Vivendo com o inimigo - S02E02
Categoria
😹
DiversãoTranscrição
00:00Polícia e emergência?
00:07Alô?
00:09Qual é o problema?
00:10Eu acho que minha esposa se afocou.
00:14Já deu.
00:17Eu não consigo escutar ele assim.
00:20É que, sério, não vem dizer que...
00:23Quando você ouve isso, não acredita nele.
00:25Eu sabia que meu pai não tinha matado a minha mãe.
00:33Então ele pode estar preso, mas eu não abro mão.
00:39Eu olhei para as fotos e pensei...
00:42Nossa, porque o pescoço dela tinha uma hemorragia grande destacada.
00:49Eram quase 17 ferimentos pelo corpo.
00:51Parecia que ela tinha passado por uma máquina de lavar.
00:54Tinha ocorrido algo na banheira.
00:58E alguma coisa muito violenta.
01:01Ela tinha bastante água nos pulmões.
01:04Sem dúvida, ela se afogou.
01:07A questão era como ela morreu.
01:10Teria sido acidente?
01:12Seria suicídio?
01:13Ou então homicídio?
01:15A nossa primeira tarefa foi tentar descobrir o que aconteceu naquela banheira.
01:24Ele perdeu a esposa?
01:26E ainda foram tentar...
01:29Condená-lo por homicídio?
01:32Ele não a matou.
01:34Foi um acidente.
01:38Eu tive um mini AVC.
01:42Por causa da pressão de tudo o que acontecia.
01:45E o Frank ia ser encarcerado por uma coisa que...
01:50Ele não tinha feito.
01:54Foi um período difícil demais.
01:58Aquilo...
01:59Não afetava só o Frank.
02:00Afetava a família inteira.
02:02Vivendo com o inimigo.
02:32Sombras da Morte.
02:48E aí?
02:49Gostou do presente, meu filho?
02:52É!
02:52Ah, eu tô vendo um sonjão aí.
02:54Beleza, né?
02:56Dave!
02:57Não precisa ir pra trás antes de ir pra frente.
03:00Ho, ho, ho!
03:04Aquele era o Natal de 1999, quando eu cheguei em casa e...
03:09A gente tem um vídeo, é demais.
03:11Apareço eu, minha mãe, meu pai...
03:14E eles estão encantados pelo bebê.
03:18É bem legal.
03:28Ela só viveu mais três meses depois daquilo.
03:31Três meses depois de eu ter sido trazido da Rússia,
03:42adotado pelos meus dois pais,
03:44a Cintia faleceu.
03:45É claro que não ter uma mãe
03:50foi o maior problema da minha infância.
03:56Mas faz um tempo que eu penso que
03:58isso não importa mais.
04:01Agora o foco tá no meu pai
04:03e na defesa dele.
04:05E onde está o seu pai no momento?
04:12O meu pai tá no complexo prisional Maynard
04:14em Chester, Illinois.
04:18A polícia diz que meu pai matou a minha mãe,
04:20mas eles contaram uma história que...
04:24a gente sabe que não aconteceu.
04:27A gente vai lutar pela inocência dele
04:30até o final.
04:31E tudo isso vai ser uma lembrança algum dia.
04:45Em 28 de fevereiro, umas duas e meia da manhã,
04:50o meu irmão Frank me ligou dizendo,
04:54aliás, gritando,
04:58ela morreu, ela morreu.
05:01E aí, eu escutei o Frank dizer,
05:09a Cintia, a Cintia morreu.
05:13E eu disse, ai meu Deus, Frank.
05:17A minha mente surtou.
05:21Eu pulei da cama, despertei na hora.
05:25Eu fui do sono para a tensão total.
05:31Quando eu cheguei lá na casa,
05:39lembro que entrei pela porta da frente,
05:42subi correndo e assim que o vi, o abracei.
05:46Aí, ele desmoronou e eu também.
05:48Os dois choraram.
05:52Ele soluçava e eu só o abracei.
05:56Só o abracei.
06:14A Cintia tinha 43, talvez 44 quilos.
06:18E gostava da água bem quente por causa da artrite.
06:26Eu acho que ela ficou tonta e desmaiou dentro da banheira.
06:31Para mim, é a única coisa que pode ter acontecido.
06:35Aquela noite foi um pesadelo.
06:48Parecia coisa de filme.
06:52Eu sabia que ela estava morta e sabia que ele tinha chamado a polícia, claro.
06:56Mas a única coisa na minha cabeça era...
07:02Ai, meu Deus, sabe?
07:03Aquilo era irreal.
07:07É duro...
07:09Reviver aquela noite.
07:11É sério, nossa.
07:13É muito...
07:15Difícil.
07:16Polícia, emergência?
07:28Alô?
07:30Eu acho...
07:32Eu acho que minha esposa se afogou.
07:35Deus do céu, Deus do céu!
07:42Por favor, venha rápido.
07:46O que você ouve nessa ligação para a emergência?
07:54Um assassino.
07:56Sem dúvida.
08:03Em 28 de fevereiro, eu estava patrulhando uma rua próxima da casa dos Bouchowers.
08:10Aí me pediram para dar apoio à ambulância.
08:13Quando eu cheguei na casa, o Sr. Bouchower veio atender em pânico e disse que a esposa tinha se afogado.
08:21Claro que eu cheguei e fui até lá checar o pulso.
08:32Chequei a temperatura do corpo também.
08:37E ficou bem claro que ela estava morta.
08:40Mandem paramédicos para cá agora.
08:42É uma vítima de afogamento.
08:43Eu pressionei o pescoço e então começou a sair sangue da região do nariz dela.
08:52Aquela mulher estava morta havia um tempo.
08:56Mas não tinha nenhum sinal no pescoço que indicasse qualquer tipo de ferimento externo.
09:01O Frank disse que ele foi se deitar e que a Cynthia tinha ido tomar um banho de hidromassagem.
09:16E aí por volta, eu acho que de umas duas horas, ele ouviu o bebê chorando.
09:24Aí ele levantou, foi até lá e viu que ela estava na banheira.
09:30Então ele foi até lá, tirou ela da banheira e em seguida a colocou no chão e ligou para a polícia.
09:37Mas quando eu olhei para ele, não tinha nenhuma peça de roupa molhada.
09:44E ele disse que tinha tirado a esposa de uma banheira que estava totalmente cheia.
09:51Deveria estar ensopado.
09:54O banheiro não estava todo molhado.
09:56Não tinha objetos caídos.
09:58Se eu achasse a minha filha afogada numa banheira, eu ia sair praticamente derrubando tudo.
10:03Então a história não fazia nenhum sentido.
10:10Eu acredito que todo mundo no local, incluindo o investigador e os peritos, também pensaram a mesma coisa.
10:17Aquilo tinha que ser bem investigado.
10:19Eu era da patrulha e estava só dando apoio.
10:38Eu lembro que, depois que o corpo foi levado, me liberaram e eu fui embora.
10:43Mas enquanto eu saía da casa, eu fiquei com uma sensação de que tinha alguma coisa bem estranha ali.
10:57Tinha ocorrido algo na banheira.
11:00E alguma coisa muito violenta.
11:03Eles foram para a Rússia e aí adotaram o David no dia de ação de graças.
11:19Eu acho que ele tinha nove meses quando o adotaram.
11:23Foi um dia especial.
11:29Lembro que eu estava feliz porque eles iam ter um filho.
11:36Eu fiquei feliz por eles.
11:37Acho que o meu irmão queria aquilo do fundo do coração.
11:42E aquele bebê foi uma grande felicidade.
11:48Eles estavam falando de adotar uma garotinha depois.
11:52Aí, de repente, ela morreu.
12:00Eu fiquei bem preocupada com o Frank.
12:05Porque eu sabia que ele estava sofrendo muito.
12:11A gente se preocupava dele fazer uma besteira.
12:16Como se suicidar.
12:22Essa carta aqui foi escrita pelo Frank para a Cintia.
12:49As nossas brigas chegam ao extremo.
12:53Às vezes, ao ponto que, ao invés de me recolher, eu parto para o ataque.
12:57Eu já te ameacei fisicamente.
13:00E se não resolvermos de forma construtiva, é melhor o divórcio que agressão ou homicídio.
13:07Havia diversas cartas.
13:10Um respondendo ao outro.
13:11Era exatamente dessa forma que os dois estavam conversando.
13:16E algumas coisas daquelas cartas eram bem drásticas e pesadas.
13:23Era um motivo para homicídio.
13:25Eles faziam terapia de casal.
13:37Aquela troca de cartas foi algo que o terapeuta pediu para eles fazerem.
13:41E eles usavam frases de um livro específico.
13:45Que era usado como um guia para casamentos.
13:53Acho que é melhor divórcio que agressão ou homicídio saiu daquele livro.
14:00Eles enfrentavam muitos problemas pessoais.
14:08Eram pessoas totalmente diferentes.
14:12Ela era bem materialista.
14:15Já o Frank não era.
14:20A Cintia gostava de ter grandiosidade.
14:24E era uma pessoa bem difícil de lidar de vez em quando.
14:27Ele dava tudo o que ela queria.
14:32E ainda não era o suficiente para ela.
14:36Sim, ele estava frustrado com ela.
14:39Mas não.
14:40Ele não a matou.
14:42Foi um acidente.
14:45Ela desmaiou pelo calor da água.
14:49E se afogou naquela maneira.
14:57Muitas pessoas foram interrogadas durante a investigação em 2000.
15:09E descobriram que havia uma quantidade enorme de conflitos naquele casamento.
15:17A Cintia contou para amigos dias antes de morrer.
15:26Que ele era como um médico e um monstro.
15:28Podia estar calmo e normal.
15:30E aí, de repente, ele explodia de raiva.
15:36Ela tinha bastante água nos pulmões.
15:40Sem dúvida, ela se afogou.
15:42Mas também tinha um hematoma profundo na região do pescoço.
15:49E tinha arranhões e escoriações recentes nos joelhos.
15:54Nas juntas dos dedos das mãos.
15:56No nariz.
15:58E no queixo.
15:59A questão era como ela morreu.
16:17Teria sido acidente?
16:19Seria suicídio?
16:22Ou então homicídio?
16:29Uma semana após a morte da Cintia.
16:37O Frank foi na delegacia.
16:39Ser interrogado pelos investigadores da polícia de Illinois.
16:44Ele falou sobre o fato de que eles tinham problemas conjugais.
16:48E chegou um momento da conversa.
16:50Em que os investigadores mostraram para ele.
16:53Fotos da autópsia da Cintia.
16:55Eles foram apontando os ferimentos.
17:04E o Frank fez o seguinte comentário para eles.
17:08Eu posso ter matado e não estar me lembrando.
17:14Quem fala isso?
17:17Eu não digo que é uma confissão.
17:19Mas é uma fala bem incriminadora.
17:25Para mim não foi confissão.
17:28Acho que foi confusão.
17:29O meu irmão se confundiu.
17:33Eu perguntei para o Frank como ele lembrava do que não tinha feito.
17:37Como lembrava de algo que não aconteceu.
17:39Mas a polícia ficou forçando.
17:41Porque queria a condenação.
17:44Eles queriam muito pegar o suspeito.
17:47Mas não tinha suspeito para pegar.
17:49O investigador foi até a promotoria.
18:00Ele falou com o procurador adjunto daquela época e disse.
18:04Olha o que eu tenho.
18:05E ele ouviu que não era o bastante para um homicídio.
18:09No fim de duas ou três semanas, o caso basicamente foi interrompido.
18:28Eu era apenas um patrulheiro que atendia chamados, cuidava do trânsito.
18:34Como um policial comum costuma fazer.
18:35Quando eu estava em South Barrington e passava pela casa, eu apontava e dizia.
18:43Olha lá o homicídio sem solução.
18:45Eu apontava para casa.
18:49Eu estava bem frustrado.
18:51Porque eu sabia que alguém tinha sido morto.
18:54E outro alguém tinha se livrado.
18:56Obrigado.
19:15Polícia, emergência.
19:19Qual é o problema?
19:21É a minha esposa.
19:22Eu acho que a minha esposa se afogou.
19:23Já deu.
19:27Eu não consigo escutar ele assim.
19:31É que, sério.
19:32Não vem dizer que...
19:34Quando você ouve isso, não acredita nele.
19:37Como não acredita que estava sofrendo.
19:41E...
19:42Como...
19:43Como se mede o nível de emoção de uma pessoa para...
19:48Dizerem não era uma mentira.
19:49O meu pai preenchia os dois papéis na minha vida.
20:08Ele atuava como meu pai e também como minha mãe.
20:11E foi muito fácil para ele.
20:20Porque ele é um cara super gentil.
20:22Para alguém que nunca tinha sido pai antes.
20:25E tinha mais de 50 na época.
20:27Impressiona como...
20:29Ele conseguiu ser um pai tão incrível para mim.
20:31No ano de 2010,
20:55quando eu me tornei investigador,
20:56eu pedi para o meu chefe para reabrir o caso.
20:58E ele, claro, vai fundo.
21:02Depois de 10 anos,
21:04não havia evidências novas.
21:06Mas eu sabia que eu tinha que tentar.
21:13Eu acho que na época, em 2000,
21:15quando o caso foi levado até a promotoria,
21:19disseram que faltavam evidências.
21:20E no momento, eu creio que...
21:24Eles não tinham mais com o que trabalhar na investigação.
21:28E por causa disso,
21:30eu acho que o caso deu uma esfriada.
21:32E não encontraram mais nenhuma pista para eles perseguirem.
21:37Então, naquele primeiro momento,
21:39as pistas foram esgotadas.
21:41Foi bem por aí.
21:43Mas quem é do ramo sabe que a gente nunca deve desistir de um caso de homicídio.
21:47Porque a gente tem que deixar o caso no radar.
21:51E, além disso,
21:52durante um período de uns 10 anos,
21:56pode haver mudanças na promotoria,
21:59nas evidências,
22:00nas leis,
22:01e o resultado pode ser diferente.
22:03Eu achei que valia tentar.
22:05O caso estava dentro de um arquivo,
22:11na caixa 162.
22:17Eu olhei para as fotos e pensei,
22:19nossa, porque era claro,
22:22nas fotos do legista,
22:23que o pescoço tinha uma hemorragia grande e destacada.
22:28Isso não acontece em acidentes.
22:29A gente não tinha notado nada no pescoço naquela noite.
22:34Mas, quando fizeram a autópsia
22:36e separaram o pescoço do corpo,
22:40aí que encontraram.
22:43Tinha petequias no escalpo e nos olhos.
22:48É uma hemorragia, basicamente, com manchas.
22:51Ocorre em casos de sufocamento.
22:53Eram quase 17 ferimentos pelo corpo.
22:59Parecia que ela tinha passado por uma máquina de lavar.
23:15O Dr. Denton foi o legista da época.
23:20Eu liguei para ele e ouvi.
23:22Eu sabia que era o homicídio
23:23e esperava por essa ligação.
23:30Na manhã da autópsia,
23:32não tinha nenhum oficial da polícia
23:34junto com o Dr. Denton.
23:38Por que foi assim, eu não sei.
23:40A polícia não viu tudo.
23:43Se tivessem os relatórios,
23:44definiriam como homicídio.
23:46O Dr. Denton foi o homicídio.
23:52Eu li os relatórios policiais,
23:57o relatório da autópsia,
23:59tudo o que tinha no arquivo.
24:01E falei para ele que parecia mesmo o homicídio.
24:06A nossa primeira tarefa
24:08foi tentar descobrir
24:09o que aconteceu
24:10naquela banheira.
24:12Tiramos a banheira da casa
24:24e a levamos lá
24:26para o corpo de bombeiros.
24:29Aí chamamos
24:30uma perita em afogamentos
24:31que passou o dia inteiro
24:33fazendo reconstituições
24:35com a banheira cheia de água.
24:37A gente queria reproduzir
24:41o ocorrido
24:41para poder mostrar
24:43para um júri,
24:44um juiz
24:45ou quem fosse
24:46como achávamos que tinha sido.
24:54Quando eu cheguei na casa,
24:56o Frank Bouchauer,
24:58pelo que eu me lembro,
24:59estava com calças de pijama
25:00e camiseta.
25:02A roupa estava seca.
25:03Eu também não notei
25:06nenhum objeto no chão.
25:11E não tinha água
25:12pelo banheiro todo.
25:22Nós estávamos com modelos
25:23que tinham a mesma altura
25:25e peso da Cynthia e do Frank.
25:27Sempre que fazíamos
25:28uma reconstituição,
25:30ele trocava de pijama,
25:31que era para a gente saber
25:33ficou molhado
25:36ou não ficou.
25:41Sempre que o modelo atuava,
25:43ficava ensopado.
25:47Com aquela banheira cheia,
25:49quando ele ia retirar ela de lá,
25:51se molhava em algum lugar.
25:55Fizemos reconstituições
25:56de como ele poderia ter tirado
25:57ela da banheira cheia
25:59sem derrubar
26:00nenhum objeto.
26:04Observamos que ele teria
26:05que ter levantado ela
26:06com muita precisão
26:08e passado por cima
26:09dos objetos.
26:10Eu acredito que ele agiu
26:20no intuito de acobertar.
26:24A troca de roupas,
26:27a organização dos objetos
26:30na região da banheira.
26:31Ele deve ter passado
26:32muito tempo pensando,
26:35vou ligar para a polícia
26:36e tenho que convencê-los
26:37de que foi um afogamento.
26:41Ele deve ter feito
26:42muita coisa no meio tempo.
26:48O último teste
26:50que fizemos com a perita
26:51foi um sobre homicídio
26:53por afogamento.
26:55O objetivo daquilo
26:57era descobrir
26:58como ela ficou ferida.
26:59O modelo do Frank Bouchauer
27:03segurou debaixo d'água
27:05o modelo da Cynthia Riscoll
27:06e as mãos dela
27:08se debatiam
27:09e acertavam
27:10os jatos.
27:15Nós nos olhamos
27:16e pensamos,
27:17agora está explicado.
27:21Foi o que aconteceu,
27:22porque a modelo
27:23estava ficando
27:24com as mesmas feridas
27:25que a Cynthia.
27:26se cortou nos joelhos,
27:28o nariz dela
27:28estava machucando,
27:30ela estava ficando
27:31com as mesmíssimas feridas
27:32que a Cynthia.
27:35E o embate
27:35que eles tiveram
27:36na encenação
27:37durou segundos.
27:40Mas o que ocorreu
27:41de verdade
27:42durou muito mais.
27:46Eu acredito
27:46que ele a segurou
27:47na banheira
27:47e a matou.
27:48A maneira como ela morreu
27:58ele alterou
27:58para o homicídio
27:59e o modo
28:01como as feridas
28:02ocorreram
28:02ele alterou
28:04para submersa
28:05a poça
28:05numa banheira.
28:09E aí eu vi
28:09que era o bastante
28:11para prender
28:12Frank Bouchauer.
28:13Em 24 de abril
28:31de 2013
28:32eu estava
28:33na oitava série.
28:37Eu vim andando
28:38quando uns policiais
28:39chegaram.
28:40quase me deu ânsia.
28:45Eu pensei
28:45que eu
28:46é que estava
28:47encrencado.
28:49Aí
28:50eu sentei
28:51e me explicaram
28:52que o meu pai
28:53tinha sido preso.
28:57E eu lembro
28:58que eu perguntei
28:59tipo
28:59é por causa
29:00das multas
29:01de estacionamento?
29:10E eu só
29:15ficava lá
29:16pensando
29:16do que
29:19eles estão falando?
29:21Você está bem?
29:27Isso
29:27já tinha
29:28acontecido?
29:29Eu nunca tinha
29:30ouvido nada disso.
29:30Eu sabia
29:43que meu pai
29:44não tinha
29:44matado
29:45minha mãe.
29:47Na primeira
29:48noite
29:49eu não dormi
29:49na minha cama.
29:52Eu fui
29:52para o quarto
29:53dele
29:53e
29:54deitei
29:55na cama
29:55e me acabei
29:56de chorar.
29:59Naquela hora
30:00eu só
30:00desmoronar.
30:04Eu estava
30:04sozinho
30:04no mundo.
30:22Nós pedimos
30:23para ele ir
30:24voluntariamente
30:24e se ele
30:26dissesse não
30:26a gente
30:27informaria
30:27que tinha
30:28um mandato.
30:30claro que
30:31o objetivo
30:32no dia
30:32era obter
30:33uma confissão.
30:35Bom
30:3528 de
30:36fevereiro
30:37de 2000
30:38o pior
30:39dia da
30:40minha vida.
30:41É?
30:41Eu imagino.
30:43Bem traumático
30:44né?
30:45Uhum.
30:48A gente
30:48mostrou
30:49várias fotos
30:49da autóxia
30:50para ele.
30:51Parece que
30:52ela tem
30:52uns ferimentos
30:53nas mãos
30:54e
30:54você sabe
30:57como aconteceu?
30:58eu não
30:59tenho
30:59ideia.
31:00Vocês
31:01não tiveram
31:01nenhum tipo
31:02de briga
31:02nada assim
31:03antes de
31:04ela ir
31:04para
31:04hidromassagem?
31:06Não.
31:10Perguntamos
31:10como ele tinha
31:11puxado ela
31:12de uma banheira
31:13toda cheia
31:13como ele disse
31:14tirado ela
31:16de dentro
31:16colocado no chão
31:18e quando eu
31:18encontrei ao chegar
31:19estava com a roupa
31:21seca.
31:22Como ele tinha
31:22feito aquilo?
31:23Eu segurei
31:24por cima
31:25da cintura
31:26ou por baixo
31:27dos braços
31:29puxei ela
31:29até a borda
31:30da banheira
31:31e coloquei
31:32no chão.
31:33Tá.
31:34Você poderia
31:34nos mostrar
31:35como a puxou
31:36da banheira?
31:37Ele disse
31:37sim, claro
31:38eu fiz isso
31:39e depois isso.
31:44Tá bom.
31:45E você não
31:46se molhou
31:46quando tirou
31:47ela de lá?
31:48Uhum.
31:49Se eu me molhei
31:50foi muito pouco.
31:52Tá certo.
31:53mas
31:55e ela
31:56tinha que estar
31:57molhada
31:58quando você
31:58tirou ela de lá?
31:59Sim, claro.
32:00E o chão
32:01molhou?
32:03Bom
32:03não que eu saiba
32:05não.
32:07Ele não conseguia
32:08responder.
32:13Na sua opinião
32:14você acha
32:14que isso
32:15não me diz
32:16você acha
32:17que isso foi
32:17acidente
32:18ou acha
32:18que foi
32:19homicídio?
32:19Eu realmente
32:20chego
32:20a essa
32:22conclusão
32:23depois
32:23de olhar
32:24tudo isso.
32:25Eu diria
32:25que foi
32:26um homicídio.
32:29O problema
32:30é que
32:30só você
32:31pode ter
32:32feito.
32:32É o culpado.
32:33Então
32:34eu realmente
32:37pensaria
32:37assim.
32:38ele estava
32:43flertando
32:44com uma confissão.
32:46Ele não
32:47ia até o final
32:48mas estava
32:49quase falando.
32:50eu só
32:52posso ter
32:54feito isso
32:55se eu
32:56não
32:57me lembrar
32:58de nada
32:59porque eu
32:59realmente
33:00não me
33:00recordo.
33:01E
33:01essa é a
33:02verdade.
33:03Você se
33:04arrepende
33:05de casar com ela?
33:06Sim, sim.
33:08Mas até hoje?
33:09Até hoje.
33:11O interrogatório
33:12acabou
33:12logo depois
33:13daquilo.
33:16Naquela sala
33:17deu para levar ele
33:18por um corredor
33:18até a cadeia.
33:19Eu nunca
33:29imaginei
33:30que aquilo
33:30fosse ressurgir.
33:32Nunca.
33:37O Frank
33:38foi bem
33:38ingênuo.
33:40Ele
33:41pensa
33:41em
33:42fatos.
33:43O que houve
33:43com ela?
33:44Por que
33:45ela morreu?
33:46Ele achava
33:46que a polícia
33:47queria entender
33:48a causa.
33:49não
33:50achava
33:51que ele
33:51fosse a
33:52causa
33:53porque ele
33:53não foi
33:54a causa
33:54da morte
33:54dela.
33:56Os jatos
33:58estavam
33:58acionados
33:59e empurrando
34:00o corpo
34:00dela
34:01pela banheira.
34:03Por isso
34:04aqueles
34:04ferimentos
34:05nas mãos
34:06dela
34:06porque o
34:07corpo
34:08foi batendo
34:08em tudo.
34:11Ele
34:11perdeu
34:12a esposa
34:12e ainda
34:14foram
34:14tentar
34:15condená-lo
34:17por homicídio.
34:19eu
34:22acordei
34:23umas
34:23quatro
34:24da manhã
34:24e
34:25estava
34:27bem
34:27tonta
34:28e com
34:28um lado
34:29do meu
34:29rosto
34:30dormente.
34:32A minha
34:32família
34:32me levou
34:33para o
34:33pronto-socorro
34:34e disseram
34:34que eu
34:35tive
34:35um
34:35mini
34:36AVC.
34:39Foi por
34:40causa
34:40da pressão
34:40de tudo
34:41o que
34:41acontecia
34:42e o
34:43Frank
34:44ia ser
34:44encarcerado
34:47por uma
34:48coisa que
34:48ele não
34:49fez
34:49e
34:50foi um
34:53período
34:54difícil
34:54demais.
34:57Mas
34:57assim
34:58isso
35:00foi o que
35:01eu sofri
35:02porque
35:02aquilo
35:03não
35:04afetava
35:04só o
35:05Frank
35:05afetava
35:06nossa
35:06família
35:06inteira.
35:08Sabe?
35:09quando o
35:23juiz
35:24apareceu
35:24deu pra
35:25sentir
35:26que
35:26não ia
35:27ser
35:27bom
35:27pra
35:27gente.
35:30Eu
35:30estava
35:30apavorado
35:31na
35:31cadeira
35:32e
35:33conforme
35:34ele foi
35:35falando
35:35eu fui
35:36perdendo
35:36o controle
35:37da
35:37respiração.
35:38Eu
35:39estava
35:39lá
35:39tentando
35:40me
35:40manter
35:41calmo
35:41só
35:42que
35:42não
35:42dava.
35:44Aí
35:44no
35:44final
35:44de
35:45tudo
35:45ele
35:46falou
35:46assim
35:47com
35:47isso
35:48em
35:48mente
35:48considero
35:49Frank
35:49Bouchauer
35:50culpado
35:50por
35:51esse
35:51assassinato.
35:54O
35:54meu
35:54rosto
35:54inteirinho
35:55ficou
35:56dormente.
35:57Não
35:57dava
35:57pra
35:57sentir.
35:59Levaram
35:59ele
36:00embora
36:00algemado
36:01enquanto
36:02ele
36:02balbuciava
36:03te
36:03amo.
36:05Nossa
36:05eu
36:12vi o
36:12dinheiro
36:13na
36:13carteira
36:14e
36:14pensei
36:15meu pai
36:15precisa
36:16de
36:16grana
36:16ele
36:16vai
36:17precisar
36:17muito
36:17lá
36:18na
36:18cadeia
36:18e
36:19eu
36:19passei
36:19pela
36:19segurança
36:20e
36:21corri
36:22pelo
36:22corredor
36:22do
36:22tribunal
36:23e
36:25aí
36:25eu
36:25tropecei
36:26a
36:26carteira
36:26caiu
36:27voou
36:27o
36:27cartão
36:27pra
36:28todo
36:28lado
36:28e
36:29eu
36:29comecei
36:30a chorar
36:30tentando
36:31colocar
36:31tudo
36:32de
36:32volta
36:32na
36:33carteira
36:34meu
36:35pai
36:35peraí
36:37Olá
36:38esta é uma
36:39chamada
36:40a cobrar
36:40de
36:41Frank
36:42Bouchauer
36:42um
36:44detento
36:44do
36:44complexo
36:45prisional
36:46Menard
36:46a chamada
36:47está
36:47sujeita
36:48a gravação
36:48e monitoramento
36:49para aceitar
36:50a cobrança
36:51aperte
36:51um
36:52Olá
37:03esta é uma
37:04chamada
37:05cobrar
37:05de
37:05um
37:06detento
37:07do
37:07complexo
37:08prisional
37:08Menard
37:09a chamada
37:09está
37:10sujeita
37:10a gravação
37:11e monitoramento
37:12para aceitar
37:13a cobrança
37:13aperte
37:14um
37:14Oi
37:15David
37:15Oi
37:16pai
37:16tudo bem
37:17eu estou
37:27bem
37:28e por aí
37:28ele não está
37:30morto
37:30ainda está
37:31vivo
37:31eu ainda
37:32converso
37:32com ele
37:32ele ainda
37:33faz parte
37:34das
37:34nossas
37:35vidas
37:35mesmo
37:35com
37:36limitações
37:37às vezes
37:37eu acho
37:38que é
37:38mais
37:39difícil
37:39para vocês
37:40do que
37:41para mim
37:41de verdade
37:42eu digo
37:43isso
37:44porque
37:44eu não
37:45tenho
37:45obrigações
37:46eu não
37:47tenho
37:47que lavar
37:47louça
37:48eu não
37:48cozinho
37:49eu só
37:50fico sentado
37:50lendo livros
37:51não
37:53e tem
37:53músicas
37:53novas
37:54no seu
37:54tablet
37:55ah
37:55é que
37:56eu sou
37:56fã
37:56das
37:56músicas
37:57antigas
37:57ah
37:59eu também
37:59sou
37:59fã
38:00do
38:01Johnny Cash
38:01por aqui
38:02eles cantam
38:03muitas
38:03músicas
38:03gospel
38:04porque
38:09ele
38:10está
38:10numa prisão
38:11de segurança
38:12máxima
38:13e eu
38:14ando
38:14livremente
38:15eu posso
38:15ir para
38:15praia
38:16eu me
38:18sinto
38:18culpado
38:19por
38:19não
38:20estar
38:20na
38:20cadeia
38:21pai
38:24é melhor
38:24a gente
38:25encerrar
38:25porque
38:25o tempo
38:26está
38:26acabando
38:26mas
38:27eu só
38:28quero que
38:28saiba
38:28que eu
38:28sinto a
38:29sua falta
38:29mais do
38:29que
38:29tudo
38:30eu
38:32sei
38:32também
38:33te amo
38:33pai
38:34bom dia
38:34aí
38:35a chamada
38:37foi
38:37encerrada
38:38eu queria
38:46muito
38:47mesmo
38:47poder
38:48entender
38:50como
38:50um
38:51homem
38:51tão
38:52ingênuo
38:53simpático
38:53e gentil
38:54acabou
38:56do lado
38:56errado
38:57de uma
38:57investigação
38:58de homicídio
38:59é difícil
39:04aceitar que um
39:05familiar nosso
39:06matou alguém
39:06é mesmo
39:07e o problema
39:08é esse
39:09a gente
39:09sempre dá
39:10para pessoas
39:10ruins
39:11uma imagem
39:11de
39:12bicho papão
39:13porque é mais
39:14confortável
39:15porque mantém
39:16a gente
39:16em alerta
39:17ninguém
39:20sabe como
39:21uma pessoa
39:22é
39:22em casa
39:23na intimidade
39:24com outra
39:24num relacionamento
39:25e foi o que
39:27aconteceu
39:27alguma coisa
39:28fez o Frank
39:29Bouchauer
39:30explodir
39:31e o levou
39:32a segurar
39:32a Cintia
39:33debaixo d'água
39:34ele a segurou
39:34até a morte
39:35e
39:36esse é o nosso
39:37objetivo
39:38fazer justiça
39:40pela Cintia
39:41eu já
39:49processei
39:50assassinos
39:51em série
39:51estupradores
39:52líderes
39:53de gang
39:54vários
39:55sociopatas
39:56e
39:57o Frank
39:58Bouchauer
39:58não entra
40:00nessas
40:00categorias
40:01pessoas
40:04boas
40:05podem fazer
40:06coisas
40:06horríveis
40:07o fato
40:10é
40:10que ele
40:12fez a escolha
40:13de matá-la
40:14e fez isso
40:15no momento
40:16de maior
40:17vulnerabilidade
40:18possível
40:19nua
40:20em uma
40:21banheira
40:22e mesmo
40:24que
40:24o cara
40:25nunca tivesse
40:26cometido
40:27outro erro
40:28na vida
40:29ele tinha
40:30que ser
40:30responsabilizado
40:32pelo que ele
40:32fez com ela
40:33naquela noite
40:35eles não
40:49tem nenhuma
40:50prova
40:50e nem vão
40:51conseguir achar
40:52porque ele
40:54é inocente
40:55e eu não
40:56compreendo
40:56como
40:57alguém
40:58possa imaginar
40:59que ele
41:00seja
41:00um monstro
41:01assassino
41:02porque ele
41:03não a matou
41:03eu sinto
41:10saudade
41:11todo dia
41:11ele sempre
41:13foi parte
41:14grande
41:14da minha
41:15vida
41:15e agora
41:17que ele
41:17está
41:18lá
41:19na cadeia
41:20eu lembro
41:22sempre
41:22que tomo
41:23café
41:23porque ele
41:24não está
41:24junto
41:24comigo
41:25eu sei
41:27que ele
41:28está
41:28sozinho
41:28tomando
41:29uns cafés
41:29horríveis
41:30a minha
41:36filha
41:37me deu
41:37de natal
41:38uma caneca
41:39com essa
41:39foto
41:40para eu
41:41tomar café
41:41com meu
41:42irmão
41:42toda manhã
41:43e muita
41:48saudade
41:49a música
42:04é
42:05um negócio
42:06que
42:06eu amo
42:07de verdade
42:08antes
42:30o meu pai
42:31cuidava de mim
42:31certo
42:32e agora
42:33que ele
42:34está na cadeia
42:34a gente
42:35trocou
42:36os papéis
42:37se inverteram
42:37e eu sinto
42:39que eu preciso
42:39cuidar dele
42:40e levar
42:41adiante
42:42a luta
42:42pela liberdade
42:43a cada passo
43:01que eu dou
43:01eu sinto
43:02que ele
43:03está
43:03junto
43:04comigo
43:04como
43:07como eu
43:09abro mão
43:09disso
43:10sabe
43:11então
43:11ele
43:12ele pode
43:13estar lá
43:13preso
43:14mas eu
43:14não abro
43:15mão
43:15disso
43:15versão brasileira
43:21vox mundi
43:22que ele
43:24não abro
43:24não abro
43:26não abro
43:28não abro
43:28não abro