Tudo começa em 1785, com a chegada da pequena infanta espanhola Dona Carlota Joaquina de Bourbon a Portugal para casar-se com D. João VI, que à época atendia por Infante Dom João de Bragança. Já em 1808, após muita indecisão, D. João VI resolve transferir a corte para o Brasil, para fugir dos ataques e do poderio bélico de Napoleão Bonaparte. Em paralelo à história dos monarcas, se desenvolve o romance da donzela Manoela com Francisco Gomes, o Chalaça - um dos melhores amigos de Dom Pedro de Bragança.
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00:00Na corte não se fala em outra coisa.
00:08Dom Pedro trouxe a amante Domitila para ser camareira da Imperatriz Leopoldina.
00:15Sem dúvida alguma, um barraco real.
00:30Outras de tua laia já tentaram o mesmo recurso. Por isso fora! Fora! Fora!
00:36Covardes! Imbecis!
00:38Achas o que que sou tua latrina?
00:40És a mulher que amo, por quem corro risco de me desmoralizar. É pouco para um rei?
00:43É pouco para mim! Ver depósito daquele monstro?
00:46É a mãe de meus filhos!
00:48Mas vem você com aquele bando de idiotas então!
00:50Enquanto isso, a vingativa Manoela desce sua teia para acabar com o xalaça.
01:03Boa noite, majestade.
01:05Quem sabe não sou a resposta às vossas orações?
01:09O que sabe de minhas orações?
01:12Um homem belo, jovem e com sangue nas veias.
01:19Por que se contentaria em passar uma noite sozinha?
01:23Pode ser exatamente o que estou a precisar?
01:26Não são o que vossos olhos dizem, majestade.
01:29Como te chamas?
01:30Já tive tantos nomes que fica a vossa escolha.
01:33Quem te deixou entrar?
01:35Os escravos e seus locais não me fizeram nenhum reparo.
01:39Eles sabem que o Imperador gosta de mulheres.
01:42Tinham certeza que iam agradar-vos.
01:44Quem te mandou?
01:46Alguns de meus amigos, de certo.
01:49Não posso eu mesma ter decidido vir?
01:51Como saberias que aqui estava?
01:54Todos sabem tudo sobre o Imperador.
01:56E vieste por quê?
01:57Para tirar a limpo, sim.
02:00Essa fome toda de Dom Pedro é tão grande quanto a minha.
02:02Perdão, majestade, perdi o equilíbrio.
02:12Ai, és uma gente paga pelos portugueses para matar-me, não?
02:18Calma.
02:24Calma.
02:27Calma.
02:28Deixa que te enxuga.
02:31Depois começamos esse assunto de novo, que é melhor.
02:35Teu nome?
02:36Manuela.
02:37Imperatriz
02:44Necessitais de algo?
02:49Não, está tudo bem
02:51Leves da merda e a destrói
02:54Imperatriz
02:56Não deis atenção a isto
02:59É coisa de gente que tem inveja de vossa felicidade
03:02De vosso belo marido
03:05Sei que Pedro tem outras mulheres
03:07É sua natureza
03:09Não doa a ele todo amor que precisa
03:11Mas essa mulher a viver aqui
03:14Sei que é mentira
03:16Com licença, majestade
03:20Necessitais de mim?
03:22Não, podeis você acolher
03:24D. Pedro
03:26Não está?
03:28Foi a Santa Cruz
03:29Quem é essa tal da metila?
03:32Foi o nome que falaste durante
03:33Não falei nada
03:35Eu não gosto
03:37Quando eu estou com um homem
03:38Ele leva outro ao leito
03:39O que queres?
03:43Um filho do imperador?
03:44Não é um artigo tão raro
03:46Para valer alguma coisa
03:47Vai ver, fiz mais um
03:49Que não verei crescer
03:51E um dia voltará
03:52Para me cobrar
03:52Eu não posso mais ter filhos
03:55Por quê?
03:57Sequelas de uma gravidez ruim
03:58Mas eu não estou aqui
03:59Para falar de mim
04:00Precisa de quê?
04:01De uma sentença na justiça
04:03A favor de algum marido
04:04Que prenderam?
04:05Por que tenho que querer
04:06Mais do que já tive?
04:08Porque todas querem
04:09Gabo-me tanto
04:11De fazer as mulheres felizes
04:12Que já nem sei
04:13Se nascesse camponês
04:15Tinha que me contentar
04:17Com minhas próprias mãos
04:18Ah, isso não
04:21Que tens um talento natural
04:22Se tivesses nascido mulher
04:25Com certeza serias
04:26Uma rameira de primeira
04:27E então
04:30Deixou-se a ameaça
04:31Nada
04:57Por que me percebes como uma assombração?
05:08Por que?
05:09Não percebes que não consegui me apaixonar por mais ninguém que senti?
05:14Não construí vida alguma?
05:24Carota!
05:26Carotinha!
05:27Carotinha!
05:29Carotinha, estás nervosinha, é isto, filhota?
05:33Eu bem que te disse que o calabouço não era recomendável, hein, filhota?
05:37Vamos, abre isto, guarda!
05:39Vai-te também, alarme-te, vai! Vamos lá!
05:41Para estas!
05:42Carotinha!
05:44Mas também custava se tu assinava a tal conjuntura, sabe, filhinha?
05:49Gustava!
05:53Gustava o resto da minha dignidade...
05:56que não conseguiste me fazer perder.
06:00Quem devia estar encarcerado eram eles, os das cortes.
06:04Carotinha, se pudesse, levrava-me de todos.
06:06Todos, todos!
06:07Não podes porque és covarde!
06:09Viste o que fez o teu filho?
06:11Até aqui sei que o enfrenta.
06:15Nega-se a obedecer os teus decretos.
06:17Hão de ser os malconselheiros.
06:19Ou os quebra, ou será o teu fim.
06:23Ainda o trazem aclamado pelo oceano para ocupar o teu lugar.
06:27Independência.
06:29O que fará numa terra só de negros?
06:32Uma ideia inteligente, Carlotinha.
06:34Melhor que a república.
06:36Para de defender este depravado!
06:38Tu sabes fazer isso desde pequeno.
06:42Se ia ao Penico, depois tu dices que lhe havia feito na obra de arte.
06:47Não, João?
06:48Ai, Jesus!
06:49Não, Carlota!
06:52Isto foi o que tu fizeste com Miguel, o que eu fiz com Teresa!
06:55Para sorte de Pedro, nenhum de nós dois teve tempo para deformá-lo, hã?
07:00O pior, Carlotinha, é que agora tenho que enviar tropas, filhota!
07:04Envia!
07:05Envia!
07:06Eu transforma num herói maior ainda!
07:09Não consegues raciocinar, hã?
07:12Nenhuma vez na vida!
07:13Assina, Carlotinha!
07:15Assina, vai!
07:17Assinas!
07:18Assinas e escapas de lugar tão lucro!
07:21Vá, filhota!
07:22Mas esqueça de nós, hã?
07:24Nos deixa em paz!
07:25Quando perceberem, juntamos um exército capaz de acabar com as cortes!
07:30Hã? Que tal, ô filhota?
07:31Incrível como não consegues perceber que quanto mais te fazes de tolo,
07:36só consegues e fortalecer os teus oponentes!
07:39Não aprendeste nada comigo todos estes anos, João!
07:46Carlotinha!
07:48Sinto vossa falta, rainha!
07:52Eu sinto falta de um rei!
07:55Fora daqui!
07:57Não sei quanto a ti, mas acordo varado de fome!
08:08Bem que dizem que o imperador é uma pessoa simples!
08:11É!
08:12E o que mais dizem?
08:14Mas só as partes boas!
08:16Não gosto de ouvir críticas a essa hora!
08:18Que não resistes a um rabo de saia!
08:21E que se não fosse da realeza, poderia bem ser um explorador de mulheres!
08:26É a minha verdadeira vocação!
08:28E que atende aos apelos de qualquer um!
08:31O que nesse caso já chega a ser uma imprudência, porque...
08:35Seu conselheiro é um homem muito perigoso, tal Chawassa!
08:38É um homem muito alegre, de sorriso muito franco, aberto!
08:42Mas ele é capaz das piores canalices!
08:45Podes não saber, mas estás a dar guarida a um grande vilão!
08:51Vivia dizer que era um injustiçado!
08:54Mas estaria o mundo inteiro errado e apenas ele certo?
09:00Roubou um homem para quem trabalhava!
09:02E estando sob vossa proteção, não imaginas a quantidade de dinheiro que ele tem acesso?
09:06Bem...
09:08A audiência com o imperador terminou!
09:10Não queres saber quem é esse homem?
09:11Eu sei quem é!
09:12É meu melhor amigo!
09:14Na quem confio com a vida!
09:16Qual dos inimigos ele te mandou?
09:18O Bonifácio?
09:19Não, foi iniciativa minha!
09:20O imperador precisa saber...
09:21O imperador já se limpou!
09:23E de ti não há mais nada que queira!
09:26Vai garota!
09:28Vai que a trilha até a corte é longa!
09:31E com chuva deve estar uma lama só!
09:34Vai!
09:35Ai!
09:36Que me machucas!
09:37Queres o quê?
09:38Me ver descabelada?
09:39Que eu saia por aí feia e horrorosa?
09:40Devia te colocar no tronco!
09:41Sai já daqui!
09:42E tu?
09:43Estás a olhar o quê?
09:44Belo comportamento para quem quer ser discreta!
09:45Quem disse que eu quero?
09:46Uma mulher do meu tamanho não consegue ser discreta!
09:49Ele brigou comigo!
09:50Ofendeste a imperatriz...
09:51Ela não é gorda?
09:52É a imperatriz!
09:53E antes de ser um homem ele é um rei!
09:54E ofendes os filhos dele!
09:55Se é homem apaixonado por seus rebentos é este!
09:57Por que fazes tantas bobagens?
09:58Por que fazes tantas bobagens?
09:59Por que fazes tantas bobagens?
10:00Por que fazes tantas bobagens?
10:02Pedro é completamente apaixonado por ti!
10:04Eu não sei o que ele espera de mim!
10:05Sempre sonhei em viver na corte, mas de que adianta estar aqui se em todos os lugares que entro, todos saem!
10:21Eu não sei me vestir!
10:23Sempre sonhei em viver na corte, mas de que adianta estar aqui se em todos os lugares que entro, todos saem!
10:27Eu não sei me vestir!
10:29Mas não sei me vestir!
10:31Eu não sei me vestir.
10:33Fico a lembrá-la todo momento que fui criada numa aldeia.
10:36Aqui as mulheres sabem falar, sabem andar, e eu não.
10:41Quando estou ao lado de Pedro, morro de medo de dizer bobagens, cometer erros.
10:48Não percebes também por que tu estás apaixonada?
10:51E se ele me manda embora?
10:53Me bota numa carruagem e me manda de volta pra São Paulo?
10:56Se vive a contar as horas pra ver-te, se falam em sua titilha, o sorriso mal cabe-lhe a boca.
11:03E se está no mesmo ambiente que tu, sabes que tem de tampar-se já com as mãos num tal estado que fica, por que mandaria-te embora?
11:11Estou grávida, Xalás.
11:15Espera um bastardo do Imperador.
11:26Tchau, tchau, tchau.
11:56Tchau, tchau.
11:58Tchau, tchau.
11:59Tchau, tchau.
12:05Tchau, tchau.
12:06Tchau, tchau.
12:17Tchau, tchau.
12:18Tenho certeza.
12:20Mas que descuido.
12:21Pedro nunca ouviu falar em coito interrompido?
12:23interrompido. Fica num total abandono. Como pode ser tão descuidado, o fruto do amor?
12:31Ah, o fruto do amor, o fruto do descuido, isso sim. Pedro precisa saber. Não, Pedro não pode saber.
12:38Vai fazer como? Dizer que comeste um abacate e inadvertidamente engoliste o caroço?
12:42Uma enxota da corte. Vais tirar a criança, Pedro te mata. Não, jamais. Ele só não pode saber isso agora.
12:51Seria capaz de voltar pra mim por causa da criança. Isso é muita humilhação.
13:00Xalaça. Prometes que não vai dizer nada.
13:10Ai, se a saudade matasse qualquer dia longe dessas coisinhas, é um dia perdido na vida.
13:17É. Senti tua falta também, Leopoldina.
13:26Mas o que foi? Não estavas a chorar, estavas?
13:36Calma, minha filha, calma.
13:38Não sou uma pedra de gelo que derrete de uma hora pra outra.
13:42O que deu nela?
13:43A imperatriz ficou tonta. Perdeu sangue ontem.
13:47E a criança?
13:48Está melhor. Juro-te que está melhor.
13:51O médico recomendou que ela não cavalgue.
13:55Em nenhum dos sentidos.
13:57Ah!
13:59Esses médicos, quando não sabem o que dizem,
14:02nos proibem de tudo o que é bom
14:03para parecer que faz alguma coisa.
14:06Deita, deita, minha filha, deita.
14:08Deita.
14:08Não vais sair de novo, vais?
14:14É...
14:14Tenho algumas coisas pra resolver no passo.
14:21Nada que não possa ser resolvido amanhã.
14:28Sabias que já sonhei contigo?
14:30É.
14:31Mas tinhas um bigode.
14:33E era longo.
14:34Vim até aqui.
14:34Vim até aqui.
14:38Ele não vem, Dico.
14:56Ele não vem mais.
14:59É que preciso vê-lo novamente.
15:03Dom Pedro não pode negar que tenha tido bons momentos comigo.
15:06Ah, deu-me uma bronca.
15:07Desconfiou que foi eu mesmo quem te ensinou o caminho a Santa Cruz.
15:10E há de mim, se estiver espreia dele,
15:12que terei eu mesmo que roubar-te a criança depois do nascimento.
15:14Só mais um momento.
15:16E o engano todo se desfaz.
15:18Vou fazer com que Dom Pedro sinta o que ele não sentiu ainda
15:21com mulher alguma até hoje.
15:24Queres uma amostra?
15:26Ai, que voou o inferno chutado pessoalmente por ele.
15:29Deixe que atendo a moça, Póssia.
15:30Tem certeza que ela vos interessa, senhor?
15:33Desculpe.
15:34Com licença.
15:35Perdão, Alteça.
15:40Estiveste com Pedro.
15:41Tive o prazer.
15:43E ele também.
15:46Por que não me contas como foi?
15:49E o que te interessa?
15:50Gostais de ouvir?
15:59Em detalhes.
16:01O que ele vestia quando chegaste?
16:04Nada.
16:07O lençol ele só usava até aqui.
16:10Mas ele também não tem vergonha da anandês, não é?
16:13E não tem por que ter.
16:14O que deu errado, então?
16:16Até o momento, nada.
16:18Só depois, quando comecei a falar sobre aquele cafajeste.
16:22Aquele que ele tem como conselheiro.
16:24O Chalassa.
16:27Figura nojenta.
16:29Não gostais também dele, senhor?
16:31Não é possível gostar-se dele.
16:33E não consegues abrir os olhos de vossa própria irmã?
16:37Pedro é um crédulo.
16:39Só vê graça em tudo que ele faz.
16:41Mas existe um modo um pouco mais sutil
16:44de colocarmos um contra o outro.
16:45Vosso irmão é um homem ciumento?
16:57Ah, mas já ia chamar.
16:59Estamos quase a chegar.
17:01Lindo, pois não?
17:02Ai, sol demais.
17:04Faz nada bem pra pele de uma mulher de quase 30 anos.
17:07Agora é quase?
17:09Papai, não pode errar a minha idade.
17:10É a mesma anos.
17:11Será que é aqui mesmo uma corte, hein?
17:16Tão pequenina.
17:18Engolida pela selva por todos os lados.
17:21Que marido que eu vou encontrar no lugar desse
17:22é só se for um chefe índio?
17:24Bom, pelo menos não há de saber
17:26que tu já interraste dois maridos.
17:27Oh, jornalista de jornalista.
17:29Mas já tem jornalista nesse fim de mundo?
17:32Ah, sim.
17:32Vieram com a família real.
17:33E eu, como sou uma pessoa de destaque.
17:40É o jornalista Camargo?
17:42Entre outras coisas.
17:43E a menina é o quê?
17:44Sou colega.
17:45Ah, é?
17:46Iniciante.
17:48Quais são suas primeiras impressões sobre o Brasil?
17:50Bom, as primeiras impressões ainda não.
17:52Acho que não desci, não vi nada.
17:54Não tenho impressões ainda.
17:55E o que o senhor já fez de importante?
17:56Bom, a modéstia nem quer te responder,
17:59mas a menina é de certo
18:01a de ter conhecido algum dos livros que escrevi.
18:05Não, não os conheço.
18:06Só leio os clássicos.
18:07Essa é sua esposa?
18:09Não, a minha querida deixou-me faz tempo.
18:13Morreu, faleceu.
18:14A esposa.
18:15Esta aqui é a minha filha, a condessa.
18:17E como a senhora se chama?
18:19Je ne compam pa, mademoiselle.
18:21A minha filha, a condessa, a desuazou.
18:24De...
18:24De...
18:25De...
18:26Escreva a viúva.
18:28Escreva que é a viúva.
18:29O senhor acha que Dom Pedro está certo
18:30em reagir às ordens de Dom João?
18:32Bem, esta é uma questão delicada,
18:34porque a política aposta assim fora de contexto
18:38e existem razões de um lado, razões do outro.
18:41Recusou-se a responder?
18:42Não, eu...
18:44E por que alguém como o senhor
18:45vem trabalhar num fim de um mundo desses?
18:46Bom, isso aqui é a terra nova.
18:48Um dia as coisas acontecem.
18:50Tudo que acontece cá, Lisboa quer saber.
18:54Mesmo depois da independência?
18:55Sabe qual independência que vive a independência?
18:58Disseram o quê?
19:00Que frequentavas o quarto de dona Domitila,
19:02que tu e ela mal esperavam que Dom Pedro de lá saísse
19:04para se encontrarem e rirem dele no próprio leito.
19:06Quem teve a capacidade de inventar tamanha calúnia?
19:09Não sei, as escravas todas comentavam.
19:11É como se eu precisasse perguntar uma hora.
19:13E Pedro?
19:15Riu-se a não poder mais.
19:16Diz que da maneira que costuma deixar Domitila,
19:18se lá fosse, só seria para trocar os lençóis
19:20ou recuperá-la da prostração.
19:22Se há um assunto em que ele é pretencioso,
19:25é isso.
19:25Ora, pois.
19:27Desta vez, aquele viadinho me paga.
19:29Ei!
19:34Oh, rapaz, oh!
19:36Mas é cego ou surdo?
19:37Ai, deve estar hipnotizado com esse cheiro de merda, papai.
19:41Oh, filha, mas que palavra feia na boca de uma moça tão bonita.
19:45Ah, feio, feio esse inferno.
19:47Que lugar é esse?
19:48Que calor escaldante.
19:50Deve ter fornalha sobre o solo.
19:52E onde está essa minha prima atrasada, Calper?
19:55Oh, mas não tem nervos.
19:57Calma.
19:58Até a pouco há de chegar aqui uma bela carruagem.
20:02Os comerciantes são muito ricos porque negociam com ouro.
20:07Olha, não, podia ser pior.
20:09Imagina se fôssemos nós.
20:12Quem é que eles pagos estão a esperar?
20:15Papai, a branca que esperamos não é Camargo?
20:18Ah, senhor Camargo!
20:21Senhor Camargo!
20:23É o senhor Camargo?
20:25Ah, calma, calma.
20:27Não me diga que sois...
20:30Calper, um vosso criado.
20:34Deus me!
20:36Eu sou um príncipe!
20:37Por muito pouco tempo, enquanto viveres.
20:41Deus, pera, filha de Pedro.
20:42Ele mesmo lhe pediu que eu levasse até a modista.
20:44Venho que serás a macer.
20:46Queres a pastar de Pedro?
20:47Mas não deixarei que isso aconteça de morto algum.
20:50Não adianta olhar feio.
20:51Não assaneiasse o que me faça tremer.
20:53Faz até umas morras por isso!
20:55Foco, exalcou!
20:57Foco, exalcou!
20:58Eu errei muito.
21:00E não vou viermos em carinho e alegria.
21:04Pois julgávamos uma ameaça menor.
21:06Foi muito tolo.
21:07Você já cansaste o rato na sua vida.
21:11Por sair daqui, o rato foge.
21:13Mas nunca o deixe perceber que está numa sala sem saída.
21:17Porque o rato cresce.
21:18E vos moro.
21:19Eu te amassaste.
21:21Eu te amassaste.
21:22Te aprender.
21:24Meu Deus.
21:25Somos daqui.
21:27Fora daqui.
21:31E minha prima que tanto me escreveu?
21:34Ah, sim.
21:35Teve que fazer uma pequena viagem.
21:36Mas eu e minhas filhas cuidamos pessoalmente de todos os detalhes de vossa vinda.
21:41Ah, então vamos ficar em vossa quinta.
21:43Quinta?
21:44Não, não, não habitamos uma quinta.
21:45Ah, não?
21:46Mas minha prima falou-me tanto da quinta da Uavista.
21:48Ah, é onde mora o imperador D. Pedro.
21:51Nós habitamos aqui mesmo, na cidade.
21:53Na casa do senhor Pernão, ali.
21:55Ali.
21:55Nossa casa foi confiscada por membros da corte há 15 anos.
21:59Ah, e nós também vamos ficar na casa desse senhor?
22:01Ai, que preparamos uma linda suíte do hotel para nossa prima e nosso tio.
22:11Vieram como carregando os cavalos nas costas?
22:14Tenho agora o dia todo a perder.
22:18Ai, mas essas meninas estão todas meladas.
22:21Vivem soltando alguma coisa que não é por baixo, é por cima.
22:24Melaste minha roupa.
22:26Ai, porque você está sempre a sorrir.
22:27Pedro te adora de besta que é.
22:29Ó.
22:41Oh, meu Deus, que terra selvagem.
23:06Ela não viu, eu tentei.
23:08Pare com isso, gritos não servem pra nada.
23:11Diga alguma coisa.
23:12Estou no céu, os anjos vieram buscar-me.
23:15A menina está bem.
23:17Cobria por inteiro com o meu corpo.
23:19Só está assustado.
23:20Tire as roupas dela, mas não há de ter nenhum arranhão, por Cristo.
23:24É vossa filha?
23:25Do imperador D. Pedro.
23:26O melhor amigo que já tive nesta terra.
23:28E como é louco pela criança.
23:30Se algo acontece a pobre, ficaríamos sem rei, pois não.
23:35E não teria substituto, porque é a gente que morre junto.
23:39Ai.
23:39Sentes alguma coisa?
23:41Pode ser uma consela partida.
23:42São coisas perigosas.
23:43Não me mande sortilígio de doença e sim de cura.
23:47Que tão bela que és.
23:49Só pode ser feiticeira.
23:52Não vos preocupe comigo.
23:54Tenho casco grosso.
24:00Vês?
24:03A ordem do grande cavaleiro.
24:07Mais um pouco, o D. Pedro te dava a própria coroa.
24:11Minha estrela não parou de brilhar.
24:14Sou feito de massa de pão.
24:16Quanto mais batem, mais cresço.
24:19Mas D. Miguel não é inimigo para se dar as costas.
24:30D. Pedro?
24:33Ai, que não vos ouvi a chegar.
24:36Bigode!
24:37Tiraste o bigode?
24:39Caiu.
24:41Desabou ao chão.
24:42Provavelmente por alguma razão forte.
24:45Sabes que providências imediatas devem ser tomadas na questão militar.
24:51Não há dúvida.
24:52Vosso pai manda forças pelo mar.
24:56Mas o perigo maior está nas províncias rebeldes.
24:59Baía, por exemplo.
25:01A Baía.
25:03Há de se garantir a Baía.
25:04O brigadeiro.
25:05Nasço.
25:06A deita doela.
25:07É um agitador.
25:11Não obedece vossa autoridade.
25:14Há que comprar navios no estrangeiro.
25:17Temos que garantir a soberania de nossas costas.
25:21Navios.
25:22Claro, os navios.
25:24Há de se comprar navios.
25:24Mais usados, não?
25:27Porque dinheiro não nasce em árvores.
25:30Estás a sentir dor nas costas?
25:32O veneno daquela ginástica.
25:36Não.
25:37Não.
25:38Não.
25:38Ai.
25:40Estás torto?
25:41Não.
25:42Estou bem.
25:43Estou bem.
25:43Estou bem.
25:44Há que ser duro com os portugueses carres e dentes que estão a fomentar a rebelião.
25:51É imperioso que se confisque suas propriedades aqui.
25:54Mas confiscar propriedades causa sempre muito grito.
25:58Tentes de ter mais energia.
25:59Tentes de ser mais duro.
26:02Se for mais duro, morro.
26:04Não, não.
26:04Tem a nossa que mostrar a Portugal que estão a perder.
26:07Vamos suspender nossos tratos comerciais com a antiga metrópole.
26:11Vão ter que rever a atitude perigosa.
26:15Ah, esse jornal era justamente o que a Imperatriz estava a procurar.
26:21Com licença.
26:24Não estás a perder tempo numa situação tão grave com assuntos menores.
26:30Estás...
26:31Não.
26:33A questão é exatamente essa.
26:35Os meus problemas são enormes.
26:37E não param de crescer.
26:40Miguel!
26:40Miguel, ainda bem que estás aqui.
26:44Não dizes que não participas das decisões da nação?
26:47Essa é a tua chance.
26:47Assim eu nunca fico sem graça aqui.
26:49Ficam a falar de assuntos que não entendo.
26:51Pedido de...
26:52Ai, que isso, meu amigo?
26:53O que me acertaste, espelho?
26:55Um instante, isso.
27:00Água, muita água, plástico.
27:01Não é um instante, meu pelo.
27:03Mas que freio que é esse?
27:04Não morre de calor.
27:06Olha como está suando.
27:07Se o suor fosse um problema, está malos feito.
27:09Só pode ser a doença.
27:11Só pode.
27:12Quisera eu sofrer de tamanha incontinência?
27:15Não sabe como sofre uma empresa disso.
27:17Ah, sua vida é um eterno sofrer.
27:19Lameiras, peitudas, paulistas deslumbrantes, a cor que sou...
27:23O que tens, meu amor?
27:26Tantos banhos?
27:27Não deixa de ser uma boa medida em terra tão quente.
27:30Aliás, todos deviam banhar-se mais por aqui.
27:33Até eu, por favor?
27:35Devias, minha filha.
27:36Aqui entre nós.
27:37Devia.
27:41Leopoldina, vem até aqui.
27:45Quero que é ao meu lado um pouco.
27:49Perdão se te molho as roupas.
27:50Nunca peça perdão por ser carinhosa.
27:53Quisera eu ser tão expansiva como tu?
27:55Que fosse te abraçar cada vez que entras e me deixas louca com essa sorrisa.
28:00Vês, Plácido?
28:01Santo remédio a essa esposa.
28:04Pronto, Leopoldina.
28:06Não sabes a paz que me das.
28:11Com vossa licença, majestade.
28:13Agora não, ah.
28:14D. Pedro está a banhar-se.
28:15Serei breve, majestade.
28:17O que me preocupa é a infanta Maria da Glória.
28:19Por mais que eu tente, a menina não me obedece.
28:22Tento ser razoável, mas ela é muito rebelde e só faz o que quer.
28:26Ela às vezes é difícil mesmo.
28:27Há quem diga que puxou o avô ou a espanhola.
28:30Mais água, Plácido.
28:31E fria, bem fria.
28:34É impressionante.
28:36E se vossa máquina de ginástica funcionasse desta forma, não teríamos nunca que repará-la.
28:40É, Tico.
28:41O imperador não pode ser revente de uma só mulher.
28:44Pior, de uma parte de si própria.
28:47Uma parte muito importante, não há dúvida.
28:48Isso passa.
28:49Isso passa com o trabalho.
28:51Plácido.
28:52Vamos, que o sol já nasceu.
28:53Não quero ver ninguém a dormir.
28:56Todos alertas.
28:58Para fazerem um bom governo, é necessário que o ar penetre em vossas mentes.
29:02Correndo comigo.
29:03Um, dois.
29:04Um, dois.
29:05Um, dois.
29:05Um, dois.
29:06Um, dois.
29:10Parai tudo o que faz.
29:12Quero ver cada uma das ferraduras que estão aqui para serem vendidas.
29:15Em nome de quem te metes a dar ordens, hein?
29:18Do próprio imperador Dom Pedro.
29:22Este armazém e tudo o que há dentro dele está confiscado por ordem do imperador Dom Pedro.
29:30Não falei que escondiam os toques?
29:31Que todos os grãos esperando os preços subirem.
29:33E estão a reclamar, achando que estão dentro da lei.
29:36Não da minha lei.
29:38Que olhos.
29:39Vosso entusiasmo é visível.
29:41Estou a falar de sorriso.
29:42Ela não está aí, não.
29:44Está?
29:49Há outro assunto a pôr-se em ordem.
29:51Há muito estou desconfiada dos vendedores de tecidos.
29:55Pois está confiscado.
29:57Mas o que é isso?
29:58Confiscado em nome do quê?
30:00Eu preciso desse marcador para medir os tecidos que eu vendo.
30:03Deves matar-me.
30:04Apenas cumpro ordens do imperador Dom Pedro.
30:07E o que ele pode querer com esse marcador?
30:10Para que suas?
30:12Isso não há nada a esconder.
30:13É que...
30:14É que...
30:14É que quando...
30:15Ai, meu Deus.
30:16Não falei que roubavam?
30:19Todos os marcadores de tecidos estão adulterados.
30:21Dizem que vendem um metro e vendem menos.
30:23E por falarem sem vergonha, estão aí os comerciantes de comida que mandaste chamar.
30:29Bons dias.
30:30Bons dias.
30:31Imperador, o que estão falando por aí é mentira.
30:34Nunca.
30:35Nunca vendemos comida podre para os pobres como se fosse boa.
30:38É bom saber.
30:39Pois hoje estão todos convidados a uma lauta refeição típica da terra.
30:43feita apenas com os bens que se compram no mercado da cidade velha.
30:47Os que vendemos?
30:48Pena que eu estou sem fome, Alteza.
30:50Ah, não está não, meu caro.
30:52Não está mesmo.
30:53O homem é um louco, um acelerado.
30:56Ah, mas o povo aplaude as suas medidas.
31:00Mandar prender quem vende comida estragada sempre cai bem a plebe.
31:04Não é dessa maneira?
31:05Hum, que eu não te livrar do homem, meu rapaz.
31:08Mas será por causa dela.
31:10A domiti-la.
31:12É, é pela amante que ele se perde.
31:17Só louco
31:20Amor com meu amém
31:25Só louco
31:32Ai, que até a chuva roubasse de mim
31:36Oh, insensato coração
31:45Por que me fizeste sofrer?
31:53Por que de amor para entender?
31:57É preciso amar
32:03Por que de amor para entender?
32:05Por que de amor para entender?
32:07Por que de amor para entender?
32:08Só louco, amor como eu amei, só louco, quis o bem que eu quis.
32:28Oh, insensato coração, por que me fizeste sofrer, por que de amor para entender, é preciso
32:52amar, por que, só louco, amor como eu amei, só louco, quis o bem que eu quis.
33:22Não, não, não, não, nem nele, nele, meu bem, em breve vos acostumas, sem falar que logo
33:51chega o inverno, um mês inteiro de inverno.
33:54Um mês?
33:56E estão bem hospedados no hotel?
33:59Se pudesse, vos ofereceria aposentos, mas já há tanta gente.
34:04Não, não precisa se incomodar, lá teremos mais liberdade.
34:08E mesmo, apesar do espaço diminuto.
34:12Já vos levaram a conhecer a floresta da Tijuca?
34:14Já, já, a floresta, o morro de Santa Helena.
34:18Tereza, Santa Tereza.
34:20A natureza aqui é tão pujante, eu acho que eu não vou aguentar mais nenhuma folha verde
34:23na minha frente.
34:25Mas a prima Emengarda me falou de um baile para apresentar minha corte assim que eu chegasse.
34:32Ah, e é claro que o baile sai assim que ela voltar de uma rápida viagem que fez para
34:37ver minha sogra.
34:38A vovó não morreu há anos, papai?
34:40Uma visita ao túmulo.
34:42Ô, papai, mas ela não foi enterrada aqui no Rio mesmo?
34:45Não.
34:46Mas antes mesmo do baile, gostaríamos de lhe apresentar algumas das figuras mais interessantes
34:52de nossa corte, assim como, por exemplo, nosso primo César.
34:59Ah, eu tenho certeza que ela lhe se dá muito bem, já que ele é só e viúvo como a senhora.
35:06Ah, pobrezinho.
35:12Ah, que eu atravesso esse oceano todo a nado.
35:16Onde viemos parar, papai?
35:18Num quinto dos infernos?
35:20Como dizia a rainha dona Carlota Joaquina, que Deus a mantenha em sua masmorra.
35:25Não, eles são os falidos, papai.
35:27Os falidos eles não têm nada.
35:29Pelo menos apareceu um candidato a marido.
35:31Aquilo, papai.
35:33Eu consegui a coisa melhor vestida de homem fugindo pelo mato no interior de Portugal.
35:37Ao menos pagam o hotel, né?
35:40Ou será que esperam que eu pague?
35:41Ah, não.
35:42O salário do jornal é ridículo.
35:44Até agora só apareceu um homem interessante nesse lodo.
35:47Ah, quem?
35:48Aquele moreno que salvou a criança de maneira destemida.
35:51Preciso me formar melhor a respeito dele.
36:04Tens filhas muito inteligentes.
36:07Essa aqui acaba de aprender o nome de animais.
36:09Diga seu pai, diga.
36:10Meu.
36:10Ah, mas que coisa linda.
36:14Puxou o vosso amor pelos animais, não há dúvida.
36:17Pedro já leva assim meio na cola ou a trotar.
36:20É uma amazona, não há dúvida.
36:23Ah, se as notícias fossem assim tão boas.
36:26Mas a situação no Nordeste está cada vez mais preocupante.
36:31Nem tanto, ministro.
36:32Soube que os portugueses foram rechaçados na Bahia pelo Major Lima,
36:36acompanhado de um tal João das Botas.
36:38Mas cada vez estão a chegar mais soldados.
36:41E cada vez mais vencemos?
36:44Para aumentar a moral dos homens, estou pensando em ir até lá.
36:47Não, não.
36:48E há também a pressão por uma assembleia constituinte.
36:52Eu sei que é a maneira que os radicais têm para apressar os acontecimentos.
36:57Ah, aqueles que querem atropelar esses acontecimentos
37:00para que a crise continue e para chegarem à república.
37:07mas não vão conseguir.
37:11Não podemos ignorar também aqueles que têm uma verdadeira ambição.
37:16Para um ordenamento.
37:17Sou louco.
37:18Indico.
37:19Dá, dá, dá.
37:22Amor como eu amei.
37:25Uau!
37:29Sou louco.
37:29Hum, um dia ainda me matas de prazer.
37:32Tu que ousas me deixar só nesse mundo com um bastardo no colo.
37:35Ah, vai ser uma menina linda como tu.
37:39Com esses olhos,
37:41essa boca.
37:44Ah, essa boca.
37:45Será um menino para lembrar-me dos seus detalhes quando banhá-los.
37:49E para deixar crescer um bigode.
37:51E ai dele se tirá-lo.
37:54Pedro, mas por que tanta alegria?
37:56A coisa melhor do que ter filhos?
37:59Eles nos amam.
38:01Com eles não há dúvida.
38:03Não há interesses.
38:05Nos amam totalmente.
38:07Mas é o nosso fim,
38:09pois manda-me de volta para São Paulo.
38:10Eu sei.
38:11O que a gente disse?
38:13Ah,
38:13minha barriga vai começar a crescer.
38:15E aí?
38:16E aí vai crescer ainda mais.
38:18E vão todos achar que é de quem?
38:21Todos saberão que é meu.
38:22Que a cor de toda fale.
38:23Nada da minha parte.
38:26Nada.
38:28Agora solta esses cabelos que quero perder-me neles.
38:30Vai.
38:31Solta o coração.
38:32Solta o coração.
38:37Por que me fizeste sofrer?
38:41Grávida do imperador.
38:44Toda a cor te comenta um escândalo.
38:47Mas Pedro é um escândalo ambulante.
38:49Ora, Bonifácio.
38:51Só reclama os mais abastados.
38:52Mas o povo gosta de saber que seu governante tem culhões.
38:55Que gosta de mulheres, filhos.
38:57O povo não se organiza na maçonaria.
39:01Nem em partidos.
39:03Se ele pudesse manter as aparências.
39:06Tu podias casar-te com a tal Domitila.
39:12Ela é separada mesmo.
39:14Não, não, não.
39:15Tudo menos isto.
39:16Faço tudo por Pedro.
39:16Menos isto, não.
39:17No começo ia parecer perfeito,
39:19mas depois o ciúme iria corruê-lo.
39:20Conheço bem Pedro.
39:21Como ele não consegue ficar no mesmo ambiente que ela sem a possuí-la.
39:25E apesar que faça o mesmo...
39:26E já serão boatos e tentativas torpes de jogar-me contra ele.
39:30Não, não.
39:30Sacrifico tudo.
39:31Menos esta amizade.
39:33Foste o marinheiro que o salvou?
39:35Sempre o fui.
39:39Por isso achava te conhecido da primeira vez que te vi.
39:42Por que não o convencionaste?
39:43Ia parecer pretencioso.
39:45Salvou um navio de um naufrágio certo, Pláxio.
39:48Ah, pra ver como o mundo é pequeno.
39:50Já era vosso amigo em pleno barco.
39:52Era um garoto muito esperto.
39:54Devia fazer perguntas aos marinheiros.
39:56Mas deixemos do passado pra depois que o presente está muito mais interessante.
40:00Mas estranha eu ter escolhido aquela.
40:03Não eras tu que não querias nada com noias?
40:06Até Dom Pedro comentava.
40:07É, disseste bem.
40:09Pois agora, num instante, só penso nelas, Próximo.
40:13Só nas delas.
40:15Pedro, onde vais?
40:16Ao passo.
40:17Vou ver a minha tira.
40:18Mas o que é isto?
40:19Não acredito a primeira oportunidade que tens de ficar longe da dona, voltas ao cativeiro.
40:24Que adianta meu corpo livre se minha alma está lá, cativa.
40:27Divirta-se, mas...
40:30Ora, com vossa licença, a minha pequena de olhos...
40:35Desde garoto, vi a teus olhares.
40:48Primeiro para Maria Alva, depois para qualquer soldado.
40:51Vi te entregares aquele marujo no navio que nos trouxe.
40:54Vi teu gozo, tua perna enroscar-se naquela perna peluda.