passa de uma maneira diferente.
01:10E também, ao mesmo tempo, um tempo que cria uma atmosfera meio de não normalidade.
01:18Eu interpreto a Vera, que é uma jovem, até então, sonhadora, quer ser cantora e tem um grande amor ali na juventude dela.
01:29Até isso, ser interrompido e atravessado por esse grupo de homens desajustados.
01:35Eu acho que, mais do que protagonismo feminino, é a retomada do protagonismo feminino, né?
01:41Porque nós não começamos unidas, mas, da necessidade, elas retomam a autonomia da própria vida,
01:49mas passam a se conhecer, se ajudar e criam ali um laço a partir da necessidade,
01:55mas que, simbolicamente e mageticamente, também fica muito forte por ser essa retomada de poder, né?
02:00Vamos entrar.
02:01A gente não tem informação nenhuma do que está acontecendo.
02:03Você não está entendendo, Luísa. Eu esperei muito por esse momento. A gente vai entrar.
02:07Para esse carro!
02:07Pelo amor de Deus!
02:08Pelo amor de Deus, é o caralho! Tem Deus aqui!
02:11Tira a gente daqui!
02:13Vem! Vem, vem, vem, Luísa!
02:14Olha, tu não queria fulho de reportagem? Criação?
02:17O elenco do filme é uma importância incrível, né?
02:19Assim, é um filme que tem um filme coral, com vários personagens, assim.
02:25O elenco é quem tem a alma do filme. Na verdade, Serra das Almas, a alma do filme é o elenco.
02:30Eu gosto muito de filmar em locação, essa coisa da geografia.
02:37E você acaba tirando essas pessoas das suas casas.
02:41Às vezes, você vai para um lugar insalubre, você vai em um lugar que é longe da casa de todo mundo.
02:47Porque você vai juntar 60 pessoas em um lugar durante um certo tempo.
02:53E no meu caso, quando eu falo de filme, é porque para mim, assim, o astral, o amor, o afeto, o conhecimento, a parceria, o ouvido...
03:03Eu acho que isso é muito importante para mim, muito complicado para mim, se eu não tiver isso no filme.
03:07E eu lembro de uma coisa que a gente falava bastante durante o processo, que era sobre o azeitamento da equipe.
03:12Que consiste em nós estarmos bem enturmados e em sintonia.
03:16Então, eu acho que mesmo em pouco tempo, a gente já estava muito azeitado.
03:23E uma vez que está todo mundo partindo do mesmo ponto, a gente fica muito confortável para experimentar coisas, para errar também.
03:32Então, eu sinto que estava todo mundo ali em experimentação, sabe?
03:36E tem uma coisa também que eu senti como atriz nesse filme, que foi a oportunidade de ser teatral.
03:45Eu acho que a gente está acostumado, principalmente em filme brasileiro, de ter uma atuação mais cotidiana, mais naturalista.
03:53Acho que vem muito das novelas também, né?
03:55Mas nesse filme coube um pouco de teatralidade.
03:59E isso é muito especial para a gente, enquanto ator, assim, e poder experimentar coisas novas.
04:06Você precisa ajudar a gente.
04:09Se a gente ficar aqui, a gente vai acabar morrendo.
04:12Que barulho foi aquele lá fora?
04:18Como é que é o seu nome?
04:19Vera.
04:26Vera.
04:29Eu posso te ajudar, se você quiser.
04:31Comecei no cinema como cinéfilo mesmo, aprendendo a fazer cinema, amando o cinema.
04:42No começo, sem nenhuma pretensão de querer fazer cinema, assim.
04:47E eu acho que a coisa da faculdade, eu entrei para a faculdade de jornalismo,
04:50e acho que fui me aproximando mais, eu acho que o ambiente, as pessoas,
04:55muita gente, né?
04:56O Paulo Caldas fazia cinema antes do que eu.
04:57O Cláudio Assis chegou também na mesma turma.
05:00E a gente começou a fazer aquela detenção do cinema pernambucano.
05:04Mas as referências eram todas mesmo.
05:06Sobretudo cinema de autor, cinema que não entrega o óbvio,
05:09cinema que provoca, cinema que tira você das ilusões de conforto,
05:13que transforma.
05:14É um cinema que eu me identifico muito.
05:15Um cinema que aposta mais na dúvida do que na certeza,
05:19aposta mais na reticência do que no ponto final,
05:22aposta mais no sonho, às vezes, do que na realidade.
05:25e que não opta sempre em andar pela estrada asfaltada,
05:30que gosta de pegar a talha, pegar os caminhos que não são os mais normais.
05:35Eu sempre fui tua fama, mas ao mesmo tempo eu te odeio tanto.
05:39E aí
05:45Legenda Adriana Zanotto