BATALHAO 2899 Ás de Espadas OPERAÇÃO QUINTA LIMPEZA

  • há 7 anos
Este posto, pertencia à Circunscrição dos Luchazes e situava-se na margem direita do Rio Muié, que lhe deu o nome. Tinha uma avenida larga, talvez, com uns vinte metros, com cerca de dois mil metros de cumprimento, ladeada de eucaliptos adultos, com mais de trinta anos, situada numa zona plana, com ligeira inclinação para o rio, do qual distava, cerca de um quilómetro.


Sensivelmente, a meio desta avenida, em direcção ao mesmo rio, partia uma outra avenida, mais estreita, com cerca de quinhentos metros de comprimento e no final, no sentido da nascente deste rio, na saída para o Sessa, uma outra avenida, no mesmo sentido da anterior e com as mesmas medidas, também ladeadas de eucaliptos, da mesma época.


O RIO MUIÉ - Antes de começar a minha demorada descrição, do que era este posto administrativo, no meu tempo de puto, vou fazer uma fotografia, do que era este rio e, sinceramente, espero que ainda hoje assim se mantenha, sem poluição.


Desconheço, por completo a sua nascente, mas vinha dos lados do Sessa. Serpenteava por uma extensa planície, pouco profundo na maior parte do percurso que dele conheci, podia-se observar o seu leito todo forrado de arreia branca a indicar a pureza das suas águas, cheio de vida, isto é, de corrente. Nalguns sítios, o seu leito era bastante pedregoso e noutros as suas águas, apenas nos molhavam os pés. Muito bonito e, até cantava, ao escurecer.


Foi daqui que foi extraída a pedra e a areia, utilizadas nas construções do novo posto administrativo e das enfermarias. Os tijolos, foram mesmo confeccionados na sua margem direita, junto à nossa horta e depois eram transportados, na camioneta Bedford, do senhor Almeida Camapunho.


Às cinco da manhã, a sua água era tépida, e eu e o meu irmão, adorávamos tomar um banho àquela hora. O pior era na saída. Por aquelas paragens às cinco da manhã, já era dia meninos, já havia muita gente a trabalhar, não sabiam?


A nossa horta ficava na sua margem esquerda e era alcançada através de um pontão que, em altura de cheia, desaparecia nas suas águas e, mesmo junto a esta existia uma ilhota.


A sua margem esquerda era mais arenosa, com mato rasteiro e raro, com alguns quimbos, com zonas de declives acentuados e, atingia-se, atravessando um pontão.


Na sua margem direita, acompanhando esta, seguia um ou mais carreiros de areia branca, com enormes sulcos feitos pela água da chuva, também com ribanceiras, mato rasteiro e raro.


E, agora, vou começar, a tal descrição


O LADO DIREITO DA AVENIDA - Os antigos, traçavam tudo a régua e esquadro. Primeiro irei descrever, o posto administrativo em si e só depois, à parte, a Missão.


Assim, o lado direito da avenida, para quem vinha de Cangamba, começava com um enorme descampado, com quase metade do seu cumprimento e, naquela época, era utilizado para umas jogatanas de futebol e, mais tarde, como parte da pista de aterragem das avionetas do Aeroclube do Moxico e, possivelmente, aeronaves de pequeno porte da FA. A pista surgiu aqui, numa altura muito conturbada e o seu desbravamento e a sua conservação, foi tudo pago pelos comerciantes, por imposição do administrador. Querem a pista, então, paguem-na.


A seguir a este descampado, seguiam-se as seguintes edificações:


A LOJA DO MEU TIO LUIS - Foi a nossa primeira residência aqui, depois da nossa saída do Sessa. Era de construção de adobe e coberta de folhas onduladas de zinco. Devia ter, uns trezentos metros quadrados de superfície coberta. Possuía uma varanda a toda a volta e era vedada do seu lado direito, com um pequeno muro com frechas.


Virado para a rua principal, ficava a loja, a sala de visitas e o quarto dos meus pais e na parte traseira deste edifício e por trás da loja, o meu quarto e do meu irmão Manuel que também, servia de quarto de hóspedes, a cozinha, que nunca tinha servido como tal e depois, a sala de jantar que ligava directamente com a de visitas, a casa de banho e o quarto das minhas irmãs.


Ao todo tinha sete portas, três viradas para a frente, duas na lateral direita e duas nas traseiras e seis janelas, duas na frente, três nas traseiras e uma na lateral esquerda.


A loja, o nosso quarto e a casa de banho, não tinham qualquer ligação ao restante edifício. Ainda hoje, não consigo compreender, porque motivo, as casas de banho, não tinha ligação directa, uma porta, à restante casa. Nunca ninguém me conseguiu explicar, as razões objectivas desta separação. Seria por causa dos cheios ou dos sons? Nalgumas em que vivi, até tinha edifício próprio. Era a privacidade que estava em jogo? Ah, então é por isso que os nossos irmãos brasileiros lhe chamam de privada. Espertos.


Na traseira deste casarão, ficava um enorme quintal, todo cercado, com mais quatro construções a pau-a-pique, que serviam de armazém, de despensa, de cozinha e de casa de apoio aos nossos fregueses, vindos de longe, para recuperarem forças, para o seu regresso. Uma destas construções, teria sido, a loja primitiva.

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