Série documental que percorre momentos marcantes da história da liberdade em Portugal, antes e depois da Revolução de Abril.
Categoria
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ConhecimentosTranscrição
00:00Música
00:30Como era Portugal antes da liberdade?
00:39Era o mais antigo estado-nação da Europa.
00:43O último império colonial.
00:47A mais longa ditadura da Europa Ocidental.
00:51Um dos mais pobres.
00:54O mais analfabeto.
00:56Era um país fechado,
00:57com uma fronteira geográfica mais antiga da Europa,
01:03uma população homogénea,
01:05uma só língua e uma só religião.
01:09E também um só partido.
01:11E um ditador, há 40 anos no poder.
01:14Este é o primeiro de dois capítulos do documentário
01:18Rumo à Liberdade.
01:21E faz um retrato da situação antes do 25 de Abril.
01:25Chamei-lhe Andante.
01:40Eram tempos difíceis.
01:42Para utilizar uma expressão do próprio ditador Salazar,
01:49os portugueses viviam habitualmente.
01:52Não discutimos Deus e a virtude.
01:56Não discutimos a pátria e a sua história.
01:59É um dos mais sinistros programas de vida que se pode imaginar.
02:04Sobretudo quando os hábitos são definidos por quem governa.
02:08Não discutimos a glória do trabalho e o seu dedo.
02:11O regime, dito de Estado Novo,
02:15durou quase 50 anos.
02:17Sem eleições livres,
02:18sem partidos políticos,
02:20sem liberdades públicas,
02:22sem direito à greve,
02:23mas com censura.
02:25Com presos políticos,
02:26por crime de opinião
02:27e por atividades subversivas.
02:29Com o sistema corporativo,
02:35assegurava-se uma enorme dependência do Estado
02:38para todas as atividades económicas e sociais.
02:41Éramos um punhado de jovens
02:43a sentir a necessidade
02:45de que o Estado
02:47se empenhasse numa ação social
02:50que fosse ao encontro
02:52das necessidades decorrentes
02:55da industrialização nascente.
02:57As associações e os sindicatos
02:59tendiam de ser homologados pelo governo.
03:02Constituem-se hoje, em Portugal,
03:04as primeiras corporações.
03:06Com emoção,
03:08se registra facto tão importante.
03:11Eram tempos sombrios
03:13de ditadura minuciosa,
03:16jurídica, administrativa,
03:19por vezes violenta,
03:20sempre repressiva.
03:22Vivemos hoje todos,
03:24Deus louvado,
03:26o momento histórico
03:27na vida do regime e da nação,
03:29o momento histórico
03:30e o é também de triunfo
03:32da doutrina e do chefe.
03:35Com as eleições de 1958
03:38para o Presidente da República,
03:41o regime tremeu.
03:44Com a campanha de Humberto Delgado.
03:50Acabada a farsa,
03:53o governo alterou o modo de eleição,
03:56que passou a ser indireta
03:58através da Assembleia Nacional
04:00e da Câmara Corporativa.
04:02e não decorreu muito tempo
04:10até que Delgado,
04:12ele próprio,
04:13fosse perseguido,
04:15refugiado numa embaixada
04:16e exilado.
04:17e até mais tarde,
04:22assassinado pela PIDE,
04:24em Espanha,
04:25numa emboscada
04:26perto da fronteira.
04:27O Estado,
04:37chefiado pelo seu fundador,
04:39assegurava uma aliança permanente
04:41entre militares,
04:44a administração pública
04:45e a Igreja.
04:47Era um Estado autoritário
04:49num país conservador.
04:51O governo organizava
04:55periodicamente eleições
04:57com as quais pretendia
04:59exibir uma fachada.
05:00Mesmo que o povo português
05:02queira votar em nós,
05:03não tem possibilidades reais
05:04para o fazer.
05:05Nunca as oposições
05:06tiveram os mesmos direitos
05:08de ação e de campanha.
05:10Porque as eleições
05:11não são sérias.
05:12As eleições estão falseadas.
05:14Bem pelo contrário.
05:16Após as eleições,
05:17a polícia política
05:18ficava na posse
05:20de dados
05:21sobre as pessoas
05:23para poder reprimir.
05:24O que nunca deixou de fazer.
05:26Nós não vamos ter oportunidade
05:27para mais de conhecer
05:28150 mil eleitores.
05:30As outras listas
05:31vamos distribuí-las
05:32completamente ao acaso
05:33e podem cair muitas delas
05:35ou nas mãos da polícia
05:37ou em pessoas
05:38que não são eleitores.
05:39Esta situação manteve-se
05:41durante quatro décadas.
05:44Não só porque algumas forças,
05:46como por exemplo,
05:47as forças armadas,
05:48as polícias,
05:50a igreja,
05:50o poder econômico
05:51apoiavam a situação.
05:54Mas também porque as oposições
05:56não conseguiam derrubar o sistema.
06:00Nem sequer criar grandes dificuldades
06:02ao poder estabelecido.
06:06O Partido Comunista,
06:08muito pequeno,
06:09perseguido,
06:10mas era tenaz,
06:12fiel à União Soviética,
06:14sobreviveu quase meio século.
06:16O Partido Socialista
06:18só foi fundado em 1973.
06:21Outros nem sequer existiam.
06:25O poder da ditadura
06:26vivia da repressão,
06:28com certeza,
06:30mas também
06:31da fraqueza da oposição.
06:33era um país pequeno,
06:49pobre e atrasado.
06:52A maior parte da população
06:54vivia no mundo rural
06:56e ocupava-se da agricultura,
06:58com muito baixos rendimentos
07:00e uma tecnologia
07:02atrasada.
07:05As produções e a produtividade
07:08eram medíocres.
07:11O trabalho manual
07:12era intenso.
07:13a indústria
07:15era igualmente pobre
07:16e atrasada.
07:20Muitas pequenas empresas,
07:22quase artesanais,
07:24criavam pouco emprego.
07:27Algumas empresas,
07:29muito raras,
07:30eram sinais
07:31de modernidade.
07:34Mas eram protegidas
07:35pelo governo
07:35desde que seguissem
07:37as regras impostas
07:39pela administração pública.
07:41A política dita
07:46de condicionamento
07:48industrial
07:49consagrava
07:50o controle
07:51das atividades
07:52econômicas
07:53privadas
07:53pelo Estado.
07:56As principais
07:57classes sociais
07:58eram dependentes
08:00e até pobres.
08:02Proprietários,
08:03burguesia industrial,
08:05a classe média,
08:06sem falar
08:07no operariado.
08:11A rede de estradas
08:13era de muito
08:15baixa qualidade,
08:17tal como
08:17os transportes
08:18ferroviários.
08:20As deslocações
08:21eram difíceis.
08:23Os portugueses
08:23viajavam pouco,
08:25mesmo dentro
08:26do seu próprio país.
08:28A educação
08:29era reduzida.
08:30nos anos 50 e 60,
08:33ainda mais de 40%
08:36da população
08:36era analfabeta.
08:38A segurança social
08:41muito reduzida.
08:43Poucos eram
08:44os idosos pensionistas.
08:46Os mais velhos
08:47deviam viver
08:47na dependência
08:48das famílias.
08:50Não havia
08:50praticamente
08:51sistema
08:52de proteção social.
08:55Portugal
08:55tinha então
08:56uma muito alta
08:57natalidade,
08:58das mais altas
08:59da Europa,
09:00mas também tinha
09:00a mais elevada
09:03mortalidade infantil,
09:05sinal seguro
09:05de subdesenvolvimento
09:07e da falta
09:09de serviço
09:10de saúde
09:10e de água potável.
09:13Eram muito
09:14frequentes
09:14as famílias
09:15numerosas.
09:16O casamento
09:17era em geral
09:18católico.
09:20O divórcio
09:20era praticamente
09:22proibido.
09:23As mulheres
09:25viviam sobretudo
09:26em casa
09:26e ocupavam-se
09:28das tarefas
09:28domésticas.
09:29As qualidades
09:30de uma boa
09:30dama de casa.
09:31Para mim,
09:32boa esposa,
09:33boa mãe,
09:33ter paciência
09:34e para alterar
09:35as mais
09:35pedidas do marido.
09:37É gigante,
09:38além de pensar.
09:39Saber dominar
09:40o dinheiro
09:40que o marido ganha.
09:42No campo
09:42desempenhavam
09:43todas as funções,
09:45todos os trabalhos.
09:48Nas cidades,
09:49a grande maioria
09:50não trabalhava
09:51fora de casa.
09:53As que tinham
09:54emprego
09:55estavam em geral
09:56confinadas
09:57a ocupações
09:58menores
09:59e dependentes.
10:01Poucas mulheres
10:02frequentavam
10:03a universidade.
10:04As mulheres
10:04não podiam,
10:05sem autorização
10:06do marido,
10:08alugar casa,
10:09ter conta bancária
10:10ou ser titular
10:11do seu próprio
10:12passaporte.
10:13Em que medida
10:14e como é que
10:15a crónica feminina
10:16orienta a mulher portuguesa?
10:17Através dos nossos
10:18artigos,
10:19dos nossos
10:19conselhos,
10:22a pomos a par
10:22da vida
10:23da mulher atual,
10:25consciencializamos
10:26em relação
10:28aos problemas
10:29que lhe competem
10:31como mãe,
10:32como esposa,
10:33enfim,
10:33como um elemento
10:34válido na sociedade.
10:36Algumas profissões
10:37estavam vedadas
10:38às mulheres,
10:39como a magistratura,
10:40a diplomacia,
10:42as forças armadas.
10:44O regime alimentar
10:45era geralmente
10:46pobre
10:46de proteínas.
10:48os rurais
10:49e os trabalhadores
10:50da indústria
10:51e da construção
10:52comiam pouca carne,
10:54pouco peixe
10:55e só de vez em quando
10:56legumes frescos.
10:58Um coelho custa
10:5840 coisas,
10:59uma pedisca custa 50,
11:00uma lagusta custa 100,
11:01como é que é que pode
11:02comer uma peça de carne?
11:03Não podes ir.
11:03Não podes ir.
11:04As condições de saúde
11:06eram medíocres,
11:08a assistência
11:09muito reduzida.
11:10em África,
11:14apesar do mito
11:15do império,
11:16a política ultramarina
11:17não favorecia
11:19o desenvolvimento,
11:20nem o crescimento
11:21de economias locais.
11:23O controlo
11:24de câmbios
11:25e do comércio
11:26limitava a iniciativa
11:28e a autonomia
11:29dos negócios locais.
11:31Só com a guerra
11:32dos anos 60
11:33se existiu
11:34a uma nova
11:35realidade económica.
11:36A repressão
11:49era dura
11:50e intensa.
11:52Não havia
11:53partidos políticos
11:54e o associativismo
11:57ou o sindicalismo
11:58eram vigiados.
12:01Os jornais
12:02tinham de ser aprovados
12:03pela censura
12:04todos os dias,
12:06antes de entrar
12:07na tipografia.
12:08Os livros
12:09podiam ser retirados
12:10sempre que se entendesse
12:12que não eram convenientes
12:14para o regime.
12:15A literatura
12:15no tempo
12:16do fascismo
12:17era realmente
12:19considerada
12:19uma arma perigosa.
12:21Os grandes políticos
12:22da esquerda
12:22mundial
12:24eram malditos.
12:25Marx, Lenin,
12:26Trotsky e Gramsci
12:27não podiam ser publicados.
12:29Mas também havia
12:30escritores como
12:31Mouriac,
12:32Brecht,
12:33Sartre,
12:33Beckett,
12:34Malraux,
12:35Calvino
12:36também eram
12:37frequentemente
12:37censurados
12:38e ainda
12:39muitos portugueses.
12:41A polícia
12:41aparecia aqui
12:41com ordens
12:42de busca
12:43que eram
12:43extremamente vagas
12:44e que permitiriam
12:45que a polícia
12:45chegasse aqui dentro
12:47destruísse o que quisesse.
12:49Miguel Torga,
12:50Aquilino Ribeiro,
12:51Alexandre O'Neill,
12:52Alves Redol,
12:53Natália Correia,
12:55José Cardoso Piz
12:56e outros,
12:57muitos outros,
12:58viram alguns
12:59dos seus livros
13:00serem retirados
13:01das livrarias.
13:02Eu estava
13:03muito sossegada
13:04em minha casa,
13:05aqui,
13:05não é?
13:06E telefonam
13:07e era um senhor
13:08lá da judiciária,
13:09não é?
13:10Que isso se chama.
13:10Queria falar
13:11com Aquilino
13:12e tal.
13:13Claro,
13:14tratei de
13:16esconder os livros
13:18que tinha em casa
13:19com medo
13:19de que viessem.
13:21Felizmente,
13:23eles não ousaram
13:24se não multar
13:25do lado
13:27e confiscaram
13:29os livros
13:29na Berta.
13:30Foi uma época
13:31terrível
13:31lá no Salazar.
13:35Foram muitas,
13:36ao longo de 40 anos,
13:38as conspirações
13:39falhadas,
13:40os golpes
13:41ensaiados,
13:43as intentonas,
13:44como se dizia.
13:46A maior parte
13:46eram de origem militar,
13:48mas às vezes
13:49com a colaboração
13:50de civis,
13:51sempre com
13:51uma enorme
13:52ineficácia
13:53e suscitando
13:54sempre repressão.
13:58Nos anos 50
13:59a 60,
14:00o movimento estudantil
14:01distinguiu-se
14:02com especial energia,
14:04mas a repressão
14:05foi célebre.
14:09Houve um avião
14:09da TAP
14:10que foi desviado
14:11e obrigado
14:12a deitar panfletos
14:13por cima de Lisboa.
14:16Apareceram
14:16os assaltantes
14:17que me forneceram
14:18alguns papéis
14:19e me disseram
14:20realmente
14:20que tinha razão
14:21de ser
14:22dessa desvi-derrota
14:23exatamente provocado
14:24com o lançamento
14:25de propaganda.
14:26E qual é a sua impressão
14:27acerca deste incidente?
14:28Desagradável,
14:29com certeza?
14:29É sempre desagradável.
14:31Pronto,
14:31era só isso que eu queria saber.
14:32Muito obrigado
14:32e desculpa o incómodo
14:33que nós lhe temos.
14:34Muito obrigado.
14:35A Luar
14:36assaltou os transportes
14:38do Banco de Portugal
14:39e apropriou-se
14:40de grande quantia
14:41de dinheiro.
14:44O navio Santa Maria
14:45foi assaltado
14:46sob o comando
14:47de Henrique Galvão.
14:49Estes foram episódios
14:51que deram um brado,
14:52abriram crises
14:53dentro do regime,
14:55mas foram rapidamente
14:57neutralizados.
14:59Demos o Santa Maria
15:00connosco.
15:02Obrigado, portugueses.
15:04As greves
15:05eram proibidas
15:06assim como as reivindicações
15:08sociais e laborais.
15:10As que mesmo assim
15:11se faziam
15:12eram seriamente reprimidas.
15:14Nós aqui em Alcef
15:16fizemos uma greve
15:17em 1960
15:18onde ficarmos
15:20dentro da mina
15:20muito tempo,
15:22um dia ou dois
15:23e depois
15:24a gente
15:25não queria sair
15:26e a PIDE
15:28faltou com a comida
15:29e a bebida,
15:31a água
15:31e a gente
15:32aí
15:33devemos
15:34sair abaixo
15:34e irmos para a rua.
15:36Chegarmos à rua
15:36estava a PIDE,
15:38estava a Guarta Republicana,
15:39estava a polícia,
15:40tudo armados
15:41como trabalhadores
15:42dentro da gente.
15:43Mesmo com a repressão
15:45ficaram na memória
15:46Alhandra,
15:48Matosinhos,
15:49Alentejo,
15:51Marinha Grande.
15:5218 de janeiro
15:53eram umas 5 horas da tarde
15:55quando um elemento
15:58dos democráticos
16:00veio de Lisboa
16:01e comunicou
16:02ao grupo anarquista
16:03que a greve geral
16:05estava falhada.
16:06A repressão
16:07estava a cargo
16:08das polícias,
16:09com certeza,
16:10mas eram os tribunais
16:11plenários
16:12que julgavam
16:13e condenavam
16:15os opositores.
16:16Nós éramos
16:17metidas numa cela
16:19pequeníssima,
16:20durante esse período
16:21não pude ir à casa
16:22de banho,
16:24portanto,
16:24era obrigada
16:25a fazer as necessidades
16:25no chão
16:26e serem lúmpas
16:27com a minha própria roupa.
16:28E nessa altura,
16:29portanto,
16:31despiram-me
16:31na frente
16:32de 10 homens.
16:33Cumpridas as penas,
16:35um dispositivo legal
16:36permitia que os condenados
16:38ficassem detidos
16:40a cumprir
16:41o que se chamavam
16:42medidas de segurança,
16:45com as quais,
16:46sem novo julgamento,
16:49a polícia
16:49podia manter
16:50as pessoas presas
16:51indefinidamente.
16:53Logo após
16:53o 28 de maio,
16:55começaram
16:55imediatamente
16:56as prisões
16:58arbitrárias
16:59e os maus-tratos
17:01aos detidos,
17:03acusados
17:04ou suspeitos
17:04de praticarem
17:05o que se chamavam
17:06aos delitos políticos
17:07ou sociais
17:08e prendia-se
17:11de qualquer maneira.
17:12A repressão
17:13era permanente
17:14e minuciosa,
17:17mas as atividades
17:18das oposições
17:20eram fracas
17:21e ineficazes.
17:24Falta de convicção,
17:27ausência de meios,
17:29pouca coragem,
17:32medo e receio,
17:34fraca alternativa política,
17:38eficácia das polícias.
17:39Certo é que
17:41até às ações
17:43militares
17:44de 1974
17:46nunca
17:47as oposições
17:48conseguiram
17:50resultados
17:50importantes.
18:04Senhores ouvintes,
18:06por tradição,
18:07por amizade,
18:07por ternura,
18:08todos nós
18:09festejamos
18:10datas especiais
18:10e aniversários.
18:12As mulheres,
18:13sim,
18:14especialmente as mulheres,
18:15esposas,
18:16mães e irmãs
18:17são sensíveis
18:18a essas manifestações.
18:20Não é natural,
18:21portanto,
18:22que as mulheres
18:22portuguesas
18:23tenham reunido
18:24hoje,
18:24dia 28 de abril,
18:26para festejar
18:27os 70 anos
18:27de alguém
18:28que lhes deu tanto.
18:29É justo,
18:30é humano,
18:32é tocante.
18:33Ao longo
18:34dos anos 50,
18:36terminada
18:36a Segunda Guerra,
18:38Salazar
18:39e as autoridades
18:40entendem que é chegado
18:42talvez o momento
18:43de o seu regime
18:44ser reconhecido.
18:48Separadas as águas
18:50na Europa
18:50entre democracias
18:52e países comunistas,
18:54reforçada a aliança
18:56entre a Europa
18:57e os Estados Unidos,
18:58o mundo ocidental,
19:00democrático e capitalista
19:02reconhece Portugal
19:03como um deles,
19:05aceita o regime
19:07de Salazar.
19:08Em poucos anos,
19:10uma série de vitórias
19:11e levam o país
19:13à dignidade
19:14de parceiro.
19:15Apesar das resistências
19:17da União Soviética,
19:19Portugal é aceite
19:20nas Nações Unidas.
19:23É membro fundador
19:24da NATO,
19:25a Organização Militar
19:26do Mundo Democrático,
19:28enquanto a Espanha
19:29de Franco
19:29não é aceite.
19:32É fundador
19:33da EFTA,
19:34a Associação Europeia
19:35de Comércio Livre,
19:37que é uma organização
19:38rival
19:38do mercado comum.
19:40Também nesta organização,
19:42a Espanha
19:43não será aceite.
19:45Pela primeira vez,
19:47desde os anos 30,
19:48Portugal,
19:49Salazar
19:49e o seu regime
19:51e o seu império
19:52são aceitos
19:53pelas democracias.
19:54aprofundam-se
19:56as relações bilaterais
19:57com os países europeus
19:59em termos económicos,
20:01militares
20:01e políticos.
20:03A base aérea
20:05das lajes
20:05nos Açores,
20:06por exemplo,
20:07é um sinal
20:08e um símbolo
20:09da nova cooperação
20:10entre os aliados ocidentais.
20:14Numa altura
20:15em que o mundo
20:16se prepara
20:17para a descolonização,
20:18quando já vários
20:19grandes países
20:20da África
20:21e da Ásia
20:22conquistam
20:23as suas independências,
20:24a Índia,
20:25o Paquistão,
20:26a Indonésia,
20:27Marrocos,
20:27Egito,
20:28vários estados africanos,
20:30é nesses mesmos anos
20:31que o mundo ocidental
20:33reforça
20:33as relações
20:34de toda a ordem
20:35com o último
20:37império colonial.
20:40A década de 50,
20:43auge do salazarismo,
20:45vai-se terminando
20:46com indícios
20:47de novas crises
20:49sérias
20:50e inéditas.
20:53Em 58,
20:54a campanha eleitoral
20:55de Humberto de Delgado
20:56aflige o regime
20:58e o seu ditador.
21:01A publicação
21:02de uma carta
21:02muito crítica
21:04dirigida
21:05pelo Bispo do Porto
21:06a Salazar
21:07estremece
21:08a classe política
21:10e a igreja.
21:12A ponte
21:12do Bispo
21:13ser impedido
21:14de regressar
21:15a Portugal
21:16quando vinha
21:17de uma viagem
21:19a Roma.
21:19Fazendo um rápido
21:31balanço
21:31do progresso
21:32da vida nacional
21:33conseguido
21:33nos últimos
21:3436 anos,
21:36verificamos
21:36que partindo
21:37do zero
21:37quase absoluto,
21:39se alcançou
21:39nos mais diversos
21:40setores
21:41um avanço
21:41extraordinário
21:42que não admite dúvidas
21:43a quem quer que seja.
21:44É verdade
21:45que o desenvolvimento
21:46econômico
21:47e industrial
21:48atormentava
21:49Salazar.
21:50Não que ele fosse
21:51simplesmente
21:52um reacionário
21:53mas sabia
21:54que a indústria
21:55e as finanças
21:56numa palavra
21:57o capitalismo
21:58implicariam
22:00novos modos
22:00de vida
22:01e novos valores.
22:03A perda
22:04de controle
22:05das populações
22:06provavelmente também.
22:08Continuou-se
22:08da melhor maneira
22:09e intensivamente
22:10a gloriosa
22:11tradição
22:12de Portugal
22:12no mar.
22:13desenharam-se
22:14ruas
22:15e avenidas
22:15aprofundaram-se
22:17caboclos
22:17construíram-se
22:19bairros
22:19e surgiram
22:20arranha-celos
22:21demonstração segura
22:22e insuquismável
22:23da plena vitalidade
22:24de um povo.
22:27O ditador
22:28apreciava o campo
22:29os seus ritmos
22:31a sua maneira
22:31de viver.
22:33Não lhe agradava
22:34a vida urbana
22:35tinha receio
22:36das cidades
22:37queria afastar
22:39tudo
22:39quando pusesse
22:40em causa
22:41a paisagem
22:42moral da nação
22:43como ele próprio
22:44dizia.
22:48A década
22:49de 1960
22:50revela
22:51o que parece
22:52ser
22:52um novo espírito
22:53no seio
22:54das autoridades
22:55mas não é
22:56absolutamente
22:57diferente.
22:58Salazar
22:59e os dirigentes
22:59políticos
23:00tentam adaptar
23:02a economia
23:03aos novos tempos
23:04mas sempre
23:05sob controle.
23:06era essa
23:08a sua obsessão
23:09evitar ou impedir
23:10que o capitalismo
23:11exigisse liberdade
23:13que os negócios
23:14influenciassem
23:15a política
23:16que a vida
23:17nas cidades
23:18deixasse de se
23:19submeter
23:20ao apertado
23:21controle das polícias
23:22da igreja
23:23e das instituições.
23:25ocuparemos
23:26na Associação Europeia
23:28de Comércio Livre
23:29o lugar
23:31que nos compete
23:32como povo
23:33que lançou
23:34suas raízes
23:34na Europa
23:35e hoje
23:36as sente
23:37agarradas
23:38a vários
23:39continentes.
23:40O novo contexto
23:41da EFTA
23:42Associação Europeia
23:44de Comércio Livre
23:45produz rapidamente
23:46efeitos.
23:47São realizados
23:48importantes
23:49novos investimentos
23:50nomeadamente
23:51estrangeiros.
23:52as exportações
23:54para a Europa
23:55crescem
23:56como nunca antes.
23:57Tem homens
23:58para trabalhar
23:58continuam a haver?
23:59Ah, mas já desapareceu
24:00tudo aqui,
24:01não há nada.
24:01Só há mulheres
24:02e velhos
24:02e crianças
24:03de 14 anos
24:04para trás
24:04porque não podem
24:05ir para a Alemanha
24:05e para a França.
24:06A imigração
24:07de centenas
24:08de milhares
24:08de trabalhadores
24:09para os países
24:10europeus
24:11nomeadamente
24:12a França
24:13alivia
24:14as pressões
24:15sociais.
24:17Começam a chegar
24:18remessas
24:19de imigrantes
24:20em volumes
24:20significativos.
24:22Tem quantas cartas
24:23é que vêm por dia?
24:24Bom,
24:25às vezes é conforme.
24:26Há dias de maio
24:26e tremeiros.
24:27E vêm de onde?
24:28De que terras é que vêm?
24:29França,
24:29Espanha,
24:31até por todos os lados,
24:32África.
24:34E o que é que vêm distribuir agora?
24:35Um vale.
24:36De onde é que vêm?
24:37De França.
24:38Mas é o filho da senhora?
24:39É sim.
24:40É do seu filho?
24:41É sim.
24:41Já há dois anos
24:43que foi o ladrão
24:45e ainda nunca tinha escrevido.
24:46O pleno emprego
24:48atinge-se durante a década.
24:52Fazem-se sentir efeitos
24:53da falta de mão de obra.
24:55Nas cidades,
24:56sobretudo Lisboa,
24:58multiplicam-se
24:58os grandes bairros
25:00de barracas
25:00graças ao êxito rural
25:02e à falta de habitação.
25:05O crescimento económico
25:07registra valores anuais
25:09jamais registados antes.
25:11Tardiamente,
25:13um movimento de colonização
25:15conduz umas centenas
25:16de milhares de pessoas
25:17para as colónias,
25:19para Angola e Moçambique,
25:20sobretudo.
25:21E a senhora,
25:21então está bem disposta
25:22para a viagem?
25:23Assim, assim.
25:24Assim, assim.
25:25Deixe a família
25:25que há no continente?
25:26Deixe muitos filhos.
25:27Mais filhos?
25:28Quantos?
25:29Quatro.
25:30Quatro filhos.
25:30Com saudades, não é verdade?
25:31Quatro.
25:32Já está bem disposto?
25:33Estou sim.
25:33Estou muito bem disposto.
25:35Vamos então para o Vale do Limpopo,
25:36não é verdade?
25:36Sim, senhor.
25:37E o que é que vai fazer
25:38para o Limpopo?
25:39Trabalhar no campo.
25:41A guerra no ultramar
25:42absorve enormes recursos,
25:46mas também teve efeitos
25:48na atividade económica.
26:02O ano de 1961
26:04é o pior ano
26:05da história de Salazar
26:07e do Estado Novo.
26:08em Angola,
26:11em Luanda
26:12e no Norte,
26:13a guerra começa.
26:15Os massacres
26:15de brancos
26:16e de negros,
26:17prepressados
26:18pelos movimentos rebeldes,
26:20comovem
26:20a opinião pública.
26:21O país passa a viver
26:24à hora da guerra.
26:25No fim do mesmo ano,
26:30ocorre a mais grave derrota
26:32do regime.
26:33A União Indiana
26:34invade e ocupa
26:36Goa
26:36e o Estado Português
26:38da Índia.
26:39O governo
26:40não conseguiu
26:41aliados internacionais
26:42e fica
26:43sozinho
26:44em Sena.
26:45Semanas depois,
26:48uma tentativa
26:49de golpe militar
26:50teve lugar
26:50no quartel de Beja.
26:52As forças
26:52do regime
26:53ganham a partida,
26:55mas percebe-se
26:56que está muito em causa.
26:58O significado,
26:59digamos,
26:59histórico,
27:00o significado político
27:01do assalto
27:02à caserna de Beja
27:03é demonstrar
27:04que era possível
27:05surpreender o aparelho
27:06repressivo,
27:07marginalizá-lo.
27:08Já uns meses antes,
27:10uma tentativa
27:10de golpe palaciano
27:13dirigida pelo general
27:14e ministro da Defesa,
27:16Gotelho Muniz,
27:17é dominada,
27:18mas revela
27:18clivagens
27:19dentro do regime.
27:21Salazar demite
27:22o ministro
27:23e chama a si
27:24a pasta
27:25da Defesa Nacional.
27:26Se é precisa
27:27uma explicação
27:28para o facto
27:30de assumir
27:31a pasta
27:31da Defesa Nacional,
27:33mesmo antes
27:34da remodelação
27:35do governo
27:35que se verificará
27:36a seguir,
27:37a explicação
27:38pode concretizar-se
27:40numa palavra
27:41e essa é Angola.
27:43As fugas
27:44de presos políticos
27:45do forte Peniche
27:46em 1960
27:47e da prisão
27:48de Caxias
27:49em 1961
27:50que deram a liberdade
27:52a importantes
27:54dirigentes comunistas,
27:55entre os quais
27:56Álvaro Cunhal,
27:57deixam o regime
27:58inquieto.
28:01Ainda em 1961,
28:04também no início
28:04do ano,
28:05um grupo
28:05de oposicionistas
28:07portugueses
28:07e espanhóis
28:08liderados pelo
28:09capitão
28:10Henrique Galvão
28:11assalta o navio
28:13Santa Maria
28:13e mantém-no
28:14em seu poder
28:15durante vários dias
28:16numa ação
28:18de enorme
28:19visibilidade
28:20internacional.
28:21É uma década
28:23especialmente marcante.
28:25É a de maior
28:26crescimento económico
28:27de sempre,
28:28a da viragem
28:29económica
28:30para a Europa,
28:31a de maior
28:32imigração
28:32da história,
28:34a de fissuras
28:35e clivagens
28:36dentro do regime,
28:38é a da
28:38expulsão
28:39de Portugal
28:40da fortaleza
28:41de São João
28:42Batista
28:42da Judá
28:43no Daomé,
28:44em África.
28:45É com a mais
28:46profunda emoção
28:47que eu e o secretário
28:48Menezes Alves
28:49pisamos de novo
28:50a terra portuguesa
28:51depois dos dramáticos
28:52incidentes
28:53que nos obrigaram
28:54a abandonar
28:54a terra portuguesa
28:56de São João
28:57Batista
28:57da Judá.
28:58Foi neste tempo,
29:04em 1960,
29:05que o Tribunal
29:06Internacional
29:06de Haia
29:07reconhece
29:08a Portugal
29:09o direito
29:10de passagem
29:11a todos os territórios
29:12do Estado
29:13português da Índia.
29:14Poucas horas
29:15são passadas
29:16sobre a leitura
29:17da sentença
29:18do Tribunal
29:18Internacional
29:19de Justiça
29:20da Haia
29:20e não se dispõe
29:22ainda do seu
29:23texto integral
29:24que sabemos
29:25ser longo
29:26e complexo.
29:27O que é preciso
29:28é que a nossa
29:29opinião pública
29:30se mantenha
29:32atenta
29:33e interessada
29:34evidentemente
29:35mas calma
29:36e na expectativa
29:38leva tempo
29:39e às vezes
29:40não é fácil
29:42demonstrar
29:43que se tem razão
29:45mesmo
29:45quando temos
29:46razão
29:47como é este
29:49o caso.
29:50As horas
29:50de inquietação
29:51os trabalhos
29:53os cabelos
29:54brancos
29:55criados
29:56com a defesa
29:57inteligente
29:58e intransigente
30:00do património
30:01português
30:02no Oriente.
30:03Mas foi também
30:04a década
30:05da perda
30:06de Goa
30:07em 1961
30:08e a do início
30:10da guerra
30:11do ultramar.
30:14Será também
30:14a da queda
30:16de Salazar
30:16em 1968.
30:19Foi então
30:19substituído
30:20mas não se deu
30:21conta
30:21de que já
30:22não era
30:22primeiro-ministro.
30:24Se o Supesino
30:25quisesse dizer
30:26alguma coisa
30:26quer dizer
30:27havia
30:28saudação
30:28a uma coisa.
30:29A saudação
30:30a quem?
30:32Aos espectadores
30:34que vão ver
30:34este pequeno filme.
30:38Aqui
30:38com o livro
30:38do nosso filme.
30:39Exatamente.
30:39Não, eu que faço
30:40atenção é
30:41dividir primeiro
30:41a saber
30:42se isso
30:42pode apanhar
30:43alguma coisa
30:44que interesse
30:45a uma pessoa
30:46estrangeira
30:47que sabe
30:48rigorosamente
30:49como é a vida
30:49do país
30:50e que vive
30:51a informação
30:52jornalística
30:53que há
30:53muitíssimas
30:54vezes
30:54que sabe
30:55muitíssimas
30:56vezes
30:56que sabe
30:56e não
30:58tem algo
30:59informado
30:59mas há
31:00muita gente
31:01que vive
31:02a informação
31:03dos homens.
31:05Uns tiveram
31:06alegria
31:06mas outros
31:07choraram
31:08em 1970
31:09a morte
31:10do ditador.
31:14Marcelo
31:14Caetano
31:15tinha sido
31:16nomeado
31:16para o substituir.
31:18Na tomada
31:18de posse
31:19disse
31:20ao que vinha
31:21Enquanto
31:22as forças
31:22armadas
31:23sustentam
31:24o combate
31:25na Guiné
31:26em Angola
31:27e em Moçambique
31:28não nos é lícito
31:30afrouxar
31:31a vigilância
31:31na retaguarda.
31:33Em tal situação
31:33de emergência
31:34há que continuar
31:36a pedir
31:36sacrifícios
31:37a todos
31:38inclusivamente
31:39em algumas
31:40liberdades
31:41que se desejaria
31:42ver restaurado.
31:46O multirracialismo
32:03que hoje
32:04começa a ser citado
32:06e admitido
32:07pelos que praticamente
32:08o não aceitaram nunca
32:10pode dizer-se
32:11uma criação portuguesa.
32:13Ele deriva
32:14por um lado
32:15do nosso caráter
32:16e por outro
32:17dos princípios
32:19morais
32:19de que éramos
32:21portadores.
32:22Na década
32:23de 1960
32:24quando já
32:26algumas
32:26dezenas
32:27de antigas
32:28colónias inglesas
32:30francesas
32:31e outras
32:31obtinham
32:33as suas independências
32:34Portugal
32:35faz o que pode
32:37para resistir.
32:38Diz-me uma coisa
32:39tem encolhido
32:40muito café
32:40apanhemos
32:42sim senhor.
32:42Muito café
32:43e continuam a apanhar
32:44sem medo do bandido
32:45não?
32:46Não tem medo do bandido?
32:47A gente a temos.
32:49Vocês têm
32:50mas agora
32:50vocês estão a acolher o café
32:52e têm medo
32:53como é natural
32:53porque eles atacam
32:54trai-se
32:54e o que é a mente
32:55mas tem aqui
32:55estes homens todos
32:56para os proteger
32:57não é verdade?
32:57O homem branco
32:58tem protegido agora
32:59não tem?
33:00Tem sim.
33:01Agora o medo
33:01já é menos
33:02desejo que continuas
33:03a trabalhar aqui
33:04com o homem branco
33:04trata bem
33:05dá boa comida
33:06e há de tratar
33:07de ti no futuro
33:08cada vez melhor
33:09e não tenhas medo
33:10do bandido
33:11porque estes voluntários
33:12são todos homens
33:12para os pôr
33:13a correr daqui
33:14para fora.
33:15O que poderia ser
33:16o mais fraco
33:17dos impérios
33:19acaba por ser
33:20o mais longo.
33:24O império
33:25começa a arruir
33:26na Índia
33:27em Goa
33:28em 1961
33:29nesse mesmo ano
33:32começou em Angola
33:33o que se chama
33:34luta armada.
33:37Poucos anos depois
33:38inicia-se
33:39a guerrilha
33:40na Guiné-Bissau
33:41em 1963
33:43e em Moçambique
33:44em 1964.
33:48As forças armadas
33:50portuguesas
33:51estarão em guerra
33:52em três frentes
33:54a milhares de quilómetros
33:56de distância.
33:57As forças portuguesas
33:58no ultramar
33:59incluem milhares
34:00de africanos.
34:02Em alguns casos
34:02os regimentos
34:03eram exclusivamente
34:05africanos
34:06como as flechas
34:07e os cabindas.
34:10Para o governo
34:11o diálogo
34:12com os independentistas
34:13era impossível.
34:15A discussão
34:16sobre a descolonização
34:17era proibida.
34:18A descolonialização
34:20bem encarada
34:21por várias democracias
34:22era considerada
34:24uma aberração
34:25pelo regime
34:26de Salazar.
34:27O fim do império
34:29era o fim do regime
34:31e o fim de Salazar.
34:34Era o fim de Portugal
34:35com o país independente.
34:37Eis o ganho positivo
34:39desta batalha
34:40em que os portugueses,
34:43europeus e africanos
34:45combatemos
34:46sem espetáculo
34:47e sem alianças
34:49orgulhosamente sós.
34:53Apesar do mutável
34:55crescimento económico
34:56da década de 60,
34:58as colónias
34:59eram objeto
35:01de uma colonização
35:02tardia.
35:03Dentro de momentos
35:04aqui do cais
35:05de Alcântara
35:05parte um contingente
35:07de cerca de 200 colónios
35:09para as províncias
35:10ultramarinas
35:11de Angola
35:12e de Moçambique.
35:13Como é que se chama?
35:14Elidio Figueiredo Simões.
35:15Vai para que local
35:17da África?
35:18Lourenço Marques.
35:19Para Lourenço Marques
35:19e qual é a atividade
35:20profissional
35:21que vai exercer?
35:22Vou para a fogueira
35:22dos serviços marítimos
35:23de Lourenço Marques.
35:24Havia grupos abastados
35:26e classes proprietárias
35:27em Angola e Moçambique.
35:29Mas não tinham
35:30real autonomia.
35:31Dependiam
35:32da metrópole.
35:33Não havia
35:34uma verdadeira
35:35burguesia africana
35:36nem europeia
35:37nem indígena.
35:39O regime
35:40receava os colonos
35:41a quem fazia
35:42a vida difícil.
35:44Grande parte
35:44dos altos funcionários
35:45da administração
35:46tinha origem
35:48em Portugal
35:48e dependia
35:50do governo.
35:52Nos anos 40,
35:53talvez
35:53nem 100 mil
35:55portugueses
35:55viviam nas colónias.
35:57Estas nunca foram
35:58um destino
35:59muito procurado.
36:02Nos anos 60,
36:03talvez aquele número
36:04tenha subido
36:05para meio milhão.
36:07Muitos mais
36:08partiram para a Europa
36:09e para as Américas.
36:11O Império
36:11era uma causa perdida.
36:13A guerra
36:14esteve desde sempre
36:15condenada,
36:16mas condicionou
36:17a vida dos portugueses
36:20e a queda do regime.
36:21Salazar nunca
36:24tinha ido
36:25ao ultramar.
36:26Marcelo Caetano
36:27visitou-o
36:28pouco depois
36:29da sua posse.
36:31Verdadeiras
36:32ou encenadas,
36:33as recepções
36:34foram entusiásticas,
36:36o que parecia
36:37confirmar
36:38uma verdade
36:39oficial.
36:40Ali
36:41era Portugal.
36:42Sem liberdade
36:54de expressão
36:55e associação,
36:56a oposição
36:57ao regime
36:58só podia ser
36:59frustre
36:59e arriscada.
37:01Assim foi.
37:02Como nunca
37:03teve uma grande
37:04expressão,
37:05a história
37:05da oposição
37:06é de uma
37:07longa resistência.
37:09Por vezes
37:09heroica,
37:11mas quase sempre
37:12silenciosa
37:13e triste.
37:15Câmara Reis,
37:16Rodrigo Slape,
37:17António Sérgio,
37:18Jaime Cortesão,
37:20Mário Azevedo Gomes,
37:21o grupo da
37:22Ceara Nova,
37:22digamos assim,
37:23que nos educou
37:24politicamente,
37:26que nos chamou
37:27para a vida
37:27política nacional,
37:29homens que foram
37:29nossos professores
37:30no liceu,
37:32homens que souberam
37:33realmente
37:34criar em nós
37:35um tal interesse
37:38pelas coisas
37:38portuguesas,
37:40pelos problemas
37:41nacionais
37:42que nós
37:42necessariamente
37:43tínhamos que ser
37:44políticos
37:45e tínhamos que ser
37:46progressistas.
37:47Os períodos de campanha
37:48eleitoral
37:48acabavam-se
37:50rapidamente.
37:52No início da ditadura,
37:53a oposição era
37:54essencialmente
37:55feita por
37:56republicanos
37:57e uns poucos
37:57liberais
37:58e pelo Partido
37:59Comunista,
38:00fundado nos anos
38:0120,
38:03seguidor da
38:03União Soviética.
38:04Com os anos 60,
38:08novos grupos
38:08surgem
38:09no panorama
38:10clandestino.
38:11O movimento
38:12estudantil,
38:13em Lisboa
38:13e Coimbra,
38:14foi o primeiro
38:15protagonista.
38:16Os estudantes
38:17foram proibidos
38:18de falar.
38:21Depois,
38:22foram surgindo
38:23grupos de extrema
38:24esquerda
38:25ou de socialistas
38:26e, finalmente,
38:27o Partido
38:27Socialista,
38:28fundado em
38:291973,
38:31herdeiro
38:32de uma velha
38:32tradição
38:33republicana.
38:36O movimento
38:38operário
38:38era débil,
38:40vivia do esforço
38:41dos comunistas
38:42e dos momentos
38:43especiais.
38:44Faltava-lhe
38:45organização
38:46e continuidade.
38:47Era vítima
38:48de repressão.
38:50A história
38:51da oposição
38:52democrática,
38:53anti-salazarista,
38:55é urbana,
38:56dos intelectuais
38:57e das profissões
38:59liberais.
39:00A quase
39:01inexistente
39:02classe média
39:03era fraco
39:04viveiro
39:05de ideias
39:05democráticas.
39:07Não esteve
39:07indiferente
39:08ao movimento
39:08de reivindicação
39:10democrática,
39:10que teve as expressões
39:11do MUD,
39:13da candidatura
39:13do general
39:13Norton Matos,
39:15da candidatura
39:15do almirante
39:16Quintão Meireles
39:17e depois
39:18da candidatura
39:19do general
39:19Humberto Delgado,
39:21apoiando
39:22corajosamente,
39:23nitidamente,
39:24as posições
39:25políticas,
39:26participando
39:26de atitudes
39:28coletivas
39:29de protesto.
39:30Esta oposição
39:31não foi capaz
39:33de abrir
39:34uma verdadeira
39:34crise política,
39:36muito menos
39:36de derrubar
39:38a ditadura.
39:39Tivemos
39:39que esperar
39:40para o 25 de abril,
39:41para podermos
39:42realmente destruir
39:43o fascismo
39:43em Portugal,
39:44mas é preciso
39:44não esquecer
39:45que,
39:46se não fosse
39:47o programa
39:48para a democratização
39:49da República
39:49em 1961,
39:51as campanhas
39:52eleitorais
39:53que se seguiram
39:54até 1973,
39:56os congressos
39:57da oposição democrática
39:58que se reuniram
39:59em Aveiro
40:00e todo o esforço
40:02do povo português,
40:03quer na luta
40:03dos estudantes,
40:04quer na luta
40:05das classes
40:05trabalhadoras,
40:06quer na luta
40:07até da pequena
40:08burguesia,
40:09não teria sido
40:10possível
40:10o 25 de abril.
40:12Sem nunca
40:12ser legitimado
40:14por eleições livres,
40:16sem medidas
40:17indiscutivas
40:17de apoio
40:19da população,
40:20o regime
40:21caiu
40:21em 1974
40:23sem que houvesse
40:25alguém
40:25militar
40:26ou civil,
40:28rico
40:29ou pobre,
40:30que o viesse
40:31defender.
40:47Apesar de algum
40:48progresso,
40:49do crescimento
40:50económico,
40:51da imigração,
40:53da integração
40:53europeia,
40:55a sociedade
40:55portuguesa
40:56no fim
40:57da década
40:57de 60
40:58é ainda
40:59muito atrasada
41:00e,
41:02todos os indicadores
41:03mostram,
41:04fica no fim
41:05da Europa.
41:07A situação
41:07da mulher
41:08mudou muito,
41:09começa a trabalhar
41:10e a frequentar
41:12o espaço público,
41:14mas ainda
41:14está
41:15aquém
41:15dos direitos
41:16das mulheres
41:17europeias.
41:17há muito
41:20trabalho
41:20infantil,
41:22sobretudo
41:22nos campos
41:23e nas
41:23pequenas
41:24indústrias
41:24do norte.
41:25Quantos anos
41:26é que tu tens?
41:2614.
41:27Há quanto tempo
41:28é que trabalhas
41:28aqui na fábrica?
41:29Ano e meio.
41:30Quantas horas
41:31trabalhas por dia?
41:326 e meio.
41:33Estudaste-te
41:34até quando?
41:34A 6ª classe.
41:36E depois,
41:36porquê que vieste
41:36aqui trabalhar
41:37para a fábrica?
41:37Porque
41:38acabei
41:39tenho muitos
41:40irmãos
41:41e tinha
41:41muitas necessidades.
41:43A Igreja Católica,
41:45em situação
41:46crítica
41:47por causa
41:47do Bispo do Porto
41:48e da Guerra
41:49Colonial,
41:50mantém-se firme
41:51no apoio
41:52ao regime.
41:54O analfabetismo
41:55é persistente,
41:57apesar
41:57do progresso
41:58registrado
41:59nos anos
42:0060 e 70.
42:02Malgrado
42:03os grandes
42:03esforços
42:04com a
42:04teleescola,
42:06ainda haverá
42:07em finais
42:08de 1960
42:0920 a 30%
42:12de analfabetos.
42:13É mais
42:14de um século
42:15de atraso
42:16relativamente
42:17aos países europeus.
42:19Na saúde,
42:20os indicadores
42:20deixam o país
42:21muito longe
42:22dos europeus,
42:23com relevo
42:24para a mortalidade
42:25infantil.
42:27Na segurança
42:27social,
42:28malgrado
42:29os primeiros
42:29progressos,
42:30designadamente
42:31na função
42:31pública
42:32e no apoio
42:33aos idosos,
42:34os indicadores
42:35são também
42:36de uma grande
42:37pobreza.
42:39em 1967,
42:41as inundações
42:42na área
42:43de Lisboa,
42:44que provocaram
42:45mais de 600
42:46mortos,
42:48foram a demonstração
42:49da pobreza
42:50e das deficiências
42:51públicas.
42:53A ponto
42:53de o governo,
42:54Salazar,
42:55ele próprio,
42:57ter proibido
42:58informações
42:59completas
43:00sobre mortos
43:01e feridos.
43:02o turismo
43:04dá os primeiros
43:06sinais
43:06de um crescimento
43:07notório,
43:08é importante
43:09fonte
43:09de divisas
43:10depois das remessas
43:12dos imigrantes.
43:13estacionamento
43:14militar
43:15de Mutangula,
43:16estou fazendo
43:16uma reportagem
43:17da RTP,
43:18primeiro cabo
43:18Porto,
43:19Foz do Ouro,
43:20meus queridos pais,
43:21irmãos,
43:21tios e noiva,
43:22um desejo
43:23de um Natal
43:23feliz
43:23e um ano
43:24de um pospósforo.
43:24Adeus até mesmo
43:25regresso.
43:26Continua na reportagem.
43:28Longe,
43:29em África,
43:30prossegue a guerra
43:31sem perspetiva
43:32de solução.
43:33em nome de todos
43:55os meus camaradas
43:56desejo a todos
43:57os familiares,
43:58noivas e família
44:00um ótimo Natal
44:02e um ano
44:04enorme cheio
44:04de prosperidades
44:05e de alegrias.
44:17Sete anos
44:19depois de iniciada
44:20a guerra do ultramar,
44:22Salazar adoece
44:23e não pode mais governar.
44:25Sr. Presidente,
44:26por favor.
44:26Sorte.
44:27Por favor.
44:29Muitas pessoas
44:30se interessaram
44:32para a minha saúde
44:33e vida,
44:34quando gravemente
44:35comprometidas,
44:37comoveu-me
44:37profundamente.
44:39É a primeira vez
44:40que me apresento
44:41em público
44:42e não podia
44:43deixar de ter
44:44o meu espírito.
44:45Todas essas
44:46manifestações
44:46amizade,
44:47carinho e interesse
44:49para nos renderem
44:51o tributo
44:52pela minha gratidão.
44:53Tudo fica em causa.
44:56O regime
44:56ainda tem força
44:58para encontrar uma solução.
45:00Marcelo Caetano,
45:01fiel seguidor de Salazar,
45:04mas com um espírito autónomo,
45:06é o escolhido
45:07pelo Presidente da República
45:08e pelos militares.
45:10enveneram o Dr. António de Oliveira
45:12de Salazar,
45:14do cargo de Presidente
45:15do Conselho de Ministros,
45:17do qual manterá
45:18todas as honras
45:19a ele e a Narense.
45:22E para o substituir,
45:23no meio nos termos
45:24do mesmo
45:25prefeito constitucional,
45:27o Dr. Martial
45:28Zé das Neves
45:29aos Caetano.
45:30Aos poderes
45:31estabelecidos,
45:32Caetano
45:33garante
45:34continuidade.
45:35A população
45:36acena
45:37com a evolução.
45:39Entre as fórmulas
45:40lapidares
45:41em que o Dr. Salazar
45:44concretizou
45:45um pensamento
45:46cuja riqueza
45:48igual à pré-naturalidade
45:50encontra-se
45:52aquela frase
45:53tão divulgada
45:54e tão verdadeira
45:55bem adequada
45:56a esta hora.
45:58Todos não somos
45:59demais
45:59para continuar Portugal.
46:02Os primeiros tempos
46:03são de esperança
46:05para quem queria mudança.
46:06A primavera
46:07de Caetano,
46:08como se chamou,
46:09é tempo
46:10de expectativa.
46:12Reformas
46:13na educação,
46:14na saúde,
46:15na função pública
46:16ou na segurança
46:17social
46:18anunciam esperança.
46:20Mas as promessas
46:21são defraudadas.
46:23A guerra
46:23é obstáculo
46:25a qualquer
46:26mudança
46:26de regime.
46:28Os militares
46:29depressa
46:30perdem ilusões.
46:32Os liberais
46:32também.
46:33E a direita
46:34do regime
46:35teme que se tenha ido
46:36longe demais.
46:38Os conservadores
46:39receiam
46:40uma evolução
46:41que não queriam.
46:42Nos últimos anos
46:43do regime
46:44sucedem-se
46:46acontecimentos
46:46inéditos.
46:48As primeiras
46:49ações violentas
46:50surpreendem,
46:52mas também
46:52atingem inocentes,
46:54o que não deixa
46:55de ser aproveitado
46:56pelo regime.
46:57Como é do conhecimento
46:58geral,
46:59deflagraram
47:00em diversas zonas
47:01de Lisboa
47:01no passado domingo
47:02vários engenhos
47:04explosivos.
47:05A consequência
47:06mais lamentável
47:07desse ato
47:08a todos os títulos
47:09criminoso
47:10e inqualificável
47:11terá sido
47:12o fazer
47:12várias vítimas
47:14inocentes.
47:15Uma das quais
47:16está aqui
47:16junto a nós
47:17é o pequenino
47:18Jaime da Conceição Costa
47:19que está neste momento
47:20internado
47:21no hospital
47:22da Estefânia.
47:23Jaime,
47:24quantos anos
47:24tens tu?
47:25Sete.
47:26Como é que estás
47:26aqui a ser tratado?
47:27Como é que te sentes
47:28no hospital?
47:29Muito bem.
47:31Na Capela do Rato
47:32reúnem os católicos
47:34de esquerda
47:35a protestar
47:36contra a guerra.
47:38O Congresso
47:38da Oposição
47:39em Aveiro
47:40teve uma voz forte.
47:44A situação militar
47:45impede
47:47a liberalização.
47:50A falta
47:50de meios humanos
47:51começa a pesar
47:53nas Forças Armadas.
47:54Os oficiais
47:56repetem
47:57comissões
47:58em África
47:59e perdem
48:00anos de vida
48:01de família
48:01e de carreira.
48:04Os militares
48:04do quadro
48:05desconfiam
48:07das ideias
48:07relativas
48:08aos milicianos.
48:10Não se vêem
48:11soluções
48:12nem futuro.
48:14Dos quadros
48:14aos antigos
48:15combatentes
48:16chegam
48:17vozes
48:17de desconfiança.
48:19Para os conservadores
48:20Caetano
48:21foi longe
48:22de mais.
48:23Para os democratas
48:24não foi
48:24suficientemente longe.
48:27O livro
48:27de António Spínola
48:29Portugal e o futuro
48:31põe em causa
48:32a política
48:33do governo.
48:34É o vice-chefe
48:35do Estado
48:36maior
48:36general
48:37das Forças Armadas
48:38que o diz.
48:39Portugal
48:40não pode ganhar
48:41a guerra.
48:42é o epitáfio.
48:45Ao centro
48:45de la crise
48:45portuguesa,
48:46um homem,
48:47um livro
48:47e,
48:48e,
48:48e,
48:48e,
48:48uma guerra.
48:49Um homem,
48:50o general
48:50António de Spínola,
48:52um livro,
48:53o livro,
48:54o livro,
48:54o Portugal e o futuro,
48:56que denuncia
48:57a guerra
48:57de Outra-mer
48:57ao Mozambique,
48:58em Angola
48:59e em Guiné,
49:00uma guerra
49:00que ele diz
49:01ser inutida.
49:02Não há
49:03nenhuma
49:03diferença
49:05de fundo
49:06sobre a conduzida
49:08política.
49:09Foi um fato
49:10accidentel.
49:11Foi uma
49:12atitude
49:13de um
49:14chefe militaire,
49:16o general
49:18Costa-Gromes,
49:19não há mais.
49:21Alguns dizem
49:23que você é
49:24um inimigo
49:26do regime.
49:27Não,
49:27não,
49:28não,
49:29não.
49:31Mas,
49:31o livro é contrário
49:33ao princípio
49:36do presidente
49:36Tomás?
49:39Não.
49:40Não há
49:40essa questão
49:40de l'autodeterminação
49:42ou da federation.
49:43Não,
49:44não.
49:45Não há
49:45que saber ler.
49:48Não há
49:48que saber ler o livro.
49:50Não há
49:51que saber ler o livro.
49:53E muito poucos
49:53lerem ler.
49:54O livro
49:56não é um livro
49:57político.
49:57É um livro
49:59de um pensador.
50:00É um livro
50:00de um pensador.
50:02Você é um pensador?
50:03Há que diferenciar
50:05o pensador
50:06que oferece a diferença
50:07entre um pensador
50:08e um político.
50:09Muito obrigado,
50:09general.
50:09Muito obrigado.
50:10O último apoio
50:12que Caetano recebe
50:13é o dos velhos generais
50:15em cerimónia
50:17que ficou conhecida
50:18como a Brigada
50:20de Romático.
50:20Sr. Presidente do Conselho.
50:24Como mais antigo
50:26dos chefes de Estado-Maior
50:28dos ramos das Forças Armadas
50:30e ainda
50:32em nome dos que compõem
50:34esta qualificada
50:36representação
50:37de oficiais generais,
50:39cabe-me
50:39o enroso encargo
50:41de me dirigir
50:43a Vossa Excelência
50:44na alta qualidade
50:45que lhe assiste
50:47de primeiro responsável
50:48pelo governo
50:49da nação?
50:51As Forças Armadas
50:53não fazem política,
50:56mas é
50:56seu imperioso dever
50:57e também
50:59da nossa ética
51:00cumprir a missão
51:02que nos for determinada
51:03pelo governo
51:04legalmente constituído.
51:06que Itano
51:07será derrubado
51:08em 1974.
51:10Mas ficar-se-á
51:11sempre com a impressão
51:13de que já sabia
51:14antes
51:15que estava perdido.
51:17Em vez de desistir
51:18ou de presidir
51:20à mudança,
51:21escolheu deixar-se
51:22derrubar.
51:24Sem resistência,
51:25sem alternativa,
51:27sem apoios.
51:29São os militares
51:30que põem um termo
51:32ao regime
51:33que 50 anos antes
51:35com eles começara.