Higino atira em seu próprio escravo. Abelardo fica em estado grave. Inácio e Ester começam a viver um romance. Sobral tem esperanças da melhora de Abelardo.
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DiversãoTranscrição
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01:48Lucas!
01:54Quem acabou humilhando calhorda por você, meu filho?
02:06Cuidado, cuidado!
02:07Cuidado!
02:16Cobarde!
02:28Escravo, desleal, bajulador! Quis me prejudicar?
02:32Se pensa que eu vou acreditar por um segundo...
02:34O Abelardo está perdendo muito sangue! Mas seja de socorro!
02:38Esses escravos não têm a menor noção do que significa a honra de um cavaleiro?
02:45Eu lutei melhor que eu pude!
02:48Traz o cavalo!
02:52Mande queimar o corpo desse escravo!
02:55Desleal, bajulador!
02:59Antiguidade egípcia da loja do Pereira!
03:02É que minha mãe e eu...
03:05Não conhecemos, dona Hidalina!
03:08A solução, eu acho, seria mostrar tudo a alguém que estivesse acostumado a enfeites de qualidade, de luxo!
03:15Mas eu teria o maior prazer em ajudá-la!
03:17Desde que meu gerro não viesse a saber que eu estive na fazenda, porque os homens sabem como eles são!
03:25Ele disse que é limógenes!
03:29Limógenes!
03:31Porcelana das mais finas!
03:35Não é!
03:37É...
03:39Mas não é uma louça ordinária?
03:43Quer dizer, eu posso servir lá visitas?
03:46Muito íntimas, por que não?
03:49Um parente sem recursos, um desvalido a quem damos na cozinha um prato de comida!
03:54Está um primordia, Fabíola! Não precisa exagerar!
04:02Mas vai ficar sem o botão!
04:04Ninguém repara! A senhora está pensando que olham muito pra mim!
04:07Porque não quer!
04:09Tem estudos, bem apessoado, o que lhe falta?
04:11Prata! É o que lhe falta! Ouvi o metal!
04:14As coisas não vão muito bem lá no jornal, eu vou ter que diminuir a tiragem!
04:18Você devia era fechar esse jornal, Bartolomeu!
04:21Fazia um pé de meia, ia ser correspondente do correio de vassouras!
04:26Garanto que em pouco tempo saia da prateleira e arranjava a mulher!
04:31O senhor sabe muito bem o que a Gazeta significa pra mim!
04:35Um elefante branco, essa herança que meu irmão lhe deixou!
04:37É, se fosse comigo eu cortava, amputava, sem dó!
04:46Desculpa, doutor, o Abelardo levou um tiro!
04:49Só de ter atingido a perna, dois palmos acima estaria morto!
04:57Diga alguma coisa, doutor Xavier!
05:02Calma!
05:04Meu filho!
05:05Calma, calma!
05:07Calma, minha filha!
05:08Não pode!
05:09Não pode!
05:10Pai!
05:11Irmã!
05:14Calma, minha filha!
05:17Ai!
05:19Não!
05:21Pau!
05:22Não!
05:23Esse pirralho me fez perder um escravo!
05:30Mas o dano foi só esse!
05:33Daqui pra frente nem escravo, nem cachorro, nem formigas das minhas terras serão perdidas por causa dele!
05:38Nada, Vitória! Nada!
05:40Escravo imbecil de má pontaria!
05:41O barão quer uma vingança pessoal, Trajano, não estaria denunciando Ventura por motivos nobres!
05:51Já seria alguma coisa, não seria?
05:53Você viu o assassinato?
05:54Não posso dizer que veio, eu estava com uma bel arma!
05:57Mas há outras testemunhas, Bartolomeu!
05:59O barão, que todos sabem ser o grande inimigo do acusado, e escravos!
06:04Cuja palavra nada vale perante as autoridades!
06:07Luta em glória, Trajano, nem vale a pena começar!
06:09Como uma sociedade não bota na cadeia um homem que tirou a vida de outro na frente de testemunhas?
06:16Porque escravo não é considerado gente!
06:19A verdadeira guerra que devemos travar é essa!
06:23A abolição?
06:24Como jornalista eu tenho minhas armas!
06:26Quantas vezes já não me tinha vindo essa vontade!
06:33Pelo meu, um artigo abolicionista pode prejudicá-lo!
06:36O jornal já tem tão poucos anunciantes!
06:59Os panos limpos que o doutor pediu!
07:01Pode deixar aí!
07:03E não precisa trazer mais!
07:06E então, doutor?
07:15Não há mais o que fazer!
07:16O projépio está profundamente encravado no osso!
07:20Não seria para os dentes dentais extrair!
07:23A questão agora é estancar a hemorragia!
07:26O Avelarto perdeu muito sangue!
07:28Diga a verdade, doutor!
07:29O meu filho!
07:30Ele corre perigo de vida!
07:31O meu filho!
07:32O meu filho!
07:33Ele corre perigo de vida!
07:34Ele corre perigo de vida!
07:35O meu filho!
07:36O meu filho!
07:37O meu filho!
07:38O meu filho!
07:39O meu filho!
07:40Ele corre por mim!
07:42O meu filho!
07:44O meu filho!
07:45O meu filho!
07:46Se inscreva no canal
08:16Se inscreva no canal
08:46A verdade
08:47Se o filho escapa com vida, Barão
08:50Só não sei com que sequelas
08:53Porque
08:53Ele vai ter que conviver com esta bala encravada no osso
08:58Por...
09:00Talvez pelo resto da vida
09:05Vai beber alguma coisa forte, Barão
09:11O senhor está precisando
09:12Mas eu quero ajudar, Doutor
09:13Ajuda melhor assim
09:15Vá
09:17Esse homem vai pagar pelo que fez com o meu filho
09:34O Abelardo aceitou o duelo
09:36De certa forma, é tão culpado quanto o Ventura
09:39De qualquer maneira, ele vai pagar
09:40Assassinou um escravo a sangue frio
09:43Que seja trancafiado numa cela
09:45Ao menos por isso
09:46Um assassino
09:48Alegou que o fez em defesa do próprio Abelardo
09:50Que o negro estava enlouquecido
09:53Agiu por conta própria
09:54Mentira
09:54Mentira
09:55Todos nós sabemos
09:57Mandou que o escravo atirasse em Abelardo
10:00E depois o silenciou
10:01Para sempre
10:02Com o florete
10:03Temos como provar
10:05E se tivéssemos
10:07Acha que o senhor Ventura seria preso
10:09Por matar seu próprio escravo?
10:33Eu acho que devíamos encontrar uma fama de avissar o Inácio
10:37Quem é Inácio?
10:41Saiu daqui porque quis
10:42Não é mais meu filho
10:44Restou-nos este, Helena
10:47E é com ele que devemos nos preocupar
10:51Não parece pobre, Esté
10:59E se é filho de fazendeiros?
11:02Segundo Queiroz
11:03Obrigado com a família
11:04Venho ao Rio para estudar
11:06É pobre
11:07Vai sair com ele por quê?
11:09Porque me chamou
11:10É um rapaz simpático, educado
11:13Conseguiu colocação melhor para o noivo da Clarissa
11:16O que me custa satisfazer um capricho dele
11:19Pensa que vai levá-lo a uma pensãozinha
11:21Dessa que fazem a vida na rua
11:23Ficou claro que não se trata disso
11:25Vai então querer jantar em alguma baiuca de comida gordurosa
11:27Conheço bem o que come os estudantes
11:29Acho que até preferia, sabe, Guelmar?
11:31Você tem um pouco de razão
11:33Precisava ter aceitado esse convite
11:36Do jeito que me perseguiu
11:38Com certeza vai gastar o que nem tem
11:40Para me proporcionar noitada agradável
11:42Em algum cabaré
11:43Ou restaurante discreto
11:44Uma rotina de que já me julgava totalmente afastada
11:49Muito bem isso
11:57Aonde vamos?
12:13Uma surpresa
12:13O que é isso?
12:17Você não gosta de comer ao ar livre?
12:19Veja lá
12:20Você não está acostumado aos hábitos da corte
12:23Eu não sou exatamente uma mocinha
12:25Que se leve a convê escote
12:26Onde se reúnem as famílias
12:27Você quer que nos vejam, não é?
12:52Não
12:55Mas também não me importa o que veja
12:57Você é bem menos ingênuo
13:00E mais decidido do que eu pensava
13:02Mas
13:05Sabe mesmo o que está fazendo?
13:08Eu lhe disse que não sou uma dessas senhoras
13:10Que se levam a convê escote
13:11O Jesus, seu escravo
13:15Que você me deu
13:16Eu não dou pessoas de presente
13:20Foi um equívoco
13:22Um equívoco?
13:24Sandício do Eugênio, aquele meu amigo
13:25Tem certa razão
13:28É muito esquisito dar uma pessoa de presente a outra
13:32Um escravo
13:33Pessoas
13:36Claro que podem se dar de presente
13:38Umas às outras
13:39O Jesus a chama de senhora
13:44Eu também gostaria muito de chamá-la de minha senhora
13:48E levá-la comigo a todos os lugares
13:50Inclusive a convê escote
13:53Portanto, agora você é uma senhora
13:57Das que vai a convê escote, sim
13:59Comigo
14:00A CIDADE NO BRASIL
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14:32A hemorragia estancou, doutor?
14:34A coagulação dele é excelente
14:36Isso nos ajudou a evitar um quadro mais grave
14:38Não seria melhor levá-lo para a Santa Casa da Misericórdia?
14:42Mas para que, Leopoldo?
14:44Se ainda estivéssemos em Paris ou Londres?
14:46Também não é caso para tanto
14:47Agora, quanto às sequelas
14:49Só o tempo nos dirá se ele vai ter algum problema maior
14:52O Abelardo é muito forte
14:53Vai nos surpreender na recuperação
14:55Forte como o Inácio
15:04Ele já pode receber a visita, Chico?
15:06Sem dúvida
15:07Ele vai se sentir muito melhor recebendo os amigos
15:16A simples menção do nome de Inácio fez...
15:18Não quero me aborrecer ainda mais nesse momento, Helena
15:22Os dois são irmãos e adoram
15:25Nada mais justo do que ele tomar conhecimento
15:28Por favor
15:30Só uma carta
15:31Sem entrar em outros assuntos
15:33Apenas informando sobre o acidente
15:39Você não vai me deixar em paz enquanto não conseguir, não é?
15:42Só dessa vez
15:48Vá
15:49Escreva
15:51Envelope aberto
15:53Eu vou avalizar
15:55Ou não
15:57Os cavalos desgovernados
15:59A única solução
16:01Era saltar da charrete
16:02Aproveitei quando passávamos por uma ponte
16:05Saltei no rio
16:06Você se machucou?
16:07Me molhei
16:09Mas havia um burro lá
16:10Pastava
16:12A duas léguas da sede
16:14Voltou pra casa de burro
16:15Quem me deram
16:16Infeliz empacou
16:18Voltei pra casa a pé
16:20Duas léguas
16:22Você é feliz, não é?
16:29Por que diz isso?
16:31É alegre
16:32Brincalhão
16:35Às vezes, sim
16:37Brincalhão e sedutor
16:38Hum
16:50Complicou-se o Convescote
16:52O que foi?
16:54Américo Bragança, ali
16:56Tem uma loja de sapatos
16:57Vai sempre ao salão
16:59Está com a senhora
17:00E os herdeiros
17:05Ah, o senhor e a senhora Bragança
17:08Você podia nos apresentar
17:10Vamos cumprimentá-los
17:12Você ficou louco?
17:14Você não vai me fazer assatisfeito
17:17Não sei por que razão
17:18Tenho vontade de deixar você fazer o que quiser
17:21Confiar
17:22Mulher, se tem portas
17:41Senhor Bragança?
17:42Madame?
17:44Adoráveis pimpones
17:45Eu adorava espimpônos.
17:47Senhor Bragança, madame.
17:49Bragancitos.
17:51Já nos íamos, desculpem.
17:53Meu senhor e minha senhora.
17:55Esther.
17:57Não conhecia ainda?
17:59Ah, sim.
18:01Minha senhora.
18:03Bragança, vamos embora.
18:05Crianças.
18:07Vamos embora.
18:09Madame, o bolo não quer mais?
18:11Fiquem com ele, fique.
18:13Já temos nossa sobremesa.
18:21Está gostosa.
18:23Senhor Bragança mentiu.
18:43Passei momentos maravilhosos.
18:49Que vão se repetir outras vezes.
18:51Não acho prudente.
18:53Por quê?
18:55Temos eu a minha vida, você a sua.
18:57E nenhum motivo para nos juntar as duas.
19:01Não vê que somos diferentes como a água do vinho?
19:05Recuso-me interminantemente a aceitar a posição de água.
19:07Mata-se de certo.
19:09Mas é um pouco insípida.
19:11Posso me convidar outras vezes?
19:13Tenho certeza que não deve.
19:15Mas não posso impedir de tentar.
19:17Não posso impedir de tentar.
19:19Recuso-me interminantemente a aceitar a posição de água.
19:21Recuso-me interminantemente a aceitar a posição de água.
19:22Recuso-me interminantemente a aceitar a posição de água.
19:23Recuso-me interminantemente a aceitar a posição de água.
19:24Mata-se de certo.
19:25Mas é um pouco insípida.
19:27Posso me convidar outras vezes?
19:29Tenho certeza que não deve.
19:31Mas não posso impedir de tentar.
19:33Não.
19:34Mas não posso impedir de tentar.
20:03Como já vai dormir?
20:21Pouco mais de meia-noite?
20:22Estou cansada.
20:23A casa cheia?
20:24Você providencia o necessário.
20:26Marquês de Montenegro trouxe dois franceses.
20:30Você não adora a França, a Europa?
20:32Não falo a língua, Esther.
20:34Semana passada eu conversava em francês com Guedes.
20:37Violeta ficou impressionada.
20:38Com Guedes eu sei.
20:39Merci, je vous, liberté, consommé, fracé, soufflé.
20:43Guedes não fala uma palavra.
20:45Esses são franceses mesmo, Esther.
20:47Não vieram aqui pra conversas.
20:49Você se arranja.
20:50Esther, Esther.
20:51Veja lá se esse camponês não vai levá-la a negligenciar suas obrigações.
20:55Que camponês, Guilmar?
20:57Não estou pensando em nada.
21:00Recolhi-me porque estou cansada.
21:03Só isso.
21:04Brigado com a família.
21:05Estudante.
21:06Delicado.
21:07Cortês.
21:08Natural.
21:09Tinha vontade de saber se o Inácio é imprudente porque desconhece as convenções?
21:15Ou se desafia as convenções porque não quer aceitá-las?
21:19É claro que ele vai voltar, eu tenho certeza.
21:23Mas o senhor me deu a entender que não acreditava nem um pouco na volta do Inácio.
21:28Bom, a situação era completamente outra.
21:32Porque Inácio adora o irmão e não ia deixá-lo desamparado nessa situação.
21:37Agora, aí tem um motivo mais forte, né?
21:41Quer dizer, ele sempre teve um motivo forte.
21:44Evidente, tem o pai que ele sempre adorou, Helena.
21:47Mas Abelardo nessa situação...
21:49É claro, sempre adorou o irmão.
21:54Tem razão.
21:55Ele só dá pra voltar.
21:57Agora se me dá licença.
21:59O papai deu o meu endereço.
22:08É uma pensão de estudantes.
22:11Eu mesmo coloco no correio amanhã seu.
22:14Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:18Obrigada.
22:29Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:47Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:49Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:50Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:51Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:53Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:54Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:55Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:57Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:58Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
22:59Eu tenho um encontro com o Alvarez às 10.
23:27Um absurdo!
23:28Não concordo!
23:30Um amigo da família!
23:31Um amigo da família!
23:32Inteligente!
23:33Corajoso!
23:34Isso vai excitar os escravos!
23:38Causarmos problemas!
23:40Ele já foi contra a guerra do Paraguai!
23:43Como todos os jovens, todos os liberais!
23:46E aquele outro artigo onde ele nas entrelinhas criticava o Conde de Deus?
23:51Símbolo de um aristocratismo contra o qual devemos lutar, meu sogro!
23:54Mas, São Brau!
23:56Se algum escravo ler um desses artigos pode causar problema, provocar a música...
24:00Não pode causar problema, provocar a música...
24:02O que é isso?
24:03O que é isso?
24:04Não pode causar problemas!
24:05Não pode causar problemas!
24:06O que está escrito aqui?
24:11Eu acho que é sobre nós.
24:13É do doutor Bartolomeu.
24:15O barão gostou.
24:16Doutor Leopoldo aqui não.
24:17Estou no maior bate-boca lá na sala.
24:19Então é coisa boa para nós.
24:21Queria assumir.
24:22Você sabe nem é.
24:23Viu o que está dito aí?
24:24É nesse contexto mais amplo da luta pela liberdade
24:27que devemos tecer nossa utopia.
24:30Mais do que sonhar com um dia novo,
24:33o futuro se constrói em cada gesto,
24:34em cada passo, em cada palavra.
24:37Em cada palavra bem dada,
24:39Bartolomeu devia medir as dele.
24:42Mas eu não pensei que esse jornalista era tão corajoso.
24:45Não tanto quanto o senhor que entrega seu pescoço a um escravocrata.
24:50Continua, por favor.
24:52A cor de um homem não pode ser um defeito.
24:54O imperdoável é o mal de nascença.
24:56O estigma de um crime.
24:58O que há de mais negro em nosso horizonte
25:00são as sombras que encobrem os defeitos do caráter nacional.
25:03Toda a tenebrosa escuridão imposta pelos visionários cegos que nos governam.
25:07Pois essa cor, tão semelhante à da terra,
25:11abriga sob sua superfície escura vulcões por hora adormecidos,
25:14mas onde arde o fogo sagrado da liberdade,
25:17em breve em erupção,
25:19que nos lave de chamas ardentes de justiça
25:21essa torrente de paixão pela vida,
25:24pela dignidade,
25:26pelo reparo de nossos erros.
25:27Pois citando o grande presidente, Abraham Lincoln,
25:32se a escravatura não é um erro,
25:34então nada é erro.
25:36Não foi esse o presidente assassinado?
25:42Foi a favor de nós mesmos.
25:45O doutor Bartolomeu está do lado dos escravos.
25:48Daqui a pouco está no tronco.
25:50E acaba escrevendo tudo ao contrário.
25:52Como se eu adiantasse essas letras aí, bonitas.
25:57Qual o motivo do falatório, hein?
26:00Assunto de mulher.
26:04Pois isso eu entendo.
26:08Mas, Zumira,
26:09o café está pronto?
26:15O cheirinho.
26:18Deixa que eu levo, Zumira.
26:21Marão prefere.
26:22E lá vendo eu para negro,
26:43senhor doutor Bartolomeu,
26:45de que me vale anunciar
26:47num jornal
26:47que defende os negros
26:50e menospreza brancos?
26:51Não menosprezo brancos.
26:53Critico brancos racistas.
26:55Muito diferente.
26:57Diferente?
26:58Pois para meus negócios,
26:59pouquíssima, hein?
27:01Muito pouquíssima diferença faz.
27:04A não dizer nenhuma.
27:06Branco é branco.
27:08Preto é preto.
27:10Assim como azul é azul,
27:12encarnado é encarnado.
27:13E os cobrancos racistas.
27:15E os cobrancos racistas valem como os dos liberais.
27:20Com a agravante de que os liberais, em geral,
27:24têm de cobrancos muito poucos.
27:27E os racistas, de costume, os têm copiosos.
27:31Já os pretos, não os têm nenhum.
27:36De sorte que, anunciando em seu periódico,
27:40estou a gastar os meus cobrancos em agrados,
27:42a quem não me trará vintém de retorno.
27:44A não ser que a vossa senhoria
27:49tenha muito bem escondida no seu sótão
27:52uma récua de africanos abastados,
27:55prontos a gastar todas as suas economias
27:58no estabelecimento de seu criado.
28:03De sorte que, portanto,
28:08estou neste ato
28:09a retirar o meu anúncio
28:11e a anunciar-lhe que nenhum outro
28:14faria publicar
28:15em sua respeitada,
28:18porém algo radical,
28:20gizeta.
28:26Tenha muito bom sucesso nos negócios,
28:28senhor doutor Bartolomeu.
28:35Jesus!
28:36Como vai ser?
28:39Não!
28:39O que é que você vai precisar do diócaro?
28:48Você não quer usar o diócaro?
28:49Que é uma alma.
28:51Você não imagina
28:52alguém pedindo o adverso.
28:55O Queiroz é um cavaleiro,
28:56cheiroso, galante,
28:58de vigor juvenil.
28:59O doutor Francisco só gosta de espiar,
29:01Violeta.
29:02Não pode ter pedido nada
29:03que ele tirasse o pedaço.
29:05Pois que vai espiar assim
29:06o de suas filhas.
29:07Só ouvi que tem três.
29:08O Queiroz, oito,
29:10contou-me no dia do casamento.
29:11Ainda estou pasmo.
29:12Oito dias.
29:14Cinco.
29:16Cinco.
29:16Três anos.
29:17Ainda mora só.
29:18Graças a Deus.
29:20Mas por que a senhora
29:23continua de um gato inglês?
29:25Mais oito dias.
29:26Todos na Bahia.
29:28E que me esqueçam.
29:29recado do camponês?
29:33Não, eu quero que fale assim.
29:35Esther, você deixou sozinho
29:37o ministro do império.
29:39O Márcio me convida
29:40para um concerto
29:41amanhã no passeio.
29:43Imagina Guilmareu
29:44no concerto,
29:44em pleno passeio público
29:45entre as famílias.
29:47Você vai?
29:48Eu gosto de estar com ele.
29:51O que o Márcio pode me fazer?
29:52Não passei o público.
30:21Disse o meu Augusto
30:23que o quarteto é dos bons.
30:24Uma mulher conhecida, Inácio.
30:25Um lugar frequentado
30:26por famílias não se usa.
30:28Você está falando
30:29como um velho.
30:31Acostumado aos mais discretos
30:32hotéis de luxo,
30:32aos melhores cabarets da corte.
30:35Ela gostou da ideia.
30:36Aceitou o meu convite.
30:38Inácio, um lugar
30:39onde se reúne as famílias.
30:41Olha, vocês vão ser
30:42apontados e criticados.
30:44Tenho certeza que ela
30:45vai adorar a tarde.
30:46Mais do que isso.
30:48Surpresa que eu preparei.
30:49Logo numa sexta-feira, Esther,
30:51um dos dias de maior movimento
30:52do salão.
30:53O concerto termina cedo.
30:54Com certeza volto antes
30:56que comecem a chegar
30:56os amigos mais importantes.
30:58Não acha um pouco vistoso
30:59para um evento ao ar livre?
31:00Acho erradíssimo.
31:02Exagero, senhor.
31:03Olha bem,
31:04não chega a ser roupa
31:05para a noite.
31:06Eu lá estou falando
31:07de vestido que você vai usar
31:08para ouvir concerto
31:09e passeio público
31:10com o seu camponês.
31:11Erradíssimo aceitar
31:12esse convite.
31:14Esther, eu estou com medo.
31:15a mulher mais desejada
31:17do Rio de Janeiro,
31:18toda derretida
31:19por um estudante,
31:20brigado com a família.
31:22Rica, é bem provável,
31:23mas se brigou
31:23porque não tem um vintém.
31:25E você preocupada
31:25com a roupa que vai usar,
31:27Esther, pela Mari.
31:28Insegura como uma pobre
31:29balconista de loja
31:30que vai sair
31:31pela primeira vez na vida
31:32com um cacheiro de armazém
31:34mais simplora ainda.
31:35É você quem vai me ensinar
31:36a cuidar do salão
31:37que queria praticamente
31:38sem a ajuda de ninguém?
31:39Sabe que não é isso
31:40que eu estou dizendo.
31:42Fui convidada,
31:43tive vontade de aceitar.
31:45Que motivo teria
31:45para não ir?
31:47Logo você, Guilmar,
31:48vai ser contra um prazer
31:49a tão poucos na vida.
31:51É que esse entusiasmo todo
31:53me deixa insegura.
31:54Tem razão.
31:55É um pouco berrante, sim.
31:57Então está adequado.
31:58Pega o que comprei
31:59semana passada
32:00na padrão Landé.
32:01Ah, Guilmar, me ajude.
32:02Já estou em cima da hora.
32:03Chegou muito, Guilmar.
32:10Vamos chegar atrasado.
32:33Tchau, Guilmar, me ajude.
33:03Tchau, Guilmar, me ajude.
33:33Tchau, Guilmar, me ajude.
34:03Tchau, Guilmar, me ajude.
34:08Amém.
34:38Amém.
35:08Amém.
35:09Quis ver o seu cavalo, retomar sol e fez por onde conseguir.
35:14Pode ficar tranquilo, meu Curisco.
35:16Não vai ser dessa vez que vão afastá-lo de mim.
35:24Obelardo e o Curisco se entendem como se falassem a mesma língua.
35:28São como se fossem um só.
35:34Pena é que...
35:36Pena o quê?
35:38Barão, eu não sei como lhe dizer isso, mas...
35:42Abelardo, a cavalo...
35:46Nunca mais.
35:47Barão, muito difícil.
35:50Ele nunca mais vai poder montar a cavalo.
36:08Tchau, tchau.
36:09Tchau, tchau.
36:10Tchau, tchau.
36:11Amém.
36:41Amém.