Leandro Piquet Carneiro, pesquisador e coordenador da Escola de Segurança Multidimensional da USP, explica por que acordos entre grandes facções criminosas estão cada vez mais frequentes e como a política também acaba sendo associada a essas parcerias.
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NotíciasTranscrição
00:00Leandro, qual é o real impacto desse acordo recente do PCC com o Comando Vermelho?
00:06Isso já começa a ser, vamos dizer assim, a fusão de organizações criminosas numa coisa muito maior ou não?
00:15Há indícios de que isso está acontecendo em vários lugares do mundo,
00:19porque o processo que nós estamos vivendo é um processo, mais uma vez, não é Brasil só.
00:26Então, a gente pode descrever assim como um grande processo de convergência de atividades ilícitas,
00:33lícitas de empresários antiéticos.
00:36O dono do posto de gasolina, ele pode ser um, às vezes tem muito posto de gasolina que é criminosos, condenados,
00:44tem muitos que não, são empresários antiéticos que querem vender combustível adulterado,
00:48tem a distribuidora, aí uma ou outra suspeita que vende combustível adulterado para esses postos.
00:55Então, essa convergência entre o lícito, quer dizer, o antiético, que vai se ligando à organização criminosa,
01:05vai operando de forma ilícita, ao problema da corrupção, que o Brasil sempre separou muito.
01:12A corrupção política era uma coisa, o crime era outra.
01:15A corrupção, a política começa a recorrer ao crime para organizar campanhas, arrecadar dinheiro para financiar campanhas.
01:26E o crime também se associa a esses políticos corruptos.
01:30Então, o Brasil tem essas fragilidades institucionais muito graves,
01:36mas esse processo, essa construção dessas grandes áreas cinzentas em que esses elementos se conectam,
01:45e eu colocaria, nós ainda temos a vantagem que não temos organizações terroristas,
01:49mas essas áreas cinzentas são muito propícias à operação de organizações terroristas também.
01:55E se somam ao crime organizado, se somam a essa cadeia de empresários antiéticos que estão em busca de ganho fácil.
02:02Então, tudo isso vai se consolidando num grande processo de convergência de interesses
02:09que junta esses diferentes atores e faz florescer um conjunto de atividades ilícitas como raramente tivemos.
02:19Isso explica por que as organizações criminosas vão abrindo mão de certos princípios de controle de território,
02:29muitas vezes vão abrindo, vão entrando dentro de uma lógica puramente transacional.
02:34Estamos aqui para transacionar um bem.
02:37Estamos aqui para apoiar o desenvolvimento de uma cadeia logística.
02:40Isso pode envolver drogas ilícitas, pode envolver tabaco, cigarro falsificado,
02:47dispositivos eletrônicos de fumar, que agora é um grande mercado também ilícito,
02:52transferido para as organizações criminosas.
02:54Então, isso tudo vai criando um ambiente, negócios primeiro, e facilitando essas conversas.
03:01Então, essa ideia também de que a máfia se aproxima das organizações criminosas dos Balcãs
03:07e começa a operar em escala global de forma mais agressiva,
03:11infiltração dos negócios ilícitos de maneira geral,
03:15trazendo esse dinheiro ilícito para dentro de atividades ilícitas
03:18e desequilibrando concorrência, violando regras administrativas.
03:23Desorganiza o mercado.
03:24Desorganiza todos os mercados em que entram.
03:28Então, eu diria que, para responder a sua pergunta de forma não muito breve,
03:33nós estamos vivendo esse processo de convergência que explica por que
03:38a lógica do negócio começa a prevalecer em vários momentos.
03:44o negócio antes da violência.
03:47É claro que, como esse mercado não tem nenhuma regulação estatal possível,
03:52é preciso que essas organizações criminosas funcionem como organizações
03:58que governam esses mercados ilícitos.
04:01Então, elas mudam também de posição.
04:02Elas passam a desempenhar um perigoso papel de exercer a governança
04:08dessas atividades ilícitas.
04:10e funcionar como tribunais, como atestando quem tem direito sobre determinada rota,
04:19quem tem direito sobre determinado bairro, etc.
04:23Bom, o crime organizado não só desorganiza o mercado lícito,
04:27como desorganiza o sistema político e judiciário brasileiro.
04:31Nós vimos agora essa venda de sentenças em tribunais regionais e estaduais,
04:36que é um escândalo.
04:37E, mais uma vez, às vezes em crimes que...
04:40Ah, isso não é crime organizado.
04:43Terra, grilagem de terra é crime organizado, duro.
04:48Insumos agrícolas falsificados, contrabandeados.
04:52Não está lá o crime organizado.
04:53São diferentes modelos de organização.
04:55São diferentes formas de operar em atividades ilícitas.
05:00Mas são organizações criminosas.
05:02E essas organizações criminosas se conectam.
05:05Não existe uma...
05:06Não, isso aqui não é...
05:08Não, eu não sou desse sindicato.
05:09Eu não trabalho com esse produto.
05:11Você trabalha com qualquer coisa que apareça ali.
05:14Olha, tem essa oportunidade.
05:15Bom, vamos ver.
05:16Vamos ver se eu consigo tirar o mundo daqui.
05:18Então, mais uma vez, essa convergência cria oportunidades,
05:26cria a capacidade de algumas organizações atuarem dentro dessa lógica de virarem um governo do crime,
05:33impulsionando longuíssimas cadeias logísticas de contrabando,
05:38tráfico de substâncias proibidas, imigração ilegal, armas e lavagem de dinheiro,
05:46que é um grande pesadelo.
05:49Ainda mais com moedas eletrônicas, bitcoins, então facilita...
05:53E coisas boas que ficaram... tiveram efeito negativo, boas no sentido.
05:59O Brasil adotou uma legislação que favoreceu a competição bancária, mas também...
06:06As fintechs apareceram e tem aí fintech que, de repente, descobre que está movimentando um dinheirão
06:13em ativos podres, de dinheiro de tráfico de drogas e outros ilícitos.
06:21Agora, Leandro, esse retrato que você faz do crime organizado nos assusta ainda mais,
06:27porque o crime organizado move numa velocidade inacreditável
06:32e a nossa legislação, o nosso sistema político está reagindo praticamente de maneira analógica.
06:40E nós vamos perder essa corrida se nós não agirmos, se não tivermos esse senso de urgência.
06:44Então, o que podemos fazer para também acelerar a discussão na sociedade civil,
06:49no setor público, para essa modernização de legislação, de investimento importante,
06:54de unificação de bancos de dados?
06:56Porque, se não, do jeito que essa velocidade do crime organizado infiltrando os negócios listos
07:01no Estado, na Justiça, vai acabar transformando o Brasil num narco-Estado,
07:06que é o que todos nós não queremos, como eu disse no início do programa.
07:09Exatamente. Não, acho que a gente já perdeu, a gente está muitas voltas atrás.
07:15E agora a necessidade de atualizar o marco legal rápido, desenvolver capacidades,
07:22não basta ter a lei, precisa ter capacidade de fiscalização.
07:26E essa fiscalização, mais uma vez, ela é multidimensional no sentido de que envolve
07:30finanças, envolve violação de regras e procedimentos administrativos,
07:38desde o local até o federal.
07:40Então, precisa colocar na mesa a gente que não está acostumado a sentar na mesma mesa,
07:44para poder olhar essas atividades e entender como elas estão se conectando.
07:50Entender quais são os elementos de controle necessários, as ações necessárias de controle.
07:55Às vezes, não é nem uma questão de polícia.
07:58Veja, por exemplo, essa coisa do mercado de ouro.
08:01O ouro de varejo.
08:02O contrabando de ouro, né?
08:03Não, eu digo assim, a coisa mais ordinária do mundo, aquele homem placa, compra o ouro.
08:07Não é?
08:08É.
08:08Aquilo sempre existiu, nunca ninguém deu a menor bola, alguém tinha um ouro em casa,
08:12uma coisa ia lá, vendia.
08:13Mas agora as pessoas estão aí na rua assaltando, os bandidos estão assaltando para roubar a aliança,
08:19para roubar cordãozinho, para ver um pedaço de ouro.
08:22Faz a venda ali, recebem dinheiro, não tem nota fiscal, não tem declaração nenhuma,
08:28não tem informação nenhuma sobre quem está vendendo e quem está comprando paga em dinheiro.
08:33Tudo errado.
08:35Então, às vezes, uma fiscalização no nível local já poderia dar um tombo nesse negócio
08:42e diminuir o incentivo para o assaltante.
08:44Eu digo, todo o setor hoje precisa de uma visão integrada, multiagência e de pensar não só no criminal,
08:55mas pensar no administrativo também como forma de limitar essas atividades.
09:00Um exemplo, aliás, de sucesso nesse sentido, foi a redução de roubo a veículos,
09:06porque nós começamos a atacar os desmanches.
09:09Exatamente isso.
09:10E o desmanche, isso diminuiu o crime.
09:12Exatamente.
09:12Não dá para fazer a mesma coisa com o telefone celular?
09:15Dá para fazer de forma direta.
09:17Quer dizer, exemplos existem.
09:20Piauí está aí liderando com a coisa do simplesmente mandando uma carta para o cara que ativou o telefone roubado.
09:29É tão simples quanto isso.
09:30As operadoras...
09:31Não, o governo manda ver que o telefone foi roubado, o número foi ativado,
09:37a operadora comunica à polícia e aí a polícia manda uma carta.
09:41Olha, esse telefone foi roubado, ou se devolve ou sofrerá as consequências.
09:4880% das pessoas devolvem, porque compraram sem saber.
09:52Ou compraram achando que não era roubado, ou sabiam que era roubado, mas achavam que não ia ser identificadas.
09:58Enfim, essa tolerância também do brasileiro a criar essas...
10:03O Brasil tem esses mercados, essa tolerância com as regras, que muitas vezes atrapalha muito.
10:09Você compra um celular baratíssimo e não pergunta como.
10:13Claro que a origem dele provavelmente ou é o contrabando ou é o roubo.
10:18Então, vamos lá.
10:18Para dar meu trabalho, vamos lá.
10:19E aí
10:20Vamos lá.
10:21Vamos lá.