Série documental que percorre momentos marcantes da história da liberdade em Portugal, antes e depois da Revolução de Abril.
Categoria
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ConhecimentosTranscrição
00:00Música
00:30A vontade dos militares de 25 de Abril era simples, acabar com a guerra do ultramar e fundar a democracia.
00:44Para isso era necessário derrubar o regime.
00:48Este é o segundo capítulo do documentário Rumo à Liberdade.
00:53Chamei-lhe Alegro.
01:00A príncipe é simples, anda-se sozinho.
01:08Lembram-se, foi há 50 anos já.
01:14As pessoas que hoje têm mais de 60, recordam.
01:18Naquele dia, tudo parecia possível.
01:22Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
01:27A alegria era geral.
01:28Ninguém receava a tropa, a polícia, as armas.
01:33Apesar das situações tensas, no terreiro do Paço, no lago do Carmo e noutros locais, ninguém tinha medo.
01:42Era de manhã cedo.
01:44A população foi crescendo com o dia.
01:47Saudavam-se os militares que tinham dado o golpe.
01:50Ofreciam-se cravos aos soldados.
01:52Toda a gente vinha para a rua.
01:56Houve uma situação mais difícil, diante da sede da PIDE, da Polícia Política.
02:01E um carro de bombate penetra na rua António Maria Cardoso, acompanhado por um jeep do exército.
02:10No qual chegou a haver quatro mortos.
02:14Mas foi a exceção.
02:16Ninguém apareceu a defender o regime que caía, de um dia para o outro, após 50 anos de ditadura.
02:23Os presos políticos serão libertos ao fim de dois dias.
02:29Rapidamente são tomadas decisões difíceis.
02:34Criar a Junta de Salvação Nacional.
02:36A Junta de Salvação Nacional assume o compromisso de devolver o poder às instituições constitucionais,
02:45logo que o Presidente da República eleito entre no exercício das suas funções.
02:50Deportar o Primeiro-Ministro, Marcelo Caetano, e o Presidente da República, Américo Tomás,
02:57para a Madeira e depois para o Brasil.
02:59O Sr. Presidente Tomás tem cá alguns elementos da sua família.
03:03Julgo que o ex-presidente do Conselho também tem cá um elemento da sua família.
03:07As nossas condições dentro do exército para os prisioneiros
03:10não são propriamente as condições que existiam até aqui, na PIDE ou na BGS.
03:15Basta estar presos, não é preciso estar em condições desumanas.
03:18Não, desculpe-me.
03:20Pode-me dizer que desde que altura tinha conhecimento da Revolução?
03:24Ainda hoje não sou absolutamente tão frio que posso falar em certos momentos sem nos podermos.
03:33Sobretudo quando se ouviu aquela magnífica canção na rádio.
03:36Grândula, Vila Morena, terra da fraternidade.
03:42O povo é quem mais ordena dentro de ti, ó cidade.
03:48Grândula, Vila Morena...
03:50Com a minha unidade e com o meu comandante,
03:53estávamos à volta de uma mesa
03:54e estávamos todos a chorar quando acabou a canção.
04:00E eu só disse, assim perdemos a opressão.
04:05Poucas pessoas foram detidas, polícias ou militares, ainda menos políticos.
04:11As negociações entre oficiais revoltados do movimento das Forças Armadas
04:16e os velhos generais eram difíceis, mas terminaram rapidamente.
04:22Já viram também que houve umas certas pessoas entre as Forças Armadas que passaram à reserva,
04:26o que lhes deve dar umas certas indicações.
04:29Enquanto a Junta de Salvação Nacional correspondia à transição de gerações,
04:35já a Comissão Coordenadora do MFA era dos Jovens Revolucionários.
04:40Em general, o que pode-te saber o nome e a ideia do movimento?
04:46Isto é uma resposta muito difícil.
04:48Será que o movimento é ativo das Forças Armadas?
04:51Tem-se falado insistentemente também,
04:52não se vê assim, o Chambalimou,
04:53como um hipótese para o Filipe do Governo Provisório.
04:56Posso afastar completamente qualquer hipótese.
05:00Em poucas horas se começa a falar do essencial.
05:03Terminar a guerra,
05:05regresso dos soldados à metrópole,
05:08independência para as colónias.
05:09Constava no programa o reconhecimento por Portugal
05:13do direito dos povos à autodeterminação,
05:17com todas as suas consequências, incluindo a independência.
05:21Este princípio foi retirado na madrugada do dia de 26 de abril.
05:27O debate começou-se cedo.
05:29Depressa se verificou haver clivagens.
05:32Dias depois, nas festas do 1º de maio,
05:37é a explosão de entusiasmo.
05:41Camaradas, foi hoje, foi aqui,
05:45que nós destruímos o fascismo.
05:47Viva a aliança das forças populares e das forças armadas!
05:53Viva!
05:55Viva a guerra!
05:57Viva!
05:57As fronteiras que tinham sido fechadas durante uns dias
06:01foram abertas.
06:04As gerações com menos de 50 anos,
06:07que não viveram aqueles momentos,
06:09hoje quase recordam essas situações,
06:12com a ajuda da televisão,
06:14como se as tivessem vivido.
06:16O que diz muito sobre o espírito daqueles dias.
06:20A maioria dos cidadãos parecia feliz com a ideia da liberdade.
06:46Começa a democracia.
06:48Finalmente, ainda sem regras,
06:52mas cada vez mais sem proibições.
06:56Eu quero saudar todas as mulheres portuguesas,
06:59de todas as condições sociais,
07:01mas tendo muito em conta a vida de sofrimento,
07:05a vida de sacrifício contínuo,
07:07a vida de privações e de coragens ignoradas
07:11da mulher do povo.
07:13Os jornais publicam-se livremente.
07:15Cheguei ao Jornal de manhã,
07:17saímos daqui,
07:18fomos ao terreiro de passo.
07:20Depois eu vim numa caminheta de jornalistas,
07:22veio atrás da coluna,
07:23que atravessou a baixa,
07:24que foi para o quartel do Carmo.
07:25De resto, ainda não estou refeito da alegria.
07:27São criados partidos políticos.
07:30Os direitos de manifestação,
07:32reunião e associação
07:33são gozados antes de serem regulados.
07:37A liberdade começou na rua
07:39e antecedeu a democracia.
07:42É necessário passarmos a uma fase seguinte,
07:45que são os núcleos de organizações progressistas e democratas,
07:49têm a obrigação de passar da fase dos tralarás,
07:53que é aquela que eu represento,
07:54para uma fase de organização.
07:57Há perseguições nas ruas,
07:59nas empresas e nas instituições,
08:01mas poucas nos primeiros tempos.
08:03O senhor anda há oito dias
08:08a vir aqui provocar os trabalhadores
08:09e isso tem que acabar.
08:10Os trabalhadores decidiram
08:11o seu respeito apontado aos trabalhadores.
08:13Há mais depressa saneamentos
08:15dirigentes da administração
08:17que são impedidos de regressar aos seus postos.
08:20Mais tarde serão substituídos.
08:23Este é o momento em que
08:25um carro de assalto das Forças Armadas
08:27entra no pátio interior do edificio dos TLP.
08:31A intenção, naturalmente,
08:32será de recolher, com todas as medidas de segurança,
08:35os elementos da direcção-geral
08:37que, após quatro horas desta manifestação,
08:40não se fizeram render.
08:42Nas cidades, começam as cenas previsíveis.
08:46A procura de agentes da PIDE.
08:49A denúncia de antigos responsáveis.
08:52Nós soubemos que o secretário de Estado
08:54da informação do Tenente Coronel Ferreira da Cunha
08:56tinha feito parte
08:57daquilo que é chamada a Super PIDE.
09:01Para já, quero informar
09:03que os agentes da PIDE
09:06encontram-se atidos aqui
09:07e noutras partes do território nacional.
09:11Neste momento, a nós, militares,
09:12nos interessa, em especial,
09:14é garantir que a sua segurança pessoal
09:17seja mantida
09:18e não permitir que a justiça
09:20seja feita no meio da rua.
09:23Nos jornais,
09:24aparecem anúncios
09:25de claro que nunca fui agente da PIDE.
09:30Há perseguição,
09:32mas menos do que seria de esperar.
09:35Entretanto,
09:36os civis queriam participar.
09:38Nós já revistávamos aqui tudo,
09:39praticamente,
09:40e os esforços já revistávamos tudo, não é?
09:42Onde é que eles podiam ter metido?
09:44E eles estão acompanhados
09:44de uma criança,
09:45que deve ser a filha,
09:46e ela anda com a criança
09:46para eu ter morrido.
09:48Já, já damos aqui a volta à turma.
09:49Grupos e partidos já existentes
09:51aparecem.
09:52O Partido Comunista,
09:54o MRPP,
09:55o Partido Socialista,
09:56as Brigadas Revolucionárias
09:58e a Luar.
09:59Gostaria de esclarecer-lhe já
10:02que, não sendo filiado no Partido,
10:06presido a esta reunião,
10:08na simples qualidade
10:09de homem socialista
10:11que sempre fui.
10:12Anunciam-se outros partidos.
10:15O Partido do Progresso,
10:16o Partido Liberal,
10:18o Centro Democrático e Social,
10:20o Partido Popular Democrático.
10:22Temos, finalmente,
10:23um programa
10:23que define clara e inequivocamente
10:26a nossa posição de esquerda.
10:30Partindo da situação real
10:32em que o país se encontra,
10:34propomos-nos iniciar a construção
10:35de uma sociedade socialista
10:37em liberdade.
10:39O projeto apresentado
10:41pela Comissão Diretiva
10:42está, a meu ver,
10:43em condições de ser aprovado,
10:45porque se ajusta naturalmente
10:47e sem esforço
10:48às grandes linhas de orientação
10:50contidas no programa
10:51do Movimento das Forças Armadas.
10:53Poucos dias depois
10:55do 25 de Abril
10:57começam a chegar
10:58exilados e refugiados.
11:01Mário Soares,
11:02Álvaro Cunhal,
11:04Sérgio Godinho,
11:05José Mário Branco,
11:06Manuel Alegre,
11:08entre os mais famosos.
11:10Eu quero dizer
11:10que nós vimos aqui
11:11para defender aquilo
11:12que já foi conquistado,
11:13para consolidar a unidade
11:14entre o Movimento das Forças Armadas
11:16e o Movimento Popular,
11:18que é a condição básica
11:19de toda e qualquer
11:20transformação de Portugal.
11:21O primeiro governo provisório
11:23é rapidamente formado,
11:26mas os seus fundamentos
11:27pecam por mal entendidos.
11:29Ponho ao serviço
11:30do meu país
11:31as forças
11:33de quem não pode
11:34nem deseja
11:35senão a paz da consciência.
11:37Ajudar-me-á
11:38com entusiasmo
11:40da sua mocidade
11:41o senhor ministro
11:43sem pasta
11:44doutor Sá Carneiro
11:46a quem solicitei
11:48desempenhasse
11:49a missão específica
11:51da adjunto
11:52do primeiro ministro
11:53e que aceitou o encargo.
11:55Os mais moderados
11:56e os mais revolucionários
11:58não se entendem.
11:59Os jovens oficiais
12:01do MFA
12:02distinguem-se
12:03dos mais graduados,
12:05dos generais
12:06e da Junta de Salvação Nacional.
12:08A figura
12:10do general Spínola
12:11é controversa
12:12e resume
12:14a principal contradição.
12:16O fim
12:17da guerra,
12:18a descolonização
12:19e a independência
12:21imediata
12:22das colónias
12:23são desejadas
12:24pelos mais jovens
12:26e pelos mais revolucionários,
12:29assim como
12:29por muitos civis.
12:30o general Spínola,
12:32presidente,
12:34resiste.
12:35A pátria
12:35continua doente,
12:37a pátria
12:38continua em perigo.
12:40Hoje está em causa
12:41a sobrevivência
12:43da pátria-mãe.
12:45A procura
12:46de outras soluções
12:47e de novos arranjos
12:49é desejada
12:50pelos mais velhos.
12:52O fim da guerra
13:05foi a primeira consequência
13:07do golpe.
13:08Chegou o momento
13:09do presidente da República
13:11reiterar solenemente
13:13o reconhecimento
13:15do direito
13:16dos povos
13:17dos territórios
13:18ultramarinos portugueses
13:20à autodeterminação,
13:22incluindo
13:23o imediato
13:24reconhecimento
13:25do seu direito
13:27à independência.
13:29Pela primeira vez,
13:29o chefe de Estado português
13:31vai usar
13:31da palavra
13:32nas Nações Unidas.
13:33O meu país
13:34tem uma história longa
13:37de mais de oito séculos
13:39e não nos será difícil
13:40perdoar a memória
13:42do último meio século
13:43orientada por homens
13:46que não souberam
13:47sintonizar
13:48os seus ideais
13:49com a alma coletiva
13:51do povo
13:52a que pertence.
13:54Antes mesmo
13:54que os acordos de paz
13:55sejam assinados,
13:57os soldados
13:57tomam a iniciativa
13:58de pôr fim aos combates.
14:00Os combatentes
14:00podem agora
14:01dar-se as mãos.
14:02Sem decisão formal,
14:04as guerras
14:04acabam em poucos dias.
14:07Nas Forças Armadas
14:08não havia vontade
14:10para prosseguir
14:11as hostilidades.
14:12Cessam as guerras
14:13sem negociação.
14:18Cientes da instabilidade
14:19política,
14:20os movimentos
14:21independentistas
14:22aproveitam
14:23para ganhar posições.
14:25As Forças Armadas
14:26ajudam os movimentos
14:28a consolidar
14:29a sua presença
14:30nas cidades ultramarinas.
14:33O regresso
14:33de colonos,
14:35retornados
14:35e expatriados
14:37de mais de 600 mil
14:39é o acontecimento
14:40marcante.
14:41O movimento
14:42de aviões para hoje
14:43temos sete aviões
14:44programados
14:45para durante o dia
14:45e durante a noite.
14:46Eu ainda tive sorte
14:47que passei por estrada
14:48mas ultimamente
14:49parece-me que já não passa.
14:50Segundo dizem
14:51os militantes da UNIT
14:52ou qualquer coisa assim
14:53que nos deixam passar,
14:54que tiram os carros.
14:55Quantos anos de África tem?
14:5720.
14:57Pensa voltar ainda?
14:58É difícil
14:59porque com certeza
15:00vamos ficar sem nada,
15:02não é?
15:02Tantos anos de trabalho,
15:03honesto,
15:04embora há muita gente
15:05que diga
15:06que o comerciante
15:06é Angola,
15:07foi ladrão,
15:07mas não é verdade.
15:09Como a maior parte
15:10não tem para onde ir,
15:12tudo se improvisa.
15:14Campismo,
15:15relotes,
15:16hotéis,
15:16pensões,
15:18campos desportivos,
15:19instituições,
15:20pelo chão,
15:21pelos corredores
15:22dos aeroportos,
15:23espalham-se
15:24milhares de desalojados.
15:27Percorremos
15:28um dos pavilhões
15:29do aeroporto de Lisboa.
15:30O que vimos
15:31é indescritível.
15:32São centenas
15:33os retornados de Angola
15:34alojados neste momento
15:35no aeroporto de Lisboa.
15:37Rondarão mesmo
15:37humilhar.
15:39Para todos,
15:39uma só casa de banho.
15:41A mesma que funcionou
15:42também como sala de partos.
15:44Em Angola
15:44e Moçambique
15:45começam as hostilidades
15:47entre facções locais.
15:50Os portugueses
15:51não têm hipótese.
15:52Sem apoio de Portugal
15:54e sem armas,
15:55depressa
15:56desaparecem
15:57as validades
15:58de soluções
15:59negociadas,
16:01muito menos
16:01de independência branca.
16:03Se amanhã
16:04houver uma transferência
16:05de soberania,
16:06pois essa transferência
16:07assegurará
16:08os interesses
16:09legítimos
16:10das populações
16:11de origem europeia
16:12aqui que se encontram.
16:14Por que é que
16:14os nossos
16:15concidadãos portugueses
16:16não haviam de continuar
16:18dentro desses territórios
16:20onde sempre viveram?
16:21Não há razão nenhuma
16:22para a Êxodo.
16:23Portanto,
16:24os portugueses
16:24são expropriados,
16:26levados ao abandono,
16:28inicia-se o Êxodo.
16:30Começam,
16:31entre africanos,
16:32guerras civis
16:33muito duras
16:34que vão durar
16:35quase 30 anos
16:37e nas quais
16:38se vão registrar
16:39mais de 2 milhões
16:41de vítimas mortais.
16:44Na metrópole,
16:45um novo tempo
16:45começa
16:46em grande confusão,
16:48já com contradições,
16:50mas com a alegria
16:51de quem se prepara
16:53para uma nova vida.
16:55Milhares de exilados,
16:56refratários
16:56e desertores
16:57regressam
16:58sem serem castigados.
17:00Nós vamos tentar
17:01resolver,
17:03em conjunto
17:03com o movimento
17:03das Forças Armadas,
17:05a situação
17:05dos refratários
17:06e dos desertores.
17:07O último ponto
17:08que nós tentámos
17:10foi a criação
17:12em Portugal
17:13do estatuto
17:13equivalente
17:14ao de objetor
17:15de consciência
17:16por razões filosóficas,
17:17religiosas ou políticas
17:18tal como existe
17:20nos países
17:20da Europa Ocidental.
17:21Todas as semanas
17:22chegam barcos
17:23e aviões
17:24com retornados,
17:26soldados regressados
17:27e os contentores
17:29com os bens
17:30dos que conseguem
17:31a autorização
17:31de juntar
17:33os seus haveres.
17:34Mais oito aviões
17:35com retornados
17:36de Angola
17:37chegaram hoje
17:37ao aeroporto
17:38da Portela em Lisboa.
17:39Atualmente,
17:41a média diária
17:41de portugueses
17:42que chega a Lisboa
17:43é de cerca
17:44de 4 mil pessoas.
17:45Pode-se dizer
17:46que a verdadeira
17:47ponta aérea
17:47entre Angola e Lisboa
17:49só agora começou.
17:50Daqui a dois meses
17:51calcula-se ser
17:52de 300 mil
17:53o número
17:54de retornados
17:54de Angola
17:55a entrar em Portugal.
17:56Mais tarde,
17:58já em 1975,
18:00muitos não terão
18:01essa possibilidade.
18:04A fuga
18:04é desordenada
18:05por causa
18:06da passividade
18:07dos militares
18:08portugueses
18:09e da cumplicidade
18:11com os partidos
18:12africanos.
18:14Os portugueses
18:15são expoliados
18:16sem proteção.
18:18Políticos
18:18e civis
18:19em Portugal
18:20seguem
18:21as orientações
18:22militares,
18:24adaptam-se
18:24aos acontecimentos,
18:25parecem
18:26convergir
18:27numa solução.
18:30Acabar
18:30com a guerra
18:31e encontrar
18:32uma solução
18:33política
18:33para mais tarde
18:35ou para logo a seguir.
18:36o presidente,
18:37as revocicis
18:38são sempre momentos decisivos de l'histoire dos povos.
18:42Que julgamento portes-vous sobre o 25 avril de 1974 ao Portugal?
18:48Eu porto um julgamento positivo porque, em geral,
18:52as révolutions começam a destruir.
18:56Ao contrário, a révolution do 25 avril
18:59começou a construindo,
19:02em organizando uma conferência à Dakar
19:05entre os movimentos de liberação das antigas colonias portugueses
19:10e uma delegação do governo português.
19:26Ao longo de 1974 e 1975,
19:31multiplicam seus conflitos.
19:33Percebe-se que o primeiro problema é o das colónias.
19:38Qual foi a atitude concreta do Conselho da Revolução
19:41face à questão da invasão de Timor?
19:44Prevaleceu as 7 mil milhas de distância
19:46que separam Portugal da Indonésia,
19:49a fraqueza congénita das forças armadas portuguesas
19:52em face de uma poderosíssima Indonésia
19:55e poderosamente armada.
19:57Ultrapassado este, ganham expressão os restantes.
20:02Estão em jogo as alianças políticas
20:05e as primeiras tarefas.
20:08A maior parte dos políticos só se entende
20:10sobre a necessidade de tranquilizar o estrangeiro.
20:15Quanto ao resto,
20:16os conflitos desenham-se.
20:18O que fazer com os antigos dirigentes?
20:21Sanear, prender, julgar, demitir, recuperar?
20:25O que fazer com as empresas que apoiavam o regime?
20:28Melo, Champalimou, Espírito Santo e outros.
20:31Como fazer para acudir às necessidades da população?
20:35É um programa que está amplamente avalizado
20:39não só pelo movimento das forças armadas
20:41como por todas as forças políticas
20:44que neste momento participam no processo em curso.
20:51As forças radicais, alguns militares da MFA
20:54e o Partido Comunista, o MES, a UVP
20:58parecem levar a melhor.
21:00Os próprios governos incitam
21:03ao saneamento da administração pública
21:06e às ocupações de empresas,
21:09de herdades e de casas.
21:11Eu acho que, de maneira nenhuma,
21:13podem estar ou devem estar à espera
21:15que legalmente saia um decreto
21:19a dizer que vocês podem ocupar.
21:21Vocês o ocupam e a lei há de vida.
21:23Há empresários que, não se sentindo seguros,
21:26fogem para o estrangeiro.
21:28Eu suponho que vocês já têm conhecimento
21:31do que se encontra no DOC de Leixões,
21:33o mobiliário, várias peças de arte
21:35que se encontram dentro de dois enormes contentores,
21:39tudo mais ou menos pertencente
21:41à família do banqueiro Pinto Magalhães.
21:44A 28 de setembro de 1974,
21:52a direita tenta uma manifestação nacional
21:55de cariz conservador,
21:57que será frustrada pelas esquerdas
22:00e pelo MFA.
22:02Há barricadas nas estradas
22:03orientadas por militares e civis.
22:07Na sequência das medidas tomadas,
22:10o movimento das Forças Armadas,
22:12que controla completamente a situação,
22:16pede à população e às forças democráticas
22:19que cooperem com as forças militares e militarizadas
22:22na retirada progressiva dos piquetes,
22:26cuja manutenção não só já não se justifica,
22:29como dificulta a ação do movimento das Forças Armadas,
22:33com vista à neutralização definitiva
22:36dos elementos reacionários
22:38que conspiravam contra a democracia.
22:42Nestas condições,
22:43e perante a total impossibilidade
22:45de no atual clima se construir
22:47uma democracia autêntica,
22:49ao se avista a paz e o progresso do país,
22:52renunciam ao cargo de Presidente da República.
22:56Portugueses, ao aceitar o cargo
22:59de Presidente da República,
23:01filo pela convicção
23:04de que nenhum português
23:06tem o direito de se negar
23:09às responsabilidades
23:12que lhe são exigidas
23:14no período difícil
23:16que todos fraternamente
23:18teremos que ultrapassar.
23:21Entre setembro e dezembro,
23:23empresários,
23:24dirigentes da administração
23:25e militares
23:27são detidos
23:28por vezes
23:30sem acusação.
23:32Nós não queremos a guerra civil
23:33entre os portugueses.
23:35Nós defendemos
23:35aos verdadeiros interesses
23:36do povo português
23:37que estão traduzidos
23:38no programa que nós elaboramos
23:40e no programa
23:41que pretendemos levar ao fim
23:43e que levaremos ao fim
23:44contra tudo e contra todos.
23:46Vasco Gonçalves,
23:48em nome dos revolucionários,
23:50com o apoio do PCP,
23:52tenta dirigir.
23:53É dele o aparente papel central.
23:56Temos muito que trabalhar.
23:58As extensões sociais
23:59que se têm desenvolvido ultimamente,
24:02de certo modo,
24:04têm prejudicado
24:05a produtividade
24:06do nosso país.
24:07Mas nós estamos convencidos
24:08que essa produtividade
24:10pode ser aumentada
24:12desde que o povo
24:13tenha confiança
24:14na Revolução do 25 de Abril.
24:17Olhe, fiz um favor,
24:18desculpe,
24:18isto é a televisão portuguesa.
24:19O que é que pensa
24:19do apelo do primeiro-ministro
24:21Vasco Gonçalves
24:22para se trabalhar no domingo?
24:23Acho justo.
24:25Acho justo.
24:25Acho justo.
24:26Você é concreto.
24:27E venho também a trabalhar.
24:28O Conselho Superior do MFA
24:30pronunciou-se por unanimidade
24:32pelo princípio
24:34da unicidade sindical,
24:36dentro do espírito
24:37de que as cláusulas
24:39do diploma legal
24:40deverão garantir
24:41a liberdade sindical,
24:43quer na filiação,
24:44quer no processamento
24:45e representatividade
24:47das eleições,
24:48das estruturas sindicais
24:49aos diferentes níveis.
24:51O debate sobre a unicidade sindical
24:53vai separar as águas.
24:55O MFA e o governo
24:57adotam a unicidade.
24:59Isto é,
25:00uma só central sindical.
25:02Esse projeto
25:03de decreto-lei
25:04espantou-me
25:05porque nele impõe-se
25:06não só
25:07uma confederação
25:09sindical única,
25:10como se impõe
25:11um sindicato único,
25:13como se impõe
25:14todo
25:14um complexo
25:16de disposições
25:16que são
25:17de verdadeiro
25:18maniatamento
25:19da classe fraca.
25:20com a oposição
25:25do Partido Socialista
25:26e dos restantes partidos.
25:28As divisões
25:29definem-se
25:30com frontalidade.
25:32Há perturbação
25:33e há sinais
25:34de violência.
25:35Grupos de direita
25:36tomam a iniciativa,
25:38sobretudo no Norte.
25:40Atacam partidos,
25:41sindicatos
25:42e instituições
25:42governamentais.
25:45Grupos de esquerda
25:46atacam também.
25:47A situação
25:48que estamos a viver
25:49neste momento,
25:50entrincheirados
25:51no Palácio de Cristal
25:52do Porto
25:53e cercados
25:53pelos nossos
25:54assaltantes,
25:55não pode deixar
25:56de ser considerada
25:57uma situação
25:58gravíssima.
25:59É uma situação,
26:01sobretudo,
26:02que pode pôr
26:02em risco grave
26:03a subsistência
26:04da democracia
26:05pluralista
26:06em Portugal.
26:07E há partidos
26:08de direita
26:09que são proibidos.
26:11No final
26:12de 1974,
26:14já não se vive
26:15o clima
26:15de alegria
26:16e de consenso
26:18dos primeiros tempos.
26:20O país
26:20está dividido.
26:22Classes
26:22e partidos
26:23opõem-se
26:25uns aos outros.
26:26Que a verdadeira revolução
26:28não pode admitir
26:29a demagogia.
26:30A demagogia
26:31é uma forma
26:32de abusar
26:33da falta
26:33de esclarecimento
26:34dos pobres
26:35e dos oprimidos.
26:37A demagogia
26:37é a busca
26:38do sucesso fácil.
26:40É a busca
26:40do capitalismo
26:41do sucesso
26:42e do poder.
26:43A demagogia
26:44é por isso
26:44um insulto
26:45feito ao povo.
26:46Srs.
27:00Espetadores,
27:01estamos precisamente
27:02em terreno neutro.
27:04Não sabemos
27:04o que se vai passar.
27:05Há, no entanto,
27:05aqui negociações
27:06que se vão iniciar.
27:08registramos o momento
27:12em que os soldados
27:13do Raul
27:14se abraçam
27:15aos soldados
27:16paraquedistas.
27:18Há mudanças
27:19no governo.
27:20A 11 de março
27:21de 1975,
27:24a Assembleia
27:24da MFA
27:25nacionaliza
27:26as grandes empresas,
27:28a começar
27:29pela banca.
27:29No dia 11,
27:32conseguindo,
27:33juntamente
27:34com as Forças Armadas,
27:37dominar
27:37mais
27:38um surto
27:40forte
27:41da reação.
27:42O MFA
27:44decide
27:45o saneamento
27:46militar
27:46e a orientação
27:48do governo
27:49e das Forças Armadas.
27:51Constou entre os meios
27:52da informação
27:52aqui presentes.
27:53Foi discutida
27:54nesta Assembleia
27:55também
27:55a pena capital.
27:56Quer dizer,
27:57nestes momentos
27:59é absolutamente
28:00natural
28:01que essa hipótese
28:01tivesse surgido,
28:03mas para já
28:05não foi decidido
28:05atuar com a pena
28:08capital
28:08em lado
28:08de qualquer deles.
28:09É criado
28:10o Conselho
28:11da Revolução,
28:12que é o órgão
28:12superior do poder político.
28:14Tem havido
28:15órgãos
28:16de decisão
28:17em excesso
28:18e o Conselho
28:19da Revolução
28:20vem de substituir
28:23três
28:23designadamente
28:25a Junta
28:26de Salvação
28:27Nacional,
28:28o Conselho
28:29do Estado
28:29e o Conselho
28:31dos 20.
28:32Mas também
28:32se garante
28:33que se realizarão
28:35eleições.
28:36Era uma das promessas
28:38do MFA,
28:39era também
28:40o ponto crucial
28:41dos partidos moderados.
28:43A ação libertadora
28:44do 25 de Abril,
28:46continuada
28:47por todo um conjunto
28:48de atitudes
28:49do MFA
28:50e dos partidos
28:50políticos
28:51progressistas
28:52e pelas medidas
28:53de caráter
28:53político
28:54e económico
28:55postas em prática
28:56têm permitido
28:58manter um nível
28:59suficiente
28:59de coesão
29:00povo MFA.
29:01O MFA
29:02exige a assinatura
29:04de um pacto,
29:05pacto MFA
29:06partidos,
29:07sem o qual
29:08não haveria eleições.
29:10Nessa Assembleia
29:11do MFA,
29:11de madrugada,
29:12a decisão
29:13de confirmar
29:14eleições
29:15salvou a democracia.
29:17O voto
29:17é a arma
29:18do povo.
29:19Significa que o voto
29:20é a arma
29:21que o povo tem
29:22para lutar
29:22pelos seus direitos,
29:23para lutar
29:25por um Estado,
29:27por um governo
29:28que defenda
29:29os seus interesses
29:30e não
29:31que o esmague
29:32e que o oprima.
29:33Senhora,
29:34ultimamente,
29:34tem reparado,
29:35na televisão aparece
29:36uma coisa que diz
29:37que o voto
29:38é a arma do povo.
29:40Não tenho a questão
29:41de lá me trair
29:42às vezes, senhor.
29:42Olha,
29:43e vai votar?
29:45Até não
29:45eu ia votar.
29:46E porquê é que vai votar?
29:47Não sei,
29:48na altura
29:48como é de saber
29:49porquê ia votar,
29:50senhora?
29:50Não sei ler.
29:51Olha,
29:51diga-me uma coisa,
29:52a senhora sabe
29:52o que são partidos políticos,
29:53sabe?
29:54Não sei nada disso.
29:55As eleições constituintes
29:57dão a vitória
29:57aos moderados,
29:59ao Partido Socialista
30:00em particular.
30:01E aqui temos
30:02agora as percentagens
30:03escritas.
30:03O PS com
30:0435,77%,
30:06o PPD com
30:0627,39%,
30:08o PCP
30:09com 12,98%.
30:09Mas o MFA
30:12e o PCP
30:13não deixam
30:14que essa vitória
30:15se traduza logo
30:16em poder político.
30:19É o momento
30:20da revolução.
30:22Por iniciativa
30:23dos militares,
30:24com o apoio
30:25do governo
30:25e dos partidos
30:26mais radicais
30:27e sob a pressão
30:29dos sindicatos
30:29de trabalhadores,
30:31sucedem-se
30:31as ações revolucionárias.
30:34Entre os militares
30:35criam-se divergências
30:37e distinguem-se
30:38os moderados
30:39do Grupo dos Nove,
30:41os regimentos
30:42associados
30:42ao COPCOM,
30:44comando do continente,
30:45da Otelo Saraiva
30:46do Carvalho,
30:47e os mais radicais
30:48de todos,
30:49o SUV,
30:50Soldados Unidos
30:52Vencerão.
30:53Soldados Unidos
30:54Vencerão,
30:55SUV,
30:57é uma frente unitária
30:58anticapitalista
31:00e antiimperialista
31:02que aparece
31:04no momento
31:05em que a reação
31:06fascista
31:07se organiza de novo.
31:08Durante todo o verão quente
31:10de 1975
31:12assistiremos
31:14a esta dualidade
31:15de poderes.
31:17O executivo
31:17por um lado,
31:18o eleitoral
31:19pelo outro.
31:21Não há de nenhuma revolução
31:22que numa determinada fase
31:23da sua história
31:24não tenha tido
31:25uma base de apoio restrita,
31:26pois é precisamente
31:27nesses momentos
31:28que é preciso
31:29um governo forte
31:29e com autoridade.
31:31E é preciso dar
31:32essa autoridade
31:32a este governo.
31:33múltiplas iniciativas
31:35revelam
31:35uma enorme tensão.
31:37Eu que há meses
31:38tinha como certo
31:39que era impossível
31:40os militares
31:41reprimirem
31:42a injusta luta
31:43dos trabalhadores.
31:45Neste momento,
31:46já não acredito nisso.
31:47Chega a haver
31:48julgamentos populares.
31:50Acusado de ter morto
31:52um proprietário rural,
31:53José Diogo
31:54está preso em julho.
31:55O seu julgamento
31:56leva para o campo
31:57da justiça
31:57a medida exata
31:58do clima
31:59que noutro setor
32:00se vivia.
32:01Esta é a altura
32:02de que nós
32:04aqui reunidos
32:05em Tribunal Popular
32:06decidamos
32:07sobre o José Diogo.
32:11Grupos de direita
32:12usam a violência,
32:14sobretudo no norte.
32:15A igreja
32:16começa a tomar
32:17partido desfavorável
32:18aos revolucionários.
32:20Dentro das forças armadas
32:22são crescentes
32:23as vozes contrárias
32:25aos excessos
32:26da revolução.
32:27Nós,
32:28soldados,
32:30juramos
32:32ser fiéis
32:34à pátria
32:35e lutar
32:37pela sua liberdade
32:40e independência.
32:42No fim do verão,
32:43o edifício revolucionário
32:45está criado.
32:46Camaradas,
32:47o processo revolucionário
32:48em Portugal
32:49é hoje
32:50o ponto avançado
32:52da revolução socialista
32:53na Europa.
32:54Camaradas,
32:54o processo revolucionário
32:56em Portugal
32:56é hoje
32:57a vanguarda
32:58do desenvolvimento
32:59das lutas na Europa.
33:00O essencial
33:01do poder político,
33:03da administração
33:04e da economia
33:05está em mãos revolucionárias.
33:08Frágeis,
33:09com certeza,
33:10mas episodicamente
33:12o poder revolucionário
33:14foi consolidado.
33:15o MFA
33:16tenta agora conquistar
33:18a população
33:19com ajudas
33:21e apoios,
33:22com alfabetização
33:23e cuidados
33:25de saúde.
33:25em Portugal.
33:26Viste-me com alfabetização
33:27e tu me lhe viste?
33:28Gostas daquilo?
33:29Sabes o que é?
33:31Não sabes?
33:32Olha,
33:33aqui tens aqui
33:33um soldado,
33:34estás a ver?
33:35Uma arma na mão.
33:37Tens aqui
33:37um homem
33:38no campo.
33:39Posso ser o teu pai,
33:40o meu pai.
33:42Podemos ser todos nós,
33:43que andamos com uma foice,
33:44com uma foquilha,
33:45estás a perceber?
33:46Para dar assim um aspecto
33:47ao lado de
33:48trabalhadores,
33:49que estão em colaboração,
33:51portanto,
33:51com o movimento
33:51das Forças Armadas.
34:05Passado o verão de 1975,
34:07em que se chegou a pensar
34:09na possibilidade
34:10de conflitos violentos,
34:13as iniciativas
34:14dos militares moderados,
34:15dos socialistas
34:16e dos populares democráticos
34:18produzem efeito.
34:20O PS lidera
34:23o movimento de massas.
34:24O Partido Socialista
34:26que se dispõe
34:26a considerar
34:27como o último recurso
34:29a possibilidade
34:30de transferência
34:32dos legítimos
34:33órgãos de soberania
34:34democrática
34:36para outro ponto
34:37do território nacional,
34:39se em Lisboa
34:40os responsáveis militares
34:42não dispuserem
34:44da autoridade
34:45e decisão
34:46suficientes
34:47para assegurar
34:48o normal funcionamento
34:50das instituições
34:52do Poder Central.
34:53Isto estava
34:54farto de brincadeiras.
34:55Brincadeiras, é?
34:57Estou, foi sequestrado
34:58já duas vezes.
35:00Já chega,
35:01não gosto de ser sequestrado,
35:02é uma coisa que me chateia.
35:03O 6º Governo Provisório,
35:05deliberando
35:06suspender
35:07as suas atividades,
35:10tomou,
35:10a meu ver,
35:11uma atitude
35:12necessária
35:14e coerente
35:14em defesa
35:16da democracia.
35:17Nas instâncias
35:18de poder,
35:19são os militares
35:20moderados
35:21que se organizam
35:22para reagir
35:24contra a revolução.
35:26A grande arma
35:26dos democratas,
35:28que não deixa
35:28de influenciar
35:29os militares,
35:31é a vitória eleitoral
35:32do Partido Socialista,
35:34com 38%,
35:35e do PPD,
35:37com 26%.
35:39Os revolucionários,
35:40comunistas
35:41e aliados
35:42perdem as eleições,
35:44com menos
35:45de 17%.
35:47Estes ainda
35:48tentam,
35:49na sociedade,
35:50recuperar
35:51o terreno perdido,
35:53mas a mudança
35:54está feita.
35:55Eu pensaria,
35:56pelo meu contacto diário,
35:58que o país
35:58estava mais à esquerda
35:59do que se revelou.
36:00Os militares
36:01estão divididos.
36:03Os democratas
36:04juntam-se
36:05no grupo dos nove
36:06e acabarão
36:07por vencer
36:08o movimento
36:09do 25 de novembro
36:10de 1975.
36:14Passa-se muito
36:15perto
36:15do confronto
36:17armado,
36:18evitado
36:18pela força
36:19dos moderados,
36:21entretanto,
36:22apoiados
36:22pelo Presidente
36:24da República,
36:25General Costa Gomes.
36:26Não é com alegria
36:28que hoje
36:28me dirijo
36:29ao país.
36:31O projeto
36:31da construção
36:32da sociedade
36:34socialista
36:35portuguesa,
36:37pela via
36:37democrática
36:38e pluralista,
36:40foi sacudido
36:41por uma
36:42dramática aventura
36:43cujas raízes
36:45profundas
36:46ainda não estão
36:47completamente
36:48esclarecidas.
36:49Naquela ação
36:50sobressaem
36:51os oficiais
36:53ramalhianos,
36:55Vasco Lourenço,
36:56Jaime Neves,
36:58Melo Antunes
36:58e outros.
37:00A ação
37:00dos Comandos
37:01foi em todas
37:02as alturas
37:03uma ação
37:03pronta
37:04e o sucesso
37:07deve-se em grande
37:08parte
37:08precisamente
37:09à sua
37:10atuação
37:10e à sua
37:11determinação.
37:12O Comandante
37:13da Região Militar
37:14de Lisboa,
37:15Otelo
37:15Saraiva
37:15de Carvalho,
37:17é substituído
37:18por Vasco Lourenço.
37:20Quero afirmar
37:20desde já
37:21que a Região Militar
37:22de Lisboa
37:23servirá à política
37:24da construção
37:25de uma verdadeira
37:26sociedade socialista,
37:27encarando as consequências
37:28do 25 de novembro
37:30de 75,
37:31não como o fim
37:32do processo
37:32revolucionário
37:33em curso,
37:34mas sim
37:34como o retomar
37:35de um caminho
37:36que certas forças
37:37há já algum tempo
37:38vinham a tentar
37:39desviar
37:39do seu verdadeiro sentido.
37:41O quinto
37:42governo provisório
37:43de simpatias
37:44comunistas
37:45é substituído
37:47pelo sexto
37:48liderado
37:49pelo Almirante
37:50Pinheiro de Azevedo.
37:51As tendências
37:52radicais
37:53de direita
37:53que queriam
37:54ilegalizar
37:55o Partido Comunista
37:56e outros
37:57foram vencidas.
37:59Todos os partidos
38:00existentes
38:01continuam
38:02a sua ação.
38:04Eu quero dizer
38:04neste momento
38:05e se considero
38:06muito importante
38:06que
38:07a participação
38:10do Partido Comunista
38:12Português
38:13na construção
38:14do socialismo
38:15é indispensável.
38:17Uma das primeiras
38:18iniciativas
38:19seguida
38:20pelos partidos
38:21democráticos
38:22consiste
38:23na revisão
38:24do Pacto
38:24MFA
38:25partidos.
38:27Gostaria de saber
38:27se está finalmente
38:29resolvida
38:29as questões
38:30que havia
38:30com o Partido Popular
38:31Democrático
38:32acerca da assinatura
38:33do pacto
38:34e se está
38:34marcada
38:35a data já.
38:36Bem,
38:36hoje houve negociações
38:37não só com o Partido
38:38Popular Democrático
38:39foi com o Partido Popular
38:40Democrático
38:40e com o Partido
38:41Socialista
38:42numa reunião
38:43conjunta
38:43com representantes
38:47do MFA.
38:47é abolida
38:48a maior parte
38:49das condicionantes
38:51à atividade
38:52dos partidos.
38:53O papel
38:54do MFA
38:54e do Conselho
38:55da Revolução
38:56é mantido
38:57mas diminuído.
38:59O caminho
38:59para a democracia
39:01parece claro.
39:02Depois de alguns
39:03militares
39:04terem tentado
39:05ações revolucionárias
39:06os moderados
39:08souberam
39:10repor
39:10o caminho
39:11para a democracia
39:12e não ficaram
39:14com posições
39:16constitucionais.
39:17Foram as eleições
39:30que decidiram.
39:32Foi o povo
39:32que escolheu.
39:34Não mais decisões
39:35tomadas
39:36em nome
39:37dos portugueses.
39:38Foi o eleitorado
39:39que decidiu.
39:42Em 1975
39:43nas Constituintes
39:45e em 1976
39:47nas legislativas
39:49uma sólida
39:50vitória do PS
39:51e um forte
39:52segundo lugar
39:53do PPD
39:54muito longe.
39:56Os mais radicais
39:57o PCP
39:58em particular.
40:00É o facto
40:00da história.
40:01nas revoluções
40:03os partidos
40:04os partidos
40:04mais radicais
40:05perdem
40:06as eleições.
40:08A 25 de abril
40:09de 1974
40:10o movimento
40:11das forças armadas
40:12coroando a longa
40:13resistência
40:13do povo português
40:14e interpretando
40:16os seus sentimentos
40:16profundos
40:17derrubou o regime
40:18fascista.
40:20A Assembleia
40:20Constituinte
40:21reunida na sessão
40:22plenária
40:22de 2 de abril
40:23de 1976
40:24aprova e decreta
40:26a seguinte
40:27Constituição
40:27da República
40:28Portuguesa.
40:29Foi possível
40:30fazer contas.
40:31Os argumentos
40:32eleitorais
40:32pesam muito
40:33para os militares
40:35os resultados
40:36foram determinantes.
40:38A seguir
40:38as eleições
40:39presidenciais
40:40com 62%
40:43dos votos
40:44foi eleito
40:45logo à primeira volta
40:46o general
40:46Ramalho de Anos
40:47figura maior
40:49das operações
40:50do 25 de novembro
40:51de 1975
40:52foi apoiado
40:54por todos
40:55os partidos
40:55democráticos.
40:56Juro
40:57por minha honra
40:59desempenhar
41:00fielmente
41:00as funções
41:01em que fico
41:02investido
41:03e defender
41:04e fazer cumprir
41:05a Constituição
41:07da República
41:08Portuguesa.
41:09O principal
41:10candidato
41:11revolucionário
41:12Otelo Saraiva
41:13de Carvalho
41:14obteve
41:1516%.
41:16O candidato
41:18comunista
41:18Otávio Pato
41:19não chegou
41:21a 8%.
41:22A derrota
41:24das esquerdas
41:25radicais
41:26estava
41:27consumada.
41:29No verão
41:30de 1976
41:32toma posse
41:33o primeiro
41:34governo
41:34constitucional
41:35tendo à cabeça
41:37o socialista
41:38Mário Soares.
41:40Eu
41:40abaixo
41:41assinado
41:42afirmo
41:43solenemente
41:44pela minha honra
41:45que cumprirei
41:46com lealdade
41:47as funções
41:48que me são
41:49confiadas.
41:50A liderar a oposição
41:51Francisco Sá Carneiro
41:54do PSD.
41:56Álvaro Cunhal
41:57uma das figuras
41:58da revolução
41:59quase nunca
42:00participará
42:01na vida parlamentar
42:03ocupa-se
42:03do partido.
42:05Outro
42:06protagonista
42:06da revolução
42:07o general
42:08Vasco Gonçalves
42:10retira-se
42:11da vida
42:11política.
42:13Salgado Zanha
42:14iminente
42:15socialista
42:16desempenhará
42:17funções
42:17no parlamento.
42:18O primeiro
42:19governo
42:20tem uma enorme
42:21agenda
42:21política
42:22diante de si.
42:23O legado
42:24da revolução
42:25com empresas
42:26nacionalizadas
42:28e herdades
42:28ocupadas
42:29é problema
42:30maior.
42:31São muitos
42:32os saneados
42:33por razões
42:33políticas.
42:35Mais de
42:35600 mil
42:36retornados
42:37e repatriados
42:39do ultramar
42:39geralmente
42:41sem emprego
42:41e sem casa
42:42constituem
42:43o mais difícil.
42:45A retoma
42:46econômica
42:47é lenta.
42:48A normalização
42:49social
42:50demora
42:51tempo.
42:52Os recursos
42:53financeiros
42:53são escassos.
42:55As dificuldades
42:56vão criar
42:57instabilidade
42:58neste período
42:59inicial.
43:00Uma decisão
43:01marcará
43:03estes primeiros
43:03tempos.
43:05O pedido
43:06de adesão
43:06à comunidade
43:07econômica
43:08europeia.
43:09Depois
43:09dos dois
43:10grandes
43:10acontecimentos
43:11que marcaram
43:13a vida
43:14coletiva
43:15portuguesa
43:16depois
43:17do 25 de
43:19abril
43:19para cá
43:19isto é
43:21a descolonização
43:22e a institucionalização
43:25da democracia
43:26em Portugal
43:27a integração
43:28de Portugal
43:29na Europa
43:30é o terceiro
43:32grande
43:32acontecimento.
43:33numa Europa
43:43que abate
43:44barreiras
43:45para permitir
43:47entre os
43:48países
43:49a liberdade
43:50de circulação
43:51de capitais
43:52de mercadorias
43:53e de pessoas
43:54é-nos
43:56impossível
43:57constituir
43:58exceção.
43:58O processo
44:00de integração
44:01europeia
44:02já se anunciava
44:03antes do 25 de
44:04abril
44:04mas era
44:05cometido
44:06não especialmente
44:07desejado
44:08pelos europeus
44:10nem pelas
44:11autoridades
44:11portuguesas.
44:13O império
44:13pesava
44:14na vida
44:15portuguesa
44:16e nas opções
44:17políticas.
44:19A independência
44:20das colónias
44:20foi o processo
44:21que conduziu
44:22ao fim
44:23da guerra
44:24e que fez
44:25com que
44:26Portugal
44:26a sua
44:27população
44:28a sua
44:28economia
44:29e as suas
44:30ligações
44:31culturais
44:32se afastassem
44:33da África
44:34e se virassem
44:35para os países
44:36europeus
44:36com os quais
44:38se fazia já
44:39grande parte
44:40do comércio
44:40e onde
44:41residiam
44:42mais
44:43de um milhão
44:44de portugueses.
44:46O relativo
44:48isolamento
44:49internacional
44:49em que
44:50Portugal vivia
44:52por causa
44:52das guerras
44:53terminou.
44:55O período
44:56de dois anos
44:57de revolução
44:57foi muito delicado
44:59para as relações
45:00internacionais.
45:01É a primeira vez
45:03que uma delegação
45:05do nosso partido
45:06se encontra
45:07a direção
45:08do Partido Comunista
45:09português
45:10ao Portugal.
45:12É para nós
45:13uma grande joia
45:14e também
45:16um honore.
45:17A presença
45:18dos comunistas
45:19no governo
45:20de Lisboa
45:21e as simpatias
45:22crescentes
45:22para com os
45:24países
45:24socialistas
45:25tinham criado
45:27algum nervosismo
45:28entre os aliados
45:30da NATO.
45:32É verdade
45:33que as nacionalizações
45:34tinham
45:35sistematicamente
45:36poupado
45:37os interesses
45:38estrangeiros.
45:40Mas as opções
45:41políticas
45:41eram mal
45:43vistas
45:43pelas democracias.
45:45A iniciativa
45:46privada
45:46é desejável
45:48por nós
45:48e pensamos
45:49que sobre ela
45:50se vai construir
45:51boa parte
45:52do nosso futuro.
45:53O ataque
45:54à Embaixada
45:55de Espanha
45:56foi acontecimento
45:57de excepcional importância
45:59tal como
46:02a ocupação
46:03de Timor
46:04pela Indonésia.
46:08Gradualmente
46:08depois de
46:09completadas
46:10as eleições
46:11e do início
46:12de atividade
46:13do primeiro governo
46:14as relações
46:15entre Portugal
46:16e os seus
46:17aliados
46:18tradicionais
46:19normalizam-se.
46:21A entrada
46:21de Portugal
46:21nas comunidades
46:22económicas
46:22europeias
46:23vai evidentemente
46:25provocar
46:28grandes consequências
46:30em toda
46:31a vida
46:31económica
46:32e social
46:33portuguesa.
46:34O turismo
46:36vai retomando
46:37alguma expressão?
46:39A candidatura
46:40de Portugal
46:40à comunidade
46:41europeia
46:42é o fator
46:43simbólico
46:44determinante.
46:47A recuperação
46:47económica
46:48é lenta.
46:50É necessário
46:50solicitar
46:52apoio internacional.
46:54Mas já
46:54se sente
46:55que se evitou
46:56a crise
46:57maior.
46:59Anunciam-se
46:59investimentos
47:00europeus
47:01em Portugal
47:01os primeiros
47:03fundos financeiros
47:04ditos de
47:05pré-adesão
47:06começam a chegar.
47:20Ele que vem
47:20atirar aos ricos
47:21para dar aos pobres
47:22será a verdade?
47:23Olha,
47:23não quero.
47:24o tempo é
47:24que vem
47:25durarem.
47:26Com a democracia
47:28a pressão
47:29para o desenvolvimento
47:30do Estado
47:32Social
47:32é imediata.
47:34Por parte
47:35dos trabalhadores
47:36e dos consumidores
47:38dos profissionais
47:40dos funcionários
47:41mas também
47:42do lado
47:43dos partidos
47:43políticos.
47:45A reivindicação
47:46social
47:47é generalizada
47:48por mais salários
47:50reformas
47:51reformas
47:51e de doença
47:53e de família
47:54etc.
47:55Aumenta o ordenado
47:56aumentam as coisas
47:57a situação
47:57mantém-se.
47:59A crise económica
48:00que se seguiu
48:01à revolução
48:01e a altíssima inflação
48:05suscitaram
48:06movimentos sociais.
48:07Os primeiros anos
48:10de democracia
48:11foram difíceis.
48:13Muitas empresas
48:13foram salvas
48:15pela nacionalização.
48:16É certo,
48:17mas o setor
48:18privado
48:18estava quebrado.
48:20As nacionalizações
48:21quanto a nós
48:22trabalhadores
48:22da roda-véa nacional
48:23não é só por si
48:24um meio
48:25e um objetivo.
48:27É um instrumento
48:28fundamental
48:29que o Estado
48:30tem nas suas mãos
48:31para coordenar
48:32e planificar
48:32todo um setor.
48:34O essencial
48:35da economia
48:35pertencia agora
48:37ao Estado
48:38que não tinha
48:39capacidade de gestão.
48:43Ao mesmo tempo
48:43que prosseguem
48:44as lutas sociais
48:45afirma-se
48:47a necessidade
48:48de rever
48:49o sistema social
48:50das reformas
48:52ao abono
48:52de família
48:53e à saúde.
48:55Uma organização
48:56social
48:57nasce
48:58com a criação
48:59de instituições
49:00mais sólidas.
49:02O que já se conhecia
49:03como primeiras tentativas
49:05desde o período
49:06marcelista
49:07é agora ampliado.
49:09Em poucos anos
49:10há serviços
49:11de água,
49:12esgoto,
49:13telefone,
49:14eletricidade,
49:15luz pública
49:16e domiciliária,
49:18instalações sanitárias
49:20e de cozinha
49:21em quase todas
49:22as casas do país.
49:24É verdade
49:25que a instabilidade
49:26fez aumentar
49:27as barracas
49:28nas grandes cidades.
49:30mas o Estado
49:31social
49:32consolidou-se.
49:34Ainda pobre,
49:36mas já
49:36universal.
49:39Novidade,
49:40o Serviço Nacional
49:41de Saúde
49:41dá os primeiros
49:43passos.
49:44Saúde e fraternidade
49:45é a filosofia intrínseca
49:46do Serviço Nacional
49:47de Saúde.
49:48Um serviço
49:48para o povo
49:49será a sua dinâmica
49:50permanente.
49:51No início
49:52da liberdade
49:53afirmam-se
49:54novos valores
49:55sociais.
49:55A situação
49:57da mulher
49:58é uma das
49:59principais mudanças
50:00iniciadas então.
50:03Não há
50:03regime concordatário
50:05de insubilidade
50:05do casamento católico.
50:07Não há
50:08vexatória
50:09situação
50:09de mãe solteira.
50:11E não
50:12há o ferredo
50:13estigmatizado
50:14do filho
50:14ilegítimo.
50:15Não!
50:17Aos jovens
50:18são reconhecidos
50:19novos direitos.
50:20O trabalho
50:21infantil
50:22é finalmente
50:23combatido.
50:24As famílias
50:25conhecem
50:26as suas
50:26liberdades
50:27como, por exemplo,
50:29as uniões de facto
50:30e os divórcios.
50:32Os sindicatos
50:33e as comissões
50:34de trabalhadores
50:35passam a fazer
50:36parte do mundo
50:37laboral.
50:38Os exploradores
50:39da classe operária
50:40não mais brincarão
50:41connosco, camaradas!
50:42Lentamente,
50:44os direitos
50:44sociais
50:45substituem-se
50:47às formas
50:48tradicionais
50:49da caridade
50:51e da assistência.
51:05O que mudou
51:06nestes 50 anos
51:08foi quase tudo.
51:11E, no entanto,
51:12continuamos a dizer
51:13Portugal
51:15e os portugueses.
51:16a vida
51:18em liberdade
51:19nunca foi
51:20como agora.
51:22Nunca as mulheres
51:23estiveram
51:24tão perto
51:25da paridade
51:26dos direitos.
51:28O pluralismo
51:29étnico
51:30é evidente.
51:32As taxas
51:33de mortalidade
51:33e de doença
51:35diminuíram.
51:37A esperança
51:38de vida
51:38aumentou.
51:39A população
51:42está envelhecida.
51:43mais de um milhão
51:45emigraram.
51:47Mas mais de um milhão
51:48de estrangeiros
51:49vieram viver
51:50para cá.
51:52Os progressos
51:53são visíveis
51:54nas estradas,
51:56nos níveis
51:57de bem-estar
51:58e no conforto
51:59em casa.
52:01Os cuidados
52:02de saúde
52:03alargaram-se.
52:05A alfabetização
52:06é geral
52:07e o acesso
52:09à universidade
52:10facilitou-se.
52:11paralelamente
52:15há deficiências
52:16como em todas
52:18as sociedades.
52:20A democracia
52:20parece por vezes
52:21ser instável.
52:24A desigualdade
52:25social
52:26não diminui.
52:28A dependência
52:29do exterior
52:30aumenta.
52:32A corrupção
52:33não cessa.
52:36E os serviços
52:36públicos
52:37estão
52:38frequentemente
52:39degradados.
52:40a justiça
52:42é medíocre.
52:45As tensões
52:46raciais
52:46surgiram
52:47com força.
52:50Mantém-se
52:50o atraso
52:51económico
52:51e social
52:52relativamente
52:53à Europa.
52:55A imigração
52:56retomou
52:58com vigor
52:59o que basta
53:00para revelar
53:02insuficiência.
53:03entre tudo
53:06o que mudou
53:06ao 25 de Abril
53:08deve-se
53:09a liberdade.
53:11Tudo o resto
53:12bom
53:13e mau
53:14fica a dever-se
53:16aos portugueses
53:17aos políticos
53:18aos trabalhadores
53:20e aos empresários
53:21aos idosos
53:23e aos jovens.
53:26O 25 de Abril
53:27não é responsável
53:29pelos erros
53:30nem pelos
53:31progressos.
53:33O 25 de Abril
53:34permitiu
53:35que se acertasse
53:37e que se
53:38errasse.
53:40A democracia
53:41começou com
53:42um golpe militar.
53:44Depois de tensões
53:45muito intensas,
53:47os militares
53:48deram o seu lugar
53:50à vida política
53:51civil
53:52democrática.
53:53Os perigos
53:55e as ameaças
53:56foram sempre
53:58resolvidos
53:59pacificamente.
54:01As forças
54:01moderadas,
54:03militares
54:03ou civis,
54:05levaram
54:05sempre a melhor.
54:0850 anos
54:09depois,
54:10Portugal é o mesmo
54:11e é muito
54:13diferente.
54:15Os portugueses
54:15vivem em democracia
54:17com todos
54:18os seus erros
54:19e deficiências
54:21com todas
54:22as suas
54:22imperfeições,
54:24foi esta
54:25a escolha
54:26dos portugueses.
54:27A CIDADE NO BRASIL