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Em quase 900 anos de história, Portugal viveu cinco grandes revoluções. O que ficou destas revoluções para o século XXI?
Transcrição
00:00A CIDADE NO BRASIL
00:30CIDADE NO BRASIL
01:00CIDADE NO BRASIL
01:29CIDADE NO BRASIL
01:31CIDADE NO BRASIL
01:33CIDADE NO BRASIL
01:35CIDADE NO BRASIL
01:37CIDADE NO BRASIL
01:39CIDADE NO BRASIL
01:41CIDADE NO BRASIL
01:43CIDADE NO BRASIL
01:45CIDADE NO BRASIL
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02:03CIDADE NO BRASIL
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02:13CIDADE NO BRASIL
02:15CIDADE NO BRASIL
02:17CIDADE NO BRASIL
02:19porque tem dentro de si episódios que, de facto, só vistos.
02:25A revolução tinha um plano, mas decorreu exatamente ao contrário do plano.
02:28Quer dizer, aquilo, a certa altura...
02:31O 5 de outubro acabou por ser um pouco um momento de acasos com muita felicidade.
02:37Aquela revolução começou mal, teria tudo para correr mal e acabou por vencer.
02:42Poderíamos chamar-lhe a revolução dos acasos e mal-entendidos.
02:45Peripécias à parte, o 5 de outubro de 1910 ficou para a história como a revolução que pôs termo à monarquia
02:53instaurou um regime republicano que dura até hoje.
02:56Como é que lá chegámos e o que aconteceu depois, é o que vamos descobrir.
03:001910 é evidentemente, na vaga revolucionária de revoluções liberais positivistas,
03:09vai ser uma revolução na continuidade de 1820 e da vaga, digamos assim,
03:16de revoluções liberais no início do século XIX.
03:20A revolução republicana de outubro de 1910 é muito peculiar se a colocamos em um contexto internacional
03:28e a pensamos como uma revolução do século XX.
03:31Não se parecem em nada as circunstâncias em que vivia Portugal em 1910
03:37com as outras revoluções do seu entorno.
03:39É muito mais parecida a uma revolução da primeira meia do século XIX ou de mediados do século XIX.
03:45O início do século XX é marcado por uma série de revoluções que se estendem por vários continentes.
04:07Algumas delas têm como principal objetivo acabar com o poder absoluto das monarquias.
04:12É o que acontece na China, na Rússia e na Turquia.
04:18E até em sítios que hoje em dia estão fora do comum das nossas memórias,
04:24como há uma revolução republicana no Irão, exatamente na mesma altura.
04:30Mas nem só as revoluções lançavam o pânico e o terror.
04:33A passagem do cometa Halley pela Terra foi motivo de grandes medos e muita paranoia.
04:38Muitos pensavam que a poeira do cometa era venenosa e espalharia a morte pelo planeta.
04:43São basicamente revoluções que têm como motor fundamental o alargamento da cidadania,
04:53o alargamento da participação política, o alargamento da democracia representativa,
05:01faz parte daquilo a que nós podemos chamar a primeira vaga de democratizações na Europa e no mundo.
05:07Havia muito poucas repúblicas na Europa em 1910.
05:11Portugal, quando se proclama a república em 1910, é a terceira república na Europa.
05:19É a França, é a Suíça e é Portugal.
05:22O resto continua a ser tudo monarquias, umas mais liberais, outras mais autoritárias,
05:27mas Portugal é um pioneiro, digamos, nesse aspecto da república,
05:32e os republicanos tinham consciência disso.
05:33Justo um ano antes da Revolução Portuguesa, aconteceu a semana trágica de Barcelona.
05:39É uma semana de um episódio revolucionário.
05:42Há em torno a 70 mortos, mais de 100 edificios incendiados,
05:46e há levantado uns miedos enormes na classe política da monarquia española.
05:52Então, quando estala a revolução em Portugal,
05:55o recorde do que aconteceu um ano antes em Barcelona está muito vivo,
05:59e o perigo de que haja um contágio revolucionário.
06:07Em 1910, Portugal era uma república no mar de monarquias europeias.
06:13Mas o que explica que Portugal tenha dado este passo
06:16quando a esmagadora maioria dos países europeus se mantinha fiel ao monarca?
06:20Não houve nada conjunturalmente específico anterior a 1910
06:24que ajude a explicar a revolução.
06:26Mas o estado da economia era mau,
06:29porque Portugal era, essencialmente, o país mais pobre da Europa Ocidental.
06:36E um dos mais pobres da Europa, em geral.
06:37Portugal tinha, no final do século 1889, 1890,
06:43tinha passado por uma situação de bancarrota.
06:46A dependência externa, em termos financeiros, era muito grande.
06:50Uma agricultura extremamente dependente de importações de produtos básicos,
06:54como os cereais, por exemplo.
06:56Não havia trigo, não havia pão, havia fome.
06:59No final do século XIX,
07:01os países europeus disputavam o continente africano.
07:03Perante as pretensões portuguesas de dominar os territórios entre Angola e Moçambique,
07:09o chamado mapa cor-de-rosa,
07:11o Reino Unido faz um ultimato a Portugal,
07:13exigindo a sua retirada,
07:15o que faz atear a chama do republicanismo.
07:18No caso português,
07:20a Revolução Republicana é precipitada
07:24por acontecimentos especificamente portugueses.
07:28Pela emergência do nacionalismo antibritânico
07:31em finais do século XIX,
07:33muito precipitada pelo chamado ultimátum britânico a Portugal,
07:39pela criação, ironicamente,
07:42de um espírito nacionalista associado
07:46ao chamado Terceiro Império Colonial Português,
07:49desta vez o Império Africano,
07:52associado também àquilo a que se podia chamar
07:55o declínio das instituições da monarquia liberal portuguesa.
08:00Desde 1834 que a monarquia constitucional
08:14fazia um esforço para se modernizar,
08:16criando importantes infraestruturas no país.
08:19Mas isso não era suficiente para atenuar os aspectos negativos.
08:22O grande problema do político português era a dívida,
08:26quer dizer, Portugal desde as guerras civis do Dom Miguel ficou com uma dívida,
08:30uma dívida que durante o século XIX foi sempre o elefante na sala
08:34de toda a governação portuguesa.
08:37Esta ideia de crise que começa a ser debatida por alguns intelectuais,
08:40nomeadamente a Guerra Junqueiro, as célebres conferências do Casino,
08:44são o momento mais emblemático de tudo isto.
08:49Antero de Quental, Guerra Junqueiro,
08:51essa de Queiroz e Ramalho Ortigão, entre outros,
08:54marcaram as conferências do Casino,
08:56que acabaram por ser suspensas numa tentativa de impedir a difusão
09:00das novas ideias que alastravam no país.
09:02A revolução impõe-se.
09:04Hoje, quem diz pátria, diz república.
09:08Numa república doutrinária, estupidamente jacobina,
09:10mas uma república larga, franca, nacional, onde cabam todos.
09:15Descontentamento era generalizado.
09:18O Partido Republicano propunha uma solução,
09:21digamos, bastante diferente daquilo que existia naquela altura.
09:24O Estado do país explica-se pelo facto de o país ser uma monarquia.
09:28Se passarmos isto para a república,
09:30passaremos a ser um país próspero,
09:31porque a república, é daí que vem o nome,
09:34a república é o governo em nome do povo.
09:37O povo não estaria aliado destas lutas,
09:41considerava até, aliás,
09:43que o despesismo de que uma casa real representava
09:46era quase que uma afronta às condições de vida miseráveis
09:50em que muitos deles viviam.
09:52No século XXI, a corrupção é um fenómeno que faz correr muita tinta,
09:57mas 100 anos antes era motivo de grande indignação social.
10:00A casa real tinha um limite de despesas,
10:03recebia uma verba do Estado para as despesas da família real,
10:08e, portanto, essas despesas tinham um limite que não podia ser ultrapassado
10:14sem o Parlamento intervir para aumentar a lista autorizada das despesas da casa real.
10:21Mas isso não chegava para a pompa da família real.
10:25E, portanto, o que é que começou a fazer?
10:27A receber por baixo da mesa, digamos assim,
10:30e, por conexão, por cumplicidade com os ministros da Croa,
10:37com os ministros do governo,
10:39os adiantamentos à casa real,
10:41quando foram conhecidos e denunciados pelos republicanos, aliás,
10:46originaram um escândalo enorme
10:48no mundo urbano e republicano em Portugal.
10:53Quer dizer, é isso que faz com que um dos quatro deputados republicanos,
10:59o Afonso Costa, nessa altura,
11:01tenha levantado e dizer
11:02por menos do que isto rolou a cabeça do Luís XVI no cadafalso.
11:08E entra a guarda,
11:10o que o Parlamento tem para prender o homem.
11:12O poder degenera, o poder gasta-se,
11:15o poder corrompe,
11:17e, a certa altura, como está tudo estragado pela corrupção,
11:19é preciso voltar atrás,
11:22o tempo volta para trás,
11:24volta à pureza inicial
11:25e livra-nos da corrupção.
11:28Revolução é regresso à pureza inicial do projeto.
11:321910 é uma regeneração, neste sentido.
11:35Regeneração é a palavra portuguesa
11:37que significa revolução.
11:40Praticamente há 40 anos
11:42em que há uma bipolarização,
11:46há dois partidos
11:48e vão-se sucedendo sem grandes problemas,
11:51mais ou menos guardando
11:53sempre bons lugares
11:55ou boas posições
11:57para as lideranças de cada qual,
12:00um no governo,
12:01o outro na oposição.
12:02O próprio rei Dom Carlos
12:04queixava-se de que vivia
12:06numa monarquia
12:07rodeada de princípios republicanos.
12:09E, portanto,
12:10ele vivia muito incomodado
12:12com uma classe política
12:13que, no fundo,
12:15tolerava a sua existência
12:17e o utilizava
12:18para fins instrumentais políticos.
12:23O rei Dom Carlos
12:23é uma figura bastante curiosa.
12:26Em primeiro lugar,
12:26não nos podemos esquecer
12:27de toda a componente intelectual
12:29que rodeia este rei.
12:30É um rei muito ligado
12:31ao que se via fazendo lá fora,
12:34quer do ponto de vista cultural,
12:35mas também do ponto de vista científico.
12:37Não podemos esquecer
12:38as suas campanhas oceanográficas,
12:41não podemos esquecer
12:41que era um pintor,
12:42um amante da arte.
12:44Era um bocadinho desligado
12:55da realidade nacional,
12:57nomeadamente
12:58daquilo que dizia
12:58respeito às preocupações
12:59do povo,
13:00do operariado,
13:01que continuava a viver
13:02em situações
13:03bastante difíceis.
13:04A 1 de fevereiro de 1908,
13:11dois simpatizantes
13:12da causa revolucionária
13:13atingem mortalmente
13:14o rei Dom Carlos
13:15e o filho herdeiro
13:16do trono,
13:17Dom Luís Filipe.
13:18Os regicidas
13:19tentavam enterrar
13:20a monarquia
13:21da forma mais radical.
13:23Os atentados
13:24contra o rei Dom Carlos
13:25e, neste caso,
13:27o príncipe Filipe,
13:28marcaram a Europa
13:30de uma forma
13:30absolutamente devastadora,
13:33como símbolo
13:34de uma dinâmica
13:35revolucionária
13:36que atinge
13:38o coração
13:39das monarquias
13:41constitucionais,
13:43marcado também
13:44muito pela dinâmica
13:45daquilo a que nós
13:46poderíamos chamar
13:47a radicalização
13:48do movimento
13:50anarco-sindicalista
13:51e revolucionário
13:52anti-antimonárquico.
13:54Após a morte
13:56do rei
13:57e do filho mais velho,
13:58é o jovem infante
13:59Dom Manuel
14:00que assume o comando
14:01da monarquia.
14:02Se o seu antepassado,
14:03Dom Manuel I,
14:04tinha marcado
14:05o período áureo
14:06da história portuguesa,
14:08Dom Manuel II
14:08fica associado
14:09a um período
14:10de decadência
14:10e ao fim de um ciclo,
14:12o ciclo da monarquia
14:13em Portugal.
14:17Dentro de dois anos
14:18e meio,
14:18haverá uma mudança
14:19radical no sistema
14:20português.
14:24O jovem rei,
14:29que nem era
14:29para ser rei,
14:30uma vez que seria
14:31o segundo
14:32na linha de sucessão,
14:33o seu irmão
14:33Dom Luís Filipe
14:34também foi morto
14:35no regicídio,
14:36é sempre visto
14:37como alguém
14:38impreparado
14:38e essa impreparação
14:40não é só vista
14:41a nível interno,
14:42é vista também
14:43a nível externo.
14:44Por exemplo,
14:44Eduardo VII,
14:45quando o rei
14:47estende ao poder,
14:49encarou como sendo
14:50uma ameaça
14:50para a própria
14:51sobrevivência
14:51da monarquia
14:52dada a sua impreparação.
14:54Acho que não estava
14:55nos pôndos nele,
14:55nem ninguém,
14:56que ele viesse a ser rei,
14:57veio a ser rei com 18 anos,
14:58muito novo,
14:59tentou acalmar as coisas,
15:02tentou inclusive
15:03a trazer,
15:03lá está,
15:04um partido socialista
15:05para o poder,
15:08fez uma amnistia
15:10que no fundo
15:10amnistiou
15:11todas as pessoas
15:13que estavam presas
15:13por conspiração
15:14republicana,
15:17fez isto
15:17e passado
15:18um ano ou dois
15:18tinha deixado de ser rei.
15:20O problema
15:21do regime monárquico
15:22é que
15:24ele era um regime
15:26crescentemente
15:26incompatível
15:27com as transformações
15:30sociais
15:31que na transição
15:32do século XIX
15:33para o século XX
15:34estavam a operar
15:35no mundo urbano
15:36português.
15:38O Partido Republicano,
15:39nas vésperas
15:40do 5 de outubro
15:41de 1910,
15:43já é aquilo
15:43que nós poderíamos
15:44designar
15:44um grande partido.
15:47É um partido
15:47que tem uma
15:48implantação urbana
15:49grande,
15:50é um partido
15:50que tem secções,
15:52é um partido
15:52que se foi consolidando
15:54nas campanhas eleitorais,
15:56nos comícios eleitorais,
15:58mas é um partido
15:59que também tem
16:00segmentos
16:02nas universidades
16:03e é um partido
16:04que começa a ter
16:06uma implantação
16:08importante
16:08em segmentos
16:10das forças armadas.
16:12Se a Revolução Liberal
16:14de 1820
16:15tinha sido
16:16consumada
16:16na cidade do Porto,
16:17a Revolução Republicana
16:19de 1910
16:20germinava
16:21na cidade de Lisboa.
16:23O papel
16:23que tinha sido
16:24atribuído
16:24ao Sinédrio
16:25em 1820
16:26era agora
16:27encabeçado
16:28por uma outra
16:28organização clandestina,
16:30a Carbonária.
16:31Os comícios
16:32em Lisboa
16:32eram prohibidos.
16:34Nem em Lisboa
16:34propriamente,
16:35só se podia
16:36fazer comícios
16:36fora de portas.
16:38Fora de portas
16:38era ali
16:39por volta
16:39da Praça do Chile,
16:41um bocadinho
16:41mais abaixo.
16:42A Avenida
16:42da Rainha
16:43Dona Amélia,
16:44que era como se chamava
16:44a Avenida
16:45ao Milano de Reis,
16:47que eram terras,
16:48eram descampados,
16:49não é?
16:50E os comícios
16:51faziam sair
16:51e ocorriam
16:52massas imensas.
16:54Eles não ouviam
16:55o que é que o orador
16:55dizia.
16:56Era a questão
16:57de ver os chefes,
16:58ver os tribunos
16:59republicanos.
17:00E havia o culto
17:01do tribuno,
17:02ou seja,
17:02do orador.
17:03Era um grande orador,
17:04dizia-se.
17:04Hoje isso
17:05praticamente desapareceu.
17:07No quê?
17:07Porque não havia
17:07microfones,
17:08nem havia altifalantes
17:09e, portanto,
17:10era a voz.
17:11Era a voz
17:12e o gesto
17:13que encantavam,
17:15que seduziam
17:15as pessoas.
17:17Em 1910,
17:19o debate público
17:19era muito vivo.
17:21Existia uma imprensa,
17:22era o único,
17:24mass-mídia,
17:25que existia na altura,
17:27não havia rádio ainda,
17:28e havia uma liberdade
17:30de imprensa
17:31muito vasta.
17:33Ou seja,
17:34nós hoje lemos
17:34os jornais
17:35desse tempo
17:36e ficamos até
17:37surpreendidos
17:37com a linguagem
17:40muito viva,
17:41muito insultuosa também.
17:43A política
17:43era visível.
17:45As pessoas falavam
17:46nas ruas,
17:48nos jornais.
17:49As redações
17:49dos jornais
17:50eram centros
17:51de conspiração política.
17:53E, portanto,
17:54não se pode dizer
17:55que a monarquia
17:56era censória
17:57e é a república
17:58que vai dar
17:58liberdade de imprensa.
18:00Muitas vezes até
18:01aconteceu o contrário.
18:02Não havia televisão
18:03e cinema muito pouco.
18:05Estava a começar
18:05e então
18:06o que é que eles faziam?
18:07Divulgavam a cara
18:08dos chefes,
18:08olha,
18:09nos penicos,
18:10nos pratos,
18:13nas garrafas,
18:15nos cinzeiros,
18:16nos escarradores,
18:17que era um objeto
18:18que nessa altura
18:19se usava.
18:20Ou seja,
18:21nas coisas mais
18:21corriqueiras
18:22do dia a dia.
18:23Lá aparecia a cara
18:24do Afonso Costa,
18:25do Bernardino Machado,
18:27do António Isabel Almeida
18:28e tal,
18:29que era a maneira
18:30de...
18:31Quer dizer,
18:31que era a expressão
18:33das novas necessidades
18:35da massificação
18:36da política.
18:42Dias 3 e 4
18:43foram dias bastante curiosos.
18:44Em primeiro lugar,
18:45no dia 3,
18:45com o assassínio
18:47de Miguel Bombarda
18:48às mãos de um doente.
18:50Miguel Bombarda
18:50era, assim se quisermos,
18:51o chefe civil
18:52da revolução.
18:53E quando ele é
18:54atingido a tiro
18:55por um doente
18:56psiquiátrico,
18:57não tinha nada a ver
18:57com a preparação
18:59do golpe,
18:59isso coloca em causa
19:01a própria...
19:04levar a cabo
19:04da própria revolução.
19:06Depois do assassinato
19:07de Miguel Bombarda
19:08no dia 3 de outubro,
19:10o suicídio
19:10do almirante Cândido
19:11dos Reis
19:12no dia 4.
19:13As duas grandes
19:14cabeças da revolução
19:15eram delapidadas.
19:17No dia 4 de outubro,
19:19ele veste
19:19a sua farda
19:20de gala
19:21e dirige-se
19:22ao ponto
19:23combinado.
19:24O objetivo
19:25era ele entrar
19:25num dos navios
19:26e depois,
19:27a partir daí,
19:28começaria a revolução.
19:29Ora,
19:29o que vai acontecer
19:30é que o navio
19:31não estava
19:31num local
19:32combinado.
19:33Porque aparentemente
19:34não ouviu
19:35o tiro de canhão
19:36que anunciava
19:36ao início da revolta
19:37de um dos navios
19:38que estava
19:39ancorado no Tejo.
19:40Não ouviu o tiro
19:41e julgou
19:41que estava tudo perdido,
19:43que o barco
19:43não tinha sido tomado,
19:44estava perdido.
19:45Ele enverdou ali
19:46por aquelas
19:47por aquelas
19:48asinhagas
19:49que caracterizavam
19:50o que é hoje
19:51ali o Praça do Chile,
19:53aquela zona ali
19:54e matou-se.
19:55Quando a notícia
19:56chegou
19:56ao acampamento
19:58da Rotunda,
20:00a maioria
20:01dos oficiais
20:02que lá estavam
20:03depois vão-se embora.
20:04Acharam que a revolução
20:05estava perdida.
20:06Mas depois
20:06há ali uma certa
20:07resistência montada
20:08no...
20:08que é hoje
20:09o Marquês de Bombão,
20:10a Rotunda
20:10e uma série
20:11de ações populares,
20:13sobretudo em Lisboa,
20:13que causam confusão
20:15e há ali
20:16um elemento de sorte.
20:17Quem aguenta
20:18a revolução
20:18são os civis
20:19da Carbonária,
20:20a organização
20:21da Carbonária.
20:21Portanto,
20:22cani dos reis
20:22infelizmente
20:23nunca pôde
20:24constatar
20:25que aquilo
20:26que ele considerou
20:27uma derrota
20:27tornou-se
20:28uma grande vitória.
20:29A revolução
20:40de 1910
20:41dava um filme
20:42porque tem
20:43dentro de si
20:44episódios
20:45que de facto
20:46só vistos
20:47pelas fontes.
20:49Uma das curiosidades
20:50tem que ver
20:50com a maneira
20:51como
20:51no dia 4 de outubro
20:54de 1910
20:55o governo civil
20:56fica na Rua
20:58Ivan
20:58e o largo
20:59de São Carlos
21:00que fica
21:00a 50 metros
21:01era onde
21:02o Partido
21:03Republicano
21:03tinha a sua sede.
21:05E portanto,
21:05nós temos
21:06uma situação
21:06de um governo
21:08civil
21:08que representava
21:09a monarquia
21:10em Lisboa
21:11estar a 50 metros
21:13do largo
21:14de São Carlos
21:15onde os revolucionários
21:17iam à sede
21:18do PRP
21:19receber instruções
21:21e armas
21:22e no governo civil
21:23ninguém nunca
21:24se interrogou
21:25o que é que
21:26aqueles civis
21:27estavam a fazer
21:28rua acima
21:29e rua abaixo
21:29com armas
21:30na mão
21:31que eram as armas
21:32para a revolução
21:33justamente
21:33que já estava
21:34na rua
21:35nesse dia 4 de outubro
21:36de 1910.
21:44Manhã do dia 5 de outubro
21:46de 1910
21:47o ponto nevralgico
21:49é a rotunda
21:49do Marquês de Pombal
21:50em Lisboa
21:51a mesma
21:52que o século depois
21:53virá a ser ocupada
21:54pelos adeptos
21:55de futebol
21:55para festejar
21:56grandes vitórias
21:57e também neste caso
21:59às vezes
22:00as coisas
22:00começam mal
22:01mas terminam bem.
22:07A revolução
22:07do dia 5 de outubro
22:08corre mal
22:09em termos operacionais
22:10mas acaba por vencer.
22:12E o dia 5 de outubro
22:13é uma coisa
22:14extraordinária.
22:15As revoluções
22:16militares em Lisboa
22:17são essencialmente
22:18duelos de artilharia.
22:19são...
22:20é muito isso.
22:21Portanto,
22:22procura-se ocupar
22:23boas posições
22:24e ter artilharia.
22:25E o Machado Santos
22:26que entendeu
22:27bastante bem isso
22:28ocupou
22:29logo na madrugada
22:30de 5 de outubro
22:31ocupou exatamente
22:32o quartel
22:33da artilharia 1
22:34e levou as peças
22:35para o Barco
22:36de 4 de outubro.
22:37Quem comandava
22:38a tropa
22:39na rotunda
22:39como se sabe
22:40era o Machado Santos
22:42um comissário naval
22:43um comissário naval
22:44é um oficial subalterno
22:46não é?
22:46Mas que se vestiu
22:47de galões
22:48e de farda de gala
22:49para a revolução
22:50e que vai de elétrico
22:51para a revolução
22:51apanhou elétrico
22:52para a revolução
22:53ferrado com
22:54a farda de gala
22:56da marinha.
22:57E portanto
22:57os republicanos
22:58ficam com a artilharia
23:00dos navios
23:01e com a artilharia
23:03que o Machado Santos
23:04tem
23:04ali na rotunda
23:07não é?
23:08A única artilharia
23:09que está disponível
23:10do lado do governo
23:11é a bateria móvel
23:15de que é luz
23:15que era comandada
23:16pelo pai do Conceiro
23:17o pai do Conceiro
23:19foi acordado
23:20estava em Cascais
23:22em casa dos
23:22dos sogros
23:24escondos-te para a ti
23:26e telefonaram
23:28para a polícia
23:28de Cascais
23:29para irem avisar
23:31o capitão
23:32do pai do Conceiro
23:33que havia uma revolução
23:35portanto
23:35para ele se apresentar
23:36no quartel
23:37da bateria móvel
23:39em que é luz
23:39o pai do Conceiro
23:40em vez de requisitar
23:41um homem
23:42que era um homem
23:42muito valente
23:43com provas dadas
23:44mas fez uma coisa
23:46extraordinária
23:47em vez de se requisitar
23:49um automóvel
23:50não
23:50fez aquilo que fazia
23:51todos os dias
23:52que foi
23:53fardou-se
23:54e apanhou
23:55às seis e um quarto
23:56da manhã
23:57com o boi
23:59Cascais
24:00em Lisboa
24:00e saiu em Passo de Arcos
24:02e foi a pé
24:03como fazia todos os dias
24:04para aquela luz
24:05quando chegou aquela luz
24:06já a bateria
24:08tinha saído
24:08para a Lisboa
24:09e ele veio a cavalo
24:10apanhá-la ali
24:11no Campo Grande
24:12e então foi ali
24:13para aquele alto
24:14ali do Parque
24:15Eduardo VII
24:15e ali começou
24:16a bombardear
24:17a rotunda
24:18mas com umas horas
24:19de atraso
24:20os soldados
24:21do Paimo Conceiro
24:22que não queriam
24:22não queriam
24:24lutar pela monarquia
24:25foram-se embora
24:26desertaram
24:27ele ainda vem depois
24:28e fixa as baterias
24:30no Torel
24:30mas no Torel
24:32ele recebe o fogo
24:33quer da rotunda
24:34ao Torel
24:35quer dos navios
24:36que estão no Tejo
24:37e portanto
24:37acaba por desistir
24:39até porque não há resistência
24:41militar em Lisboa
24:42as tropas monárquicas
24:43eram mais 7 ou 8 mil homens
24:46o Machado Santos
24:47numa altura
24:48tinha pouco mais
24:49de 200 homens
24:50na rotunda
24:51não é correto dizer
24:52que foram 200 republicanos
24:53na rotunda
24:54que deram a vitória
24:55à república
24:56quer dizer
24:56na rotunda
24:57terão estado
24:57umas 200 pessoas
24:59a Carbonária
24:59teria
25:00segundo o relatório
25:01do Machado Santos
25:02que ele faz depois
25:03sobre o 5 de outubro
25:04teria qualquer coisa
25:05como 20 mil aderentes
25:07por toda a cidade
25:08a Carbonária
25:09impediu a deslocação
25:10e a movimentação
25:11de tropas
25:12da monarquia
25:13porque havia
25:14aquela infantaria civil
25:16rudimentarmente
25:18armada
25:18pela Carbonária
25:19que emboscava as tropas
25:21que impodia
25:22que elas se deslocassem
25:24com aquelas
25:25com aquelas bombardas
25:27que eles faziam
25:27com aquelas bolas
25:29de ferro
25:31ou de cobre
25:32que havia nas varandas
25:33não é?
25:33enchiam aquilo
25:34com pregos
25:35e pólvora
25:36e aquilo servia
25:37como uma espécie
25:38de granadas
25:39lançadas
25:39para as patas
25:40dos cavalos
25:41e portanto
25:41foi a Carbonária
25:43que ganhou a revolta
25:44a revolta lisboeta
25:45do 5 de outubro
25:46foi a Carbonária
25:47que a ganhou
25:47e depois há aquele episódio
25:49extraordinário
25:50do embaixador
25:52ou do consul alemão
25:53que acham
25:54que é uma rendição
25:55quando os alemães
25:56a embaixada alemã
25:57pede uma interrupção
25:59cessar-fogo
26:00para evacuar
26:01os cidadãos alemães
26:02eles primeiro
26:03vão à rotunda
26:04o Machado Santos
26:06concorda com o cessar-fogo
26:07e depois
26:07vão ao Palácio
26:09da Independência
26:10um tal comando
26:11das tropas
26:11fiéis
26:12e saem
26:14do comando
26:15com uma bandeira
26:18branca
26:18em sinal
26:19de que
26:20enfim
26:20de paz
26:21mas aquilo
26:22é interpretado
26:23sobretudo
26:25pela massa popular
26:26e pela tropa
26:27que está no rocio
26:28tropa fiel
26:29tropa
26:29teoricamente
26:30fiel ao regime
26:31aquilo é interpretado
26:32como a rendição
26:33do Palácio
26:33da Independência
26:34e portanto
26:35a bandeira branca
26:36que era para
26:36não dispararem
26:38sobre eles
26:38é equiparada
26:40é interpretada
26:40como a rendição
26:41do Palácio
26:42da Independência
26:42e portanto
26:43os soldados
26:44começam a confraternizar
26:45com a população
26:46chamam o Machado Santos
26:48lá de cima
26:48do Marquês de Pombal
26:49ele deixa a cavalo
26:50por ali baixo
26:51e vai aceitar
26:52a rendição
26:53do comando
26:54que entretanto
26:54não se tinha rendido
26:55mas que já agora
26:56rende-se
26:56portanto há assim
26:57uma espécie de improviso
27:00e de caráter
27:02quase acidental
27:03com que o golpe
27:04republicano
27:05derruba
27:06uma instituição
27:07monárquica
27:08que tinha na altura
27:08quase 750 anos
27:10de antiguidade
27:11em 48 horas
27:13quase sem baixas
27:14mas a revolução
27:16republicana
27:17de 1910
27:18é muito mais
27:19uma demissão
27:20da monarquia
27:21que não se defendeu
27:22do que um golpe
27:24bem organizado
27:26bem pensado
27:27porque foi um golpe
27:28que esteve para ser vencido
27:29várias vezes
27:30mas não havia ninguém
27:32disposto a lutar
27:32pela monarquia
27:34tal era o grau
27:34de solidão política
27:36em que o último rei
27:36Dom Manuel II
27:37se tinha deixado
27:38de encerrar
27:39o Dom Manuel
27:40nas necessidades
27:42quando começaram
27:43a bombardear
27:43as necessidades
27:44Dom Manuel
27:45fugiu
27:46depois com a rainha
27:47com a avó
27:48e com a mãe
27:49em pânico
27:50e ele sai
27:51e foge
27:52portanto aqui cai
27:53é um colapso
27:54absoluto das coisas
27:55as revoluções
27:57já está tudo
27:59minado por dentro
28:00as pessoas já não têm
28:01vontade de se defender
28:02o último rei
28:04de Portugal
28:04Dom Manuel II
28:06exilou-se
28:06em Inglaterra
28:07onde morreu
28:08aos 42 anos
28:10os republicanos
28:17rapidamente
28:18tomaram conta
28:19da situação
28:19a proclamação
28:21da república
28:21foi feita na manhã
28:22do dia 5 de outubro
28:23a partir da varanda
28:24dos passos do concelho
28:25em Lisboa
28:26a imagem da república
28:28ficou para a história
28:29como uma mulher
28:31que tem muito a ver
28:32também com a imagem
28:33de
28:34no caso francês
28:36aquela liberdade
28:37guiando o povo
28:38de Delacroix
28:39essa mulher
28:40essa mulher jovem
28:41e eu acho que é esta
28:43direta influência
28:44dessa mulher
28:46dessa liberdade
28:47e dessa tradição francesa
28:48aliás
28:49num dos postais
28:50mais famosos
28:51da implantação da república
28:52está esta república
28:53ao centro
28:54com o que vem a ser
28:56as cores nacionais
28:57depois da bandeira
28:58com as grilhetas
29:00ou seja
29:00o fim
29:01da servidão
29:02com o barrette frígio
29:03que remete
29:04para a revolução francesa
29:05acho que é esta
29:06tradição
29:07de uma iconografia
29:08que vem da revolução francesa
29:09com esta mulher
29:10que é aqui também
29:11adaptada para a república portuguesa
29:13instalados no poder
29:15os republicanos
29:16dedicam-se
29:17a recriar os símbolos
29:18nasce o I
29:19a portuguesa
29:20vindo dos tempos
29:22da reação
29:22ao ultimato inglês
29:23e uma nova bandeira
29:28depois de muitas propostas
29:30o azul e branco
29:31da monarquia
29:32dá lugar
29:32ao verde e vermelho
29:33as cores
29:34do partido
29:34republicano português
29:36a república é proclamada em Lisboa
30:01e implantada por telégrafo
30:03para o resto
30:04para o resto do país
30:05Lisboa era
30:06era o centro do poder político
30:08era a grande concentração
30:09da população
30:10isto gera o quê?
30:12isto gera um dualismo
30:13cidade-campo
30:15ou litoral-interior
30:16que ainda hoje
30:17é uma característica central
30:19que nós temos
30:20que faz com que muitas vezes
30:22as revoluções
30:23tivessem que arrastar o país
30:25atrás de si
30:26as revoluções estão afastadas
30:28do país real
30:29no sentido em que
30:31a classe revolucionária em Portugal
30:33é minoritária
30:34para fazer revoluções
30:36é preciso
30:36conhecer o que se passa lá fora
30:39é preciso ler alguma coisa
30:41é preciso ter ideias
30:43e de facto há uma separação
30:45muito nítida em Portugal
30:47entre o país que não lê
30:50que não sabe
30:51que não acompanha
30:51uma elite intelectual urbana
30:53completamente segura
30:55da sua superioridade intelectual
30:57sobre o resto do povo
30:58aliás o povo
31:00em grande parte analfabeto
31:01em Portugal
31:02a taxa de analfabetismo
31:04em 1910
31:05rondava 74%
31:08portanto
31:10um português
31:11em cada quatro
31:12sabia ler
31:13educar o povo
31:14e torná-lo independente
31:16do poder da igreja
31:17são ambições da república
31:19refletidas na nova
31:20constituição de 1911
31:22essa constituição
31:24tem uma particularidade
31:26importante
31:27a instrução primária
31:29torna-se gratuita
31:31e obrigatória
31:32a república
31:33no fundo
31:33na ideia de transformar
31:35o súbdito em cidadão
31:36tem uma utopia
31:38muito ligada
31:39à educação
31:39e ao ensino
31:40em alguns aspectos
31:41é uma construção
31:42sectária
31:44particularmente
31:45no caráter
31:47laicista
31:48que adota
31:48com
31:49proibição
31:50da comunidade de Jesus
31:51e certas medidas
31:53claramente
31:54contrárias
31:55à religião católica
31:57isso iria provocar
31:58também
31:58como é óbvio
32:00grandes reações
32:01na comunidade portuguesa
32:03e provocaria
32:04uma grande instabilidade
32:06altera profundamente
32:08as relações
32:09com a igreja
32:10que era um poder
32:11muito grande
32:12nessa altura
32:13não é como hoje
32:13a religião católica
32:15era uma religião
32:15oficial do Estado
32:17o ministério
32:18que tutelava
32:18a igreja católica
32:20era um ministério
32:20da justiça
32:21e dos cultos
32:22essa é uma alteração
32:23profunda
32:24no sentido
32:24da laicidade
32:25do Estado
32:26mas a república
32:28tardava em executar
32:29as tendências
32:30mais modernas
32:31que atravessavam
32:31a Europa
32:32o sufragio universal
32:34masculino
32:35generalizou-se
32:36por esta altura
32:36na maior parte
32:37dos países europeus
32:38mas em Portugal
32:39votar continuava a ser
32:41privilégio apenas
32:42de alguns
32:42e se no caso masculino
32:44até houve alguns avanços
32:45no caso feminino
32:47pode falar-se mesmo
32:48em retrocesso
32:49a única exceção
32:50foi Carolina Beatriz Ângelo
32:52uma das primeiras médicas
32:54em Portugal
32:55e a primeira mulher
32:56a votar no país
32:57Carolina Beatriz Ângelo
33:01pôde votar
33:01porque era viúva
33:02era médica
33:03era chefe de família
33:04faz um requerimento
33:06ao tribunal
33:06para poder fazer
33:07portanto foi um não combate
33:08ela de facto
33:09conseguia cumprir
33:10os critérios
33:10e estas mulheres
33:11que eram instruídas
33:12viúvas e chefes de família
33:14seriam claramente
33:15uma minoria em Portugal
33:16e ela aproveita
33:17este vazio legal
33:18não estava escrito
33:19que não podia ser
33:20uma cidadã
33:22e ela aproveita
33:23a luta por isso
33:24e vota
33:25e este voto
33:26é muito importante
33:26porque significa
33:27uma vontade
33:29e com ela
33:30muitas outras mulheres
33:30que a apoiaram
33:31nesta vontade
33:32de votar
33:32mas logo a seguir
33:33em 1913
33:35os republicanos
33:37fizeram
33:37um código eleitoral
33:39que restringia
33:40o direito de voto
33:41ao sexo masculino
33:42a primeira república
33:43em 1913
33:45proibiu explicitamente
33:46as mulheres de votar
33:48porquê
33:48por um lado
33:50por concepções
33:52podemos chamar
33:53arcaicas
33:53e por outro lado
33:54por temerem
33:55que as mulheres
33:56fossem mais conservadoras
33:58e que não
33:58os apoiassem
33:59o Afonso Costa
34:00não
34:00uma das razões
34:02que nunca deu voto
34:03às mulheres
34:03é porque achava
34:04que as mulheres
34:04eram muito influenciadas
34:06pelo padre
34:06no início do século XX
34:11muitas feministas
34:13portuguesas
34:13tinham batalhado
34:14pela república
34:15e pelos direitos
34:16das mulheres
34:16mas a república
34:18tardava em fazer
34:19a sua parte
34:19eu acho que a república
34:25abre um período
34:26de expectativa
34:26e há aqui
34:27alguma desilusão
34:28alguns autores
34:29que até falam
34:29da traição
34:30da república
34:31a estas mulheres
34:31o que eu acho
34:32que é importante
34:33independentemente
34:35do que a república
34:36concedeu ou não
34:37é que se crie
34:38um espaço
34:38de liberdade
34:40de debate
34:40de abertura
34:42em que estas mulheres
34:43pelo menos
34:44tinham a expectativa
34:45que algo mudasse
34:46e que se começam
34:47a organizar
34:48e nós vemos
34:49este dinamismo
34:49do seu próprio movimento
34:51A questão do sufragio
34:57foi uma questão
34:58que feriu
35:00a república de morte
35:01a forma como
35:02não se conseguiu
35:03aproximar devidamente
35:04das classes operárias
35:06ir ao encontro
35:07das suas principais
35:08reivindicações
35:09verificámos que em 1911
35:10por exemplo
35:11o número de greves
35:12por todo o país
35:13dispara
35:14havendo aqui
35:14um descontentamento
35:15crescente
35:16portanto
35:16vamos ter uma república
35:18se quisermos
35:19isolada
35:20daquilo que eram
35:21as realidades
35:21as realidades nacionais
35:23e isso acabou também
35:25por lhe custar
35:26o regime
35:26que é um regime
35:27mais liberal
35:28apesar de tudo
35:29que é a monarquia
35:29constitucional
35:30mas é um regime
35:32já muito apanhado
35:34pelas convulsões
35:34da Europa
35:35brutalmente apanhado
35:37pelas convulsões
35:37da Europa
35:37e que
35:39como acontece
35:40em todos os países
35:41periféricos
35:42todos
35:43quase sem nenhuma exceção
35:45é um sistema
35:46que não resiste
35:47ao impacto
35:48subversor
35:49de caráter
35:52político
35:53social
35:54e económico
35:55que traz
35:55a primeira guerra
35:56e é
35:57atropelado
35:58durante dois anos
36:01o governo republicano
36:02aguarda
36:03pelo convite
36:03de inglaterra
36:04para entrar
36:04na primeira guerra
36:05mundial
36:06em 1916
36:07por sugestão
36:08dos ingleses
36:09portugal
36:10apreende a frota
36:11de navios mercantes
36:12alemães
36:12que está ancorada
36:13no tejo
36:14de imediato
36:15a alemanha
36:16declara guerra
36:16portugal
36:17ninguém estava
36:19à espera
36:20de uma guerra
36:20de quatro anos
36:21que ia causar
36:23milhões de mortes
36:23milhões de feridos
36:25uma destruição
36:26incrível
36:27e a entrada
36:28na guerra
36:28foi mortal
36:29para a república
36:31porque a república
36:33não estava preparada
36:34para entrar na guerra
36:34e portanto
36:35os efeitos
36:37que isso tem
36:38sobre as finanças
36:39públicas
36:39sobre as condições
36:41de vida
36:42das pessoas
36:43a crise
36:44das subsistências
36:45a falta de comida
36:46a revolta social
36:48tudo isso
36:49cria
36:50o clima
36:51que vai proporcionar
36:52o primeiro ensaio
36:53de ditadura
36:54que é o do Sidónio Pais
36:55Portugal a seguir
36:56à primeira guerra mundial
36:57teve um episódio
36:57de hiperinflação
36:58e o valor
37:00do escudo
37:01deteriorou-se mais
37:02em cinco ou seis anos
37:04do que quase toda
37:04a história
37:05da moedade anterior
37:06em termos políticos
37:09a república
37:10demonstrava também
37:11grandes fragilidades
37:12o partido
37:13republicano
37:14democrático
37:15controlava o poder
37:16negando qualquer
37:17possibilidade
37:17de rotatividade
37:18democrática
37:19é curioso
37:21nós olharmos
37:21por exemplo
37:21para as caricaturas
37:22e para a forma
37:23como a república
37:24vai sendo caracterizada
37:25no início
37:26em que vemos
37:26uma figura esbelta
37:28nova
37:28e atraente
37:30e depois
37:31à medida que o regime
37:32isto é muito pouco tempo
37:33são quatro anos
37:34à medida que o regime
37:35vai aparecendo
37:36com necessidades
37:36de reformas
37:37a nível político
37:38verificamos que os mesmos
37:39caricaturistas
37:40passam a retratar a república
37:41como sendo uma figura gorda
37:43peia desgastada
37:44e que de certa maneira
37:45transparece também
37:46o facto de o regime
37:48não ter conseguido
37:49num curto período
37:50de tempo
37:50quatro anos
37:51fazer grandes reformas
37:52e sobretudo
37:53não ter conseguido
37:54um consenso
37:54que permitisse
37:55haver aqui
37:56várias alternativas
37:57de viver
37:57o partido republicano português
38:00que depois
38:00o partido de 6 de altura
38:01começou a chamar
38:02partido democrático
38:03nunca prescindiu
38:04de abandonar o poder
38:06isto significa
38:07que num regime eleitoral
38:08arranjava sempre maneira
38:10de as eleições não valerem
38:11basicamente
38:12era essa a técnica
38:13do partido republicano português
38:15era ganhar sempre
38:16isto significava
38:17que os adversários
38:18para chegarem ao poder
38:20tinham de organizar
38:21revoltas
38:21ações armadas
38:22golpes
38:23pequenos golpes
38:24que se faltavam
38:25existir
38:26durante a primeira república
38:27e uma vez
38:29estando esses
38:30que tinham organizado
38:31o golpe
38:31o partido republicano
38:32organizaram
38:33uma espécie
38:34de contra
38:34de contra o golpe
38:36para se colocar
38:36no poder
38:37e depois ganhar
38:37as eleições
38:38a república
38:44vai dar origem
38:45a governos estáveis
38:46vai dar origem
38:48muitas vezes
38:49a golpes de estado
38:50vai dar origem
38:51a tipos
38:52de violência
38:53política
38:54para partidária
38:56mas isso vai acontecer
38:57sobretudo
38:58após a primeira guerra
39:01mundial
39:01foi um dos períodos
39:04mais violentos
39:04da história
39:05de Portugal
39:05dou-lhe um exemplo
39:0714 de maio
39:091915
39:10temos o governo
39:13de Pimenta de Castro
39:14o presidente
39:15Manuela Riaga
39:16é um governo
39:18que é nomeado
39:19porque há a questão
39:22da entrada
39:23de Portugal
39:23na primeira guerra
39:23mundial
39:24e há uma fração
39:25importante
39:26que está contra a guerra
39:27essa fração
39:29está no governo
39:29o partido democrático
39:31da Fonse Costa
39:32está na oposição
39:33como é que se resolve
39:35o assunto
39:36resolve-se
39:36a Espingarda
39:37pessoas encostadas
39:41à parede
39:41o Norto Matos
39:42ia sendo morto
39:43nesse dia
39:43porque quis afastar
39:45quis afastar
39:46uns desgraçados
39:47que iam ser fuzilados
39:48tivemos à volta
39:49300 mortos
39:50muitos feridos
39:52isto foi
39:53o registro
39:55da primeira república
39:56foi este
39:57a média de vida
39:58dos governos
39:59é 4 meses
40:00e houve até um
40:01governo
40:02que padrou horas
40:03em 16 anos
40:05houve 45 governos
40:078 eleições gerais
40:08e 8 chefes de estado
40:10a instabilidade
40:11foi a marca
40:12da primeira república
40:13foram anos
40:14de grande violência
40:15com ataques bombistas
40:16frequentes
40:16é uma grande
40:19instabilidade política
40:20e aliás
40:21é por isso
40:22que depois
40:22o Estado Novo
40:23e o Salazar
40:24etc
40:24são de certo modo
40:26sobretudo
40:27numa primeira fase
40:28até aos anos 50
40:29são muito bem
40:30recebidos
40:31e acolhidos
40:31é exatamente
40:32porque a ideia
40:33da instabilidade
40:34as pessoas
40:34estão fartas
40:35da instabilidade
40:37política
40:37das revoluções
40:38tudo isso
40:38portanto
40:39há uma ideia
40:40pessoas preferem
40:41a ordem
40:42digamos
40:43a um certo número
40:44de liberdades
40:45públicas
40:46Ramalho Ortigão
40:47que tinha começado
40:49as farpas
40:49com o S. de Queiroz
40:50escreveu
40:51umas farpas
40:52depois da revolução
40:53republicana
40:53para de facto
40:54fazer uma crítica
40:55ao regime
40:56republicano
40:57ao próprio
40:58Teófilo Praga
40:58ao seu amigo
40:59de sempre
40:59e dizendo
41:01que dificilmente
41:03da forma como
41:04as coisas estão
41:05vai sair daqui
41:06alguma coisa
41:07que seja
41:08de sólido
41:08algum regime
41:09que seja
41:10verdadeiramente
41:11liberal
41:11e tinha razão
41:12o que saiu
41:13do 5 de outubro
41:14foi o 28 de maio
41:15de 1926
41:16causa direta
41:18causa direta
41:191910
41:20e 1926
41:21são revoluções
41:23mais circunstanciais
41:25particularmente
41:26a de 1926
41:28que não é bem
41:29uma revolução
41:30é uma contra-revolução
41:31é uma reação
41:33a uma certa
41:34anarquia republicana
41:35e portanto
41:35é uma espécie
41:36de vingança
41:38da ordem
41:38em relação
41:39àquilo que tinha sido
41:40a abertura
41:42republicana
41:43a revolução
41:44de 1910
41:45acabaria por culminar
41:4716 anos depois
41:48no golpe de estado
41:49de 28 de maio
41:50de 1926
41:51dando início
41:52a um longo período
41:53de ditadura
41:54em Portugal
41:54eu considero
41:56a primeira e a segunda
41:57republicana
41:57como uma unidade
41:58no sentido
41:59em que tivemos
42:0016 anos
42:01de liberdade
42:03sem segurança
42:03e tivemos depois
42:0448 anos
42:05de segurança
42:06sem liberdade
42:07a partir de 1974
42:14nós temos o privilégio
42:15de viver
42:16na terceira república
42:17que é a primeira
42:18onde temos
42:18segurança
42:19e liberdade
42:37qual é o grande
42:45legado
42:46do regime republicano
42:48em primeiro lugar
42:50o regime republicano
42:51parece que
42:53em todo o Portugal
42:54no século XX
42:55e início do século XXI
42:56nem o salazarismo
42:58pôs em causa
42:59a natureza
43:00republicana
43:02das instituições
43:03políticas
43:04em Portugal
43:04nós não podemos esquecer
43:05que a nossa bandeira
43:06é a bandeira
43:07que veio da revolução
43:08do 5 de outubro
43:08o nosso hino
43:09é o hino
43:10com algumas adaptações
43:11é o hino
43:11que veio da revolução
43:12do 5 de outubro
43:13e foram símbolos
43:14que nem o Estado Novo
43:14mexeu
43:15portanto foram símbolos
43:16que chegaram
43:16até aos dias de hoje
43:17eu acho que o que fica
43:19desta revolução
43:20de 1910
43:21para o século XXI
43:23é a vontade
43:25de se abrir
43:27a política
43:28a todos
43:28de quebrar
43:29a exclusividade
43:30de uma cidade
43:31política elitista
43:32liberal
43:33e oligárquica
43:34e abrir
43:36esta ideia
43:36de participação
43:37não sendo um regime
43:38democrático
43:39esta vontade
43:39de abertura
43:40e de regeneração
43:42e para muitos
43:43esta ideia
43:44que chegou à altura
43:45de nós termos voz
43:46é certo que a república
43:48foi uma promessa
43:50de democratização
43:51do sistema
43:53que falhou
43:54não foi cumprida
43:57quer dizer
43:58houve progressos
43:59a promessa
44:00de democratização
44:01só viria a ser cumprida
44:0248 anos depois
44:04foi preciso passar
44:06meio século
44:07do século XX
44:08em ditadura
44:08para
44:10com o 25 de abril
44:11aparecer então
44:12o regime democrático
44:13do século X
44:16Abertura
44:46Abertura

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