O historiador Victor Missiato concedeu entrevista ao Morning Show e falou sobre quais foram os principais legados deixados pelo papa Francisco para o mundo.
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NotíciasTranscrição
00:00em frente aqui, repercutindo a morte, a trágica morte, lamentável morte do Papa Francisco
00:05aos 88 anos, o primeiro Papa das Américas, o primeiro Papa Jesuíta, o primeiro Francisco
00:10que sai, claro, do pontificado dele de 12 anos à frente da Igreja Católica para os livros de história.
00:17E é nesse espírito, pessoal, que eu convido agora, dando sequência à nossa cobertura,
00:21o historiador Vitor Miciato, para comentar a morte do Papa Francisco e o legado do pontífice.
00:25Bom dia, conta para a gente um pouco, e obrigado pela presença desde já, fazendo questão
00:31aqui de ressaltar, assim, na sua opinião, se você tivesse que apontar, Vitor, qual é
00:36o principal contorno, o principal feito do Papa Francisco que vai ficar para a eternidade?
00:44Estar aqui falando com vocês, eu diria que o maior legado que o Papa Francisco deixou
00:49foi uma mudança de rota no sentido progressista do processo histórico.
00:55principalmente através de algumas ações e algumas falas e alguns discursos que estiveram
01:03conectados a uma determinada conjuntura, podemos colocar assim, de avanço de uma determinada
01:11agenda progressista, não só na Igreja, mas também, principalmente, no mundo ocidental.
01:17Então, diante disso, há uma interlocução com novos grupos, novos atores dentro da Igreja
01:24Católica, que se por um lado isso avançou, por outro lado, acentuou algumas divisões dentro
01:33do catolicismo e também distanciou algumas situações com relação a outras igrejas cristãs.
01:40Portanto, a palavra não é nem controverso, mas é um legado difuso nesse sentido, um legado
01:50de avanços de uma determinada visão progressista, ao mesmo tempo em que o cristianismo, nas suas
01:58principais bases, está sofrendo determinadas crises no que diz respeito ao número de fiéis,
02:04no que diz respeito à sua própria demografia, principalmente na Europa e aqui na América,
02:12disputando espaços com novas e antigas religiões cristãs. Diante disso, eu vejo que é um legado
02:20histórico, por conta da sua mudança de perspectiva, principalmente comparando com Bento XVI.
02:26No entanto, é um legado que deixa algumas lacunas, que deixa algumas situações abertas para
02:32serem resolvidas, até enquanto perspectiva de crescimento e força da Igreja Católica
02:39perante o mundo.
02:40É isso aí, seguimos aqui com o Vitor Miciato, historiador, para nós entendermos exatamente
02:45qual é exatamente esse legado que ficará para a eternidade do Papa Francisco.
02:49Eu proponho, Vitor, que a gente receba aqui o nosso amigo de fé, aqui como eu costumo
02:53chamá-lo, o próprio Mano Ferreira, cativo aqui do nosso Morning Show, que se junta a nós
02:57agora no programa para fazer a próxima pergunta e a gente seguir engajando aqui em repercutir
03:02o legado do Papa Francisco.
03:03Mano, a palavra é sua.
03:06Muito bom dia, André, bom dia aos amigos do estúdio, bom dia, Vitor e à nossa audiência.
03:12A minha pergunta é sobre a mudança, digamos assim, geopolítica que o Papa Francisco representou,
03:19não apenas na sua indicação, se tornando o primeiro Papa latino-americano, mas também
03:25na composição do Colégio de Cardeais, que vai eleger o próximo Papa.
03:30Porque sempre houve uma concentração muito grande de Cardeais europeus e o Papa Francisco,
03:36digamos assim, diversificou, de um ponto de vista continental, a composição desse
03:42colegiado.
03:43O que isso representa, em termos concretos e práticos, para o futuro da Igreja, na sua
03:50visão, Vitor?
03:52Bom dia, Mano.
03:53É uma excelente pergunta.
03:54Eu diria que, na primeira parte dela, geopoliticamente falando, é fundamental que a Igreja Católica
04:01se reoriente em termos das mudanças que, nesses últimos cinco anos pós-pandemia, o mundo
04:08teve, principalmente na questão ocidental.
04:11Onde será que a Igreja Católica vai fincar os seus pés?
04:15Será na manutenção de uma agenda ainda muito progressista?
04:19Ou será na busca por uma retomada de diálogos com conservadores que estão colocando o seu
04:25voto e seus interesses, seja na Inglaterra, com o Brexit, eu sei que agora mudou o partido
04:30lá, mas durante 20 anos e a escolha, a saída da Inglaterra da União Europeia foi fundamental
04:35por conta disso.
04:36Seja na Itália, que abriga territorialmente ali a instituição tradicional, que é o Vaticano,
04:45seja também nos Estados Unidos, onde nós tivemos uma vitória arrebatadora de Donald
04:51Trump e um aumento, um crescimento do cristianismo naquela região, ou seja, também na América
04:57Latina, onde você teve uma mudança importante na Argentina, você está visualizando agora
05:03a vitória de alguns países andinos com candidatos mais conservadores, então você vê uma nova
05:10onda conservadora que se sobrepõe àquela onda progressista, que foi a onda em que o Papa
05:16Francisco assumiu.
05:19Então, diante disso, eu vejo que a geopolítica do Vaticano, ela deveria se reorientar.
05:25Essa, pelo menos, é a minha posição.
05:27Em relação a essa mudança que você colocou muito bem, em relação à escolha do próximo
05:33Papa, de acordo também com os novos bispos que escolherão, que farão essa votação, eu
05:41vejo que também já é uma questão muito política do Papa Francisco de tentar manter esse legado,
05:49que foi essa mudança de rota que ele teve.
05:51O grande desafio é, será que esses bispos estarão dialogando com uma nova realidade,
05:56ou será que fincarão os seus pés dentro daquilo que a gente vê numa agenda mais progressista?
06:02Diante disso, essa manutenção dessa agenda, será que será benéfica para a Igreja Católica,
06:08ou ela passará a conviver com uma competição cada vez maior com novas igrejas nessas três
06:14regiões que eu falei?
06:16Porque, por parte do catolicismo na África e na Ásia, a mudança já é outra.
06:21Você vê um crescimento, mesmo que leve, um crescimento importante do catolicismo na África
06:26e na Ásia.
06:27Seguimos aqui no Morning Show com o historiador Vitor Miciato, repercutindo todos os contornos
06:32aí do legado do Papa Francisco.
06:34Eu vou aqui com o Henrique Krigner, com o Vitor Miciato, perdão, só fazendo a breve correção.
06:40Seguimos aqui, Vitor, com o Henrique Krigner, agora sim, para a próxima pergunta.
06:44Vitor, é muito interessante esse aspecto geográfico que você traz.
06:48E você diria, então, analisando nesses últimos anos do Papado de Francisco, nessas regiões
06:53onde nós presenciamos um crescimento expressivo da Igreja Católica, tanto na África quanto
06:58países da Ásia, em especial ali a Índia e outros ali na Ásia Central, você diria
07:04que essa abertura que o Papa Francisco trouxe para diálogos, inclusive com a Igreja Evangélica
07:13e com outras religiões, isso foi benéfico, perdão, ou isso talvez foi mais prejudicial
07:21para esse movimento de expansão e crescimento da Igreja nesses países?
07:27Certo. Eu vejo que quando o Papa abre uma abertura, um leque maior para igrejas até mesmo
07:38não cristãs, em detrimento de um diálogo maior com igrejas mais tradicionais, vamos colocar
07:43por exemplo, a relação do catolicismo romano com a Igreja Ortodoxa Russa. Pontes poderiam
07:50ter sido criadas ali para estabelecer um diálogo maior, principalmente no conflito e na relação
07:56entre Europa e Rússia. Por outro lado, em países como África e Ásia, que você perguntou,
08:02essa aproximação para aquelas regiões foi benéfica. Benéfica no sentido de que o cristianismo,
08:11enquanto propagador da paz, pode ser lá na frente um elemento fundamental de diminuição
08:19dos conflitos ali na África Central. Então nós temos uma situação ali muito tensa em que o
08:25cristianismo pode agir ao se desenvolver, ao crescer, em busca de maiores diálogos pela paz. Isso ainda
08:31está muito distante, mas a sua presença pode ser fundamental. Então não existe uma via de um
08:37caminho só, vamos colocar assim. No entanto, eu vejo que é fundamental que retomando aquele
08:42aspecto geopolítico, a Igreja Católica no mundo ocidental se reoriente para que tenha força
08:48política e também sim força econômica, força material para se fazer presente nos principais
08:54diálogos para além da questão da fé, que é evidentemente o seu eixo central.
09:01Vamos trazer agora a Ana Beatriz Riz, Vitor Miciato, aqui para a próxima pergunta. A gente
09:06segue, claro, explorando tudo que representa esse dia tão marcante para todos os mais de
09:111 bilhão, 300 milhões de fiéis católicos mundo afora. Vamos lá, Aninha, por favor.
09:16Oi, Vitor, bom dia. Você falou muito aí nas respostas anteriores sobre a relação
09:22geopolítica que tem a Igreja e, em especial, o mundo ocidental. E aí você coloca que talvez
09:28acredite num realinhamento de rota, talvez para compor com a nova velha tendência política
09:35que a gente está vendo de um caminho mais à direita, uma questão mais conservadora.
09:43E a minha pergunta para você é no sentido contrário. É se não seria o caso de exatamente
09:48a Igreja, de alguma forma, tentar se manter dessa forma mais humanitária, mais defensora
09:54das minorias, justamente para fazer frente a essa tendência política mais conservadora?
10:01Veja, eu diria que pensar numa perspectiva mais conservadora não necessariamente significa
10:07abandonar esse lado humanitário. Pelo contrário, significa, de fato, lutar por uma paz em que
10:14cristãos no mundo todo consigam cada vez mais estabelecer pontes de diálogo que a gente
10:21não vê atualmente. Então, quando você vê uma guerra entre a Europa e Rússia, inclusive
10:26uma Europa se preparando para enfrentar a Rússia, você vê irmãos cristãos nesse fronte de
10:36batalha. E aí eu vejo que o cristianismo poderia muito mais, através da sua perspectiva católica,
10:43mas expandindo para a sua perspectiva cristão, universalizar um discurso, voltar a pensar o
10:49cristianismo como algo universal e não como algo verticalizado. O cristianismo hoje se coloca
10:55dentro de uma agenda que divide mais do que agrega. E, evidentemente, que o legado desses grupos
11:03progressistas não deve ser abandonado, não se trata de excluir a nova realidade do nosso mundo.
11:10Mas a gente precisa pensar também nas bases do cristianismo, o que ele está colocado ali
11:16desde o seu início. E eu acho que é isso que o próprio Papa deve priorizar.
11:23E há de se lembrar, né, Vitor, que a Igreja Católica foi fundada ali no ano 33 depois de Cristo,
11:30Cristo. E, claro, que já fazem quase dois mil anos onde há uma tradição que transcende
11:36todas essas picuinhas aqui do nosso... picuinhas mundanas, né, terrestres do nosso plano aqui.
11:42E apenas por isso deveria ser claro para todo mundo de que qualquer sucessão, o que acontece
11:47são papas com mensagens diferentes para momentos diferentes e se adaptando às questões do momento.
11:53Agora, particularmente... Só que tem uma... Esse espírito central que é, assim, imutável
11:58é a defesa e o cuidado dos mais pobres. Isso está canonizado ali, codificado dentro da Bíblia
12:03e deveria ser, pelo menos deveria ser, o espírito que qualquer católico deveria exercitar no seu dia a dia
12:10enquanto católico, né? E essa marca do pontificado do Francisco é inegável.
12:14E a gente volta agora com o Vitor Miciato, historiador, que segue aqui com a gente no Morning Show
12:19para seguirmos repercutindo. Agora, Vitor, a gente estava falando tanto de...
12:24do simbolismo geopolítico, do que o próprio Papa Francisco representou.
12:30A gente sabe que na geopolítica tem algo chamado soft power, né?
12:33Como nações acabam afirmando a sua proeminência, a sua força, através de, enfim, eventos culturais.
12:39A gente sabia muito bem do torcedor fervoroso do San Lorenzo de Buenos Aires,
12:44que era o Papa Francisco, Jorge Mário Bergoglio, inclusive.
12:48Olha a informação que chegou pra gente, né?
12:51De acordo com o próprio Dom Odilo, ele morreu às 7h35 de Roma,
12:56que era 2h35 da manhã em Buenos Aires, cidade natal do Papa Francisco.
13:02E o Papa Francisco era nada mais, nada menos que o sócio torcedor número 88.235 do San Lorenzo,
13:09que durante esses 12 anos, inclusive, a seleção argentina viu os seus tempos de glória
13:14e campeã do mundo, como a gente sabe, e o próprio San Lorenzo copou a Taça Libertadores
13:19um ano após o início do seu pontificado.
13:21O que representa também esse aspecto místico, talvez, e também do soft power em torno do Papa Francisco?
13:30Representa muita coisa.
13:33Representa, inclusive, isso que vocês estão colocando,
13:36tanto quanto o bispo Dom Odilo Scherer colocou,
13:40o seu legado é sua bandeira.
13:41E esse legado, ele se perpetua ao longo do tempo.
13:45Então, o soft power, ele só faz sentido quando ele se estabelece para além do tempo presente.
13:52E isso eu considero que, sim, o Papa Francisco conseguiu estabelecer
13:57nessa abertura de diálogo, nesse humanismo, vamos colocar assim.
14:02O Papa Francisco, nessa perspectiva mais pessoal de soft power,
14:07ele humanizou o papado.
14:08Ele trouxe o papado mais perto das pessoas.
14:13Quando ele veio para o Rio de Janeiro aqui, por exemplo,
14:15ele teve condutas extremamente, vamos dizer assim, cidadãs,
14:19no sentido de estar no meio do trânsito, abrir a janela e conversar com as pessoas.
14:23Na questão do futebol com o São Lourenço, eu concordo plenamente.
14:28Eu lembro, na época, que foi algo muito sintomático.
14:31O São Lourenço nunca havia vencido para o Libertadores.
14:33E aquilo transformou muito o início de uma ressurreição argentina no futebol,
14:39vamos colocar assim.
14:41Então, isso se faz presente, sim, no sentido de humanizar o papado
14:45em um mundo em que, cada vez mais, nós estamos nos humanizando com as redes sociais.
14:50Então, a gente se aproxima de pessoas, famosas ou não,
14:54dentro de vários aspectos das suas vidas.
14:57Quando o Papa, ele adentra essa comunicação,
15:01como o próprio Dom Odilo Scherer colocou,
15:04quando ele vai no aumento do diálogo com a imprensa, com a mídia,
15:09ele está se mostrando cada vez mais como um ser humano, né?
15:13Então, diante disso, eu vejo que o legado do soft power dele
15:16é essa perspectiva humanista.
15:18Não, total, é difícil discordar.
15:21A gente segue aqui adiante aqui com o historiador Vitor Miciato no Morning Show
15:24e com a nossa bancada agora, na figura da Tereza Morrone, com a próxima pergunta.
15:29Vamos lá.
15:30Olá, Vitor. Bom dia, tudo bem?
15:34Falando ainda um pouco sobre...
15:35Bom dia, Tereza, tudo bem?
15:37Bom dia, bom dia.
15:38Falando um pouco sobre a humanidade do Papa Francisco, né?
15:42E retomando um pouco sobre a origem dele latino-americano, né?
15:47E como é que isso, qual é a sua análise sobre como isso influenciou seu papado
15:52e a forma como ele se relacionou com os líderes mundiais e os fiéis?
15:58Perfeito. O pensamento humanista e o pensamento político latino-americano,
16:07ele é muito hegemônico naquilo que diz respeito à ideia de luta contra a desigualdade social,
16:17defesa da relação entre cidadania e justiça social.
16:20Então, o polo social do pensamento latino-americano é algo que se desenvolve em todas as universidades,
16:30em todos os espaços de discussão hegemônicos aqui na América Latina.
16:35Então, sem dúvida, esse passado, esse legado, essa tradição latino-americana,
16:41ela também chegou ao papado romano com um novo tipo de discurso.
16:45Então, vamos comparar, por exemplo, com o papo anterior,
16:48aonde que os conceitos e os livros, as encíclicas publicadas,
16:54elas diziam muito mais respeito a uma perspectiva europeia de civilização,
17:00de reforma, de tradição, e que com o Papa Francisco,
17:06a ideia de, novamente, justiça social, lutas e movimentos sociais,
17:13dentro de uma perspectiva voltada para o desenvolvimentismo,
17:19se fez muito presente.
17:21Por isso esse aspecto tão grande na luta contra a pobreza.
17:24Por isso esse aspecto tão grande na visão,
17:27vamos colocar assim muito entre aspas, mas é importante,
17:30nessa visão terceiro-mundista,
17:33que durante muito tempo criticou,
17:35a própria teologia da libertação nasce com essa reorientação,
17:41de olhar também, como, novamente, o Dom Odilo falou,
17:45olhar para as periferias.
17:46Então, olhar para lugares em que os conceitos de olhar sobre o mundo
17:51são diferentes.
17:52Então, dentro dessa perspectiva latino-americana,
17:55eu diria que é uma abertura para uma perspectiva,
17:59entre aspas, terceiro-mundista,
18:02no sentido de olhar para as periferias a partir do papado romano.
18:07Em frente para todos vocês,
18:09nos acompanhando aqui nas multipataformas da Jovem Pan,
18:12a gente, claro, recebe aqui com toda reverência também
18:15o nosso Tiago Berrache,
18:17que vai agregar muito aqui na sequência da cobertura
18:19desse dia histórico tão solene, né, Tiago?
18:21Obrigado pela presença.
18:22Oi, Zé Marinho, bom dia a todos.
18:23Ainda bom dia, né?
18:24Obrigado pela receptividade.
18:27Claro que a gente vai seguir numa cobertura histórica
18:29aqui da Jovem Pan.
18:30Comenta a Ana, ao Henrique e também a Tereza.
18:33E, obviamente, a gente se lembra, né,
18:34de outras coberturas que a gente já fez aqui da Jovem Pan.
18:37A Jovem Pan sempre voltada a acompanhar os passos do Papa, né?
18:41Eu lembro muito ainda da morte de João Paulo II,
18:45o conclave que indicou o Bento XVI,
18:47depois a visita do Bento XVI aqui ao Brasil em 2007,
18:50aí a morte do Bento XVI, mas ele já era Papa Emérito.
18:53Em 2013, a escolha é do Papa Francisco.
18:55E agora, infelizmente, a morte do Papa Francisco,
18:58depois de muita agonia que a gente acompanhou,
18:59ele saiu e ainda teve a chance
19:01de fazer uma aparição ontem, né, na Praça São Pedro.
19:06É, e a gente lembra que logo, talvez,
19:07dos primeiros atos dele, em julho de 2013,
19:09a eterna frase que vai ecoar pra sempre,
19:11que o Papa pode até ser argentino,
19:13mas Deus é brasileiro.
19:15Palavras que pra sempre ecoarão,
19:17que refletem muito bem o espírito aí
19:18do próprio Papa Francisco.
19:21Tiago, a palavra é sua aqui.
19:22Eu proponho que você siga aqui a conversa
19:25com o historiador Vitor Miciato,
19:26que permanece aqui com a gente,
19:28desconstruindo todo o legado monumental
19:30que o Papa Francisco nos deixou.
19:32É, eu queria perguntar pro professor Vitor,
19:34obrigado pela atenção mais uma vez aqui com a Joma Empan.
19:37Eu li, inclusive, a fala de um teólogo dos Estados Unidos,
19:41hoje, dizendo o seguinte,
19:42que essa sucessão, o conclave do Papa Francisco
19:47vai ser, talvez, um dos mais difíceis de toda a história,
19:51primeiro, por causa da homogeneidade
19:54dos integrantes desse conclave,
19:56em segundo lugar, por causa dos tempos mais recentes,
20:01as divisões políticas, sociais, econômicas.
20:04O senhor concorda, professor?
20:05Concordo plenamente.
20:08Primeiramente, Modilo, Tiago,
20:10eu vejo que, sim,
20:12as disputas dentro da Igreja agora
20:14serão muito grandes
20:15no que diz respeito a qual caminho
20:19a Igreja Católica irá seguir daqui pra frente.
20:22O próprio Dom Odilo, na sua fala,
20:25mostra que a única resposta
20:26que ele não quis cravar, assim, evidentemente,
20:31foi justamente no que diz respeito
20:34aos caminhos para essa escolha.
20:36Normalmente, uma pergunta dessa, lá atrás,
20:38não seria feita porque
20:40o sentido de continuidade,
20:43de transformações,
20:44não eram tão grandes como agora.
20:47Nós estamos, sim, numa encruzilhada,
20:50não se trata de ser uma encruzilhada
20:51positiva ou negativa,
20:53mas uma encruzilhada
20:54de qual caminho a Igreja Católica,
20:57juntamente com seus irmãos cristãos,
20:59se guiará perante esse mundo
21:01que, sim, ele é polarizado,
21:05ele é multifacetado,
21:07mas que ele tem uma base,
21:09ele tem uma tradição,
21:11ele tem mais de dois mil anos de história.
21:13E qual é o caminho que a Igreja
21:14vai seguir a partir disso?
21:16Então, eu concordo, sim,
21:18que nós vamos ter, talvez,
21:20uma das encruzilhadas decisivas
21:22no que diz respeito à decisão
21:24para a escolha do novo Papa
21:26como uma das mais difíceis e complexas,
21:28porque, provavelmente,
21:30ultrapassará o próprio conclado,
21:33que está imerso a debates
21:35dentro dos seus países,
21:36dentro das suas regiões,
21:38muito polarizados.
21:39E vão trazer isso
21:41para essa escolha,
21:42sem dúvida alguma.
21:44É importante aqui, Tiago,
21:45que a gente só ressalte
21:46que uma das perguntas
21:47mais espinhosas ou polêmicas,
21:50claro que suscitou aqui
21:51a atenção redobrada de todos,
21:53foi do rastro ainda presente
21:56em algum grau,
21:57de acusações de pedofilia
21:58e abuso sexual.
21:59Só que, como eu disse aqui
22:01na largada do programa,
22:02né, bancada aqui,
22:03palavras vão ao vento,
22:04é um exemplo que arrasta.
22:05O próprio Papa Francisco
22:06criou a Comissão Pontifícia
22:08para a Proteção dos Menores
22:09e também reformou
22:10a legislação canônica
22:11com a carta
22:12Voss Estis Lux Mundi
22:13de 2019,
22:14que vocês são a luz do mundo,
22:16que obrigou várias denúncias
22:17internas de abuso
22:18e realmente moralizou,
22:20botou ordem nesse sentido
22:21e deixa também como um componente
22:24desse grande legado, né, Tiago?
22:25É isso.
22:26Dá para fazer mais uma pergunta?
22:28Claro, podemos seguir adiante aqui.
22:30Tiago Berraes com o Vitor Micello
22:31fica à vontade.
22:31Bom, a outra questão,
22:33não é, professor,
22:34sobre o legado do Papa Francisco,
22:37vocês devem ter falado muito disso
22:39desde cedo, né,
22:40mas a questão é a seguinte, né,
22:42vendo também uma análise
22:44sobre a história dele,
22:46a vida dele,
22:47ele enfrentou, obviamente,
22:49um mundo com guerras,
22:50a guerra na Ucrânia,
22:51a guerra no leste europeu
22:53e eu vi até uma comparação
22:55que foi feita
22:55com o Papa João Paulo II
22:58que assumiu em 78
23:00e ele morreu em 2005,
23:02aliás, a Igreja Católica
23:03também está lembrando
23:04dos 20 anos da morte dele,
23:05morreu em abril de 2005,
23:07inclusive,
23:08uma questão que é interessante,
23:09ele enfrentou o Papa João Paulo II
23:12todos os anos 80,
23:14que foi ainda uma década,
23:15que é chamada de década perdida,
23:17uma década em que havia ainda divisão
23:20entre os Estados Unidos
23:21e a então União Soviética,
23:22é possível fazer comparação,
23:24professor,
23:24de pontificados,
23:26de legados?
23:29Olha,
23:30existem algumas possibilidades
23:32quando você pensa
23:33nesses dilemas europeus,
23:35ambos os papas
23:36enfrentaram situações geopolíticas
23:38na Europa de divisão,
23:40o Papa João Paulo
23:42também enfrentou guerras
23:44no Oriente Médio,
23:44no entanto,
23:46ele contribuiu
23:48e também participou
23:51do processo de desintegração
23:53da União Soviética.
23:55Diante disso,
23:56o Papa Francisco,
23:57atualmente,
23:58ele não tem uma,
24:00um desafio,
24:02ele não teve um desafio
24:03dessa magnitude.
24:04Por outro lado,
24:05o Papa Francisco
24:06enfrentou
24:07questões
24:09que vão muito além
24:10das disputas ideológicas.
24:12está se colocando
24:14agora no mundo
24:15posicionamentos
24:16em relação
24:17à participação
24:19da Rússia
24:19na Europa
24:20ou a existência
24:21ou a continuidade
24:22da existência
24:23ou não
24:23de regiões
24:25no Oriente Médio
24:26que isso não estava
24:28colocado
24:29para o Papa João,
24:29para o Papa,
24:31perdão,
24:32para o Papa
24:33João Paulo II.
24:35E agora,
24:37com o Francisco,
24:39o dilema
24:40até mesmo
24:40nacional
24:40da Palestina,
24:42da questão
24:44territorial
24:44da Ucrânia,
24:45ficou muito em xeque
24:46por conta
24:47de tudo
24:47que está acontecendo.
24:49E aí,
24:49é um dilema
24:50muito maior
24:51nesse sentido
24:52do que a própria
24:52fragmentação
24:53do socialismo,
24:54que trouxe
24:54várias novas nações,
24:56não necessariamente
24:57colocou em xeque
24:58atuais
25:00ou atuais
25:01territórios
25:01de nação.
25:02Então,
25:02portanto,
25:03eu vejo
25:03que até para o Francisco,
25:04o Papa Francisco
25:05foi um tema
25:06mais complexo
25:07e espinhoso
25:07nesse sentido.
25:10É isso aí,
25:10Vitor Miciato,
25:11historiador.
25:11A gente traz
25:12um comentário
25:12aqui,
25:13agregando a discussão
25:14do nosso
25:14Henrique Kriegner
25:16e seguimos adiante
25:17aqui,
25:17explorando esse
25:18legado monumental
25:19do Papa Francisco.
25:20Henrique.
25:20Queria retomar
25:21um pouquinho
25:21até da sua
25:22pergunta,
25:23Marinho,
25:23que foi ecoando
25:25uma pergunta
25:26que foi feita
25:27ao Dom Odilo Scherer
25:29também,
25:30e algo que eu tenho
25:32acompanhado aqui
25:33pelas próprias
25:34redes sociais,
25:35que é uma confusão
25:36ou talvez até
25:37um desrespeito.
25:38E eu quero tratar
25:39isso aqui
25:39porque acho que é
25:40importante até
25:41para a nossa audiência
25:41que está nos acompanhando.
25:43Nós estamos aqui
25:44diante do falecimento
25:46de uma figura
25:46muito importante
25:47para a Igreja Católica,
25:49de uma figura
25:50importante também
25:51para o cenário
25:53internacional,
25:53porque é um chefe
25:54de Estado
25:54que acaba de falecer,
25:55e também do falecimento
25:56de um ser humano.
25:58É óbvio
25:58que nós não vamos
25:59concordar com 100%
26:01daquilo que
26:02não existe
26:04uma figura pública
26:04que você venha
26:05a concordar.
26:06Se a pessoa
26:06que está nos assistindo
26:07agora consegue
26:08pensar numa figura
26:09pública,
26:10seja no campo
26:10da religião,
26:11no campo da política
26:12ou qualquer outra área
26:13que você tem
26:14100% de concordância,
26:16desconfie.
26:17Talvez aí você
26:17está caindo para o lado
26:18talvez da idolatria,
26:19já está passando
26:20um pouco do limite.
26:20Ou está olhando
26:21para o espelho.
26:21Ou está olhando
26:22para o espelho,
26:23querendo ser
26:23aquela pessoa também.
26:25Então,
26:26a gente tem que tomar
26:26esse cuidado,
26:27mas agora não é
26:28o momento
26:28para as pessoas
26:30que estão nos acompanhando,
26:31não é o momento
26:32da gente
26:33estigmatizar as pessoas
26:35por aquilo
26:35que nós discordamos.
26:37Diante do falecimento
26:38de uma liderança
26:39dessa magnitude,
26:40é o momento
26:41da gente escolher
26:42aquilo que foi bom,
26:43reconhecer aquilo
26:44que foi bom
26:44e valorizar
26:45especialmente
26:46em respeito
26:47às pessoas
26:48que têm aquela pessoa
26:49como uma liderança.
26:50Eu sou cristão,
26:51cristão evangélico,
26:52não sou cristão católico,
26:53mas consigo
26:54perfeitamente
26:55fazer a distinção
26:56entre as minhas crenças,
26:57o meu entendimento
26:59a respeito
26:59do pontificado
27:01do Papa Francisco,
27:03de posicionamentos
27:03que eu venho discordar,
27:04sendo conservador,
27:05tendo uma postura
27:06à direita,
27:07discordando do Papa Francisco
27:09em determinados posicionamentos,
27:10mas nesse momento
27:11me unindo
27:12aos irmãos católicos,
27:14a também todos aqueles
27:15que admiravam ele
27:15como líder religioso
27:17ou mesmo líder
27:17da Igreja Católica
27:19e seguiam
27:20as suas orientações.
27:22Então,
27:23esse é o momento.
27:23É o momento
27:24de solidariedade,
27:25é o momento
27:25de calma
27:27e é o momento
27:27também de fraternidade
27:29e não existe
27:29nada mais bíblico
27:30do que isso.
27:31Símbolo máximo
27:32de fé,
27:32referência espiritual,
27:33chefe de Estado também,
27:35então isso jamais
27:36pode ser apagado
27:37por qualquer birra
27:38ou picuinha ideológica
27:39aqui do nosso
27:40mundo terrestre.
27:42Mas o fato é o seguinte,
27:43que a gente vai se despedir
27:44de todo mundo
27:44que está nos ouvindo
27:45pela Rede Jovem
27:45e o Jovem Pan de Rádio
27:46Morning Show
27:46vai ficando por aqui.
27:48Tchau.
27:49Em frente aqui
27:50com o Vitor Miciato,
27:51até para a gente
27:52poder explorar
27:52no espírito da pergunta
27:54do próprio Henrique Kriegner,
27:55a palavra é sua,
27:56Vitor Miciato,
27:56em relação a esse permanente
27:58questionamento
28:00das falas
28:01e eventuais
28:01bolas divididas
28:02que o próprio Papa
28:03entrou,
28:04mas como isso
28:05é completamente,
28:06enfim,
28:07irrelevante
28:07num dia como hoje.
28:08Eu vejo que
28:11o posicionamento
28:12do Henrique,
28:13o posicionamento
28:14da Jovem Pan
28:15e com vocês
28:16liderando a bancada
28:17é algo fundamental,
28:19extremamente importante.
28:21Nada mais é
28:22do que
28:22a consolidação
28:24do conceito maior
28:26do cristianismo
28:27que é o amor.
28:29Então,
28:30se posicionar
28:31dessa forma,
28:32eu vejo que é fundamental
28:33porque,
28:34como nós estamos
28:35colocando aqui,
28:36dialogando,
28:37concordando,
28:38discordando,
28:38em nenhum momento
28:40de forma rícida,
28:41em nenhum momento
28:42de forma depreciativa,
28:45eu vejo que é um momento
28:46fundamental até
28:47para que todo mundo
28:48que se coloca
28:49como cristão,
28:50a primeira palavra
28:51que vem do cristianismo
28:53é amor,
28:54seja nos
28:55dez mandamentos,
28:57seja na origem
28:58do mundo
28:59ou seja também
29:01no evangelho.
29:02Então,
29:02diante disso,
29:03eu compacto
29:04completamente
29:05até para que
29:06o cristianismo
29:07tenha cada vez
29:08mais um poder
29:09universal.
29:11O cristianismo
29:11ele só é cristão,
29:13ele só tem
29:13essa força
29:14de mais de dois mil
29:15anos
29:15por conta
29:16da sua universalidade
29:17e a universalidade
29:19só se faz sentido
29:20a partir
29:20de uma mensagem
29:21universal,
29:22de um debate
29:23universal,
29:24de um diálogo
29:24universal.
29:27Anular,
29:28criticar
29:29de uma forma
29:29depreciativa
29:30numa situação
29:31dessa
29:31é de uma certa
29:33forma ir contra
29:34as próprias bases
29:35do cristianismo.
29:37Não é por afinidade,
29:38é por respeito,
29:39não é pela fé
29:41que nós professamos
29:42no nosso dia a dia,
29:42no nosso foro íntimo,
29:43é por realmente
29:44reverência
29:45ao que ele representou
29:46para tantas e tantas
29:47pessoas, né Tiago?
29:48É, o professor,
29:49deixa eu aproveitar
29:49também e fazer uma pergunta.
29:50É um contrassenso,
29:52não sei se o senhor
29:52concorda com isso,
29:53porque ele é tido
29:55como um papa,
29:57entra para a história
29:57da própria igreja
29:59como tendo
30:00hábitos simples,
30:01os aposentos dele
30:02no Vaticano
30:03são aposentos
30:04mais simples,
30:05ele não quis ficar
30:06em aposentos anteriores
30:07de outros papas,
30:09e ele recebia
30:09muitas críticas
30:10por causa disso, né?
30:12Inclusive tem até
30:12uma frase dele
30:14que não é tão antiga,
30:16uma frase um pouco
30:17mais recente,
30:17aí entrando nos rótulos,
30:19ele dizia que
30:20você ajudar os pobres
30:21ou olhar pelos pobres
30:22não é uma questão
30:23de ser ou não ser
30:24comunista, por exemplo,
30:25que é uma discussão
30:26eterna do ponto
30:27de vista político
30:28puxando o social
30:29para o político também.
30:31O senhor concorda
30:31com isso?
30:32Ele tinha esses hábitos
30:34simples e brigava
30:35para mostrar
30:36por que ele tinha
30:37esses hábitos simples,
30:38o senhor concorda?
30:40Concordo enquanto
30:41personalidade Francisco,
30:44concordo enquanto
30:45soft power Francisco,
30:47concordo também
30:48no que diz respeito
30:49à reorientação
30:52do mundo através
30:53de uma nova forma
30:56de se comunicar,
30:57que é uma forma
30:58cada vez mais direta,
30:59que é uma forma
31:01cada vez mais
31:02impessoal,
31:04porque nós estamos
31:05o tempo todo
31:06em comunicação
31:07com as pessoas,
31:08então isso vai
31:08tirando um pouco
31:09daquelas auras
31:11que existiam antes,
31:12daqueles grandes homens
31:15e grandes mulheres
31:16que se colocavam
31:17anteriormente.
31:18A modernidade
31:19traz essa perspectiva
31:20mais uma vez,
31:22entre aspas,
31:23de uma ideia
31:23de cultura de massas.
31:24diante disso,
31:26uma sobriedade
31:27maior,
31:28uma simplicidade
31:28maior,
31:30tem essa perspectiva
31:31de pessoalmente
31:33aproximar-se
31:34das pessoas.
31:36Então,
31:36nesse aspecto,
31:37sim.
31:37No aspecto
31:38geopolítico,
31:39no aspecto
31:40dos conceitos,
31:42aí eu vejo
31:42que sim,
31:43nós podemos
31:43encontrar divergências
31:44do que diz respeito
31:46à efetividade
31:47dessa posição.
31:48pregar algo
31:52mais simples
31:53ou a luta
31:54contra a pobreza
31:56através de algum discurso
31:58em que você puxa
31:59mais para um lado,
32:00deixa uma corda
32:01mais solta
32:02de outro,
32:03será que resolve
32:04os problemas
32:05ou será que,
32:07de uma certa forma,
32:10não resolve
32:13os problemas,
32:14vamos colocar assim.
32:15Então,
32:15vou dar um exemplo.
32:16A Santa Aliança
32:17pós-Napoleão
32:18no século XIX,
32:19ela é muito pouco falada
32:21no mundo de hoje,
32:22mas ela resolveu
32:23um problema,
32:24um dilema,
32:25através de uma perspectiva
32:26mais tradicional
32:27e conservadora
32:28que fez com que a Europa
32:29ficasse décadas
32:30sem uma guerra.
32:31Então,
32:32às vezes,
32:33posições mais tradicionais
32:35não necessariamente
32:36anulam
32:37uma perspectiva
32:38mais progressista
32:39e universalista,
32:40mas ajuda
32:42a interromper
32:45processos bélicos,
32:47processos de guerra
32:48que muitas vezes
32:49não se resolvem
32:50apenas com discursos
32:51universalizantes.
32:52Até porque você está lidando
32:53com perspectivas nacionais,
32:55com rivalidades,
32:57com situações
32:59em que nós temos
33:00brigas históricas,
33:01por exemplo,
33:02Ucrânia e Rússia.
33:03Mas a gente,
33:04talvez,
33:05deveria pensar também
33:06na defesa da tradição.
33:08O quanto ela é importante,
33:10mais uma vez,
33:10eu retomo,
33:11quanto foi importante
33:12a Santa Aliança
33:13no século XIX
33:14para trazer à Europa
33:16um fim de uma guerra
33:17que se estendia
33:18da Revolução Francesa
33:19por toda a Europa
33:20por quase 20 anos.
33:22E ela interrompeu
33:23esse processo
33:23de uma certa forma.
33:24Lógico que a Europa
33:25não ficou totalmente pacificada,
33:27mas aquilo que a gente
33:28via anteriormente
33:29não aconteceu.
33:31Então,
33:31eu vejo que,
33:32pessoalmente,
33:33sim,
33:33e geopoliticamente,
33:35talvez seja necessária
33:36uma mudança de rota.
33:37Mas essa é apenas
33:38a minha visão, né?
33:40Não,
33:40sem dúvida alguma.
33:41professor Vitor Miciato,
33:43a gente segue aqui
33:43com o historiador
33:44Vitor Miciato
33:45na cobertura
33:46da nossa Jovem Pan News
33:47do legado
33:48colossal,
33:49eterno
33:50do Papa Francisco
33:51Jorge Mário Bergoglio
33:52que sai do nosso plano
33:53para a eternidade.
33:55É engraçado também,
33:56né, Tiago,
33:56que, enfim,
33:57convocando até,
33:58vou te dar a oportunidade
33:58aqui de convocar
33:59o Mano Ferreira,
34:00mas você bem mencionou,
34:01professor,
34:02a questão da Europa,
34:04né?
34:04E como esses movimentos
34:05chamados nacionalistas,
34:07populistas,
34:07de direita,
34:08surgindo na Europa,
34:09nos Estados Unidos,
34:10trazem para si
34:11o manto do patriotismo.
34:12E ainda assim,
34:13por mais que o Papa Francisco
34:14fosse associado
34:15a uma agenda reformista,
34:16questionadora,
34:17progressista,
34:18impressionante como ele era
34:20um ardente defensor
34:21do patriotismo, né?
34:22Ele até dizendo
34:23que nós deveríamos
34:24respeitar a nossa pátria
34:25assim como respeitamos
34:26pai, mãe, avô e avó
34:28e até se referiu
34:29de forma muito enfática
34:30aos apátridas,
34:31como ele chamava
34:32de palhaços,
34:33de quem não tinha
34:34e quem não nutria
34:35esse zelo pela terra
34:36onde nós nascemos,
34:38vivemos,
34:38colecionamos nossas memórias
34:39e onde provavelmente
34:40morreremos e deixaremos
34:42nossas famílias, né?
34:43Então, pode ser até uma...
34:45Para muitos isso seria
34:45uma contradição,
34:46mas, enfim,
34:47eu queria entender
34:48a tua opinião
34:49desse aspecto também
34:50do patriotismo
34:51do argentino
34:52Jorge Mário Bergoglio
34:53e do Papa Francisco.
34:55E a gente queria te ouvir,
34:56a gente vai trazer
34:57o Mano Ferreira já já
34:57também para a discussão.
35:00Dentro dessa perspectiva
35:01que você colocou,
35:02pode-se puxar
35:03um fio,
35:04uma continuidade
35:06para que o próximo Papa
35:08ou para que o Papado,
35:09para além dos próprios Papas,
35:11para que o Papado
35:12olhem o patriotismo
35:15não na perspectiva
35:16do extremismo,
35:18não na perspectiva
35:19do ódio,
35:20mas na perspectiva
35:21do respeito
35:22às fronteiras,
35:23do respeito
35:24aos diversos interesses
35:25e, novamente,
35:27de uma retomada
35:29de uma visão tradicional
35:31sem ser necessariamente
35:33reacionária.
35:34Então, talvez,
35:35puxando esse ganso,
35:36a gente saia
35:37de uma perspectiva
35:38populista
35:39de extrema-direita
35:40e pare para ver
35:41que o nacionalismo
35:42não se coaduna
35:43apenas com essa visão
35:45reacionária,
35:46radical,
35:48odienta da guerra,
35:50mas, pelo contrário,
35:51em que
35:52essa reconfiguração
35:55das fronteiras,
35:56esse respeito
35:57à tradição,
35:58também seja
35:59um respeito à nação,
36:00também seja
36:01à volta
36:02de um patriotismo
36:03não antiglobalizante,
36:05não anti-universal,
36:07mas que respeite
36:09a maioria das pessoas
36:11que vivem
36:12nesse local,
36:13que têm famílias
36:14e tradições
36:15nesses locais,
36:16portanto,
36:16que olhem para o interior
36:17desses países,
36:19não apenas como
36:20uma perspectiva
36:21muito preconceituosa
36:23ou muito periférica,
36:24mas que traga
36:25essas vozes
36:26que estão lutando
36:27e que estão colocando
36:28há muito tempo
36:29essa perspectiva
36:30mais tradicional,
36:31mais conservadora,
36:33também na seara
36:34da mídia,
36:34também na seara
36:35do debate político
36:36e também na seara
36:37do diálogo,
36:38do diálogo respeitoso.
36:40E aí, quem sabe,
36:41uma continuidade
36:42nesse sentido
36:43seria importante
36:44até para
36:45o papado romano.
36:46agora,
36:47agora há meio
36:47de cinco minutos,
36:48professor Vitor
36:49Miziato,
36:50historiador,
36:50conversando com a gente
36:51aqui,
36:51Marinho,
36:52e girando aqui
36:53os nossos comentaristas,
36:54vou chamar o Mano Ferreira
36:55também,
36:56se somando a essa cobertura
36:57de fôlego,
36:58mais uma cobertura
36:59histórica aqui
37:00da nossa Jovem Pan.
37:01Tudo bem,
37:01Mano?
37:02Boa tarde para você,
37:03bem-vindo sempre.
37:04E eu já
37:04te pergunto o seguinte,
37:06a gente quando fala
37:07e faz uma cobertura
37:09sobre uma morte
37:10de um papa,
37:11a gente fala ao mesmo tempo
37:12de legado
37:12e ao mesmo tempo
37:13também sobre sucessão.
37:14o que a gente pode falar
37:16nesse momento
37:17em que o mundo,
37:18claro,
37:18faz uma reflexão
37:19e olha para a biografia
37:21do Papa Francisco.
37:22Mano,
37:23boa tarde mais uma vez.
37:25Boa tarde.
37:26Eu acho que
37:26os pontos que estamos trazendo
37:29são muito interessantes
37:30porque falam também
37:31de um tempo
37:33de mudanças
37:34muito velozes.
37:35A gente vive hoje
37:36num mundo
37:37hiperconectado
37:39onde a dinâmica social
37:41de intensas transformações
37:43gera muitas vezes
37:44medo,
37:46ansiedade
37:47e um senso
37:48de dinâmica
37:50que tem nesse contexto
37:52a estabilidade
37:54que é representada
37:55por instituições
37:56milenares
37:57como a Igreja Católica
37:59como uma forma,
38:01inclusive uma estratégia
38:02de manutenção
38:04da possibilidade de paz,
38:05com aquilo que traz
38:06a continuidade
38:08geracional.
38:09Eu diria que
38:09um momento como esse
38:11de morte de um papa
38:13onde teremos a escolha
38:14de um novo
38:16traz uma possibilidade
38:17de reflexão
38:19a respeito
38:19dessas continuidades
38:21que permitem
38:22a convivência pacífica
38:24entre os povos.
38:25Então,
38:26pegando essa esteira,
38:28eu queria direcionar
38:29uma pergunta
38:29para o professor
38:30porque
38:31parte da construção
38:34dessas estabilidades
38:35se dá por meio
38:36de instituições
38:38permanentes
38:39que ajudam
38:40a construir
38:41consensos.
38:42Um deles
38:43é agora
38:44o aspecto
38:46do conclave,
38:47onde a gente
38:48vai ter,
38:49em tese,
38:49uma reunião
38:50do colegiado
38:52de cardeais
38:53que vão ficar
38:54conclave,
38:55vem justamente
38:56de entre chaves,
38:57vão ficar
38:58sem a comunicação
38:59de um mundo
39:00hiperconectado
39:01que temos hoje
39:02para tentarem
39:03ali encontrar
39:05um consenso
39:06de mais de dois terços
39:08do seu colegiado
39:09como uma forma
39:10de construção
39:12de um espaço
39:13de convergência
39:14a partir
39:15de uma configuração
39:17do próprio colegiado,
39:18inclusive,
39:19com a maior diversidade
39:20continental
39:21e geográfica
39:22que já existiu
39:23na história
39:24da própria igreja.
39:25Então,
39:26uma mudança
39:27da igreja
39:28na diversidade
39:29continental
39:30sendo
39:31trazida
39:33para a convergência
39:34a partir
39:35de uma instituição
39:36o conclave
39:37que é
39:38extremamente
39:39tradicional.
39:39Eu queria te ouvir
39:40um pouco
39:41sobre esse aspecto
39:42que isso pode trazer
39:43de mensagem
39:45para a humanidade
39:46nesse contexto
39:46tão turbulento
39:47e hiperconectado.
39:50É um ponto
39:51interessantíssimo.
39:53Se você for perceber
39:53que talvez
39:55nós estamos
39:55diante
39:56de um momento
39:56chave
39:57para que
39:58essas
39:59divergências,
40:01essas polarizações,
40:03elas criem
40:04através
40:05até mesmo
40:06de um pensamento
40:06dialético mesmo,
40:08como você muito bem
40:08colocou,
40:09um novo caminho
40:11que abra as portas
40:13para se pensar
40:15o papel
40:16do cristianismo
40:16nesse novo mundo,
40:18que é um novo mundo
40:20sim,
40:20com novos atores sociais,
40:22com novas demandas,
40:24mas que é um mundo
40:25com uma tradição
40:26de mais de dois mil anos
40:27e que deve
40:28se fazer presente
40:30cada vez mais
40:31no intuito
40:31de universalizar.
40:33Eu acho
40:34essa fala
40:34muito interessante
40:35porque a gente
40:36não vê
40:36ela aparecer
40:37em alguns
40:39discursos
40:40que cercam
40:41a Igreja Católica
40:43na perspectiva
40:44universalizante.
40:46A gente vê
40:47o debate ecológico,
40:48a gente vê
40:49a luta
40:49contra a pobreza,
40:50a gente vê
40:51o tema
40:51da justiça social,
40:53tudo isso
40:53é muito fundamental,
40:55mas sem ter
40:55uma base
40:56universalizante
40:57que pense,
40:58por exemplo,
40:59o papel
41:00dos grandes
41:01centros urbanos
41:02e do interior
41:02dos países,
41:04que pensem
41:04também
41:05no diálogo
41:07com outras
41:08religiões cristãs,
41:09que trate
41:10a guerra
41:11Ucrânia
41:11e Rússia
41:12também
41:12como uma guerra
41:13em que se pense
41:15o cristianismo
41:16através dela.
41:17Diante disso,
41:18me preocupa
41:19quando a universalidade
41:21do cristianismo
41:22não é colocada
41:24em primeiro lugar.
41:26E essa universalidade,
41:27repito,
41:27ela é baseada
41:28no amor,
41:30ela é baseada
41:30na fraternidade,
41:32mas ela é também
41:33baseada
41:34em um consenso,
41:36em uma tradição.
41:38E é isso
41:38que é fundamental
41:39que o conclave
41:40leva em consideração.
41:41As mudanças
41:42do mundo moderno,
41:43com certeza,
41:44mas como você
41:45muito bem colocou,
41:47a tradição
41:47de uma instituição
41:48milenar,
41:50que se faça presente
41:51também
41:52ouvindo
41:53as pessoas
41:54tradicionais
41:56e que crie
41:57dentro dessa
41:58polarização
41:59uma nova
42:01configuração
42:02que não
42:02abandone
42:03a perspectiva
42:04progressista,
42:06mas que saiba
42:07trazer de volta
42:08um legado
42:10da tradição
42:11que é fundamental
42:12para a manutenção
42:13dos valores,
42:14seja ele
42:15família,
42:16educação,
42:16formação,
42:17mas principalmente
42:18a imagem e semelhança,
42:21que é impossível,
42:21mas que é uma busca
42:22incessável
42:23do homem
42:23em relação
42:24aos caminhos
42:25de Jesus Cristo.
42:27Professor Vitor Mizea
42:28está aqui com a gente,
42:29o Mano Ferreira também.