Lata d'água na Cabeça (As Carregadeiras de Água)
Nos morros, onde as casas se empilhavam em um equilíbrio precário, a água encanada era um sonho inalcançável. As carregadeiras de água se tornavam a ponte entre a necessidade e a sobrevivência, descendo às fontes, poços e rios para buscar o que era vital. Não carregavam apenas para suas casas; muitas vezes, o destino era a residência dos patrões, onde o luxo das torneiras dependia do esforço silencioso de quem subia e descia as ladeiras sem descanso.
Os caminhos eram desafiadores. Escadas de pedra gastas pelo tempo, ladeiras de terra que viravam lama na chuva, e trilhas sinuosas marcavam o trajeto. Descer com os baldes ou latas vazios era o início de uma tarefa que não admitia falhas. Na volta, com a água equilibrada na cabeça, cada passo precisava ser medido; um deslize significava perder tudo e começar de novo.
As fontes eram discretas, quase escondidas, mas indispensáveis. Os rios, sempre lá, ofereciam suas águas, mas exigiam esforço para serem alcançados. Nos poços, o som das cordas rangendo enquanto os baldes subiam trazia um cansaço ancestral. A cada viagem, mais do que água, era a força da persistência que subia com elas.
Nas casas dos patrões, a água era deixada nos reservatórios, enchendo tanques que muitas vezes não pertenciam às carregadeiras. Em silêncio, retornavam para abastecer seus próprios lares, sempre no mesmo trajeto, repetindo o ciclo sem reconhecimento ou alívio.
O cotidiano dessas mulheres era marcado pela constância da labuta. Não havia heroísmo nas subidas nem poesia nas descidas — havia apenas o peso literal e simbólico do que carregavam. Nas latas equilibradas na cabeça, sustentavam a vida de dois mundos: o delas e o dos que nunca precisaram subir um morro em busca de água.
FP.
Nos morros, onde as casas se empilhavam em um equilíbrio precário, a água encanada era um sonho inalcançável. As carregadeiras de água se tornavam a ponte entre a necessidade e a sobrevivência, descendo às fontes, poços e rios para buscar o que era vital. Não carregavam apenas para suas casas; muitas vezes, o destino era a residência dos patrões, onde o luxo das torneiras dependia do esforço silencioso de quem subia e descia as ladeiras sem descanso.
Os caminhos eram desafiadores. Escadas de pedra gastas pelo tempo, ladeiras de terra que viravam lama na chuva, e trilhas sinuosas marcavam o trajeto. Descer com os baldes ou latas vazios era o início de uma tarefa que não admitia falhas. Na volta, com a água equilibrada na cabeça, cada passo precisava ser medido; um deslize significava perder tudo e começar de novo.
As fontes eram discretas, quase escondidas, mas indispensáveis. Os rios, sempre lá, ofereciam suas águas, mas exigiam esforço para serem alcançados. Nos poços, o som das cordas rangendo enquanto os baldes subiam trazia um cansaço ancestral. A cada viagem, mais do que água, era a força da persistência que subia com elas.
Nas casas dos patrões, a água era deixada nos reservatórios, enchendo tanques que muitas vezes não pertenciam às carregadeiras. Em silêncio, retornavam para abastecer seus próprios lares, sempre no mesmo trajeto, repetindo o ciclo sem reconhecimento ou alívio.
O cotidiano dessas mulheres era marcado pela constância da labuta. Não havia heroísmo nas subidas nem poesia nas descidas — havia apenas o peso literal e simbólico do que carregavam. Nas latas equilibradas na cabeça, sustentavam a vida de dois mundos: o delas e o dos que nunca precisaram subir um morro em busca de água.
FP.
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